quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Rafa Lorenzo - Sou Vaqueiru (2003)



Terceiro álbum do cantor e compositor asturiano Rafael Lorenzo, Rafa Lorenzo, que iniciaria o seu percurso musical nos anos 70 com o movimento Nuevu Canciu Astur ( Nova Canção Asturiana ), mas só publicaria no final dos anos 90












Antônio Carlos Jobim - "Urubu" (1976)

 

" Jereba é urubu importante como, aliás, todo urubu. Mas entre eles, urubus, observam-se prioridades. E esse um é o que chega primeiro no olho da rês. Sem privilégios. Provador de venenos, sua prioridade é o risco(...)"
Tom Jobim (trecho do texto da contracapa do disco)


Já consagrado, o maestro Antônio Carlos Jobim, embrenhava-se a partir do disco “Matita Perê” de 1973, por caminhos pouco explorados por sua obra, colorindo-a mais ainda de verde e amarelo. Não que seu trabalho, mesmo embasado no erudito e recheado de jazz não fosse legitimamente brasileiro; suas influências, suas cadências e sua levada indesmentivelemente sambista não deixam margem de dúvida, mas a partir daquele momento e especialmente com “Urubu” de 1976, Tom agregava à sua música elementos da natureza, da fauna e flora brasileiras, paisagens, tradições, cânticos regionais e instrumentos típicos. Provas disso são a gostosa “Correnteza” com seu jorro de frescor; a sutil sugestão de integração homem-natureza de “Arquitetura de Morar”; a evocação (meramente sonora) de paisagens em "Saudades do Brazil"; e sobremaneira a espetacular “O Boto” com sua introdução de berimbau que dá sequencia a um arranjo que imita natureza, incrementado por inserções de apitos e sons de pássaros, e versando sobre lendas e contos brasileiros.
Mas o disco não se resume a estas recentes brasilidades de Tom e traz canções mais tradicionais dentro de seu estilo e discografia como a romântica “Lígia”, a tristonha “Ângela”, o valseado forte de ”Valse” do filho Paulo Jobim e a intensa e dramática “O Homem” que encerra a obra.
Com arranjos de Claus Ogerman e acompanhamentos de sua orquestra, escolhidos pelo próprio Tom, “Urubu” mostra um compositor maduro e completamente senhor de si, brincando livremente com todo seu talento e técnica produzindo uma obra única e admirável.
Álbum para se ter me LP. Disco com lado A e lado B: o primeiro todo com os vocais roucos e característicos do mestre Tom, incluindo uma participação de Miúcha em "O Boto"; e o lado 2 somente com temas orquestrados instrumentais extemamente refinados e sofisticados.
Obra de arte!
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FAIXAS:

1- Bôto (Porpoise)
Antonio Carlos Jobim / Jararaca
2- Lígia
Antonio Carlos Jobim
3- Correnteza (The Stream)
Antonio Carlos Jobim / Luiz Bonfá
4- Ângela
Antonio Carlos Jobim
5- Saudade do Brazil
Antonio Carlos Jobim
6- Valse
Paulo Jobim
7- Arquitetura de morar (Architecture to live)
Antonio Carlos Jobim
8- O Homem (Man)
Antonio Carlos Jobim



The Animals - “Before We Were So Rudely Interrupted” (1977)

 

"Uma vez que você sentiu o poder da música, e viu pela primeira vez suas mãos serem capazes de tocar os corações e almas de pessoas em todo o mundo, esta magia é algo que você jamais esquece."
Eric Burdon,
da biografia "Don't let me be Misunderstood"


