domingo, 1 de janeiro de 2023

Review: Behemoth – Opvs Contra Natvram (2022)

 


É inegável que Nergal, o vocalista, guitarrista e líder do Behemoth, possui uma queda pelo exagero e pela megalomania. Essa característica foi demonstrada inúmeras vezes ao longo da carreira da banda polonesa e levou o grupo a construir uma sonoridade própria, uma espécie de black metal barroco, que deu ao mundo discos como Demigod (2005) e The Apostasy (2007). Nergal também foi perspicaz ao perceber que o caminho que o Behemoth estava seguindo começava a dar sinais de estagnação, e o resultado foi uma limpeza geral nos arranjos pretensiosos e intrincados e o surgimento de uma sonoridade mais direta. Os dois últimos álbuns da banda, os excelentes The Satanist (2014) e I Loved You At Your Darkest (2018), revitalizaram a música do quarteto ao seguir essa nova abordagem.

Opvs Contra Natvram vai por outro caminho. O novo álbum do Behemoth, lançado em uma belíssima edição nacional pela Shinigami Records, equilibra aspectos de The Satanist e leva o som do grupo para um lado ainda mais teatral. Isso funciona e não funciona. “Post-God Nirvana”, por exemplo, abre o disco e é uma espécie de “não música”, no sentido de que só funciona no contexto do álbum e não isoladamente. No outro lado da moeda, a banda acerta a mão em canções como a violentíssima “Malaria Vvlgata”, a grudenta “The Deathless Sun”, a técnica absurda apresentada em “Desinheritance”e principalmente em “Off to War!” e “Once Upon a Pale Horse”, as duas melhores músicas do álbum.

O equilíbrio surge em faixas como “Ov My Herculean Exile”, onde o andamento mais cadenciado privilegia o peso e, em certos aspectos, chega a retomar a atmosfera de The Satanist. Essa sensação se repete em “Neo-Spartacvs”e também em “Thy Becoming Eternal”, com coros meio sacros que contrastam com a violência tanto musical quanto lírica. A longa “Versvs Christvs” encerra o disco de forma grandiosa e é um dos pontos altos do trabalho, com Nergal conseguindo unir de forma redonda toda a grandiosidade e pretensão do Behemoth em uma música que está entre as melhores já gravadas pela banda.

Opvs Contra Natvram não alcança o nível estratosférico de The Satanist e I Loved You At Your Darkest, mas segue comprovando através de um álbum muito bom porque o Behemoth é uma banda pra lá de diferenciada e que está fazendo história no metal extremo.


Review: Wry – Aurora (2022)

 


O Wry vem de longe. E não, não me refiro à cidade do interior de São Paulo, Sorocaba, local de origem da banda, mas sim de uma outra época: os (já?) longínquos anos 1990, mais precisamente 1994.

Influenciada pelo pós-punk e pelo rock alternativo da virada da década de 1980 para a de 1990 (de bandas como Joy Division, The Jesus and Mary Chain e Teenage Fanclub), o grupo, que a princípio tinha o repertório totalmente formado por composições em inglês, participou ativamente do cenário underground brasileiro da época ao lado de outras bandas hoje tão cultuadas quanto influentes como Garage Fuzz, Killing Chainsaw e Câmbio Negro, entre outras. No início dos anos 2000 o Wry migrou para a Inglaterra, onde firmou de forma consistente seu nome no cenário rock local – clubes, mídia, casas de show – e interagiu com bandas e selos importantes do indie rock da época.

No final desta década, em 2009, a banda voltou a Brasil e, após um hiato e alguns lançamentos e shows esparsos, tem um importante ponto de virada: a inclusão de composições em português no álbum Noites Infinitas (2020), que desaguaria no primeiro trabalho do Wry totalmente composto em português em quase trinta anos de banda, Aurora, lançado em 2022.

Você pode pensar o que um disco de uma guitar band com ares pós-punk em pleno 2022 tem de especial, e a resposta é simples e direta: muito! Rapidamente, à primeira ouvida já é possível sacar quão inspiradas e conectadas são as linhas vocais, as melodias e as letras. Mário Bross (vocal e guitarra), Luciano Marcello (guitarra), William Leonotti (contrabaixo) e Italo Ribeiro (bateria) conseguiram uma sincronia rara, ainda mais em se tratando de uma banda tão experiente. Além das grandes composições, é possível notar a amarração estética entre as onze músicas, formando uma verdadeira coleção de canções encapsuladas naquele momento retratando uma fase de inspiração da banda, como costumava funcionar a indústria da música até alguns anos atrás.

