quinta-feira, 2 de outubro de 2025
CAPAS DE DISCOS - 1968 Sallies Fforth - Rainbow Ffolly
Bem Bom (RCA Ariola/BMG, 1985), Gal Costa
Após a guinada pop iniciada no final dos anos 1970 e consolidada com Fantasia (1981), Gal Costa (1945-2022) demonstrava uma capacidade ímpar de se reinventar. Se nos anos 1960 e 1970 ela foi a musa da Tropicália e da MPB experimental, nos 1980 a cantora baiana se tornou uma estrela de primeira grandeza da música brasileira e uma grande vendedora de discos. Bem Bom marca o ápice da fase comercial de Gal Costa iniciada com o álbum Gal Tropical, em 1979. As expectativas para o álbum eram altas: Gal vinha de sucessos radiofônicos e de uma presença forte na televisão, o que aumentava a curiosidade do público e da crítica.
Produzido por Miguel Plopschi e com direção artística de Waly Salomão (1943-2003), parceiro de longa data da cantora, Bem Bom apostava em uma sonoridade sofisticada e diversa. A seleção de compositores e arranjadores não deixava dúvidas sobre a intenção do álbum: Caetano Veloso, Arrigo Barnabé e Cazuza (1958-1990) eram alguns dos nomes que assinavam as faixas, criando um encontro entre a MPB tradicional, a Vanguarda Paulistana e o pop tecnológico dos anos 80. Sintetizadores brilhantes, programações eletrônicas e metais exuberantes compunham a identidade sonora do disco, que soava moderno sem abandonar o refinamento característico de Gal.
O equilíbrio entre acessibilidade e experimentação é uma das chaves para entender Bem Bom. O pop domina a estrutura do álbum, mas há espaço para incursões mais ousadas, como na faixa-título, que traz uma harmonia intrigante e um groove fora do padrão radiofônico. "Sorte", o dueto com Caetano Veloso, é uma das músicas mais marcantes do disco: leve, elegante e irresistivelmente charmosa. Já "Um Dia de Domingo", parceria com Tim Maia (1942-1998), é uma balada intensa, carregada de emoção, onde as vozes dos dois artistas se entrelaçam com perfeição, conferindo à canção um tom cinematográfico.
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| Lado interno da capa dupla de Bem Bom. |
Entretanto, nem tudo envelheceu bem. Alguns excessos da produção daquela década se fazem sentir com mais força hoje. O reverb exagerado, os teclados onipresentes e certos timbres eletrônicos podem soar datados para ouvintes contemporâneos. "O Último Blues" é um exemplo disso: sua dramaticidade pode resvalar no sentimentalismo excessivo. "Musa de Qualquer Estação", apesar da excelente interpretação de Gal, também se ancora em uma estética que não se manteve atemporal. Mas nada disso compromete a força do álbum, que ainda resplandece como um dos momentos altos da carreira da cantora.
O sucesso comercial de Bem Bom foi incontestável. O álbum vendeu mais de 600 mil cópias, impulsionado pelo forte apelo radiofônico de suas faixas mais populares. "Sorte", "Um Dia de Domingo" e "Musa de Qualquer Estação" tocaram incessantemente nas rádios, reforçando a presença de Gal no mainstream da música brasileira. Em Portugal, o disco conquistou platina, consolidando a artista também no mercado internacional.
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| Tim Maia e Gal Costa cantando "Um Dia de Domingo", no programa "Cassino do Chacrinha", na TV Globo, em 1986. |
Para quem cresceu ouvindo os hits do disco, há um valor nostálgico que supera qualquer datamento sonoro. Já para novos ouvintes, algumas escolhas de produção podem soar como relíquias de um período específico, mais do que uma obra que transcende sua época. Isso não significa que o álbum perca sua importância; pelo contrário, ele se mantém como um marco do pop nacional dos anos 1980, um documento de um momento em que a MPB cedia espaço para novas formas de expressão musical.
No fim das contas, Bem Bom é um disco que celebra o pop com todas as suas forças — o que pode ser sua maior qualidade e seu maior defeito. É vibrante, acessível e incrivelmente bem executado, mas também excessivamente moldado por sua era. Ainda assim, a interpretação apaixonada de Gal Costa e a força de algumas composições garantem que, mesmo com seus altos e baixos, o álbum continue relevante. Não é seu trabalho mais inventivo, mas é um lembrete de que, em qualquer estilo, Gal sempre soube entregar música com alma.
