domingo, 2 de novembro de 2025

AC / DC – 30 anos de Ballbreaker [1995]

 

AC / DC – 30 anos de Ballbreaker [1995]

Há 30 anos, chegava ao mercado Ballbreaker, décimo terceiro álbum de inéditas do AC/DC. O disco – que gerou single de sucesso – foi produzido por Rick Rubin e marcava a volta do baterista Phil Rudd. Vamos lá entender um pouco mais dessa história.

Na década de 90, o AC/DC já era considerado uma lenda do rock, mas havia um tempo que seus discos vinham dividindo opiniões. Desde For Those About to Rock que o grupo não lançava um álbum que era celebrado. Havia quem acusasse as mixagens (especialmente em Fly On The Wall), existia quem culpasse as composições (algo que ocorreu muito em Flick of The Switch), portanto parecia uma boa ideia convidar Rick Rubin para a produção. Afinal, ele era um fã declarado e dizia que queria resgatar a sonoridade clássica da banda.

Rubin já havia oferecido seus préstimos na época de The Razor´s Edge, mas o grupo já havia fechado um acordo com Bruce Fairbairn e decidiram seguir com ele. Quando chegou o pedido para que fizessem uma música para a trilha sonora de Last Action Hero (O Último Grande Herói), os músicos resolveram dar uma chance ao rapaz e a parceria deu certo. “Big Gun” teve uma boa repercussão e o grupo gostou de como a faixa soava, sendo assim, por que não dar uma chance?

Capa da trilha sonora.

Chegou Julho de 1994 e o AC/DC começou a trabalhar na criação do novo álbum. As primeiras músicas foram criadas ainda em formato de trio com Angus Young na guitarra, Malcom Young assumindo as 4 cordas e Chris Slade na bateria, mas Malcom sentia que alguma coisa não estava certo. O músico tinha o sentimento que a banda não tinha o mesmo brilho desde a saída de Phil Rudd. Na verdade, essa pulga atrás da orelha tinha uma razão. O antigo baterista havia assistido um show do grupo na Nova Zelândia, em 1991, e no backstage disse à Malcom que, se alguma coisa mudasse, era para entrar em contato com ele, que tinha interesse em voltar ao AC/DC.

De tempos em tempos, aquela conversa retornava à cabeça do guitarrista, que decidiu entrar em contato com Phil e pedir para que se encontrassem no estúdio para ver se ainda dava liga. Rudd não sentava em uma bateria há 6 anos, mesmo assim quando começaram a tocar juntos, tudo voltou a fazer sentido. Era o fim da estrada para Chris Slade. Malcom ligou para Chris, disse que Phil havia retornado e pediu para que aguardasse alguns dias. Slade cansou de esperar e avisou que estava saindo fora.

As gravações iniciaram em Outubro do mesmo ano, no Power Station Studios, em Nova Iorque. E, logo, Rubin percebeu que a empreitada não era tão simples quanto imaginava. “Me recordo que, muitos anos atrás, tinha um cara fazendo um trabalho com Chuck Berry e ele dizia. ‘Ele é tão previsível. Sempre os mesmos licks’. Mas quando parou para escutar, reparou que todas as vezes era diferente, ele começou a enxergar as outras peças do quebra cabeça. Em Chuck, há o jazz, o country, o blues e, é claro, o rock ´n´ roll. A grande jogada é que ele sempre soube quando tocar e quando não”, declarava Angus Young.

O comentário do guitarrista faz sentido. O AC/DC sofre a mesma crítica. Quem não gosta, costuma dizer que eles fazem sempre o mesmo disco. Para quem está de fora, parece fácil fazer o que fazem, acham que é só seguir uma fórmula. Muitos reclamam da bateria reta que, na verdade, é uma marca do grupo e este foi o primeiro elemento que deu trabalho ao renomado produtor. Os discos começam a ser gravados pela bateria. Ele mexia, mexia, mexia e não conseguia tirar um som decente. Tentou de tudo: moveu o instrumento de lugar, colocou espumas na parede, nada funcionava. Depois de 10 semanas, ficou decidido que gravariam em outro estúdio. Dessa vez, localizado em Los Angeles, o Ocean Way Studios.

 

Da esquerda para a direita: Malcolm Young, Phil Rudd, Angus Young, Cliff Williams e Brian Johnson.

“Depois que começamos a trabalhar em L.A., o som começou a ficar mais verdadeiro e algumas músicas começaram a surgir. Decidimos começar tudo de novo e regravamos as três ou quatro músicas que já tínhamos”, comentava o saudoso Malcom Young. A relação com o produtor foi conturbada. Rick Rubin fazia os músicos repetirem as músicas dezenas de vezes e, para piorar, começou a dividir o tempo de produção com o Red Hot Chili Peppers, que vinha trabalhando no que viria a se tornar o One Hot Minute. Ambas as situações deixaram os músicos putos, vindo a declararem pouco depois que havia sido um erro trabalhar com ele.

Não sei como é trabalhar com Rick Rubin. Se é um cara fácil de lidar, se é um cara difícil. Acredito que seja um sujeito complicado. Dizem, inclusive, que houve brigas homéricas entre ele e Malcom sobre como a banda deveria soar. Agora, verdade seja dita, o álbum não tem um som ruim. Ok, ele não conseguiu reproduzir aquele som mágico que Mutt Lange tirou em Back in Black, mas 30 anos se passaram e o álbum não soa datado, o que já demonstra que o trabalho não foi exatamente equivocado.

