terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

ESQUINA PROGRESSIVA

 

Yes - Magnification(2001)




Desde o álbum “Drama” de 1980, aqueles fãs mais exigentes da banda e que a viam como talvez a maior referência dentro do rock progressivo dos anos 70, e que ainda hoje é inspiração pra uma alta porcentagem de grupos que surgem pelo mundo todo ano, andavam meio desanimado com toda a produção basicamente pop (fora alguns lapsos de progressivo) produzida pelo Yes em um longo período. A chama começou a acender novamente só em 1999, quando o grupo desceu um pouco da inércia, pra se aventurar de novo mesmo que de maneira tímida por terrenos que a consagraram, fato que acorreu através do disco “The Ledder”. Mas sem dúvida alguma que com “Magnification" a banda reviveu, digamos assim. Quem não conhece o álbum também não precisa achar que irá de deparar com uma obra prima como outras lançadas em outrora, mas sem dúvida alguma é um disco de qualidade extremamente relevante. Uma curiosidade, eles não utilizaram um tecladista aqui, mas sim, uma orquestra conduzida pelo compositor Larry Groupé, no geral mais conhecido em trabalhar em trilhas de filmes.

A faixa de abertura e também homônima ao álbum, "Magnification", já define logo de cara todo o tom orquestral que se encontrará no trabalho. Também possui momentos suaves e acústicos junto de guitarras elétricas e uma batida sutil. Logo de cara também nota-se pela primeira vez de maneira mais clara que a voz de Anderson começa a dar indícios de desgaste, mas é totalmente compreensível, levando-se em conta os anos que ele esteve sempre impecável seja em estúdio ou no palco. Uma boa música e uma forte abertura para o álbum.

A segunda faixa, “Spirit of Survival” traz em mente um rock de arena que nos remete a época da banda, Anderson Bruford Wakeman Howe. Chris Squire faz uma linha de baixo de destaque. As cordas orquestrais também preenchem as lacunas muito bem, Alan White cadenciando a bateria de forma redonda e enérgica e Steve Howe mostrando um excelente trabalho de guitarra, o que não chega a ser nenhuma novidade, sendo o destaque da música. Como ponto baixo acho que estão os backing vocals, eles poderiam ser dispensados.

“Don’t Go” é sem dúvida alguma a parte mais inexpressiva do álbum, tanto que não lembro quando foi a última vez que eu ouvi “Magnification” sem que eu a pulasse. Mas pra não dizer que é uma música de todo o mal, possui um refrão cativante principalmente na parte final por conta de um bom trabalho de guitarra de Steve Howe. Mas sem dúvida é um ponto baixo no disco.

Aqui é onde pela primeira vez o trabalho orquestral liderado por Larry Groupé é mostrado de maneira pura e significativa. Em uma introdução de mais de dois minutos, podemos ser transportado pra introdução de algum filme. Uma passagem simples mas perfeita do baixo de Squire é tocada antes que Anderson entre com as primeiras frases até que toda a banda comece de fato a música. O trabalho de guitarra de Howe é intrincado, lentamente construído junto com as cordas em uma composição majestosa e melódico. Sem dúvida que esse é o exemplo perfeito de um som mais acessível e maduro do Yes. Uma maneira de mostrar que evoluíram desde aquela última década e mesmo que de maneira menos rebuscada, poderia soar progressivo e agradar fãs antigos e os que ganharam em outras frases.

A próxima faixa é “Can You Imagine”. Aqui na verdade trata-se de uma composição do XYZ, o infeliz projeto de Chris Squire e Alan White juntamente com Jimmy Page. É uma música curta, mas que você pode se maravilhar com o tom incrível dos vocais liderados por Squire. A orquestra acompanha muito bem a banda com um belo pano de fundo. Também conta com uma incrível performance de Anderson fazendo muito bem os backing vocals. Acho apenas que poderia ter uma duração maior, a música não chega nem a três minutos.

Uma música do Yes que me faz lembrar do Genesis em seu álbum Wind & Wuthering. Começa com uma guitarra acústica agradável, uma linha de baixo pulsante e novamente um belo tapete sonoro criado pela orquestra. Uma música muito bem direcionada, de um início simples e que vai crescendo até atingir um final expansivo não apenas musicalmente, mas também liricamente.