As faixas possuem ares agridoces, com temas que parecem refletir os tensos momentos pandêmicos recentes. Mas, apesar disso, há um viés positivo em algumas músicas como “Sem Medo de Mudar” ou “Quero Dizer Adeus” (minha favorita nesse momento) e até “Contramão”, que é algo resignada. Em “Carta às Moscas”, Mário canta reflexões sobre um mundo atual, mas não de forma fatalista, tampouco de forma otimista vazia, mas sim uma crônica de observações mundanas sugerindo que encontremos alguma leveza em nossa rotina frenética. Mesmo em faixas cujos títulos sugerem uma angústia mais literal como “Não Posso Respirar” ou “Labirinto Mental”, a banda mantém uma aura de enfrentamento, afinal estar pronto para um novo colapso não é algo que se aguarde alegremente, porém revela também alguma bravura.

A segunda metade do disco é um pouco mais intimista em canções como “Pra Onde Eu Vou” ou “Universo Jogador”, que tem ares espaciais, como o título menciona. Já “Coração Sem Educação” remete ao grunge de algum momento mais irreverente do Nirvana, como num b-side pré-explosão de Nevermind. A música que fecha o álbum, “Vivendo no Espelho”, parece dialogar com o momento em que estamos chafurdados nas redes sociais, seja como distração, seja em relacionamentos; a frase “não me cancela” é emblemática.

De modo geral, é incrível ver uma banda veterana se não se reinventando, se atualizando de forma brilhante, mantendo a chama acesa com integridade ao seu legado, mas olhando adiante, propondo, se desafiando, refletindo sobre os tempos atuais e, o principal e mais raro no mundo do rock contemporâneo, se mantendo relevante. A prova cabal disso é “Temos um Inimigo”, que creio, assim como o álbum Necropolítica, dos Ratos de Porão, será um dos totens culturais do período que vivemos nos últimos anos. Se você viveu no Brasil recente com algum senso de realidade as frases “estupidez nunca será virtude” e “temos um inimigo com nome e sobrenome” baterão muito forte.

Perceber que a arte e a cultura seguem inspirando e instigando os caras é motivador para seguirmos em frente acreditando no lado certo da força e motivados a deixarmos um país melhor para os que virão. Que nossa aurora seja, sempre que possível, leve, mas que mantenhamos sempre o preparo físico e retórico para combater a ignorância e a truculência do outro lado.


Sarah Elizabeth Charles – Blank Canvas (2022)

 

Sara Elizabeth CharlesBlank Canvas é o quarto álbum da compositora e vocalista Sarah Elizabeth Charles e sua banda SCOPE. Este vem através do selo Stretch Music do chefe Xian Atunde Adjuah ​​(também conhecido como Christian Scott) em parceria com a Ropeadope. É seu primeiro lançamento desde Free of Form de 2017também pela mesma gravadora .
Muito aconteceu nos anos intermediários além da turbulência social que todos experimentamos quando Charles sofreu um aborto espontâneo e a perda de seu irmão, mas ela também se tornou mãe com o nascimento de seu filho e, portanto, ela compartilha os altos e baixos neste gravação. Tendo participado de álbuns de Adjuah ​​e Jesse Fischer, ela retribui convidando-os como convidados para se juntarem à programação do SCOPE. Ela também, pela primeira vez, adiciona guitarra a…

MUSICA&SOM

…o conjunto por meio de Jordan Peters, que trabalha junto com Jesse Elder (teclados e piano), Burniss Earl Travis II, também conhecido como Boom Bishop (baixo) e John Davis (bateria). Peters, que tem um tom nítido, mas geralmente rígido, adiciona um elemento de rock ao som do SCOPE, e Travis II deve ser familiar para os ouvintes de jazz por meio de seu trabalho com Robert Glasper e James Francies. Travis II, Elder e Davis foram seus companheiros em cada lançamento.