Faixas
Lado A
1."Sorte" (Part. Caetano Veloso) (Celso Fonseca - Ronaldo Bastos)
2."O Último Blues" (Chico Buarque )
3."Um Dia de Domingo" (Part. Tim Maia) (Michael Sullivan - Paulo Massadas)
4."Acende o Crepúsculo" (Antônio Cícero - Marina Lima)
5."Muito Por Demais" ( Gonzaga Jr.)
Lado B
1."Romance" (Djavan)
2."Musa de Qualquer Estação" (Roberto Carlos - Erasmo Carlos)
3."Bem Bom" (Arrigo Barnabé - Carlos Rennó - Eduardo Gudin)
4."Todo o Amor Que Houver Nessa Vida" (Cazuza - Roberto Frejat)
5."Quem Perguntou Por Mim" (Fernando Brant - Milton Nascimento)
6."De Volta ao Futuro" (Ricardo Cristaldi - Waly Salomão)
Shake Your Money Maker (Def American, 1990), The Black Crowes
No final dos anos 1980, o rock parecia dividido entre duas forças opostas. De um lado, o brilho exagerado do hair metal, com sua estética glamorosa e produção polida. Do outro, o rock alternativo, impaciente e bruto, preparando o terreno para a explosão grunge. No meio desse turbilhão, o The Black Crowes surgiu como um sopro de autenticidade, resgatando a essência do rock clássico e infundindo-lhe uma energia renovada. Misturando blues, soul e o espírito rebelde do rock sulista, os irmãos Chris e Rich Robinson fundaram a banda em Atlanta, em 1984, canalizando influências que iam dos Rolling Stones e Faces ao Lynyrd Skynyrd. Mas não se tratava de simples revivalismo: havia ali um frescor inegável, uma visceralidade que soava tanto familiar quanto revigorante.
O empurrão decisivo veio com George Drakoulias, produtor e caça-talentos da Def American, que enxergou nos Crowes o potencial para incendiar o cenário musical. Sob sua tutela, a banda assinou contrato e rumou para os estúdios de Atlanta e Los Angeles, onde registrou Shake Your Money Maker, um álbum que exala autenticidade. Drakoulias reforçou a sonoridade da banda com músicos de peso, como o tecladista Chuck Leavell, veterano do Allman Brothers Band e dos Stones, mas sem jamais diluir a crueza e a espontaneidade do grupo. As composições, muitas resgatadas da época em que a banda se chamava Mr. Crowe’s Garden, ganharam vida nova com produção precisa e arranjos bem calibrados. O resultado? Um álbum que equilibra técnica e fúria, capturando o espírito do rock de bar em sua melhor forma.
Musicalmente, Shake Your Money Maker finca os pés no blues rock e no southern rock, mantendo viva a chama do classic rock dos anos 1970. A influência de ídolos como Rod Stewart e Paul Rodgers transparece nos vocais rasgados de Chris Robinson, enquanto os riffs de Rich Robinson combinam a irreverência de Keith Richards com a solidez de Jimmy Page. O grande trunfo do disco é sua pegada orgânica, que foge dos excessos da produção oitentista e aposta na crueza como diferencial.
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| The Black Crowes em frente à casa de shows Paradiso em Amsterdã, Holanda, em junho de 1990. |
O álbum também tem seus momentos de introspecção. “She Talks to Angels”, com sua melodia acústica e carga emocional intensa, tornou-se um clássico imediato. Já “Seeing Things” adiciona uma aura gospel ao repertório, com teclados envolventes e vocais carregados de sentimento. Para equilibrar, faixas como “Struttin’ Blues” e “Stare It Cold” apostam em um rock direto e sem adornos, reafirmando a identidade rebelde da banda.
Lançado em um momento de transição no rock, Shake Your Money Maker vendeu mais de 5 milhões de cópias nos somente nos Estados Unidos, garantindo ao The Black Crowes um lugar cativo na cena. Embora alguns críticos tenham questionado sua originalidade, a banda provou que a paixão pelo rock clássico ainda tinha espaço no mainstream. Décadas depois, o álbum segue relevante, influenciando novas gerações e reforçando a máxima de que guitarras sujas e refrãos certeiros nunca saem de moda.
Faixas
Todas as faixas foram escritas por Chris e Rich Robinson, exceto onde indicado.