"Soft of a Dove" é basicamente uma tranquila e agradável colaboração de Anderson e Howe. Contem também uma flauta que preenche muito bem a canção.

“Dreamtime” é maravilhosa. Tem uma bela introdução onde é lindo de ver como a guitarra funde com a orquestra. A música está cheia de estranhas melodias vocais, instrumentação agradável, lindas orquestrações alem de possuir em alguns momentos riffs por parte de Squire que pode ser colocados como um dos seus melhores em todos os tempos. A faixa possui bastantes tempos diferentes, mas sempre se mantendo coerente e jamais se perdendo em seu caminho. A única parte negativa fica por conta do solo de orquestra em seu final que pra mim é completamente desnecessário e somente tira um pouco do brilho da composição. Ainda assim, uma música maravilhosa.

A próxima faixa é “In the Presence of”, sem sombra de dúvida uma daquelas composições que já saem do estúdio com potencial de se tornar um clássico. Essa é a primeira vez desde a sua abordagem mais pop que a banda nos faz ter a sensação não somente de se reinventar e buscar uma boa sonoridade como no resto do álbum, mas a de literalmente está de volta aos anos 70. Começa com Anderson acompanhado unicamente por um piano, depois uma sutil e requintada linha de baixo de Squire se une a ambos. Steve Howe faz um trabalho de guitarra slide simplesmente soberbo e que também merece total destaque. Possui excelentes coros e por mais que comece tímida, durante os seus mais 10 minutos de duração vai ganhando força e se abrilhantando. Um trabalho simplesmente exuberante.

O álbum encerra com, “Time is Time”. Uma canção que é uma espécie de tanto faz, sendo a mais curta de todas, possui uma melodia simples, sem muito a oferecer ou comprometer. Eu particularmente nem a teria colocado no álbum. Mas até que por outro lado a quem pode achar uma maneira sentimental e bonita de encerrá-lo.

Magnification com certeza fez com que a desistência para com a banda de muitos fãs que aconteceram durante os anos 80 e 90 fossem canceladas. Um trabalho extremamente digno e soando de forma tradicional como não se via a muito tempo. Trata-se de uma obra prima? Longe disso, mas sem dúvida alguma foi o ressurgimento de um dos maiores dinossauros da história do rock progressivo.


Track Listing

1.Magnification - 7:15
2.Spirit Of Survival - 6:02
3.Don't Go - 4:27
4.Give Love Each Day - 7:44
5.Can You Imagine - 2:58
6.We Agree - 6:30
7.Soft As A Dove - 2:18
8.Dreamtime - 10:45
9.In the Presence of - 10:24
10.Time Is Time - 2:09 




ESQUINA PROGRESSIVA

 

Par Lindh Project - Mundus Incompertus (1997)



É certo que hoje novamente encontramos bandas boas de progressivo sinfônico em todas as partes do mundo e com grande facilidade, mas é certo que o movimento que nasceu e criou seus filhos de talentos mais pródigos no Reino Unido dos anos 70, havia perdido sua força durante a década de 80 (mesmo jamais desmerecendo a qualidade das bandas de neo progressivo e que gosto de várias). O começo dos anos 90 foram pra que houvesse o renascimento de bandas desse seguimento, mas ao contrário do que poderiam se imaginar, as bandas estavam aparecendo principalmente mais em países como Itália e na Escandinávia. No geral as principais bandas e quase sempre primeiras a serem mencionadas nesse caso são as suecas Anglagard e The Flower Kings, mas tiveram outras que ajudaram nesse processo e uma delas com certeza é a Par Lindh Project.

Logo em sua abertura, "Mundus Incompertus", a faixa "Baroque Impression No. 1", mostra uma banda impregnada pela música clássica de Bach e Vivaldi, por exemplo, mas depois cresce no ouvinte, trabalhos primorosos de guitarra, passagens de violão, baixo com uma ruptura intrigante e claro, o órgão nervoso de Par Lindh soando bastante enérgico, dinâmico e inventivo.

A segunda faixa do álbum, "The Crimson Shield" traz uma incrível carga emocional principalmente pelos vocais de Magdalena Hagberg que lembram a Annie Haslam do Renaissance, mas não simplesmente por serem femininos, mas pela própria linha da música e a forma que é feito o canto combinado. Possui também um trabalho de clavinete bastante agradável que é acentuado pelo mellotron. Linda música.

