terça-feira, 30 de abril de 2024

Melanie-Carnegie Hall, Nova York, 3 de fevereiro de 1970

 


Carnegie Hall, Nova York, 3 de fevereiro de 1970


“ Mais do que um amor hippie, parecia uma terapia de grito primordial ao estilo John Lennon ”

Melanie  era a princesa da lágrima fácil do flower power, a primeira garota hippie em uma crise de identidade. Contemporânea de  Carole Kink, Carly Simon  e  Joni Mitchell , ela era espiritualmente mais parecida com Kurt Cobain: canções de amor, derrota e solidão, canções que iam do delicado ao alto, do trágico ao transcendental no espaço de poucos segundos, canções dedilhada com a ferocidade implacável de um punk. De pequena estatura, dotada de uma voz encantadora, nada afinada com os bons modos e a moderação pós-hippie, Melanie não escondia nada.

Presente em quase todos os grandes festivais de rock, Melanie contava com uma legião fiel de fãs que a consideravam um farol solitário da inocência e sinceridade da “ Geração do Amor”.
No Carnagie Hall, “ onde cresci ”, e por ocasião do seu vigésimo terceiro aniversário, o público teve um papel mais que decisivo no despir ritual da alma pós-psicodélica. Foi uma noite de silêncios em que se ouvia um alfinete cair, e de invasões de palco, de monólogos descarados e risadas tímidas. A certa altura, no momento em que os pedidos do público por esta ou aquela música se tornavam cada vez mais prementes e histéricos, uma voz solitária abriu caminho entre as outras;"  Cante o que quiser !”
Percebendo a sua insensibilidade, a multidão aprovou com um poderoso “ Sim !”.
Precisamente por causa desses seguidores adoradores, Melanie recebeu acusações de banalidade artística (as mesmas feitas ao T. Rex na Grã-Bretanha) que eram apenas parcialmente justificadas. 
Ao lado de cantigas rítmicas de palmas como “ I Don’t Eat Animals e Psychotherapy ”, havia outras que correspondiam perfeitamente à afirmação de princípio enunciada na letra de  Tuning MyGuitar : “ Vou cantar a vida que vivo / e eu' tentarei aliviar a dor das pessoas ao meu redor …”
Se você quiser falar sobre catarse musical, então será difícil encontrar algo mais catártico do que as quatro músicas pulsantes que abriram o show no Carnagie Hall:  Close To It All, Uptown e  Down, Mama Mama  e  The Saddest Thing . Mas foi com  Tuning My Guitar  que ele alcançou alturas épicas que deixariam  Judy Garland pálida . “ Eu não me importo com quem você é ”, gritou Melanie em determinado momento durante aquela performance extraordinária imortalizada no álbum Leftover Wine .





PEROLAS DO ROCK N´ROLL - PSYCHEDELIC ROCK - OLIVER KLAUS - Oliver Klaus 1967-70 - 2002




Pérola canadense formada em Quebec em 1967 pelos irmãos Bryan e Maurice Singfield, o trio Oliver Klaus ainda tinha na formação o baixista Jerry Cushen. Lançaram um único álbum em 1970 com apenas 500 cópias e rapidamente se desfez. Em 2002 o disco foi relançado em CD com 10 faixas bônus, retiradas de gravações em estúdio, ao vivo e compactos. Em 2012 o trio se reuniu com mais alguns músicos da região e fizeram poucos shows em Quebec.
O recente relançamento em CD, intitulado Oliver Klaus 1967-70, que posto aqui, traz 21 faixas, a grande maioria curta. Há mistura de vários estilos, com predomínio do rock psicodélico típico do final da década de 60 como na versão de 8 minutos de "Season of the Witch", passagens de folk, acústico aparecem, nas faixas "Walk In The Night" e "Traveling Song" e também hard rock, no cover "Kentycky Woman" e "Islands Float In Waterloo". No geral, ótimas músicas, tocadas pelo clássico e pesado "power-trio" setentista.
Um álbum muito variado, mas que vai agradar todo fã de rock obscuro dos anos 60/70.


Jerry Cushen (baixo)
Bryan Singfield (bateria, backing vocal)
Maurice Singfield Jr. (guitarra, vocal)

01 For The Boys 3:17
02 Walk In The Night 2:27
03 Here Comes The Sun 2:23
04 Sunny Day 2:49
05 Feeling Groovy 3:04
06 Traveling Song 2:07
07 Kentucky Woman 3:52
08 Show Me The Place 4:02
09 Love You Baby 2:53
10 Season Of The Witch 8:34
11 Break Song 3:42

Bônus:
12 3/5 Of A Mile In 10 Seconds 3:42
13 Blackberry Side 4:11
14 Studio Chatter 0:45
15 Feeling Groovy 3:20
16 Here Comes The Sun 2:14
17 Great Place For Laughing 4:51
18 Islands Float In Waterloo 2:36
19 Going To Leave This Place 3:33
20 The Fuzz 6:47
21 Do Love Me Do 2:18