Lado 1
- "Twice as Hard"
- "Jealous Again"
- "Sister Luck"
- "Could I've Been So Blind"
Lado 2
- "Seeing Things"
- "Hard to Handle" (Allen Jones, Al Bell, Otis Redding)
- "Thick n' Thin"
- "She Talks to Angels"
- "Struttin' Blues"
- "Stare It Cold"
Black Crowes: Chris Robinson (vocais), Rich Robinson (guitarras), Jeff Cease (guitarras), Johnny Colt (baixo) e Steve Gorman (bateria e percussão).
Arifa - Anatolian Alchemy (2012)
Arifa significa "mulher bonita, brilhante, cheia de sabedoria" em árabe. E Anatolian Alchemy é o segundo álbum deste grupo holandês, "uma ponte sonora entre o Oriente e o Ocidente". A tradição musical do Oriente Médio e dos Bálcãs se mistura com o jazz mais contemporâneo. Um álbum que respira o vento, o espaço, o tempo e o infinito.
Beyond Babylon (2010) foi seu álbum de estreia, aclamado internacionalmente pela crítica. O segredo do Arifa reside na química criativa entre seus quatro membros. Vindos da Romênia, Turquia, Holanda e Alemanha, sua música é tão diversa quanto suas origens, transitando da tradição turca e balcânica ao jazz e à música clássica.
O resultado é maior que a soma das partes, uma jornada ao reino mágico da imaginação. Uma obra com uma qualidade onírica e uma evocação de paisagens sonoras exuberantes, ricas em detalhes e mudanças sutis de ritmo e clima. Belíssimas composições (escritas por Alex Simu) executadas com absoluta precisão pelo quarteto, cada nota tocada serve ao todo. Um exemplo primoroso de interculturalidade.
Pessoal :
Alex Simu (Romênia) - sax, clarinetes e laptop
Mehmet Polat (Turquia) - ud
Franz von Chossy (Alemanha) - piano
Sjahin During (Turquia/Holanda) - percussão afro-anatólia
01. Maktub
02. Kids play
03. Manu'du
04. Dahab
05. Red ink
06. Dacian tale
07. Fingerprints
08. Queen of Carthage
09. Anatolian alchemy
10. Bergamot flower
11. Border with my heart
Vusi Mahlasela – Say Africa (2011)
Em sua terra natal, a África do Sul, o cantor, compositor e poeta Vusi Mahlasela é carinhosamente conhecido como "A Voz". Sua compatriota, a escritora Nadine Gordimer, disse certa vez sobre ele: "Vusi Mahlasela canta como um pássaro: em plena resposta ao fato de estar vivo ." Além de seu notável talento como compositor, Mahlasela foi abençoado com uma das vozes mais distintas da música contemporânea.
Nascido e criado no gueto de Mamelodi, nos arredores de Pretória, desde a adolescência, Vusi Mahlasela testemunhou a crueldade do regime do Apartheid em seu país. De fato, ele testemunhou o massacre de Soweto em 1976, que o marcou profundamente e o levou a usar sua música como instrumento de protesto.
Quando gravou seu primeiro álbum, na década de 1980, passou a ser monitorado pela polícia e sofreu prisões. Ele não tem permissão para se apresentar, mas não se importa; toca sua música em funerais, vigílias, manifestações... para fazer sua mensagem ser ouvida. Sua entrada no Congresso de Escritores Sul-Africanos em 1988 marcou um marco em sua maturidade artística. Além de iniciar sua colaboração com o poeta Lesego Rampolokeng, explorou o jazz e a música tradicional sul-africana, bem como a obra do cantor e compositor chileno Víctor Jara, que — em sua opinião — foi sua maior influência.
Seu grande dia chegou quando foi convidado a participar do concerto que se seguiu à posse de Nelson Mandela como Presidente da África do Sul em 1994, onde interpretou "Thula Mama", dedicado a todas as mulheres sul-africanas e, especialmente, à sua avó (que o criou), que demonstrou uma coragem perturbadora diante da opressão policial durante a era do Apartheid.
Vusi Mahlasela foi um líder na luta contra o apartheid e continua a defender a igualdade de todos os seres humanos. Suas canções falam de amor, paz, esperança, orgulho de quem se é e, claro, da luta pela liberdade, sem mencionar o perdão e a reconciliação.
01. Say Africa
02. Woza
03. Ro Yo Tshela Kae
04. Conjecture of the Hour
05. Umalume (feat. J.B. Ntuli)
06. Mokalanyane
07. In Anyway (feat. Taj Mahal)
08. Ode to Lesego
09. Vezubuhle
10. Nakupenda Africa (feat. Angélique Kidjo)
11. Korodi
12. Ba Kae?
13. Naka Mokhura
14. Ntate Mandela
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