A última é a faixa título do disco, um épico de mais de vinte e seis minutos. Uma composição extremamente maravilhosa e que em momento algum faz quem a ouve sentir um sentimento de tédio. Uma combinação incrível da característica de gigantes do progressivo como King Crimson, Emerson Lake & Palmer e Van Der Graaf Generator colocadas com maestria em uma única composição. Começa com uma sonoridade leve através de uma voz feminina agradável, mas não demora muito pra mudar e mostrar várias outras facetas, torna-se agressiva, dinâmica sempre liderada por trabalhos impressionante de órgão e guitarra. A música suaviza novamente lá pela sua metade, mas depois volta com a energia que estava. Um disco simplesmente irretocável e altamente recomendável. 


Track Listing

1.Baroque Impression No. 1 - 9:10
2.The Crimson Shield - 6:38
3.Mundus Incompertus - 26:43




BIOGRAFIA DOS Transatlantic

Transatlantic

Transatlantic é uma banda norte-americana de rock progressivo formada em 1999 pelo vocalista e tecladista Neal Morse do Spock's Beard e o baterista Mike Portnoy ex-baterista e líder da banda Dream Theater. O nome do grupo seria originalmente Second Nature, mas foi mudado após sugestão do artista Pet Nordin. O objetivo era fazer uma banda com os melhores integrantes da cena do rock e metal progressivo. Após 6 anos de inatividade (desde 2003) a banda anunciou seu retorno com um novo álbum previsto para o final de 2009.

História

Morse e Portnoy primeiramente desejavam incluir o guitarrista Jim Matheos (da banda Fates Warning) na formação da banda, mas como sua presença não foi possível, o guitarrista e vocalista Roine Stolt (da banda The Flower Kings) foi convidado. A formação se tornou completa com a adição do baixista e veterano do rock progressivo Pete Trewavas, da banda Marillion.[1]

Seu primeiro álbum SMPT:e (2000) recebeu críticas positivas, apesar de ser considerada por muitos um derivado de estilos progressivos contemporâneos. Uma turnê pelos Estados Unidos levou a um álbum duplo ao vivo, Transatlantic Live in America, e um videoclipe com o mesmo nome. A banda mostrou sua versatilidade neste álbum, apresentando covers de Beatles (Strawberry Fields Forever) e Genesis (um medley do épico Watcher of the Skies e Firth of Fifth.)

Apesar de SMPT:e conter a obra de trinta e um minutos All of the Above, o segundo álbum de estúdio, Bridge Across Forever (2001), mostrou a banda se voltando mais para o lado do rock progressivo. Ele contém somente quatro faixas.

A banda havia terminado após a saída de Morse para lançar uma carreira solo como cantor cristão, o que também incluiu sua saída do Spock's Beard. Um DVD ao vivo da última turnê da banda foi lançado em 2003, apresentando vários épicos do rock progressivo, além de um medley do álbum Abbey Road, dos Beatles. A versão estendida ainda conta com um cover de Shine on You Crazy Diamond, do Pink Floyd. Como bônus para os fãs de metal progressivoDaniel Gildenlöw, da banda Pain of Salvation, participa do DVD como quinto membro da banda, tocando teclado, guitarra, percussão e vocal.

Em abril de 2009 o serviço de newsletter da banda Dream Theater anunciava o retorno da banda Transatlantic. O site oficial da banda também divulgava seu retorno com o lançamento de um novo álbum chamado The Whirlwind, que foi lançado no final de 2009.

Discografia

Álbuns em estúdio

Álbuns ao vivo

Outros álbuns

  • Bridge Across Forever Limited Edition (2001)
  • The Transatlantic Demos (por Neal Morse) (2003)
  • SMPTe - The Roine Stolt Mixes (2003)

Videografia

  • Live in America (vídeo, 2001)
  • Building The Bridge (vídeo, 2002)
  • Live in Europe Limited Edition (2003)
  • Live in Europe (2003)
  • Building the Bridge and Live in America (DVD, 2006)
  • Whirld Tour 2010: Live in London (2010)
  • KaLIVEoscope Live on Cologne (2014)

Integrantes

Convidados

  • Daniel Gildenlöw - guitarra, vocal, vocal de apoio, sintetizador e percussão
  • Ted Leonard - guitarra, vocal de apoio, sintetizador e percussão (turnê de 2014, devido a problemas de saúde de Daniel Gildenlow)


