quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Discografias Comentadas: Mr. Big

 

Pat Torpey, Billy Sheehan, Eric Martin e Paul Gilbert
No final dos anos 80 surgiram algumas bandas de hard rock que, combinando músicos que já contavam com um significativo status, seja entre o público ou no próprio meio artístico, foram rotuladas por muitos como supergrupos. Entre eles estavam nomes como Blue Murder, Badlands, Damn Yankees e Bad English. Apesar da grande expectativa do público e do sucesso inicial, incluindo alguns hits, nenhum deles passou do segundo álbum, dissolvendo-se em pouco tempo. Exceção a essa realidade foi o Mr. Big, quarteto formado em 1988, em Los Angeles (EUA). Unindo o guitarrista Paul Gilbert (Racer X), o baixista Billy Sheehan (Talas, David Lee Roth) e o baterista Pat Torpey (Impellitteri, Robert Plant), além do vocalista Eric Martin, que, apesar de não ser tão popular em todo o país, era dono de um grande prestígio no estado da Califórnia, o Mr. Big conseguiu conciliar sucesso e longevidade, e, apesar de um hiato ocorrido entre 2002 e 2009, continua na ativa desde então.

Contando inicialmente com uma boa recepção, especialmente no Japão, país onde seus integrantes até hoje são superestrelas, o Mr. Big chegou a colocar uma música no topo da parada de singles da Billboard, a balada acústica “To Be With You”. A combinação da sensibilidade pop com a alta proeficiência dos músicos em seus instrumentos atraiu uma grande quantidade de fãs, e, não à toa, os ingressos para os shows no Brasil, um realizado ontem (9) e outro a acontecer hoje (10), no qual estarei presente, esgotaram-se com antecedência. Aproveitando a passagem do grupo por nosso país, publicamos hoje essa discografia comentada. Apreciem!

Mr. Big [1989]

Quem já conhecia o trabalho de Paul Gilbert no metálico Racer X, onde havia estabelecido uma reputação como um guitarrista altamente técnico, e de Billy Sheehan na banda de David Lee Roth (ex-Van Halen), não se admirou ao se deparar com a absurda introdução de “Addicted to That Rush”, em um crescendo unindo baixo, guitarra e bateria de maneira extremamente técnica e energética. Para fazer frente a uma massa sonora tão sólida, somente um vocalista muito especial, e Eric Martin realiza aqui esse trabalho com sobras, apresentando sua ótima voz que, apesar de legitimamente moldada para o hard rock, demonstra uma pureza quase virginal tal qual Steve Perry (Journey), assim como influências de cantores de soul music. Apesar da faixa citada ser o maior destaque do álbum, outras canções mantém o nível de empolgação no alto, como as sólidas “Wind Me Up”, “Take a Walk” e a grooveada “Merciless”. As primeiras power ballads do grupo dão as caras em Mr. Big, destacando a ótima “Anything For You”, sucitando o amor de alguns e o ódio de outros pelas interpretações oferecidas por Eric Martin nesse tipo de música. A setentista “Blame It on My Youth” e a legitimamente pop metal “How Can You Do What You Do” também são dignas de menção, além do cover para “30 Days in the Hole”, do Humble Pie. Para muitos, trata-se do melhor registro do quarteto, mas que, na minha opinião, seria suplantado pelo seguinte.

Lean Into It [1991]

Se em seu primeiro disco, o Mr. Big já deixou claro que não permitiria que sua elevada técnica superasse a criação de boas canções, no segundo a banda confirmou e aperfeiçoou esse compromisso. Seguindo a mesma linha de “Addicted to That Rush”, “Daddy, Brother, Lover, Little Boy” introduz os trabalhos com um hard rock metalizado exalando energia pelos poros e apresentando solos de guitarra e baixo absolutamente insanos, incluindo o uso de furadeiras elétricas para tocar os instrumentos. “Alive and Kickin'” e “My Kinda Woman” injetam um bem vindo tempero setentista, enquanto “A Little Too Loose” é pura malandragem, incluindo um pequeno trecho na voz grave de Billy Sheehan. As power ballads, que se tornariam uma das marcas registradas do grupo, aparecem com força através das ótimas “CDFF-Lucky This Time” e da bem sucedida “Just Take My Heart (16ª posição na Billboard). Mais bem sucedida ainda foi a acústica “To Be With You”, que, com suas presentes harmonias vocais, escalou o cume das paradas de singles de diversos países, incluindo sua terra natal. “Road to Ruin” tem cara de sucesso, mas infelizmente não foi lançada como single. Outra que merecia um reconhecimento maior é “Green-Tinted Sixties Mind”, forte candidata ao trono de melhor composição do Mr. Big. Com um acento psicodélico e um refrão explicitamente pop, além de uma excelente introdução executada por Gilbert usando a técnica de tapping, a canção é não menos que viciante. A banda ainda conseguiria criar ótimos álbuns posteriormente, mas nenhum tão equilibrado e de tanta qualidade quanto Lean Into It.