Um dos meus discos favoritos deve ser uma surpresa para muitos dos que me conhecem. Fui apresentado a ele em 1980 pelo meu amigo e colega Luiz Paulo Santos. Chama-se “Before We Were So Rudely Interrupted”, da banda inglesa The Animals e foi gravado em 1977. O grupo surgiu na década de 60 quando o Alan Price Combo ganhou a adesão do vocalista Eric Burdon. Mais um daqueles brancos de alma negra, Burdon deu à banda a voz que faltava naquela mélange de blues, jazz e soul no meio da beatlemania.
Os Animals fizeram muito sucesso com “The House of the Rising Sun”, “We've Got to Get Out of This Place”, “Don't Let Me Be Misunterstood”, entre muitas outras. A primeira ruptura aconteceu quando o baixista Chas Chandler resolveu deixar seu instrumento e ser manager de um artista emergente na Swinging London e que daria muito o que falar: Jimmi Hendrix. Logo depois, os Animals encerraram a primeira parte de sua carreira com Alan Price fazendo trilhas para os filmes de Lindsey Anderson (em especial o maravilhoso “O Lucky Man”) e Burdon indo para a América, onde foi ser vocalista do grupo War. Em 76, os integrantes do grupo resolveram dar uma segunda chance ao azar. Reuniram-se e gravaram este disco com o estúdio móvel dos Stones numa fazenda. O nome já é um achado: “Antes de seremos tão rudemente interrompidos”. O velho humor inglês.
A festa começa com o piano de Alan Price num clima boogie-woogie num clássico de Leiber & Stoller mais Otis chamado “Brother Bill” (The Last Clean Shirt). Um R & B das antigas, a canção permite a Burdon dar seu primeiro de muitos shows durante o disco. O guitarrista Hilton Valentine também faz seu primeiro solo, carregado pelo piano de Price. Uma das melhores versões de “It's All Over Now, Baby Blue” vem em seguida. O clima é soturno com a bateria de John Steel fazendo uma batida seca e as harmonias de Alan Price se juntando às da guitarra de Valentine, enquanto um sintetizador faz a cama. Eric Burdon modula sua voz para encarar os altos e baixos da canção. Nem Dylan teria pensado num arranjo ecumênico como este.
Depois de duas canções dessas, chega a hora de descontrair com “Fire on the Sun”, um rock libidinoso no estilo Little Richard, mas gravado na década de 70 (“Your love is like fire, baby / Fire on the Sun”). Mais uma vez o cérebro musical da banda, Alan Price, comanda as ações. “As The Crow Flies”, composta por Jimmy Reed, volta ao blues com o piano elétrico. O resto da banda faz aquela velha batida blues de Chicago. Pra fechar o lado 1 do LP, uma das melhores músicas de todo o disco: “Please Send Me Someone to Love”. Nela, Eric Burdon mostra toda a sua qualidade como cantor. Talvez nunca em sua carreira ele tenha cantado uma música como essa, cheia de modulações e subidas e descidas de tom numa mesma frase. Alguém poderia dizer que é pirotecnia. Eu diria que ele é um excelente cantor. O narrador pede paz e tranquilidade no mundo, mas se não for pedir muito, mande um amor. “Heaven please send / To allmankind /understanding and peace of mind / but if its not asking too much / please send me someone to love”. Numa cama de órgão, guitarra jazzística, baixo e bateria, o Fender Rhodes de Price brinca, permitindo a Burdon uma performance incrível. 
O antigo Lado 2 começa com uma música de Jimmy Cliff, “Many Rivers to Cross”, que os Animals transformam de um reggae num lamento gospel (o deles, não o nosso). A mensagem é de superação: “Many rivers to cross / But I can't seem to find /my way over”. Mais adiante, o narrador reclama da solidão: “And this loneliness just won't leave me alone / It's such a drag to be on your own”. No final, Burdon rasga seus lamentos como um cantor negro de igreja batista no Sul dos Estados Unidos. “Just Want a Little Bit” inicia enigmática com o piano e passa para um R & B dançante de Little Mama Thornton. Nesta canção, Alan Price relembra seus velhos tempos de pré-beatlemania, quando o som da juventude inglesa era o blues e o Rhythm'n'Blues de grupos com órgão, como o de seu colega Georgie Fame. A única composição de integrantes dos Animals vem na sequência: “Riverside County”, outro blues com escala descendente. O grande compositor Doc Pomus aparece com a clássica “Lonely Avenue”. Os arranjos deste disco brincam todo o tempo com esta “simplicidade” do blues e vão colocando camadas e camadas de pequenos detalhes com vocais, guitarras e teclados, enquanto a batida é constante. O final é engraçado com “The Fool” que diz: “Juntem-se a mim, amigos / ergam suas taças/ e bebam ao bobão /o louco bobão / que mandou seu amor embora”.
Durante todo o disco, Burdon reclamou que a mulher tinha ido embora, que estava numa avenida solitária e tal. Nesta última canção, este arco dos relacionamentos vira do avesso. “Ela encontrou um novo amor / eu digo que ele é o cara de sorte/ Bebam ao bobão / eu mandei meu amor embora”. Um disco de blues e Rhythm'n'blues em plena era disco e de Boston, Eagles e Peter Frampton. Não poderia ter dado certo mesmo. Os Animals saíram em turnê e cinco anos depois tentaram mais uma vez com o disco “Ark” de 1983. Mas os melhores tempos já tinham passado. Eric Burdon continua na ativa e acabou de lançar um trabalho muito festejado pela crítica, “'Til Your River Runs Dry”. Mas essa história vai ser contada daqui há pouco.
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FAIXAS:
1. "Brother Bill (The Last Clean Shirt)" (Jerry Leiber, Mike Stoller, Clyde Otis) - 3:18
2. "It's All Over Now, Baby Blue" (Bob Dylan) - 4:39
3. "Fire on the Sun" (Shaky Jake) - 2:23
4. "As the Crow Flies" (Jimmy Reed) - 3:37
5. "Please Send Me Someone to Love" (Percy Mayfield) - 4:44
6. "Many Rivers to Cross" (Jimmy Cliff) - 4:06
7. "Just a Little Bit" (John Thornton, Ralph Bass, Earl Washington, Piney Brown) - 2:04
8. "Riverside County" (Eric Burdon, Alan Price, Hilton Valentine, Chas Chandler, John Steel) - 3:46
9. "Lonely Avenue" (Doc Pomus) - 5:16
10. "The Fool" (Sanford Clark) - 3:24