PEROLAS DO ROCK N´ROLL - PROG/ PSYCH ROCK - MAN MADE - Same - 1971




Pérola vinda do Canadá, formada em Montreal no final dos anos 60. O grupo Man Made lançou um único e raro álbum em 1971 e logo caiu na obscuridade, infelizmente quase nada sabe-se hoje sobre os caras.
O disco homônimo traz apenas 6 faixas, com destaque principal para a primeira faixa, também intitulada Man Made, com quase 20 minutos e ocupando todo o lado A do LP, contando com elementos progressivos, psicodélicos e experimentais com ótimas passagens de órgão, sintetizadores, guitarra, flauta e até trompa (nada comum para o rock), sem contar belas harmonias vocais. Quanto as outras músicas, todas são curtas e não muito originais, voltadas mais ao rock psicodélico dos anos 60 e algumas baladas.
Apesar de inconsistente, recomendo esta pérola para fãs de rock progressivo e psicodélico da época.




Billy Ledster (vocal, piano)
Jean Ranger (órgão, sintetizador, backing vocal)
Richard Terry (baixo, backing vocal)
Claude Roy (bateria)
Roger Walls (trompa)

01 Man Made 19:54
02 Carnival 5:08
03 Reflections 3:00
04 Evolution 3:10
05 Keep on Moving 2:15
06 Country Company 2:30


PEROLAS DO ROCK N´ROLL - COUNTRY ROCK - BRIDGE - Same - 1971




Pérola rara vinda do Canadá, o trio Bridge surgiu em 1970 em Toronto, formado por três ex-membros do grupo David, que lançou um único disco em 1969, incluindo os irmãos Francis e John Webster e ainda Tony Lecallion. A banda fez certo sucesso no sul de Ontário e logo em 1971 lançaram seu único álbum, infelizmente o disco não decolou e a banda se acabou no mesmo ano.
O disco homônimo de 71 é dividido em 9 faixas, com som bem diferente do feito pelo David. As principais influências são o country, folk e rock da costa oeste, com leves toques psicodélicos, acid jazz e blues em momentos distintos, mostrando uma mistura interessante e "simpática". Na parte instrumental, um competente e clássico trio bateria/baixo/guitarra é presente, com raras participações de piano. Quanto as faixas, recomendo que ouçam todas, pois tem uma dinâmica e clima diferente, contando com cover de Little Richard ("You're My Girl"), mas com quase 10 minutos e solo de bateria presente.
Pérola recomenda para fãs de country e west coast rock




Francis Webster (guitarra, vocal)
John Webster (baixo, vocal)
Tony Lecallion (bateria)

01 I Had It But I Lost It 2:33
02 It's My Life 3:07
03 Ain't My Day 3:18
04 Simple Blues Form 3:18
05 Running Away 2:28
06 Brand New Day 4:48
07 You're My Girl 9:45
08 Born to the Country 4:12
09 Barnyard 3:56

Playlist:

PEROLAS DO ROCK N´ROLL - PROG ROCK - ANOTHER ROADSIDE ATTRACTION - Same - 1979

 


Atendendo a pedidos, um som obscuro do final dos anos 70 vindo de Toronto, no Canadá. O grupo Another Roadside Attraction foi um quarteto de curta duração que deixou apenas um raro registro em 1979, lançado de forma independente antes de se desfazer.
O disco homônimo traz 6 faixas de rock progressivo na maioria do tempo tranquilo e melódico (soft rock). O line-up incomum com dois tecladistas, baterista e um vocalista evidencia o domínio aqui, com alguns bons e longos solos de sintetizadores e piano e bateria no "background". O ponto fraco, na minha opinião, é o vocal de Paul Saunders, dando um forte caráter comercial ao som da banda. Destaque para "Serenade for the Sun" e "The Maze".
Nada de essencial, mas uma boa pérola para quem curte prog com forte pegada nos teclados.





David Dobko (teclados)
Paul Saunders (vocal)
Armin Leonardo (teclados)
Michael Grace (bateria, percussão)

01 Serenade for the Sun
02 Farewell
03 Wild Women
04 The Maze
05 A Change of Heart
06 The Wilderness Anthem



Review: The Black Keys – Let’s Rock (2019)

 


Quando o Black Keys surgiu, em 2001, poucos diriam que a banda se tornaria uma atração capaz de lotar estádios e se bancar como headliner de grandes festivais pelo mundo, no entanto a chave do duo formado por Patrick Carney e Dan Auerbach virou após o lançamento de seu terceiro álbum, Attack & Release, de 2008, o primeiro produzido pelo requisitado produtor Danger Mouse (que por acaso faz parte de outro duo celebrado, o Gnarls Barkley).