O disco já começa de cara com 2 músicas que se tornaram hits: “Hard As a Rock” e “Cover You In Oil”. As músicas que serviam de apresentação ao novo trabalho demonstravam que a banda seguia a risca com seu hard rock influenciado por blues, com baixo pulsantes, vocal berrado e riffs marcantes. “The Furor” é mais cadenciada, mais midtempo e funciona. “Boogie Man” é um blues eletrizado, como se tentassem criar uma nova “The Jack”. Tudo bem, a faixa não tem a mesma força de sua canção clássica, mas ainda assim é divertida e tem um belo solo de Angus Young. “The Honey Roll” tem um riff sensacional, um belo vocal de Brian Johnson, mas merecia um refrão mais forte. “Burnin´ Alive” é a primeira faixa que considero um filler. Não chega a ser ruim, mas não diz a que veio.

Ingresso do show do Pacaembú

A segunda metade começa com a empolgante “Hail Caesar”, uma das faixas que marcaram presença no set da turnê. “Love Bomb” e “Caught With Your Pants Down” acho que estão abaixo do nível do material presente no disco. Especialmente as letras que são bem bobinhas. “Whiskey On The Rocks” diverte, mas o disco volta a pegar fogo mesmo com a faixa-titulo, responsável por fechar o CD. Musica simplesmente perfeita. Uma das melhores canções do AC/DC na década de 90.

Já vi muitas pessoas dizerem que o problema desse disco são as composições, que o álbum soa certo, mas que a única boa faixa era “Hard As a Rock”. Como já deu para perceber, não concordo. É verdade que eles não criaram um novo clássico, mas dizer que o disco tinha apenas uma faixa boa era absurdo. Para quem curte o som do AC/DC e não busca um álbum de hits, o disco agrada em cheio. Eles entregaram exatamente aquilo que se esperava da banda.

Se o álbum era bom, o show era espetacular. Em outubro de 1996, a turnê aterrissou no Pacaembu trazendo o AC/DC, pela primeira vez, à São Paulo. (Sim, os músicos haviam feito uma apresentação histórica na primeira edição do Rock in Rio (1985), mas haviam se apresentado apenas no Rio de Janeiro). Lembro até hoje de ter assistido show com os olhos brilhando. A introdução do show com a bola indo para frente e para trás até atingir o palco e os músicos iniciando a noite ao som de “Back in Black” é algo que nunca vou me esquecer. A banda tinha uma energia fora do comum, o setlist era espetacular. Se o álbum, mais uma vez, dividiu as opiniões, os shows acabavam com qualquer dúvida. A banda ainda tinha muita lenha para queimar…

OBS: Os depoimentos presentes nessa matéria foram retirados do livro Maximum Rock n´ Roll: The Ultimate Story of the World´s Greatest Rock and Roll Band.

Faixas:

01) Hard as a Rock

02) Cover You In Oil

03) The Furor

04) Boogie Man

05) The Honey Roll

06) Burnin´ Alive

07) Hail Caesar

08) Love Bomb

09) Caught With Your Pants Down

10) Whiskey On The Rocks

11) Ballbreaker


Os Últimos Brilhos do Diamante Louco

 

Os Últimos Brilhos do Diamante Louco

Muita gente que conhece “Wish You Were Here” ou “Another Brick in the Wall” não sabe que o Pink Floyd começou sem a figura de David Gilmour e que Roger Waters não era a cabeça criativa da banda no início de sua trajetória. Alguns podem ter ouvido o nome de Syd Barrett, mas talvez não entendam direito a sua relação com a banda. Ainda hoje isso acontece com algumas pessoas que eu converso. Assim, aproveitando que finalmente consegui uma cópia do The Madcap Laughs, disco solo de 1970, resolvi falar um pouco mais da produção do diamante louco.

Para não precisar me aprofundar muito na sua história com o Pink Floyd, tentarei resumir. Syd Barrett fundou o Pink Floyd, juntos de seus companheiros Roger Waters, Nick Mason e Richard Wright, e compôs praticamente sozinho todo o álbum de estreia, The Piper At the Gates of Dawn (1967). O álbum tinha os dois pés no rock psicodélico e abusava de efeitos até então incomuns de gravação como ecos, reverberação e muita experimentação e improviso. Outra coisa que eles abusavam muito eram os entorpecentes, principalmente o LSD. Isso fez com que o estado de saúde mental de Syd se debilitasse rapidamente.

Com problemas de convivência com o companheiro, os outros integrantes chamaram um amigo em comum para ajudá-los nas apresentações ao vivo, pois não eram raros os momentos em que Barrett não conseguia performar de forma razoável. O nome desse amigo é conhecido: David Gilmour. Com o passar do tempo as coisas foram piorando e em determinado momento simplesmente deixaram de chamar Barrett para os compromissos ao vivo e ele acabou sendo afastado da banda. A ideia de que ele fosse um membro que não precisasse fazer os shows e participasse só das composições, parecido com a situação de Brian Wilson nos Beach Boys, foi levada em consideração, mas não deu certo. Antes disso, foi gravado um segundo álbum, A Saucerful of Secrets (1968), dessa vez com apenas uma composição de Syd Barrett, “Jugband Blues” na qual é possível vislumbrar o estado do relacionamento entre os membros.

“It’s awfully considerate of you
to think of me here
And I’m most obliged to you
for making it clear
That I’m not here”

“É imensamente atencioso de sua parte pensar em mim aqui
E eu fico muito grato por você
deixar claro
Que não estou aqui”

Esse trecho mostra que ele sabia que seus dias com a banda estavam chegando ao fim. Esse foi o modo que Syd Barrett se despediu da banda. E o fato dela ser a última música do disco nos passa a impressão de que a própria banda tentou estender o processo até o último minuto. Também mostrou que ele tinha mais compreensão do que estava acontecendo do que as pessoas imaginavam.