Considere Charles um artista muito sintonizado social e culturalmente na linha de Abbey Lincoln e Betty Carter. Um dos claros destaques é sua interpretação de “Freedom Day”, do icônico álbum de protesto de Max Roach, de 1961,  We Insist! Suíte Liberdade Agora,que originalmente apresentava Abbey Lincoln. Esta versão, com Charles absolutamente lamentando, vem mais de sessenta anos depois, mas é igualmente relevante. Possui bateria atmosférica, um recurso de baixo impressionante e tons de cordas semelhantes a pizzicato de Adjuah ​​em seu Adjuah ​​Bow, um instrumento de cordas projetado por ele mesmo modelado no kora africano e n'goni aprimorado com efeitos eletrônicos. Enquanto Chief Adjuah ​​tocava trompete e produzia o último esforço, ele desempenha um papel menor aqui, mas causa um impacto marcante com seu instrumento, que também colore mais diretamente “Brother”, co-escrito por Charles e Adjuah, uma lamentação triste pela perda de irmão de Charles. A música é um final de livro para “Out Loud”, escrita para seu irmão Luke antes de sua morte e ouvida anteriormente como um dueto em Tone com o pianista Jarrett Cherner.

Ela abre com a reverente e meditativa “Guest House Intro” (incorporando um poema de Rumi, traduzido por Coleman Barks), Charles está no modo de exploração, descobrindo as emoções que ela está enfrentando. Seu uso imaginativo de efeitos e camadas vocais faz parte de sua abordagem há muito tempo, mas  Blank Canvas  leva isso a um nível superior. Charles nos dá muitas pistas temáticas ao longo do caminho – legendando suas peças como esta com 'pela humanidade'. “Dia da Liberdade”, por exemplo, tem “pela verdadeira liberdade”.

O teclado pesado “Borders”, como muitos aqui traçam para Fischer como co-produtor, que veio a bordo depois que as faixas iniciais foram cortadas, mas adicionou camadas e sonoridades para completar o processo. A faixa-título tece sonhadoramente em guitarras e teclados para enquadrar os vocais apaixonados de Charles, que oscilam entre passagens de palavras cantadas e faladas, reforçadas por efeitos de eco. “Angel Spark” traz uma das melhores melodias sobre a inventiva percussão com sabor africano de Davis, enquanto “Malba” é uma balada (“para mulheres de cor”) com Charles exibindo um impressionante alcance vocal sobre um pano de fundo suave e etéreo. O último caracteriza o tilintar de teclado em camadas “Blind Emotions” ('para crescimento'), enquanto “BE the solution” é uma melodia de piano suave semelhante a “Malba”. Quanto mais próximo, “A Mensagem” ('para o eu superior') cai neste padrão sonhador e espacial também.


Gilles Grethen Quartet – State of Mind (2022)

 

Gilles GrethenO conceito de um grupo de jazz apoiado por um conjunto de cordas não é novidade. No entanto, este conjunto do quarteto pan-europeu Gilles Grethen é um exemplo particularmente adorável da combinação.
O guitarrista Grethen, de Luxemburgo, lidera um grupo que inclui trompete, baixo e bateria, e é acompanhado neste álbum por um conjunto de cordas de 11 peças. A música que ele escreveu para o projeto integra perfeitamente os elementos de quarteto e cordas, contrastando humores de serenidade e tensão sutil. “Change” move-se lenta e dramaticamente enquanto as cordas estabelecem uma base firme para o trompete gracioso de Vincent Pinn e os acordes de guitarra maleáveis ​​de Grethen. “Transcendence” segue praticamente o mesmo padrão, mas em um ritmo mais rápido com uma linha de baixo funky, e tem Pinn subindo como…

MUSICA&SOM

… as cordas giram em massa, “Until the Moon Went Down” primeiro constrói uma tensão diferente a partir do contraste entre o trompete crescente de Pinn, acordes de cordas crescentes e riffs de guitarra gotejantes. Então, conforme a música continua, as linhas de baixo e bateria se fragmentam enquanto Pinn começa a tocar baladas atraentes.

