sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

Indian: crítica de From All Purity (2014)

 



Quinto álbum da banda norte-americana IndianFrom All Purity foi lançado em 21 de janeiro pela Relapse e sucede Guiltless, de 2011. O quinteto de Chicago executa um sludge/drone lamacento, arrastado e denso, nada amigável para os ouvidos não acostumados com ambos os gêneros.

Com guitarras cheias de peso e pra lá de saturadas, o Indian leva o ouvinte por seis pesadelos sonoros em From All Purity. Todas as músicas são longas e ultrapassam os seis minutos - a exceção é “Clarify”, uma coda repleta de ruídos que fica na faixa dos quatro minutos. A sonoridade é construída pelas guitarras e pelo vocal gutural, que parece executado por uma alma penada vindo direta de um castelo mal assombrado.

A proposta da banda passa longe de criar algo que soa próximo de algo familiar para a grande maioria dos fãs de heavy metal. Não existem refrãos, as guitarras despejam riffs repetitivos que apenas em alguns momentos apresentam variações, amparados por uma cozinha sólida e espessa. Os vocais sobrevoam essa sonoridade intimidadora, despejando versos fantasmagóricos. Para tentar localizar o leitor e apenas tendo isso como parâmetro, pode-se dizer que existe uma certa similaridade com a música do Cult of Luna, ainda que de leve, já que a banda sueca é mais atmosférica.

Apropriadamente, a faixa de abertura tem o sugestivo título de “Rape” e promove literalmente um estupro auditivo em seus quase oito minutos, que soam como a trilha de um desagradável pesadelo. Trata-se de um som que causa estranheza a princípio, mas que, mesmo assim, possui um apelo implícito, atração que talvez encontre explicação no interesse que sentimos por tudo aquilo que exala uma aura sombria e nos leve para o desconhecido. A faixa mais convencional é “Disambiguation”, que encerra o disco com uma espécie de doom sludge, se é que isso existe.

From All Purity é um álbum que mexe profundamente com o ouvinte, e não no sentido de fornecer uma trilha sonora para momentos específicos. O que o disco faz é levar quem se aventura por suas faixas através de uma espécie de realidade paralela que não tem nada a ver com o mundo cada vez mais fantasioso e individualista em que vivemos. Nesse sentido, trata-se de uma peça de arte contestadora e perturbadora, que se destaca sem dificuldades no universo padronizado em que estamos inseridos.

Quantos discos ainda podem receber essa definição atualmente?


Faixas:
1 Rape
2 The Impetus Bleeds
3 Directional
4 Rhetoric of No
5 Clarify
6 Disambiguation






Ron Keel: crítica de Metal Cowboy (2014)

 



Ron Keel, fundador, vocalista e guitarrista do veterano Keel, um dos nomes mais cultuados do hard norte-americano, reinventa-se em Metal Cowboy, seu segundo disco solo. Enquanto seu primeiro trabalho individual, Alone at Last (2006), trazia baladas e regravações com um acentuado clima country romântico, em sua segunda investida Keel trilha o caminho seguro e sempre agradável do southern rock.

Bem acompanhado por Frank Hannon (guitarra, Tesla) e Mike Vanderhule (bateria, Y&T), Ron (que além de cantar e tocar guitarra assumiu também o banjo e o baixo) parece ter encontrado um caminho promissor para sua carreira solo. Explorando o orgulho de ser norte-americano através de uma das sonoridades mais emblemáticas e populares de seu país natal, o vocalista gravou um disco com potencial para agradar os milhões de admiradores de uma das grandes inspirações de Metal Cowboy, o lendário Lynyrd Skynyrd.

Estilisticamente, o que se ouve é uma mistura de hard rock com country, tudo embalado pela bela voz de Keel. Com boas composições, o  álbum alterna canções com um inegável ar estradeiro (“Long Gone Bad”, “The Last Ride” e “The Cowboy Road”) com outras que trazem o bucólico e sempre acolhedor clima do campo (“What Would Skynyrd Do” e “Singers, Hookers & Thieves”, essa última em dueto com Paul Shortino, ex-Rough Cutt e Quiet Riot). No meio disso tudo, pequenas inserções em direção ao hard oitentista que deverão agradar os fãs das antigas, como no single “My Bad”, "Wild Forever" e em “Evil Wicked Mean & Nasty”.