Porém, todo o processo não foi fácil para seus companheiros. De alguma forma eles ficaram com peso na consciência de que talvez estivessem traindo seu amigo. Dessa forma, mesmo o tirando da banda não o abandonaram de vez. Syd tinha muitas músicas iniciadas, em processo de composição ou até mesmo finalizadas e seria uma pena não registrar isso de alguma forma.

Version 1.0.0

Ele ficou longe da música por aproximadamente um ano. Depois disso, vendo que ele tinha interesse em um recomeço, a EMI o passou para seu novo selo especializado em progressivo, a Harvest. Tentaram algumas sessões de gravação, mas as coisas não funcionavam direito. Nessa época ele estava trabalhando com o produtor Malcolm Jones. O baterista do Humble Pie, Jerry Shirley acompanhava as gravações e David Gilmour fazia a função de baixista. Jones, eventualmente desistiu do trabalho e Roger Waters e David Gilmour assumiram a função de produtores do álbum. A maior dificuldade foi que Barrett tocava as suas músicas “ao vivo” no estúdio e não era raro ele se atrapalhar com o andamento, compassos e até mesmo manter o tom de sua voz. Se não fosse a conhecida presença de todos dentro de um estúdio, essas gravações poderiam muito bem ser consideradas como produções caseiras. Em algumas faixas usaram a solução de aumentar ou diminuir a velocidade de uma gravação para ajustar o melhor possível dentro de um compasso da música. O processo de gravação durou de maio de 1968 até agosto de 1969 e nesse contexto que em janeiro de 1970 saí The Madcap Laughs.

Entretanto, mesmo com esses percalços algumas pérolas surgiram nesse primeiro lançamento solo. “Terrapin”, “No Good Trying”, “Here I Go”, “Octopus” e “Long Gone”. São esses os pilares desse primeiros disco solo. Participam do álbum alguns músicos importantes da cena britânica além de Gilmour e Waters, que também produziram o material, e o baterista Jerry Shirley, que já foi citado acima. Mike Ratledge e Robert Wyatt, fundadores do Soft Machine e John Wilson, baterista que tocou com várias bandas como o Them, o Taste e o Skid Row. Todos participaram de uma faixa aqui e outra acolá. Quem esperava um disco na linha do que ele fez com o Pink Floyd se decepcionou. As músicas são muito mais simples e diretas do que sua ex-banda fazia, mas a psicodelia característica das composições do músico ainda está lá. Em determinado momento das gravações Waters e Gilmour se distanciaram um pouco para gravar o que viria a ser o Ummagumma (1969), quarto disco do Pink Floyd.

Em “Dark Globe”, Syd canta com uma emoção tocando a possibilidade das pessoas o esquecerem. Quando se lê a letra da música isso parece não estar conectado com sua vida de músico, mas é sintomático. Já em “Here I Go”, numa aparente música sobre uma garota Syd é bem explicito em dizer que ela pode fazê-lo esquecer “aquela velha banda”. “Terrapin” chegou a fazer parte do repertório ao vivo de David Gilmour em sua carreira solo anos e anos depois.

A capa do álbum mostra Syd Barrett agachado dentro de seu apartamento em que o piso tem faixas laranjas e marrons. Foi Syd mesmo que pintou essas faixas no piso pouco antes das fotos usada. O apartamento é completamente vazio, o que muitos comparam com a cabeça de Syd vazia de pensamentos, mas também pode refletir a vulnerabilidade de uma pessoa sem pretensões. O olhar de Syd é fixo e sem emoções, em uma contradição com as risadas do título do álbum. Na contracapa, ao fundo, Iggy, sua companheira da época, aparece nua, combinando com o apartamento.

Em Barrett, também lançado em 1970, dessa vez em novembro, a rotina foi muito parecida com a de seu disco anterior. Porém as músicas aqui parecem ser mais bem acabadas e produzidas, apesar de que no geral são inferiores às melhores faixas do primeiro disco. Gilmour tocou guitarras e o baixo e chamou Richard Wright para ajudar. Detaques para “Baby Lemonade”, “Gigolo Aunt”, “Wined and Dined” e “Dominoes”.

Em “Baby Lemonade” ele diz que o interlocutor é gentil como gelo, provavelmente trazendo à tona o tratamento que as pessoas tinham com ele nesse período, o tratavam friamente. Porém muitas letras são tão abstratas que são de difícil interpretação, mostrando que as viagens de LSD são muito mais malucas do que a gente imagina. Da capa, dessa vez sem sua foto, também podemos tirar algumas interpretações. Os insetos desenhados como se em uma sequência de desenvolvimento biológico traz o conceito de evolução ou mutação. O processo de vida naquele momento de Barrett pode ser enxergado dessa forma.

Já li críticas dizendo que os envolvidos com o lançamento desses discos de uma certa maneira estavam explorando a imagem de Syd Barrett. Há ideias muito boas em suas músicas, mas os produtores talvez tenham enfatizado mais sua loucura do que sua genialidade, e não fizeram muito esforço para ajudá-lo a fazer boas performances. Há takes em que ele perde o ritmo e teriam sido acrescentados principalmente nos relançamentos para enfatizar o péssimo estado de sua saúde mental. Particularmente acho desnecessário vários desses bônus, até pq até mesmo algumas faixas oficiais dos discos já eram bastante caóticas. Mas muita gente gosta desse tipo de material e talvez isso não tenha passado pela cabeça dessas pessoas.