No entanto, o disco que pôs a banda de Akron, Ohio, em outro patamar foi Brothers, de 2010, que foi multipremiado e cujos videoclipes tiveram veiculação massiva na MTV. Os singles “Tighten Up”, “Howlin' for You” e “Next Girl” adentraram no inconsciente popular da música mundial. A banda se consolidaria com o ainda melhor El Camino, de 2011, e com o diverso (e excelente) Turn Blue, de 2014.

Após um hiato considerável para artistas que atingiram tal patamar – foram 5 anos sem discos – Auerbach e Carney retornam com Let's Rock, um disco de rock cru e direto como o nome sugere, porém cheio de identidade. Essa despretensão é percebida de cara nos singles que já haviam sido liberados: “Go”, “Eagle Birds” e “Lo/Hi”, três rocks dançantes, com a guitarra esperta de Dan passeando pelas melodias coesas e batidas marcantes.

No tracklist nenhuma canção atinge quatro minutos, reforçando o apelo pop e atual da proposta. Como fator determinante na característica de seu som, o Black Keys soa retrô, mas não lembra particularmente nenhuma outra banda. Ok, “Sit Around and Miss You” é um power pop que poderia ter sido gravado pelos Beatles ou Badfinger, e a introdução de “Under the Gun” poderia ter sido criada por John Fogerty num dos clássicos álbuns do Creedence Clearwater Revival, no entanto não se pode afirmar que sejam meros pastiches dos anos 1970 como outras bandas hypadas atualmente.

O som do Black Keys é simples, porém cheio de astúcia, como na altiva “Breaking Down”, um quase soul. A guitarra de Dan é cheia de fuzz e timbres sensuais, como se vê na faixa de abertura, “Shine a Little Light”. A bateria de Carney, ao passo que é extremamente simples, é ao mesmo tempo emblemática, basta ouvir a festeira “Get Yourself Together” para sacar isso. O som é casual, mas rebuscado, como na balada elétrica “Walk Across the Water”. Os coros com backing vocals femininos alimentam ainda mais a aura sexy dos timbres de Dan. como em “Tell Me Lies” e no decorrer do disco.

Apesar de Let's Rock ser o álbum menos ambicioso do duo até aqui, em tempos que artistas emblemáticos do rock and roll contemporâneo distanciam sua sonoridade da estética do rock propriamente dito, como Arctic Monkeys ou Noel Gallagher (diga-se: gerando tanto críticas, quanto elogios), o Black Keys fez o completo oposto e se manteve fiel à sua proposta inicial: rock and roll festeiro e sexy, boas músicas de amor, num combo perfeito para um bom disco de rock.

É inegável que se trata de uma obra menor em relação aos seus antecessores, em especial Brothers e El Camino, no entanto não se trata de um disco de má qualidade, pelo contrário, é um mix de rock e blues dançante e soul, com cara de jam, que vai crescendo a cada audição. Descompromissado e sagaz como muito do que de melhor já foi produzido na história do rock.

Pegue uma cerveja, afaste os móveis e ouça.




Review: Andralls – Bleeding for Thrash (2019)

 


Com mais de vinte anos de estrada, o Andralls é um dos nomes mais tradicionais da cena thrash metal brasileira. O trio formado por Alex Coelho (vocal e guitarra), Felipe Freitas (baixo e vocal) e Alexandre Brito (bateria) chega ao seu sexto trabalho em Bleeding for Thrash, lançado no final de junho e que é o sucessor de Breakneck (2012).

Bleeding for Thrash é um álbum feito sob medida para quem é fã do thrash metal mais tradicional, sem interferência ou influências de outros estilos e sonoridades. É thrash puro e sem enrolação, com canções rápidas, agressivas e diretas. A sonoridade remete ao final dos anos 1980 e início da década de 1990, em onze faixas que totalizam pouco menos de trinta minutos.

O álbum, gravado no Papiris Studio em São Paulo, foi produzido por Caio Monfort e masterizado por Neto Grous. As canções seguem a escola mais bruta de nomes como Slayer e o Testament dos primeiros anos, e muitas vezes se aproximam, de maneira sutil, do death metal. Os breakdowns e as mudanças de andamento e alterações de curso comumente associadas ao gênero não fazem parte da receita do Andralls, que foca na violência musical e na efetividade de uma sonoridade ostensivamente agressiva.

Pessoalmente, gosto da abordagem mais intrincada e técnica do thrash metal, algo que não passa pela fórmula do Andralls. Essa sonoridade extremamente homogênea acaba me parecendo muito mais eficaz quando ouvimos uma faixa de forma isolada e não funciona tão bem quando escutamos o disco completo, fortalecendo a percepção de a banda estar executando variações sobre o mesmo tema. O que, logicamente, não quer dizer que o disco não seja bom. Músicas como “Andralls on Fire, Pt. III” (cujo riff me lembrou o de “Arise”, do Sepultura), “Bleeding for Thrash”, “After Apocalypse” e “On Fire” devem cativar de imediato e são um sério risco para uma provável séria lesão no pescoço.



Destaque

Antonio Pappano conducts Rachmaninoff Symphony No. 2 (2024)

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