A trompa de Pinn é suntuosa e comovente ao longo do álbum, não importa qual seja o fundo musical. Em “Delerium”, ele toca antes de uma configuração estimulante de repetições minimalistas de cordas e intrincados padrões de percussão de Michel Meis. O baixista Gabriele Basilico contribui com um solo majestoso para esta peça. "State of Mind" tem mais um ritmo intermitente de parar e começar, enquanto "Outside" é a composição mais acelerada do set; trompete uníssono e linhas de guitarra tocam em uma batida funky rápida antes de subir separadamente enquanto as cordas ficam mais no fundo. A escrita melódica de Grethen é exuberante e linda aqui, assim como em todo o álbum. Pinn mantém um tom ricamente pungente enquanto flutua sobre a atmosfera nebulosa criada pelo trabalho de guitarra de Grethen. “Contemplação” lembra o silêncio suave de “Mudança,

As composições e arranjos de Grethen têm uma frieza sofisticada que é bem trazida por esses músicos. As partes de cordas realçam bem o trabalho do quarteto, mas nunca o sobrecarregam. Este álbum contém música de profundidade e complexidade discretas que descem com muita facilidade


CRONICA - ASH RA TEMPEL | Starring Rosi (1973)

No final de 1973, nada estava indo bem para Ash Ra Tempel. De fato, após o excelente Join Inn , Klaus Schulze retomou sua carreira solo e Hartmut Enke, seu cérebro também queimado por ácidos, é esquecido. Restam a vocalista Rosi Müller e o guitarrista principal Manuel Göttsching. Ele sente que o fim está próximo. Não importa, ele tentou de tudo recrutando o baterista de Wallenstein, Harald Großkopf, para publicar Starring Rosi no mesmo ano . Este 5º opus do templo do deus Ash Ra, ainda sob o selo Ohr, é um disco dedicado à sua musa por quem tem um grande amor, Rosi Muller que, além de emprestar sua voz, toca harpa de pedal e vibrafone.

Um Lp que muda do que foi feito anteriormente. Estamos longe das faixas elásticas que ocupavam uma face inteira. Este LP é composto por 7 faixas num total de pouco mais de 35 minutos. E musicalmente, se o género é o space rock psicadélico sempre com molho krautrock, Manuel Göttsching emancipa-se da música cósmica no ácido. No entanto, o trio nos apresentará peças magníficas, mesmo que nos arrependamos das experiências aventureiras do disco homônimo e do Join Inn .

Começa com os 8 minutos de “Laughter Loving”. Introduzido pelo riso de outro mundo por Rosi Müller, Ash Ra Tempel nos leva a um alegre país intergaláctico coberto de lugares com teclados futuristas. "Day-Dream" que se segue é um folk sonhador e crescente, onde Rosi Füller fala em eco com Manuel Göttsching cantarolando à distância enquanto ele esculpe solos de rocha ácida sutil. O “Schizo” hendrixiano e floydiano é mais vaporoso, mas aposta nas emoções e na melodia. Lindas melodias encontradas na pacífica "The Fairy Dance". Ainda em outro trecho referente ao vocalista, o breve “Cosmic Tango” se aproxima do gênero Can. Conduzidos por um xilofone caleidoscópico, os 9 minutos de “Interplay of Forces” levam-nos por águas turbulentas, mergulhando-nos num estado de coma. Até a chegada de uma guitarra folk que acompanha uma elétrica de seis cordas aqui também com acid rock e percussão tribal. O caso termina com “Bring Me Up” com um registro exótico e funky.

Em suma, um disco confuso mas de grande qualidade. Se isto parece o fim, ainda se fala em Ash Ra Tempel ao compor em 1975 a banda sonora do filme Le Berceau De Cristal de Philippe Garrel onde Manuel Göttsching é apoiado pelo guitarrista Lutz Ulbrich. Trilha sonora que só sairá em CD em 1993. Mas por enquanto pode ser a hora de Manuel Göttsching pensar seriamente em uma carreira solo.

Títulos:
1. Laughter Loving
2. Day Dream
3. Schizo
4. Cosmic Tango
5. Interplay Of Forces
6. The Fairy Dance
7. Bring Me Up

Músicos:
Manuel Göttsching: Guitarra, baixo, Piano, mellotron, sintetizador, percussão, eletrônica
Rosemarie Rosi Müller: Vocais pedal harpa, xilofone
Harald Großkopf: Bateria
+
Dieter Dierks: Baixo

Produção: Manuel Gottsching

Cronica - FLEETWOOD MAC | Future Games (1971)

Em 1971, Fleetwood Mac foi devastado. Após a publicação em 1969 do fantástico Then Play On , o guitarrista/líder Peter Green, sofrendo de demência após abuso psicotrópico, deixou o combo. Ele vai acabar com os insanos. Decapitados, os restantes membros ainda tentam continuar a aventura e publicam no ano seguinte Kiln House um Lp vacilante longe do Chicago Blues dos primórdios, porém cativante, promissor, sugerindo as orientações futuras do grupo.