Anos depois saiu um álbum com faixas de sobras que acabaram não entrando nesses dois discos e que foram gravadas desde o início das gravações ainda em 1968 até o fim das gravações de Barrett. Opel saiu em 1988 e não acrescenta muita coisa além de mais um afago aos fãs. Após Barrett, Syd foi se afastando cada vez mais, se isolando do mundo e a imprensa musical o tratava como uma espécie de hermitão. Porém sua família sempre negou isso dizendo que ele era muito feliz e que encontrou na pintura uma modo de se expressar artisticamente. Também falavam que ele brincava com as crianças da rua e apenas preferia passar tempo consigo mesmo do que se envolver em eventos sociais. Syd viveu a música intensamente (até demais) enquanto participou de tudo e, depois, simplesmente tirou isso do radar e foi viver outro tipo de vida.

Não posso deixar de citar o já conhecido e muito lembrado ocorrido relacionado com Syd Barrett, que é a chegada dele ao estúdio enquanto o Pink Floyd gravava Wish You Were Here em meados de 1975. Syd estava longe da banda há anos, ninguém se via durante todo esse tempos e justamente nesse álbum em que ele era o principal protagonista. Tantos álbuns do Pink Floyd que foram gravados e ele vai ao estúdio exatamente nesse. Essa história é bastante batida, mas é incrível por conta de toda a situação. Uma das história mais saborosas do rock.

Fica aqui a recomendação para quem não conhece a carreira de Syd Barrett após o Pink Floyd ou para quem ouviu há muito tempo, não deu bola e nunca mais voltou. Vários artistas de peso citam esses dois discos como uma fonte de inspiração. Artistas de diversas vertentes, de David Bowie à Flaming Lips. Uma boa forma de conhecê-lo é a coletânea The Best of Syd Barrett: Wouldn’t You Miss Me?, lançada em 2001. Quem sabe agora não seja uma oportunidade.


Discografias Comentadas: The Beatles [Parte III]

 

Discografias Comentadas: The Beatles [Parte III]

Em abril de 1970, Paul McCartney entrou com um processo para acabar com a Apple Records e pôr fim aos Beatles. Os outros três até cogitaram continuar juntos, e inclusive houve a proposta de Klaus Voorman para baixista. Mas naquele ano cada um lançou seu disco solo, e todos eles fizeram sucesso. Com isso, os quatro seguiram seus caminhos em separado, com Ringo se beneficiando do fato de que ninguém tinha bronca com ele para obter músicas e participações especiais dos outros em seus discos, mas nunca mais os quatro se juntaram num estúdio. Claro, houve rumores sobre a volta dos Beatles; Ringo acreditava que seria possível reunir os quatro para shows e, quem sabe, discos novos, mas nenhum dos outros se manifestou.

A EMI, na Inglaterra, e a Capitol, nos EUA, fizeram de tudo para manter os Beatles nas manchetes, lançando várias coletâneas, discos ao vivo, raridades. É impossível dar conta de tudo, até porque há muita repetição, mas há coisa bem interessantes. Para encerrar essa discografia, alguns petiscos importantes para os fãs do grupo. Se você tiver algum a mais para recomendar, deixe nos comentários!


COLETÂNEAS
A Collection of Beatles Oldies… But Goldies! (1966)

Lançada meio às pressas pela EMI na Inglaterra, A Collection… era uma excelente opção para quem comprava as edições britânicas dos álbuns, pois era composta essencialmente por músicas lançadas apenas em compactos (13 das 16 faixas), e uma raridade: “Bad Boy”, cover de Larry Williams que só saíra no “Beatles VI”, um dos vários discos mequetrefes que a Capitol lançava nos EUA para aproveitar a Beatlemania. Além disso, vários dos singles da banda tinham sido lançados apenas em mixagem em mono, e foram especialmente remixados em stereo para este lançamento. Esteve disponível em vinil no Brasil por décadas, mas nunca ganhou edição oficial em CD e acabou sendo excluída do catálogo oficial do grupo em 1987. Além das músicas extraídas de compactos, o disco incluiu as baladas “Michelle” e “Yesterday”, que saíram em LPs ingleses.

Hey Jude (1970)

Depois de 1967, o catálogo britânico e o americano passaram a coincidir, e a Capitol acabou ficando com vários singles que não tinham saído em LP; em fevereiro de 1970 ela juntou vários desses singles, incluiu “I Should Have Known Better” e “Can’t Buy me Love”, que só tinham saído em LP nos EUA na trilha sonora de A Hard Day’s Night (lançada pela United Artists), e o resultado foi um “novo” LP. As fotos da capa foram tiradas na última sessão feita por eles, e o álbum traz coisas ótimas como “Hey Jude”, “Lady Madonna”, a versão heavy de “Revolution”, “Don’t Let me Down” gravada em estúdio, “Paperback Writer” e seu lado B “Rain”, e a divertida “The Ballad of John & Yoko”. O disco só foi lançado oficialmente na Inglaterra em 1979, e em CD só saiu numa box set com os álbuns americanos; como no caso de A Collection…, as músicas estão disponíveis em antologias mais abrangentes

1962-66 e 1967-70 (1973)

Durante muito tempo, as melhores introduções à carreira dos Beatles foram esses dois discos, que traziam na capa e na contracapa as fotos dos quatro olhando para baixo, tiradas com sete anos de diferença – a mais recente ilustraria a capa de Get Back, que acabou não sendo lançado. Um álbum com a capa vermelha, outro azul, LPs embalados em envelopes com as letras, repertórios bem escolhidos, tudo conspirava para fazer dessas as coletâneas perfeitas da banda. Mas há falhas: 1962-66 não traz nenhuma cover (como deixar de fora “Twist and Shout”?) nem composições de George (como deixar de fora “Taxman”?), e, com pouco mais de 62 minutos, não é exatamente um generoso; 1967-70 compensa em duração (quase 100 minutos), mas The Beatles e Abbey Road são mal representados (colocar “Ob-La-Di, Ob-La-Da”; e não incluir “She Came in Through the Bathroom Window” foi crueldade). Em 2023 os dois álbuns foram relançados com músicas adicionais, corrigindo algumas injustiças. A nova versão de 1967-70 trouxe uma música “nova”, “Now and Then”, dando hype ao relançamento.