Bump Ahead [1993]

Seguindo a tradição dos anteriores, Bump Ahead é aberto com uma faixa rápida e extremamente técnica, ressaltando as raízes heavy metal de Paul Gilbert e Billy Sheehan, na forma de “Colorado Bulldog”. A velocidade é quebrada em seguida com o groove pesado de “Price You Gotta Pay” e com a primeira power ballad do álbum, a delicada “Promise Her the Moon”, uma de minhas favoritas do grupo. Se em Lean Into It o sucesso foi conquistado através da acústica “To Be With You”, em Bump Ahead parece que o grupo tentou emular à força o mesmo êxito, registrando um cover para “Wild World”, original do cantor Cat Stevens, que repercutiu suficientemente bem, inclusive no Brasil, mas não reproduziu a histeria causada pela antecessora. “The Whole World’s Gonna Know”, dotada de um tom mais sério que o habitual, revela-se uma canção mid-tempo pesada, destacando-se facilmente como um dos pontos altos da carreira da banda. Fator que pode agradar muitos e ao mesmo tempo irritar tantos outros é a quantidade de baladas presentes no álbum, tipo de faixa que ainda se faz presente em “Nothing But Love” e “Ain’t Seen Love Like That”, particularmente de meu agrado. O disco é encerrado com outro cover, a canção que emprestou o nome ao quarteto, a fantástica “Mr. Big”, original do Free. Mesmo não tão boa quanto a original (tarefa praticamente impossível), o grupo passa longe de fazer feio.

Hey Man [1996]

Menos metálico e investindo mais nos grooves, Hey Man chegou em uma época na qual o Mr. Big já havia perdido totalmente a relevância em um Estados Unidos onde o hard rock havia sido varrido para os mais mofados porões do underground. No entanto, o álbum chegou ao topo da parada japonesa, consolidando o estranho paradoxo que a banda se tornou. Musicalmente, o disco dá os primeiros sinais de cansaço do quarteto, que, apesar de ainda oferecer bons hard rocks carregados de vitalidade, como “Trapped in Toyland”, “Where Do I Fit In?”, “Out of the Underground” e “Fool Us Today”, já não soa tão inspirado quanto nos anteriores. Assim como o anterior, Hey Man carrega nas baladas, oferecendo a acústica “Goin’ Where the Wind Blows”, e as boas “The Chain” e “If That’s What It Takes”, além da setentista “Mama D.”, dotada de bons riffs de Gilbert. Um grande destaque do disco é “Take Cover” e sua belíssima linha de bateria, ressaltando o trabalho de Pat Torpey, que mesmo tocando com Paul e Billy, tidos entre os melhores em seus instrumentos, nunca se intimidou, demonstrando solidez e criatividade. Paul Gilbert acabou deixando o grupo em 1997 a fim de seguir carreira solo e reformar o Racer X, mas não antes de registrar quatro novas faixas ao lado do grupo para uma coletânea, incluindo uma contando com sua performance vocal, “Unnatural”.

Get Over It [1999]

Lançado em 1999 no Japão e em 2000 nos Estados Unidos, Get Over It apresentou Richie Kotzen como o novo guitarrista do grupo. Apesar de também ser dono de elevada técnica, tendo inclusive registrado álbuns na linha shredder, Richie trouxe uma nova paleta de cores para o trio remanescente, incluindo uma queda para o blues e o funk que foi explorada com propriedade nesse disco, atenuando ainda mais as tendências heavy metal do Mr. Big e ressaltando a exploração de bons grooves, em músicas mais ricas em swing“Electrified” abre em bom nível, trazendo um solo de baixo e deixando bem clara a diferença de Richie para Paul, sem ser melhor nem pior, apenas distinto. Candidata à melhor do disco, a blueseira “Static” traz uma sólida linha de bateria e mostra que a inclusão do novo guitarrista também acrescentou qualidade vocal à banda, visto que Kotzen também é um bom cantor, não somente nos backings. “Superfantastic” e “My New Religion” são as baladas acústicas da vez, sendo a primeira o hit da época, e trazem um tom de familiaridade, enquanto músicas como a pop “A Rose Alone” e as funkeadas “Hole in the Sun” e “How Does It Feel” diferem consideravelmente de tudo que o grupo havia registrado anteriormente, e exibem um Pat Torpey mais solto e relaxado. Aliás, é preciso destacar também sua excelente introdução em “Dancin’ With My Devils”, uma das melhores canções da fase Kotzen no Mr. Big. Alguns desaprovaram sua adição, sentindo falta da marcante presença de Paul Gilbert, mas considero a renovação muito bem vinda.