CRONICA - IRON BUTTERFLY | Ball (1969)

 

Entusiasmados com o sucesso de In-A-Gadda-Da-Vida , o organista/cantor Doug Ingle, o guitarrista Erik Brann, o baixista Lee Dorman e o baterista Ron Bushy começaram a gravar o terceiro trabalho de Iron em 1969. Butterfly intitulado Ball . Mas o que pode esperar uma banda que já produziu um título como “In-A-Gadda-Da-Vida”, que os fãs de bad acid trip ouvem atordoados e sem se importar com o resto. No entanto, esta bola publicada na Atco terá algum sucesso e se mostrará mais atraente do que o lado A do LP anterior. Nós nos divertimos, mesmo que infelizmente não nos lembremos de muita coisa.

Composta por 9 canções num total de 35 minutos, começa com a gótica e fantasmagórica "In The Time Of Our Lives" onde rapidamente reconhecemos a voz cheia de alma de Doug Ingle e o seu órgão cavernoso mas também a execução assustadora ao estilo ácido rock do jovem Erik Brann na guitarra. Segue-se a enigmática “Soul Experience” para uma partida rumo ao cosmos, onde o tecladista experimenta alguns efeitos eletrónicos e onde o guitarrista tenta explorar as possibilidades da eletroacústica. A balada irreal e desencantada "Lonely Boy" chega onde o cantor tenta mostrar que é crooner. Atmosfera de James Bond em "Real Fright" onde o teclado se volta um pouco para o delírio árabe. De volta ao passeio mas num registo mais feliz com "In the Crowds". Em “It Must Be Love” que abre o lado B, Erik Brann oferece solos fantásticos, muito pesados ​​e gordurosos, onde a morte do lixo aguarda o ouvinte incauto. "Her Favorite Style" nos mergulha em uma atmosfera bucólica e sombria para um final quase religioso e dramático. "Filled With Fear" é angustiante. O vinil termina com o vaporoso, caleidoscópico e melancólico "Belda-Beast" com aromas jazzísticos/pop.

Este LP terá no entanto o mérito de estabilizar um grupo que saiu em digressão para promover Ball com, entre outras coisas, uma visita ao famoso festival de Woodstock. Infelizmente, o grupo ficou preso no aeroporto.

Títulos:
1. In The Time Of Our Lives
2. Soul Experience
3. Lonely Boy
4. Real Fright
5. In The Crowds
6. It Must Be Love
7. Her Favorite Style
8. Filled With Fear
9. Belda-Beast

Músicos:
Doug Ingle: Órgão, Vocal
Erik Brann: Guitarras, Vocais, Backing Vocals
Lee Dorman: Baixo, Backing Vocals
Ron Bushy: Bateria, Percussão

Produtor: Jim Hilton


A música pop perfeita parte 2: The Dream Academy - same (1985).





O trio se formou em 85 buscando um som diferenciado com instrumentos pouco utilizados no pop de então.
Produziram 3 álbuns de estúdio, sendo que este foi seu trabalho mais significativo tendo gerado o single de sucesso "Life in a Northern Town", que foi composto em homenagem a ninguém menos que o saudoso Nick Drake.
Atingiu a vigésima posição na parada Billboard 200 (US). Sucesso de crítica - não tanto de público - o álbum merece uma audição cuidadosa, por ter elementos não convencionais na música popular/rock.

David Gilmour produziu todas as faixas deste álbum (com exceção de "The Love Parade"), tendo inclusive tocado nas faixas "Bound to Be" e "The Party". Peter Buck (REM) também toca guitarra na faixa ". Após o fim da banda, Laird-Clowes trabalhou com Gilmour nas letras do álbum "The Division Bell" do Floyd.

Seguem minhas impressões, tanto com relação à letras quanto à sonoridade.

1. "Life in a Northern Town"
Espirituosa, com um chorus poderoso, mas não está explícita a homenagem a Drake.
Se sustenta nos teclados e o cÕro, mas se constrói de a pouco. Nostálgica, com uma melodia que gruda no ouvinte.

2. "The Edge of Forever"
Faz um contraponto entre a idade do menino e do adulto na letra, com um belo solo
de sax. Igualmente nostálgica. A harmonia possui uma levada típica anos 80 - principalmente quanto ao timbre dos
teclados. Podia muito bem estar em qualquer trilha sonora teenage dos anos 80.