Rock’n’Roll Music (1976) e Love Songs (1977)

Duas coletâneas temáticas: a primeira traz 28 rocks gravados pela banda (dos quais a única raridade era “I’m Down”), começando com “Twist and Shout” e terminando com a versão do Let it Be para “Get Back” (ao vivo no telhado da Apple). Lançado em 1976 (e ainda em catálogo no começo dos anos 80), é um álbum praticamente perfeito, muito bem selecionado, daqueles para ouvir sem pular uma música e esfregar na cara de quem acha que os Beatles só sabiam fazer baladinha. Os únicos senões são a arte de capa, meio fraquinha, e não ser organizado cronologicamente, mas o fluxo das músicas é muito bom e esse acaba se tornando um detalhe menor. Nunca foi oficialmente lançado em CD, mas há uma boa versão pirata em digipack. Se forem as baladinhas que você prefere, no ano seguinte outro duplo, Love Songs, foi lançado. Com 25 músicas e menos de uma hora de duração, o disco tem uma cronologia ainda mais bagunçada, pois inicia com “Yesterday” e termina com “PS I Love You”; no entanto, o lado B do primeiro LP (com “Something”, “And I Love Her”, “If I Fell”, “I’ll be Back”, “Tell me What You See” e “Yes it Is”) acabou ficando praticamente perfeito. Também não foi lançado em CD e só é encontrado nesse formato em edição pirata. A capa imitando couro com letras douradas era bem simples, mas bonita.

Rarities (1978 e 1980)

Em 1978, foi lançada uma box com todos os LPs dos Beatles no mercado britânico. Para aumentar seu valor de mercado, foi acrescentada uma compilação de músicas raras, e o primeiro “Rarities” (assim mesmo, entre aspas) foi disponibilizado. Incluindo vários lados B de singles, o compacto gravado em alemão com versões para “She Loves You” e “I Wanna Hold Your Hand”, o EP “Long Tall Sally”, “Bad Boy” e a versão de “Across the Universe” doada para um álbum de caridade, o disco era uma tentativa de garantir que, se alguém tivesse os discos oficiais, 1962-66 e 1967-70, teria tudo que a banda lançou oficialmente. No entanto, a versão de “Love Me Do” do primeiro compacto foi “esquecida”. Eventualmente o álbum foi relançado fora da box, mas dois anos depois apareceu um novo Rarities no mercado americano e no resto do mundo, incluindo a “Love Me Do” do single, algumas versões alternativas como “Help” (com vocal diferente), “And I Love Her” (com final mais extenso), “Penny Lane” (com final diferente), “Helter Skelter” (com final editado), “Don’t Pass me By” (um pouco acelerada e com violinos diferentes), mas também incluiu “Misery” e “There’s a Place”, que a Capitol nunca tinha lançado nos EUA (tinham saído apenas num LP da Vee-Jay, fora de catálogo desde os anos 60), mas não eram exatamente raridades…

Past Masters Volumes One & Two (1988)

Past Masters foi disponibilizado como dois LPs/CDs separados ou como álbum duplo quando da remasterização do catálogo dos Beatles para lançamento em CD. A coletânea basicamente recolhe tudo o que a banda lançou oficialmente e não foi incluído nos discos originais. Com 33 músicas no total, o álbum traz os singles não lançados em LPs na época do lançamento, as famigeradas músicas em alemão, a versão alternativa de “Across the Universe”, o EP “Long Tall Sally”, enfim, toda a “raspa do tacho”, essencial para quem tem os discos originais e não quer investir em todas as coletâneas que circulam por aí. Past Masters funciona bem até como antologia da obra da banda, pois apenas o ano de 1967 não está representado no álbum (todas as músicas lançadas nesse ano estão em Sgt. Peppers … e Magical Mystery Tour); o único defeito é a arte de capa minimalista. Talvez um dia uma reedição traga as duas músicas “novas” completadas por Paul, George e Ringo para o projeto Anthology, bem como a recente “Now and Then”, e até aquelas alternativas que se encontram no Rarities americano, mas não aposto muito nisso.

Anthology (1995 – 1996)

Quando Anthology foi anunciada, muita gente pensou que finalmente as dezenas de músicas só disponíveis em discos piratas seriam lançadas. Anthology 1 era formado por material gravado entre 1958 e 64, e trouxe uma “música nova”, a versão do grupo para a demo de Lennon para “Free as a Bird”, mas ela é basicamente uma curiosidade, apesar de toda a falação na época. O álbum foi a primeira oportunidade oficial de ouvir Stu Sutcliffe no baixo, já que material com Pete Best na bateria já tinha sido disponibilizado antes. Músicas do Quarrymen, demos caseiras, material do tape gravado na audição para a Decca Records, versões ao vivo, alguns outtakes de estúdio (incluindo as primeiras tentativas de gravar “One After 909”, que seria revivida em Let it Be) e trechos de entrevistas completam o pacote; a baixa qualidade sonora das gravações contrasta vivamente com o som límpido das gravações oficiais do grupo feitas sob a batuta de George Martin, mas, com tanta coisa oficialmente rara ou inédita, quem se importava? Anthology 1 vendeu cerca de dez milhões de cópias no mundo inteiro e deixou os fãs sedentos por mais.