Actual Size [2001]

Se existe um álbum que me faz questionar a superioridade de Lean Into It sobre os outros, esse é Actual Size. Apesar de, por um lado, manter algumas faixas mais funkeadas (especialmente a ótima “Suffocation”) e infectadas de blues, o segundo e derradeiro disco com Richie Kotzen adota um direcionamento mais pop rock e cheio de melodias memoráveis em diversos momentos, como em “Shine”, um dos maiores sucessos do grupo no Oriente e hoje em dia presença obrigatória nas apresentações solo de Kotzen, autor da faixa. Causou estranhamento o fato de que, exceto na alegre “How Did I Give Myself Away”, os integrantes do Mr. Big compuseram em separado (junto a parceiros externos à banda), e Billy Sheehan, que iniciou a banda em 1988, ocupado com outros projetos, apenas contribuiu na supracitada, talvez em um prenúncio da dissolução do grupo, que ocorreria em 2002, repercutindo desentendimentos entre Eric Martin e o baixista. Felizmente, no decorrer das faixas a situação foi de total harmonia, destacando a otimista “Wake Up”, a deliciosamente pop “Lost in America” e a hardeira “Crawl Over Me”. O espaço das habituais baladas é ocupado por “Arrow”, “I Don’t Want to Be Happy e “Nothing Like It in the World”, todas na medida para satisfazer quem aprecia esse tipo de canção. Billy, que após a gravação do disco foi demitido pelos outros integrantes, acabou retornando sob pressão empresarial, mas concordando apenas em realizar a turnê de despedida, decretando o (até então) fim das atividades do Mr. Big.

What If… [2010]

Sete anos após o término do grupo, em 2009 o Mr. Big colocou suas diferenças de lado e voltou à ativa, trazendo de quebra o retorno de Paul Gilbert e sua timbragem característica. O disco inicia em alto estilo com “Undertow”, que, remetendo a “Take Cover” (de Hey Man), é dona de um instrumental que passa a ideia de constante evolução, além de contar com um belo refrão. A presença de Paul certamente traz uma conexão mais forte com o passado do quarteto, mas isso não significa que se trate de um disco datado, ao contrário. Apesar de “American Beauty”, “Still Ain’t Enough For Me” e “Around the World” trazerem as pirotecnias instrumentais típicas de algumas canções dos primórdios, faixas como a pesada “Nobody Left to Blame”, “Once Upon a Time” e “I Won’t Get in My Way” soam bastante atuais. Uma viagem ao passado é “Kill Me With a Kiss”, que conta com riffs que poderiam ter sido criados por Ritchie Blackmore em seus anos de Deep Purple. As duas baladas, a power “Stranger in My Life” e a acústica “All the Way Up”, cumprem bem seu papel, especialmente a primeira, uma das melhores canções do álbum. Particularmente, apesar de ter gostado de What If…, acredito que o Mr. Big ficou devendo em relação aos dois antecessores, mas tenho consciência de que essa opinião não é compartilhada pela maioria dos fãs do grupo, que viram com muito bons olhos o retorno de Paul Gilbert.

Song to the Siren (1970) – Tim Buckley

 

Em 2019, por volta dos primeiros dias do meu Music Library Project, escrevi um artigo sobre um filme australiano pouco conhecido chamado Candy, estrelado por Heath Ledger e Abbie Cornish. Song to the Siren, de Tim Buckley , aparece com destaque nele; uma vez no início do filme com a versão impressionante de Paula Arundell (vista no final deste post com cenas do filme) e a original de Tim Buckley no final. Naquele artigo, mencionei brevemente a versão de Tim Buckley, mas não lhe fez justiça. Parecia um dever dedicar uma peça inteira à sua interpretação - então aqui estamos hoje.

Dizer que esse filme e essa música permanecem profundamente em minha psique seria um eufemismo. Song to the Siren está entre as melhores baladas que já ouvi. Não sei como ouvir essa música sem lágrimas brotando. Antes de mergulhar em mais detalhes sobre a música e seus criadores, convido você a ler primeiro essas palavras lindamente elaboradas por Tim Buckley e Larry Beckett :

Long afloat on shipless oceans
I did all my best to smile
’til your singing eyes and fingers
Drew me loving to your isle

And you sang:
“Sail to me
Sail to me
Let me enfold you
Here I am
Here I am
Waiting to hold you”

Did I dream you dreamed about me?
Were you hare when I was fox?
Now my foolish boat is leaning
Broken lovelorn on your rocks

For you sing:
“Touch me not
Touch me not
Come back tomorrow
O my heart
O my heart
Shies from the sorrow”

I am puzzled as the oyster
I am troubled as the tide:
Should I stand amid your breakers?
Should I lie with death, my bride?