Metal Cowboy não é um disco que mudará o mundo ou fará algo do tipo, porém trata-se de um trabalho honesto e bastante agradável de um artista já veterano e que, a essa altura de sua carreira, explora com classe uma sonoridade até então inédita em sua trajetória.

Indicado tanto para os veteranos fãs do Keel quanto para quem curte o rock caipira característico do sul dos Estados Unidos.

Faixas:
1 Long Gone Bad
2 Wild Forever
3 My Bad
4 What Would Skynyrd Do
5 Just Like Tennessee
6 The Last Ride
7 When Love Goes Down
8 Singers, Hookers & Thieves
9 Evil Wicked Mean & Nasty
10 The Cowboy Road
11 3 Chord Drinkin Song
12 My Bad (Radio Version) (bonus track)
13 Just Like Tennessee (Unplugged) (bonus track)
14 Singers, Hookers & Thieves (solo acoustic version) (bonus track)





MaYaN: crítica de Antagonise (2014)

 



Projeto de Mark Jansen (After Forever, Epica), o MaYaN segue um caminho interessante, explorando liricamente a mitológica civilização maia enquanto, musicalmente, turbina o seu death metal com elementos sinfônicos. O resultado já havia surpreendido no primeiro disco, Quarterpast (2011), e consolida a sua qualidade com Antagonise, segundo  álbum, lançado no final de janeiro pela Nuclear Blast.

Há mudanças significativas em relação aos dois discos. Em Quarterpast, Jansen contava com a participação de Simone Simmons, sua companheira no Epica, como convidada especial. Em Antagonise, Simmons, que se tornou mãe recentemente, não participa. Sua substituta é Laura Macri. Completam o line-up Henning Basse (vocal, ex-Metalium), Frank Schiphorst (guitarra, ex-Prostitute Disfigurement), Jack Driessen (teclado, ex-After Forever), Rob van der Loo (baixo, Epica) e Ariën van Weesenbeek (bateria, Epica). Como convidados especiais, Floor Jansen (Nightwish, ReVamp), Marcela Bovio (Stream of Passion) e o violinista Dimitris Katsoulis.

O MaYaN se sai indubitavelmente melhor quando investe no metal extremo, caso da ótima “Human Sacrifice”, com participação de Floor Jansen. Trata-se de uma música excelente, o mais próximo que podemos chegar de como soaria o Nightwish se fosse uma banda mais agressiva. Outros destaques são “Bloodline Forfeit”, “Burn Your Witches”, “Paladins of Deceit”, “Faceless Spies” e “Insano”, essa última muito próxima de uma ária de ópera e que serve como uma espécie de interlúdio postada estrategicamente no meio do disco, e onde Laura Macri brilha intensamente com a sua bela voz.

Ainda que o timbre de Henning Basse soe meio fora de lugar em alguns momentos - um vocalista com um tom mais grave me parece que casaria melhor com a proposta do MaYaN, ao invés do tom agudo de Basse -, isso não chega a comprometer o trabalho, apesar da inegável estranheza inicial. Os riffs de Jansen caminham pelo universo do death e são encorpados pela ótima performance da cozinha do Epica, que faz um trabalho irretocável, notadamente Weesembeek, que demonstra dominar a opressiva arte da bateria extrema, repleta de blast beats. Mais uma vez, como já havia ocorrido em Quarterpast, o trabalho de composição é inspirado, com ótimas ideias colocadas na mesa e exploradas com criatividade pelos músicos. As intervenções sinfônicas tornam as faixas mais épicas, e funcionam muito bem, contrastando com os momentos mais extremos.

Antagonise é um belo disco, que consegue unir em um mesmo universo duas sonoridades antagônicas: o death metal e o metal sinfônico. E faz isso sem apelar para o manjado esquema “a bela e a fera” tão comum em um grande número de bandas, onde o contraste entre uma bela voz feminina e o gutural masculino é explorado à exaustão. Na verdade, acontece justamente o contrário com o MaYaN: o protagonismo, sempre, é da voz gutural de Jansen, que, dependendo da canção, tem como contraponto Basse ou as vozes femininas presentes.