Quatro meses depois, Anthology 2 chegava às lojas, formado por material gravado entre 1965 e 68. Embora, na minha opinião, fosse muito melhor do que o primeiro volume, não vendeu tão bem (mas ficou mais semanas nas paradas). Talvez uma razão tenha sido o fato de que quase todo o material fosse composto por gravações ao vivo e versões alternativas de músicas conhecidas, com apenas quatro inéditas: “Real Love” (outra demo de John completada pelos outros três), “12 Bar Original”, “If You’ve Got Trouble” e “That Means a Lot” (a primeira editada de uma jam, as outras duas, nada especial). As versões alternativas de músicas lançadas oficialmente não chegam a ser uma grande revelação, mas mostram que havia variações interessantes (que seriam mais exploradas a partir de 2017, quando a box set de Sgt. Peppers… foi lançada).

Em outubro de 1996 saiu Anthology 3, que incluiu músicas gravadas entre julho de 1968 e janeiro de 1970 (“I Me Mine”) e não trouxe nenhuma “nova” feita a partir das demos posteriores de John entregues por Yoko. Mas há oito músicas não disponíveis nos outros discos e uma introdução de George Martin, e não há gravações ao vivo de baixa qualidade sonora. As versões de músicas já conhecidas variam bastante; por exemplo, uma versão voz e piano de “Good Night” (a orquestra entra só no final) resgata a música da versão cafona do álbum branco, e “While My Guitar Gently Weeps” sustenta-se bem sem Clapton. É difícil entender que “Piggies” entrou na cota de George no duplo The Beatles, e “Not Guilty” ficou de fora. E a demo de “All Things Must Pass” devia ter sido lançado pela banda em Let it Be… Pelo menos George corrigiu a injustiça. Em suma, na minha opinião, a grande revelação desse terceiro volume é o crescimento impressionante de George Harrison como compositor.

The Beatles 1 (2000)

Se você quer uma coletânea da banda em um só CD (há uma edição em LP duplo, mas nunca a vi), a melhor é esta aqui, composta por 27 músicas que atingiram o 1º lugar das paradas. Um dos discos mais vendidos do século XXI (e o 4º mais vendido nos EUA em todos os tempos), 1 marcou os trinta anos da dissolução dos Beatles e inclui suas músicas mais conhecidas, de “Love Me Do” a “The Long and Winding Road”. É praticamente impossível alguém gostar de rock e não conhecer as músicas que compõem este álbum – não espere raridades ou faixas obscuras: o foco é realmente oferecer os maiores sucessos da banda da maneira mais conveniente possível. A única coletânea em vinil que conheço que oferecia tantas músicas numa só peça era a 20 Greatest Hits de 1982 (só para sacanear: “Hey Jude” tem sua coda cortada e dura cerca de 5 minutos – uma versão que não aparece em mais nenhum lugar). The Beatles 1 é desnecessário para quem tem os discos originais e os dois volumes de Past Masters, mas é perfeito para um fã ocasional e seria minha recomendação para quem não tem nenhum disco do grupo e quer ter um.


AO VIVO

The Beatles Live! At the Star Club 1962 (1977)

Tapes feitos no famoso clube hamburguês em dezembro de 1962, quando Ringo já tinha entrado na banda, foram transformados neste álbum duplo (lançado pelo selo Lingasong em abril de 1977) com 26 músicas em pouco mais de uma hora de duração, quase todas covers (uma versão americana trouxe quatro músicas diferentes). A capa interna trazia algumas boas fotos dos jovens Beatles no palco. Registrado por um fã com um microfone de gravador na frente do palco, o disco não tem boa qualidade sonora, embora seja melhor do que se esperava para uma gravação tão antiga. O repertório traz algumas músicas que a banda regravaria posteriormente em seus álbuns de estúdio, como “Roll Over Beethoven”, “A Taste of Honey” (bela harmonia vocal de Paul, John e George), “Twist and Shout”, “Mr. Moonlight”, “Kansas City/Hey Hey Hey Hey”, “Everybody’s Trying to be my Baby”, “Matchbox” (a melhor música do disco, merecia uma versão mais audível), “Long Tall Sally”, e, sobretudo, “Ask me Why” e “I Saw Her Standing There” (sem o solo de guitarra), ambas composições de Lennon e McCartney que se misturam aos clássicos do rock e do pop (e algumas coisas pouco conhecidas) interpretados pelo quarteto de Liverpool. Outras músicas seriam disponibilizadas em versões com mais qualidade sonora nos discos da BBC, mas uma parte considerável só se encontra nesse disco. Como os tapes voltaram à propriedade dos Beatles, que nunca o apreciaram, é improvável que o álbum seja relançado – mas como saiu inclusive no Brasil, ainda dá de encontrar nos sebos.