3. "(Johnny) New Light"
Fala sobre o progresso. Linha marcante de arranjo vocal. O violão faz um trabalho interessante como se possível
uma antítese sonora das diferenças temporais que tornaram os campos, cidades. Termina num fade interessante entre violão
e teclados.

4. "In Places on the Run"
Belíssimo arranjo! Uma grande balada que conta das possibilidades de um sonho, mas não foi nada. ("Nós corremos
em campos coloridos...lugares em fuga").Ponto alto do disco!

5. "This World"
Uma narrativa para "todos os solitários mal compreendidos, vivendo neste mundo e chegando a lugar algum". Um pop mais convencional, numa linha á la Aztec Camera de Roddy Frame. Três personagens e suas vidas arriscadas e vazias. É sobre os amigos de Nick tornarem-se junkies.
Morrissey fez escola e Clowes foi um bom aluno.


6. "Bound to Be"
Grande intro, porém, uma letra simples falando de como um casal se completa no outro. Excelente trabalho vocal. Arranjo harmônico de arena.

7. "Moving On"
Marcante no álbum,com intro de guitarra precisa, o arranjo explode lindo ao longo da canção permeando a letra
de refrão pegajoso. Terminada a parte vocal, a banda mostra do que é capaz com um elegante instrumental. Me lembrei
de composições da fase final do Style Council. "E o que começou como uma aposta de independência, terminou numa
arma".
 
8. "The Love Parade"
O carro chefe do disco. Refrão pegajoso e um pop poderoso! Aí se vê a influência do DA em trabalhos posteriores como o do Lake Heartbeat - que não tiveram projeção. Citação à The Mamas and the Papas ao final? Vale o disco.

9. "The Party"
Noto influência dos Bee Gees anos 60. Peter Buck (R.E.M.) toca guitarra junto à Gilmour e o DA cita "Life in a Northern
 Town" - primeira faixa.

10. "One Dream"
O disco encerra com esta linda balada.Ao som de trompete e violão - do tipo que Paul Weller faria.
Grande final!




Low - David Bowie (1977)



 O melhor álbum de Bowie (o preferido do cantor) na primeira prensagem brasileira de 1977 pela RCA. Coisa linda (NM). Eu tinha me desfeito de minha cópia em cd – erro quase imperdoável – mas agora me redimo ao adquirir o LP. Isto não é bem uma resenha, mas um bate-papo sobre este grande disco. Me lembro de não “sacar” muito este disco quando o escutei pela primeira vez. Não soava pop, não soava rock, não soava a Bowie. Soava a música de elevador, descartável, difícil. Num certo sentido é isso mesmo, pois gerou um único single. Com o tempo e minha mudança de gosto musical (passei a curtir Kraftwerk, bandas instrumentais [ou quase] do selo 4AD, trilhas) este álbum passa a fazer sentido para os meus ouvidos agora mais ecléticos.

Confesso que o que ajudou a forjar minha simpatia por “Low” foi a íntima relação entre o som e a cortina de ferro que durou até a queda do muro de Berlim em 89. O álbum teve dois locais de concepção: O Château d'Hérouville na França e o Hansa Studios em Berlim - a cidade que dividiu o mundo em dois durante quase 3 décadas (Bowie passou a morar no bairro de Kreuzberg em companhia de Iggy Pop para desintoxicar-se). Tenho uma queda pelo Leste Europeu socialista, escuro, frio, enigmático, sei lá... Uma sensação parecida eu tive quando escutei a discografia do Ultravox - que também me remeteu à mesma concepção. Totalitarismo.

Sem ser fã de Bowie, me identifico com este disco por justamente sair de seu estilo. O disco parece uma bagunça sonora, mas consegue uma identidade pela participação de Brian Eno – que também teve papel fundamental na mudança sonora do U2 -e a ousadia forçada numa fase do cantor mergulhado no vício e buscando se apartar da realidade ocidental. No lado um destaco “Always crashing in the same car” e “A new career in a new town”. O lado dois...bem....é uma coisa. Eu diria que fica entre os 5 lados fundamentais da segunda metade da década, musicalmente em importância. É um marco na música pop, pois quebrou com tudo o que se esperava do Camaleão até aquele ponto de sua carreira. Sua sonoridade abriu as portas para o Techno-pop, o gótico - influenciando bandas como o Joy Division (cujo primeiro nome Warsaw foi retirado da faixa “Warsawa”) e todo o pós-punk.