Mas agora o guitarrista Jeremy Spencer falha. Ele desaparece no meio de um passeio sem avisar seus companheiros de viagem. Este, preocupado, lançou convocações de testemunhas e avisos de busca para encontrá-lo. Eles aprenderão mais tarde que ele se juntou a uma seita, Filhos de Deus. A última vez que ouvi, ainda está lá.

Diante dessa sucessão de decepções, irritados, o baterista Mick Fleetwood, o baixista John McVie e o guitarrista/cantor Danny Kirwan recrutam o guitarrista americano Bob Welch, ex-Head West que tem em seu crédito um Lp homônimo impresso em 1970. Na verdade, o americano o guitarrista tem uma namorada, Judy Wond, que ocasionalmente atua como secretária da banda. Para sua informação, Bob Welsh nem faz um teste. Mas o restante trio, visivelmente levado pela garganta, tem a ideia de integrar no line-up a pianista/cantora Christine McVie, já bem conhecida no séquito dos Fleetwood Mac.

Ex-Christine Perfect, ela começou na música em 1968 com Chicken Shack, uma típica banda britânica de blues boom que assinou com a Blue Horizon, mesmo selo do Fleetwood Mac. Os dois grupos costumam dividir o palco, Christine Perfect é notada pelos membros do Fleetwood Mac por tocar piano e seu senso inato de blues. Ela é, portanto, convidada a participar de alguns títulos de Lp, Mr. Wonderful , Then Play On e Kiln House . Enquanto isso, ela se casou com John McVie, deixou o Chicken Shack e em 1970 tentou carreira solo com um álbum homônimo.

Esta nova versão do Fleetwood Mac foi lançada em 1971 no selo Reprises, uma subsidiária da Warner Bros, o Futures Games de 33 voltas no estúdio móvel dos Rolling Stones. Um vinil composto por 8 faixas com a participação no sax de John Perfect, irmão de Christine McVie.

Aqui o Fleetwood Mac faz uma curva de 180°. Chega de tristeza! Certamente Kiln House mostra um outro caminho, mas ainda é marcado pelo gênero. Ok, os Gibsons quando são ouvidos são de influência blueseira, Fleetwood Mac ainda é uma banda de rock. Mas aqui estamos no registro de soft rock. Temos duas ou três faixas bem levantadas, a instrumental mais pesada “What a Shame” com seu groove de sax e a country pop “Lay It All Down” mas no geral a música é legal.

Rapidamente o compreendemos com o título de abertura, "Woman Of 1000 Years", uma magnífica canção folk sonhadora escrita por Danny Kirwan, salpicada de percussão, feita de belas harmonizações vocais. E em termos de harmonia vocal, há a oscilante “Morning Rain” que está de olho no Southern Rock. O piano é boogie e por um bom motivo, esta peça foi escrita por Christine McVie. Ela também compôs "Show Me A Smile" que encerra o LP, uma balada nostálgica e melancólica onde sua voz é suave e dramática.

Bob Welsh também vem com dois comps. "Lay It All Down" em primeiro lugar, mas especialmente o título que dá nome ao disco. 8 min de felicidade onde navegamos entre a balada e o rock no CSN&Y, sentindo o ar livre, feito de harmonias vocais despreocupadas e ingênuas.

Os títulos restantes devem ser creditados a Danny Kirwan. Os sublimes 7 minutos de "Sands Of Time" que abrem o lado B, onde Mick Fleetwood alterna tempos de lento para rápido para um título estratosférico. Em seguida, “Às vezes”, o country folk faz uma guitarra slide magnífica.

Resumindo, Fleetwood Mac ofereceu um disco bem montado e muito agradável. Mas esse sucesso artístico e longe de esconder a falta de sucesso. No entanto, o importante está em outro lugar. As chegadas de Christine McVie e Bob Welsh trazem equilíbrio e serenidade a um grupo que tanto precisava.