The Beatles at the Hollywood Bowl (1977)

A Capitol tentou, sem sucesso, gravar um show dos Beatles no Carnegie Hall em fevereiro de 1964 para um álbum ao vivo; a gravadora não desistiu e registrou um concerto no Hollywood Bowl em agosto, mas a qualidade sonora não agradou ninguém. No ano seguinte, no mesmo local, foram gravados os shows de 29 e 30 de agosto, mas, mais uma vez o som deixou a desejar. Doze anos depois, em maio de 1977, surgiu este álbum, produto de paciente trabalho de George Martin tentando equalizar o som de maneira a se tornar audível. Com sete músicas extraídas do show de 23/8/64, quatro do de 30/8/65, uma do de 29/8/65 e uma (“Dizzy Miss Lizzy”) montada a partir das apresentações de 29 e 30/8, o álbum, em seus 33 minutos, nos leva a uma época em que os Beatles não tinham rivais no mundo da música. É claro que as versões de estúdio são melhores, mas a banda parecia genuinamente entusiasmada com a recepção da multidão, o disco é uma verdadeira festa, cheio de hits, boas covers, e cada um tem sua chance de brilhar (John e Paul, claro, dominam, mas Ringo canta “Boys” com entusiasmo, e George tem um desempenho vocal melhor do que na versão de estúdio de “Roll Over Beethoven”). Em 2016, uma nova versão, feita por Giles Martin, agregou quatro músicas ao programa original e melhorou ainda mais o som, sendo essa a preferível (até porque a original, até onde sei, nunca foi disponibilizada em CD). At the Hollywood Bowl não substitui os discos de estúdio nem as coletâneas, mas é imperdível para os colecionadores.

Live at the BBC (1994) e On Air: Live at the BBC volume 2 (2013)

Dois CDs duplos contendo gravações para a BBC, incluindo algumas músicas que nunca tinham sido lançadas oficialmente pelo grupo, bem como trechos de entrevistas e papos com os apresentadores. A banda fez um total de 52 sessões na BBC entre 1962 (mas nenhuma música desse ano foi lançada oficialmente) e 1965, gravando 88 músicas diferentes (como várias foram repetidas ao longo das sessões, um total de 275 gravações foram apresentadas), 36 das quais não apareceram nos discos da época (31 delas acabaram fazendo parte dos dois volumes). Lembro que na época que o primeiro volume foi lançado, os bootleggers disponibilizaram uma box set com 10 CDs trazendo tudo que conseguiram localizar. O segundo volume corrigiu algumas lacunas, mas traz sobretudo músicas já conhecidas, disponíveis nos primeiros LPs dos Fab Four; a exceção é “Beautiful Dreamer”, inédita em disco deles. Três fatores tornam os dois volumes bem interessantes: as músicas que a banda não lançou oficialmente (majoritariamente covers), a baladinha de Lennon e McCartney “I’ll Be On My Way”, indisponível em outra forma, e o fato de que eles realmente pareciam gostar de gravar para a rádio. Difícil destacar alguma música quando se tem tantas, mas chamo a atenção para “Thank You Girl” no primeiro volume, pois a banda está bastante animada e Ringo desce a lenha na bateria, diferentemente de seu estilo mais sutil e, no segundo, para o belo desempenho vocal de Paul em “And I Love Her”. Os livretos são muito bons, bastante detalhados e informativos, e algumas fotos, se não são inéditas, pelo menos não são muito comuns. Quando On Air foi lançado, Live at the BBC foi remasterizado e relançado em digipack como o volume 2.

Get Back: The Rooftop Performance (2022)

Lançado somente nas plataformas de streaming, é a versão oficial mais completa do famoso concerto no telhado da Apple Records. Embora funcione melhor em vídeo do que áudio, é imperdível, pois traz os Beatles finalmente se divertindo nas tensas sessões de Let it Be. Inclui “Get Back” (em três versões), “Don’t Let me Down”, “I’ve Got a Feeling” (duas versões para cada uma), “One After 909”, “Dig a Pony” (uma versão para cada) e até um trecho do “God Save the Queen”, com pouco mais de 38 minutos e meio de música e alguns diálogos. “Dig a Pony” está mais longa que a versão conhecida por todos, com uma introdução instrumental, e cada fã pode escolher qual versão prefere das músicas repetidas. A qualidade de gravação é boa, e a presença de Billy Preston libera John e Paul para se concentrarem em seus instrumentos “normais”, e só há duas coisas a lamentar: o show é curto, e não há nenhuma versão para músicas de George; seria interessante ouvir como sua voz soava ao vivo no começo de 1969. Quando ouvia as músicas que saíram em Let it Be, ficava me perguntando como teria sido um show do grupo se eles tivessem voltado a excursionar, e esse breve concerto diminui um pouco a curiosidade.

A Small Selection of Antiques & Curios – The Beatles with Tony Sheridan (várias edições)

Como é sabido, a primeira gravação feita pelos Beatles foi acompanhando o cantor e guitarrista Tony Sheridan, na Alemanha, ainda com Pete Best na bateria, em junho de 1961. Várias edições dessa sessão (produzida por Bert Kaempfert) foram lançadas a partir de 1964 pela Polydor (ou suas licenciadas), destacando duas músicas: uma versão para “Ain’t She Sweet”, com John no vocal principal, e a instrumental “Cry for a Shadow”, parceria entre George e John que soa como um pastiche do The Shadows, muito popular na Inglaterra no começo dos anos 60. As edições em vinil usualmente trazem essas duas músicas dos Beatles, mais seis acompanhando Sheridan (a mais famosa é, sem dúvida, “My Bonnie”, lançada em single), e quatro do cantor com um grupo chamado The Beat Brothers (que até o começo dos anos 80 se imaginava fosse um pseudônimo dos Beatles). Até a Som Livre licenciou as gravações (no início dos anos 80) para um disco chamado Beatles In The Beggining – uma picaretagem com apenas 8 músicas que chamava Pete Best de PETER e incluía as 4 músicas com os Beat Brothers! A melhor edição que conheço é o LP Ain’t She Sweet, com bela foto de capa.