A capa – sempre um must em se tratando de Bowie, remete ao filme de 1976 “O homem que caiu na Terra”, estrelando o próprio – e que vale a pena ser visto!

Nos últimos anos, duas edições reavivaram este disco: As edições “Low Live” com registros ao vivo das canções e “Low sessions” com as sessões de gravação do mesmo. Também foi editado no Brasil o livro homônimo do escritor Hugo Wilcken pela editora Cobogó (o qual pretendo adquirir) que fala tudo o que se precisa saber sobre a feitura do álbum.
Enfim, um disco para escutar num dia nublado, introspectivo. Para sair deste mundo louco. Bowie vive...





SOM VIAJANTE (Neil Chotem "Pianoganini" (2001)

 


O bom gênio dos palcos de Montreal, Neil Shotem (1920-2008) tornou-se famoso como um venerável arranjador e maestro. Durante sua incrivelmente longa carreira musical, o maestro teve a sorte de interagir com orquestras pop, sinfônicas e de jazz, integrar a equipe de profissionais que trabalhou em estreita colaboração com a empresa de televisão CBC, criar uma série de motivos memoráveis ​​para filmes e programas de rádio, trabalhar com promissores artistas da geração mais jovem (incluindo os progressistas populares Harmonium , Seguine outros), compartilhe seus conhecimentos de orquestração e regência com alunos de várias universidades canadenses, e faça muitas outras coisas úteis. Em sua terra natal, Saskatoon, eles falam sobre ele desde o final da década de 1920. O talentoso filho prodígio Neil era conhecido como um marco local. Em 1933, a prefeitura da cidade chegou a ser generosa em financiar a viagem do jovem Shotem a Nova York para estudos particulares com o grande Sergei Rachmaninov . Após o serviço militar, que caiu exatamente durante a Segunda Guerra Mundial, Neil se estabeleceu em Montreal, a cidade que se tornou seu destino...
O programa solo de Chotem "Pianoganini" tem como subtítulo "Um Piano, Seis Mãos". A singularidade deste disco não está apenas na cobertura temporal (composições de 1936-1978, repensadas pelo autor que mudou os seus oitenta). A mensagem metódica da gravação foi formulada aproximadamente da seguinte forma: obter o efeito de um jogo complexo executando sequencialmente todas as partes em um único instrumento. Das 18 faixas, oito foram executadas por Neil a quatro mãos, nove foram padrão e a última foi executada em seis. Somente um engenheiro de som versado nas nuances dos clássicos acadêmicos poderia dar vida à tarefa com competência. E aqui o mentor teve muita sorte com Barry Lucking , graças a quem o álbum encontrou fôlego e, portanto, o direito à vida.
Apesar da escassez de meios visuais, o disco é bem diversificado. Da variação do título sobre os temas de N. Paganini (incluindo o famoso 24º capricho), Shotem passa para a letra ("Gray Blues"), após a qual executa uma pequena dança eslava - uma homenagem às suas raízes russas ("Galop a la Russe"), e então se entrega a pensamentos tristes ("Sleep Without Dreams"). O exercício de jazz freestyle ("Opus Minus") é iniciado por uma canção de ninar ("Lullaby"), a imagem de umas férias infantis despreocupadas com passeios a cavalo ("Tara Bells") é ampliada devido à imitação precoce de Rachmaninov ("Prelude For Patrick", 1936). O humor lúdico da peça "Pizza for Tony" alterna com o misterioso estudo "Snake Eyes", e dedicado a Arthur Rubinstein"Blues Classique" flui para o número pretensiosamente vanguardista "Blues Diablo". As notas sombrias de "Towards Infinity" são interrompidas pela miniatura light jazz "Prelude for Peter", a ironia de "Jamaican Rhumba" de A. Benjamin é anulada pelo icônico "Hey, let's go" ("Three Raftman on the Volga "), apoiada pelo trágico enredo de "Prelude Opus 34 No 14" D.D. Shostakovich . O ponto principal da história é fornecido pelo "Pterodáctilo" de "seis braços" e aventureiro.
Resumindo: uma excursão extremamente informativa ao mundo das imagens sonoras de um dos gigantes do acampamento crossover de Quebec. Aconselho você a aderir.