Títulos:
1. Woman Of A Thousand Years
2. Morning Rain
3. What A Shame
4. Future Games
5. Sands Of Time
6. Sometimes
7. Lay It All Down
8. Show Me A Smile

Músicos:
Mick Fleetwood: bateria, percussão
Danny Kirwan: guitarra, canto
Christine McVie: cravo, canto
John McVie: baixo
Bob Welch: guitarra, canto

Produção: Fleetwood Mac

SZA - SOS (2022)


Após uma espera de cinco anos desde o lançamento de seu seminal e clássico R&B, Ctrl, o SOS de SZA é um retorno bem-vindo para uma das cantoras de R&B mais quintessenciais dos anos 2010.

Embora seja inegável que SOS parece ser uma façanha a ser percorrida, abrangendo 23 faixas que duram uma hora e oito minutos, também há reservas a serem feitas sobre o ocasional vazio do álbum, apesar de sua grandiosidade. Sem mencionar a ausência considerável de singles e demos favoritos dos fãs, como 'Nightbird', 'Joni' e 'Hit Different', o conhecimento de que SZA inicialmente pretendia que o SOS ostentasse uma lista repleta de estrelas de convidados incomoda um pouco: Frank Ocean, Billie Eilish, Kendrick Lamar, etc. – é uma lista fenomenal, e dói seriamente que eles não estejam no produto final, pois isso faria o SOS parecer um evento musical.

Apesar disso, sinto que há muito que funciona a favor do álbum. Para começar, incluir outros singles como 'I Hate U' e o fenomenal 'Good Days' foi definitivamente um movimento na direção certa em relação aos singles nos anos anteriores ao lançamento do álbum (espero que vejamos os outros na lista de faixas de luxo) . Além disso, sabendo quantos outros ótimos recursos poderíamos ter obtido, o que obtivemos é um prazer. O verso de Travis Scott na angelical 'Open Arms' e os improvisos em 'Low' são um deleite inesperado, e aquela participação de Phoebe Bridgers em 'Ghost in the Machine...' au, fala sobre um ladrão de shows.

SOS também é um próximo passo intrigante para SZA no que diz respeito a seguir a linha entre seu som R&B usual e algumas experimentações inesperadas, mas muito apreciadas. 'Special' é uma intrigante retrospectiva da fenomenal favorita dos fãs de Ctrl, 'Normal Girl', uma espécie de faixa irmã enquanto SZA lamenta a perda do que a tornava especial como resultado de alcançar o status de 'garota normal'. Na maioria das vezes, no entanto, SZA evita refazer o terreno antigo no SOS, em vez disso, segue um caminho mais exploratório com sua música. 'F2F', por exemplo, é um dos momentos mais surpreendentes do álbum, vendo SZA inclinando-se para sua Avril Lavigne interior e Paramore para emular o renascimento do pop punk com grande sucesso. SOS possui consideravelmente várias faixas com uma tendência mais hip hop do que o trabalho anterior de SZA, como a faixa-título de abertura, o mencionado 'Low' e o outro do álbum 'Forgiveless', todos os quais fornecem variedade ao repertório geral de SOS e SZA. Embora eu tenha algumas reservas sobre 'Forgiveless' como o final do álbum sobre o favorito dos fãs 'Good Days', ainda sinto que é um lugar emocionante para o álbum terminar em sua produção fenomenal e amostragem de Ol 'Dirty Bastard e Bjork.

Embora eu entenda a decepção de muitas pessoas com este álbum, especialmente considerando a considerável passagem de tempo desde seu último projeto, não vou reclamar depois de cinco anos de seca SZA. SOS mostra que ela ainda tem muito mais espaço para evoluir como artista e, considerando o quão estabelecida ela é, isso é uma façanha por si só.

Favoritos: SOS; Kill Bill; Buscar e destruir; Baixo; Cego; Usava; Soneca; Fumar no My Ex Pack; Fantasma na máquina; F2F; Ninguém Me Pega; Especial; Tarde demais; Longe; Camisa; Braços abertos; Eu te odeio; Bons dias; sem perdão


Destaque

Cássia Eller - Veneno Antimonotonia (1997)

  Álbum lançado em 1997 e é uma homenagem ao cantor e compositor Cazuza, com regravações de algumas de suas canções. Faixas do álbum: 01. Br...