Hear me sing:
“Swim to me
Swim to me
Let me enfold you
Here I am
Here I am
Waiting to hold you”

Song to the Siren foi lançada em 1970, no álbum de Tim ' Starsailor '. Em sintonia com o tema “ marinheiro ” do álbum, girando em torno de viagens, a música é fortemente baseada na figura mítica das sereias , como visto em “ A Odisseia ” de Homero. É inacreditável que Tim Buckley, conhecido por ser pioneiro em novos sons como fez em Lorca , tenha falecido tragicamente sem encontrar sucesso comercial em sua vida.

O seguinte foi extraído da referência da Wikipedia abaixo:
Pat Boone  foi o primeiro a lançar uma gravação da música quando ela foi apresentada em seu álbum  Departure de 1969 , anterior ao álbum de Buckley. A música se tornou talvez a mais famosa de Buckley devido a vários artistas que fizeram covers da música após sua morte em 1975.

Song to the Siren foi escrita em 1967, mas Buckley ficou insatisfeito com as primeiras tentativas de gravá-la. Ela finalmente apareceria em seu álbum  Starsailor  três anos depois. Em 1968, Buckley cantou a música solo pela primeira vez em seu estilo folk original como uma estrela convidada no final da série  The Monkees, como visto abaixo.

O letrista Larry Beckett relembrou a Uncut sobre Tim Buckley:
“ Eu só o vi compor minhas letras uma vez, e foi 'Song To The Siren'. Ele olhou para aquela página, que eu tinha levado apenas alguns minutos para escrever, dias antes, e começou a tocar e cantar a música como se ela já estivesse escrita. Ele fez alguns pequenos ajustes e ela estava completa. Ficamos surpresos. “

Buckley e Beckett consideraram essa música como sua maior colaboração, com Beckett mais tarde afirmando “ É uma combinação perfeita de melodia e letra. Havia algum tipo de conexão misteriosa entre nós .”


Songbird (Fleetwood Mac song) 1997- Eva Cassidy

 

Songbird é a terceira música de Eva Cassidy a aparecer aqui depois de sua entrada anterior Over the Rainbow . Sua versão da faixa escrita por Christine McVie de Rumours do  Fleetwood Mac  foi adicionada aos seus álbuns póstumos. Foi lançada em seu primeiro álbum solo de estúdio Eva By Heart em 1997, um ano após sua morte, e então lançada novamente como faixa-título de um álbum de compilação (veja a imagem acima) em 1998. O álbum de compilação foi certificado como Platina em 2008 por remessas superiores a um milhão de cópias.

Sempre considerei a voz de Eva Cassidy uma das mais angelicais e puras que já ouvi na música moderna contemporânea, mas ela faleceu tragicamente sem encontrar sucesso comercial em vida. Ela morreu de melanoma em 1996, aos 33 anos, e era virtualmente desconhecida fora de sua cidade natal, Washington DC. Felizmente, somos abençoados por ter muitas gravações ao vivo e em estúdio de suas músicas.

[[Verse 1]

For you, there’ll be no crying
For you, the sun will be shining
‘Cause I feel that when I’m with you
It’s alright
I know it’s right

[Chorus]
And the songbirds keep singing like they know the score
And I love you, I love you, I love you
Like never before

[Verse 2]
To you, I would give the world
To you, I’d never be cold
‘Cause I feel that when I’m with you
It’s alright
I know it’s right

[Chorus]
And the songbirds keep singing like they know the score
And I love you, I love you, I love you
Like never before
Like never before
Like never before

A música original apareceu no álbum Rumours de 1977 do  Fleetwood Mac  e foi lançada como o lado B do single Dreams . É uma das quatro músicas escritas exclusivamente pela musicista e cantora e compositora inglesa Christine McVie no álbum. Ela era a tecladista e uma das vocalistas e compositoras da banda.

McVie escreveu Songbird em meia hora, por volta da meia-noite, mas não tinha ninguém por perto para gravá-la. Para garantir que não esquecesse a estrutura dos acordes e a melodia, McVie permaneceu acordada a noite inteira. No dia seguinte, McVie tocou a música e o produtor Ken Caillat adorou a faixa e sugeriu que ela a gravasse sozinha em uma abordagem de estilo de concerto. 

McVie frequentemente cantava a música no final dos shows do Fleetwood Mac. Seu ex-marido, John McVie, lembrou que “ Quando Christine tocava “Songbird”, homens adultos choravam .”



Destaque

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