HARMONIA DO SAMPLER

 

O BAILÃO CHURRASCÃO ZOEIRA DO HARMONIA DO SAMPLER




Tudo começou no carnaval de 2017. Quando Caê Maia criou o hino polisexariano ‘Pau perereca e cu’ e convenceu o broder Rafael Ops a criar a base eletrônica para toda essa zoeira.
Nasceu assim o coletivo ‘Harmonia do Sampler’, formado por Caê Maia nos vocais, Rafael Ops nas programações eletrônicas e Cleber Machado na produção executiva.

Esse álbum trás diversos clássicos eternos que já foram cantados em uníssono por todo mundo que respira e expira todos os dias.

O disco começa com ‘Evidências’, eterno hit da dupla Chitãozinho e Chororó, seguida por ‘Cilada’ do ‘Grupo Molejo’.

‘Mal acostumado’ do ‘Ara Ketu’ não podia faltar e tem na sequência o hit da ‘Banda Magnificos’, ‘Me usa’, que conta com a participação de Lady Moça nos vocais.

‘Eva’ do ‘Rádio Taxi’ também entrou no repertório, com o sucesso do ‘Asa de Águia’, ‘Dia dos namorados’ pra encerrar o bailão.

Não podia faltar o primeiro hit neste petardo, ‘Pau perereca e cu’ com remix de Leeroy. O single original de 'Pau perereca e cu' pode ser baixado no mesmo link abaixo...






2018 Bailão do Harmonia do Sampler Vol. 1

1. Evidências
2. Cilada
3. Mal acostumado
4. Me usa
5. Eva
6. Dia dos namorados
7. Pau perereca e cu (Leeroy remix)




ADMIRÁVEL MUNDO ENGANO DA BANDA EDDIE

 

ADMIRÁVEL MUNDO ENGANO DA BANDA EDDIE


A mistura eficiente entre frevo e surf-music definiu o estilo da banda e determinou uma identidade única, que pode ser reconhecida nos primeiros acordes. A banda ‘Eddie’ é desde Fábio Trummer na guitarra e vocais, André Oliveira no trompete, teclados e samplers, Alexandre Urêa nos vocais e percussão e os irmãos Bob Meira no baixo e Kiko Meira na bateria. Trummer está sempre atento e compondo pérolas eficientes que no futuro serão entoadas em uníssono pelas plateias brasileiras nos espetáculos sempre lotados.
 álbum intitulado ‘Mundo Engano’ foi produzido por Pupilo da ‘Nação Zumbi’. Um namoro antigo como bem explica Trummer, “além da amizade e da admiração mútua, existe também afinidades estéticas. Pensamos em fazer um álbum sem pressa, com tempo para lapidar cada ideia gerada no processo que durou um ano e dois meses entre gravar uma demo, feita por mim e Pupillo, e arranjar com a banda as faixas e gravar tudo, mixar e masterizar, demos ênfase as vozes, e buscamos uma timbragem original, somente nossa, para os instrumentos, e assim tentar manter nossa identidade estética.  Gravamos quase todo em São Paulo e alguns complementos em Recife e Olinda, Pupillo sugeriu fazer um trabalho tendo o ‘Eddie’ como referência, nossa própria obra, e tentar diferenciar dos outros na criação de beats e instrumentos que nunca havíamos usados antes nas nossas gravações”.

 O álbum é recheado de belas composições de Trummer. “Nossa busca por nossa autoria no universo das bandas tão marcado por usar referências de estrelas do mercado fonográfico”, ressalta Trummer, que ainda completa, “não existe um conceito que amarre o álbum, gostamos de trabalhar a partir de um, mas neste sétimo lançamento fizemos diferente, apesar de ter meio disco dedicado ao mar”.

Foi em uma conversa via e-mail que vieram à tona diversos elementos que definem bem o som da banda ‘Eddie’, na voz (ou nas letras) do próprio Trummer.

Você vem misturando cada vez mais estilos e ritmos nas canções da banda ‘Eddie’. Pode dar alguns exemplos?