Reel Music (1982)

Essa antologia foi lançada em 1982 reunindo músicas dos filmes dos Beatles (A Hard Day’s Night, Help, Magical Mystery Tour, Yellow Submarine e Let it Be). Em princípio, não teria nada de especial – ainda que seja uma coleção bem interessante de músicas, mas havia algumas diferenças: “I Should Have Known Better” aparece em mixagem em stereo com introdução ligeiramente diferente (diz- se que havia um erro na introdução de harmônica, mas admito não o ter percebido até hoje…), “A Hard Day’s Night” e “Ticket to Ride” em mixagem em stereo, versões inéditas nos EUA até então (em que as músicas tinham saídas em mono “reprocessado”), e um brinde especial: um compacto com “The Beatles Movie Medley”, que mistura trechos de várias músicas do disco (na época, o projeto holandês Stars on 45 fazia bastante sucesso mixando trechos de músicas numa faixa única), e “I’m Happy Just to Dance With You” no lado B. O medley e as versões diferentes nunca foram reeditados, tornando o disco uma verdadeira raridade hoje em dia. Um amigo meu tinha o LP brasileiro, mas não me lembro de ele ser acompanhado pelo compacto.

Let it Be… Naked (2003)

Paul nunca escondeu que não gostava da produção de Phil Spector e insistiu num relançamento sem as adições do produtor. Let it Be… Naked não inclui “Dig It” nem “Maggie Mae”, mas traz a versão ao vivo de “Don’t Let me Down” gravada no telhado da Apple. As músicas foram remixadas, e algumas diferenças são gritantes; “The Long and Winding Road”, por exemplo, é uma música inteiramente nova, “For You Blue” dá mais destaque à pedal steel guitar de John, “I’ve Got a Feeling” tem vocais melhores, mais claros (e você ouve com mais clareza a bateria do Ringo) – essa e “Don’t Let me Down” foram “compostas” a partir de dois takes do concerto na Apple, em vez das versões originais. Gosto mais dessa versão do que do Let it Be original, mas ainda o acho um dos discos mais fracos que os Beatles gravaram.

Love (2006)

Esse álbum de remixes feito por George e Giles Martin (com a aprovação de Paul, Ringo, Yoko Ono e Olivia Harrison) foi lançado como a trilha sonora do espetáculo do Cirque du Soleil (George Harrison defendia o projeto, mas infelizmente não viveu para vê-lo). Alguns dos remixes, como o que acopla “Drive my Car”, “What You’re Doing” e “The Word”, são bem interessantes, mas no todo o disco passa uma sensação de estranheza no ouvinte. “Within You, Without You” mixada com a bateria de “Tomorrow Never Knows” ficou bem legal (por outro lado, introduzir “Octopus’s Garden” a capella com o arranjo orquestral de “Good Night” não me agradou), mas o disco não motiva muitas audições. As vendas foram boas, com dois milhões de discos só nos EUA (4º lugar na Billboard), mas não substitui os discos originais.

Box Sets

O Fab Four é bem servido de boxes, desde os tempos do vinil, e novas caixas estão sendo lançadas com as sessões para os álbuns do grupo. A pequena lista abaixo pretende destacar algumas bem interessantes.

The Beatles Collection: mencionada acima, essa bela box set britânica traz 12 álbuns originais em 14 LPs (não se esqueçam de que The Beatles é duplo, e a primeira versão de Rarities saiu na box); a exceção é Magical Mystery Tour, que na versão britânica era um EP duplo. Os álbuns vêm com a arte original (incluindo capas gatefold e encartes) e as versões stereo foram usadas. Hoje em dia não tem mais nada que leve a comprá-la especificamente, mas um colecionador de vinis pode perfeitamente ficar com ela e depois buscar o que falta.

The Beatles in Mono: caixa de CDs e LPs que inclui todos os discos do grupo originalmente lançado em suas versões em mono (ou seja, até o álbum branco). O pacote é acompanhado pelo CD duplo/LP triplo Mono Masters, que traz algumas versões em mono inéditas em CD até esse lançamento. As versões em stereo estão numa box simplesmente intitulada The Beatles, que traz Past Masters como bônus.

The U.S. Albums: esta caixa substituiu as boxes The Capitol Albums vol. 1 e 2, lançadas em 2004 e 2006, com oito discos americanos (cada CD trazia as versões mono e stereo), e traz todos os 13 lançamentos norte-americanos, também com as duas versões em cada disco. Vale a pena para um colecionador que queira ter em CD o bizarro LP duplo The Beatles Story (de 1964, composto quase inteiramente por entrevistas) e a já mencionada antologia Hey Jude. Ou, então, para os velhos fãs americanos que cresceram ouvindo discos como Beatles VI ou Yesterday and Today.

Box sets dos álbuns: desde o aniversário de 50 anos de Sgt. Peppers…, diversos discos dos Beatles foram lançados em box sets individuais, como RevolverThe BeatlesAbbey Road e Let it Be. Essas boxes serão objeto de uma matéria futura; por ora, basta comentar que a produção é ótima, a qualidade sonora, excelente, e há bastante coisa interessante (inclusive algumas versões alternativas que não estavam disponíveis nem mesmo nos bootlegs), mas são bem caras (e em alguns casos, há pouco aproveitamento do espaço disponível): o colecionador ou fã precisa de todas, mas os demais podem se contentar com as edições em CD duplo ou triplo (no caso do álbum branco) que trazem parte do material.


Destaque

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