Amy Winehouse - "Back to Black" (2006)

 


"Ela (Amy) é de outro planeta!"
Quincy Jones


Seria muita ousadia colocar um álbum tão recente de uma artista não totalmente consolidada entre os grandes da história? Talvez seja, talvez seja... Mas me parece, amigos, que temos entre nós uma das grandes artistas dos últimos tempos e que, provavelmente, fique ofuscada e diminuída por seus próprios excessos, escândalos, internações e bebedeiras. A gente acaba subestimando por causa disso. Eu mesmo devo admitir que antes de ouvir Amy Winehouse pensava ser ela só mais uma artista pop tentando chamar atenção. Mas o fato é que ao escutá-la cantar é que ela chama atenção de verdade.
Amy Winehouse é possivelmente a melhor cantora viva do nosso tempo e talvez a artista que chegue perto em importância do que representou um Kurt Cobain, o último que valia alguma coisa. Uma voz absoluta, segura, o domínio total de cada verso, de cada nota, a sensualidade e a energia. A artista que trouxe o jazz de volta às rádios e o aproximou do grande público que, na sua maior parte nem sabe o que está ouvindo, mas o importante é que nós sabemos. Com "Back to Black" ela coloca elementos pop no jazz (ou seriam elementos jazz no pop) como provavelemnte só Louis Armstrong tenha conseguido fazer tão perfeitamente na fase final de sua carreira. Mas não fica nisso: é rock, é pop, é blues é soul. É um baita disco!
É impossível falar de "Back to Black" e não citar o hit de refrão fácil, "Rehab", ou do outro sucesso, muito melhor na minha opinião, "You Know I'm No Good"; da ótima faixa-título do álbum, "Back to Black"; mas a melhor do álbum pra mim é indiscutivelemente, "Wake Up Alone", uma balada triste e emocionante ao melhor estilo das antigas divas do jazz.
De visual extravagante, talentosíssima no microfone mas com especial habilidade para fazer merda na vida, se não tomar jeito é candidata a integrar logo logo o famoso Clube do 27 que já conta com alguns representantes ilustres como Morrisson, Janis, Hendrix, Kurt... Bate na madeira, garota! (tem até setembro, quando faz 28, pra afastar a maldição). Mas ao que parece a moça anda se recuperando, tomando um pouco mais de juízo e já está até com disquinho novo na boca-do-forno pronto pra sair.
Ousadia colocar "Back to Black" entre os FUNDAMENTAIS? Pode ser. Mas, de certa forma, acho que esta é a ideia mesmo.
O tempo me dará razão.