Usamos um leque de referências menos engessada, mais a ver com nossa formação ou informação cultural enquanto brasileiros, a musica pop global é posta em rótulos e sofre uma pressão para se manter dentro destas embalagens, a gente quer sair desse quadrado, fazer uma música pop genuinamente nacional, falar de dentro pra fora e ousar criar novas ruas e avenidas para guiar a musica universal, entendemos que dessa maneira atingiremos muito mais ouvidos e de quebra satisfazemos nossos instintos que são frutos de uma miscigenação tão eclética, coisa comum num lugar colonizado por mercados estrangeiros super poderosos e que tem uma cultura própria muito rica de originalidade. Não gosto muito do termo "mistura" pois tudo é feito de maneira espontânea e concisa, é menos uma colcha de retalhos e mais uma nova estamparia o que fazemos, é menos olhar o que já foi feito e mais olhar o que podemos fazer de novo.

Tem algum ritmo ou estilo que você ainda não obteve sucesso em misturar? Ou que jamais tentaria essa mistura?
 
Não dominamos ritmos ou gênero musicais estabelecidos como o rock, o frevo, o samba, maracatú (este nunca nem usamos como referencia) etc, fazemos música a partir destes enfoques, destas generalizações estéticas, na musica autoral quando se olha de perto, cada autor é dono de seu ritmo orgânico e não de um ritmo estabelecido, se temos tantas coisas diferentes na nossa música é por termos uma curiosidade por um universo cultural maior, ouvimos coisas novas com o passar do tempo e temos sempre uma vontade de ir em direções diferentes para não cansar e se repetir, acho que é isso que acontece, costumo pensar que temos a nossa própria musica, a musica do Eddie, e transitamos com ela em trajes de acordo com o ambiente visitado.

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Trummer ainda ressaltou a fórmula não-convencional de acordes e harmonias que toda banda segue na hora de criar os arranjos e tocar. “Faz parte da escola autodidata que é a nossa formação, cada um de nós tem sua própria maneira de tocar e somente ela, a junção destas 5 maneiras próprias é quem faz a música que somos, a marca registrada da nossa criação, não conseguimos ir além desta característica, é a nossa limitação benvinda”.

A abertura do álbum revela o tema corrente neste petardo, ‘A Correnteza’ é uma balada pop com participações de Frederica Bourgeois na flauta e Nilson Amarante no trombone. A canção dialoga com a ilustração da capa de autoria de Helder Santos – um barco a deriva empurrado por uma mão, representando uma onda do mar.

‘O mar apaga’ é um sambinha surf-music bem no estilo das composições de Trummer que criaram toda essa sonoridade característica da banda ‘Eddie’. E como não para nunca, Trummer está sempre conversando com novos estilos e misturando novos ritmos na receita da banda, ‘Dobro a esquina’ é um merengue sônico com batida brasileira pernambucana.

‘Girando o mundo’ tem o famoso estilo ‘Eddie’ de misturar frevo com surf-music, seguida pelo roquezinho antigo ‘O mar lá fora’, com Martin Mendonça no violão de aço. ‘Brooklin’ trás a parceria com Jorge Dupeixe, nos vocais e composição. ‘Medo da rua’ é um afro-samba-jazz com tempero ‘Eddie’.

‘Vivo tendo fogo’ tem uma latinidade latente e quase que era um arrocha. ‘Para Iemanjá’ composta em cima do poema de Marcelino Freire é um sambinha choro com participação de Everson Pessoa no violão de 7 cordas e evidencia os maus tratos do homem com o mar.

‘De pouco em pouco’ é uma salsa-jazz com Guga Assis Brasil no violão de 12 cordas. O disco tem outras participações especiais de gente como Maurício Fleury, Tiné, Ganga Barreto e a Orquestra de Frevo Henrique Dias.

No final de tudo... Trummer ainda agradece a atenção em mensagem comentando a eficácia da banda em tudo que propõe. “Alguém tinha que manter essa eficiência toda”, encerra ele e ainda enfatiza os planos para o futuro, “Tocar pra mais gente, gravar mais álbuns, buscar cada vez mais nossa essência, manter nossa união em grupo, assimilar novas referências, e tocar e cantar melhor nossas idéias musicais”.

2018 Mundo Engano

1. A correnteza
2. O mar Apaga
3. Dobro a esquina
4. Girando o mundo
5. O mar lá fora
6. Brooklin
7. Medo da rua
8. Vivo tendo fogo
9. Para Iemanjá
10. De pouco em pouco






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