Mais uma bela bola dentro.

Faixas:
1 Bloodline Forfeit
2 Burn Your Witches
3 Redemption
4 Paladins of Deceit
5 Lone Wolf
6 Devil in Disguise
7 Insano
8 Human Sacrifice
9 Enemies of Freedom
10 Capital Punishment
11 Faceless Spies





Jackson 5 – 1970 – A B C

 



O segundo álbum deles, ABC, é um clássico atemporal e soa tão fresco e vibrante hoje quanto em 1970. Os vocais de Michael Jackson, com apenas 12 anos, explodem como dinamite – cheios de alma e energia – enquanto Marlon, Jermaine, Tito e Jackie fornecem harmonias suaves de fundo. A faixa-título e " The Love You Save " chegaram ao topo das paradas, mas este álbum contém uma ótima música atrás da outra.

Michael entrega-se de corpo e alma em " Don't Know Why I Love You ", Jermaine arrasa em " I Found That Girl ", e eles mandam muito bem na versão de I'll Bet You " do Funkadelic . Eu poderia continuar, mas é assim que este álbum é incrível. Os Jackson 5 ditaram a tendência que outros grupos familiares da música pop seguiram.

ABC é uma obra primorosa que demonstra uma maturidade além da idade deles. De muitas maneiras, este é o modelo para todos os álbuns de boy bands desde então – a dose certa de soul, a dose certa de ousadia, generosas pitadas de melancolia, tudo isso envolto em uma elegância que transmite uma sensação de bem-estar.

Faixas
A1 The Love You Save 2:42
A2 One More Chance 2:56
A3 ABC 2:38
A4 2-4-6-8 2:48
A5 (Come Round Here) I'm The One You Need 2:40
A6 Don't Know Why I Love You 3:15
B1 Never Had A Dream Come True 2:52
B2 True Love Can Be Beautiful 3:07
B3 La-La Means I Love You 3:01
B4 I'll Bet You 3:17
B5 I Found That Girl 2:42
B6 The Young Folks 2:58

Nem seis meses depois de os Jackson 5 — Jackie, Jermaine, Marlon, Michael e Tito — lançarem seu primeiro álbum completo,  Diana Ross Presents the Jackson 5  (1969), o quinteto vocal retornou com ABC (1970), possivelmente o trabalho mais sólido dos irmãos no início dos anos 70. 

O talento coletivo (e individual) dos Jacksons, aliado a um material exemplar e à melhor equipe de bastidores que a Motown tinha a oferecer, foram diretamente responsáveis ​​pelo enorme sucesso que colocou o LP no topo da parada de R&B e no Top 5 da parada pop, enquanto a faixa-título e o single de sucesso com duas faixas, " The Love You Save " / " I Found That Girl ", alcançaram diretamente o primeiro lugar em todas as paradas.

Nada mal para um grupo cujo membro mais velho mal havia chegado à adolescência. É verdade que as melodias conhecidas são inegavelmente o ponto central, o que faz com que seja fácil ignorar algumas das outras escolhas estelares. Como era costume, o grupo de compositores da Motown fornece a maior parte das canções, principalmente " (Come 'Round Here) I'm the One You Need ", composta por Holland-Dozier-Holland — que ganhou destaque na voz de  Smokey Robinson & the Miracles  — e  " Never Had a Dream Come True ", de Stevie Wonder , que o próprio Wonder havia incluído recentemente em seu álbum Signed, Sealed & Delivered (1970).

Há também algumas pérolas contemporâneas vindas de fora dos limites de Detroit, como " La-La (Means I Love You) ", derivada do movimento soul emergente da Filadélfia, e " I'll Bet You ", extraída da incipiente formação do  Funkadelic de George Clinton . No entanto, as faixas creditadas à "The Corporation" — com Bobby Taylor e os instrumentistas Deke Richards (guitarra), Freddie Perren (teclado) e Fonce Mizell (teclados), bem como o fundador da Motown, Berry Gordy — foram de importância primordial não apenas no álbum ABC, mas em toda a obra dos Jackson 5.

MUSICA&SOM ☝


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