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FAIXAS:
• 1. Rehab
• 2. You Know I´m no Good
• 3. Me & Mr Jones
• 4. Just Friends
• 5. Back to Black
• 6. Love Is a Losing Game
• 7. Tears Dry on Their Own
• 8. Wake Up Alone
• 9. Some Unholy War
• 10. He Can Only Hold Her



Scott McGill - The Hand Farm (1997)

 

Dissonante, noodle-y fusion/jazz-rock do guitarrista americano Scott McGill. The Hand Farm é todo compassos nodosos, herky-jerked e trastes maníacos e fluidos, mas há algo tonto e atmosférico em ação que ajuda a elevá-lo acima do seu festival de fusion padrão.

Track listing:
1. The Great Unwashed
2. The Secret Linen Service
3. Pools
4. Death by D.M.V.
5. 2000 Allen Called
6. Uncle Zippy
7. Luggage
8. Ignoramus Rex
9. Calvinist Pancakes
10. Labyrinth
11. Alaskan Brick




Wayne Shorter - Odyssey of Iska (1970)



Estou um pouco atrasado, mas: RIP para um dos maiores músicos de jazz que já existiu. Uma brilhante peça de jazz avant-garde amorfo e fervente, Odyssey of Iska coroou uma sequência positivamente ridícula de 8 álbuns que rivaliza com praticamente qualquer outro na história da música. (Não que os álbuns anteriores ou posteriores sejam ruins de forma alguma, mas Night Music through Odyssey é, para mim, o melhor que existe.)


Track listing:
1. Wind
2. Storm
3. Calm
4. De Pois do Amor, O Vazio (After Love, Emptiness)
5. Joy




POEMAS CANTADOS DE CAETANO VELOSO


 

Meu Barracão

Caetano Veloso

Faz hoje quase um ano

Que eu não vou visitar

Meu barracão lá da Penha

Que me faz sofrer

E até mesmo chorar

Por lembrar a alegria

Com que eu sentia

Um forte laço de amor

Que nos unia


Não há quem tenha

Mais saudades lá da Penha

Do que eu, juro que não

Não há quem possa

Me fazer perder a bossa

Só saudade do barracão


Mas veio lá da Penha

Hoje uma pessoa

Que trouxe uma notícia

Do meu barracão

Que não foi nada boa

Já cansado de esperar

Saiu do lugar

Eu desconfio que ele

Foi me procurar


Não há quem tenha

Mais saudades lá da Penha

Do que eu, juro que não

Não há quem possa

Me fazer perder a bossa

Só saudade do barracão

Meu Bem

Caetano Veloso

Meu bem está me esperando lá em casa...

meu bem é mais um dia

Meu bem apague a luz

É tanta cortesia


Meu bem me da um beijo 

Meu bem deite comigo

Me faça companhia

Meu bem saia comigo


Meu bem / Meu bem 

é tanta cortesia


Meu bem esta me esperando lá em casa

Meu bem é mais uma tarde vazia

É tanta cortesia


Eu vou me mudar pra São Paulo

Eu vou pegar/ pegar um trem ambulante eu vou atrás do meu bem...


Meu bem / Meu bem 

Nem que sejano utimo instante

Meu bem case comigo



Destaque

Japan, “Nightporter” (1982)

  Lado A:  Nightporter (remix) Lado B:  Ain’t That Peculiar (Virgin, 1982) Se calhar o primeiro sinal de caminhos que no futuro seriam mais ...