quarta-feira, 15 de março de 2023

Luta Livre – Técnicas de Combate (2021)

A Luta Livre, o histórico Luís Varatojo incentiva à revolução, mas cheio de swing e boa onda.

Luís Varatojo é uma das figuras obrigatórias do rock português das últimas décadas. Desde o punk magrinho dos Peste & Sida, passando pela vida dupla com o ska dos Despe & Siga, ou pela Naifa e por tantos e tantos projectos, Varatojo é o que se chama um gajo a sério. Pelo percurso, pela música que nos deu, e, também, porque esteve sempre do lado certo da luta.

E assim continua. Neste ano de 2021, o seu veículo chama-se Luta Livre, e o resultado é este disco, Técnicas de Combate. Aqui fala-se de luta e de combate, sim, é um disco que se insere de forma torta nessa nossa tão valiosa tradição do disco de intervenção, também. Mas não se espere aqui trovadores emotivos ou punks zangados. Esta luta é uma boa onda pegada.

Aquilo que surpreende em Técnicas de Combate é exactamente isso: como as letras de intervenção são entregues de forma natural e por vezes quase blasé, sobre uma cama sonora cheia de luz, groove e com deliciosos sopros que dão um toque excelente de exotismo ao conjunto. Mais Manu Chao e menos Zeca Afonso, portanto.

Varatojo está quase sempre em registo spoken word, quase como quem lê as notícias, num registo que surpreende mas funciona muito bem. Os temas são os da desigualdade, da luta contra a ganância e o domínio do mundo pelos fortes, com um forte pendor ecologista. A grande vantagem da entrega descontraída de Varatojo é que o que ouvimos não parece mais um sermão político (ainda que o seja!), e até nos apetece abanar alegremente a anca enquanto ouvimos histórias de activistas perseguidos.

Técnicas de Combate vale como um todo e todo ele merece ser escutado e desfrutado, repetidamente e na íntegra. Ainda assim, não resistimos a recomendar alguns temas. Começamos pela jazzística “Política”, que abre o disco quase como uma declaração de intenções; o dub soalheiro de “O Problema é o Sistema”; e o delicioso exercício geracional de “Sushi era no Japão”, em que se volta a um tempo em que “Camones, era só em Albufeira”, “as padarias eram mesmo portuguesas” e “ainda se conseguia alugar casa em Lisboa”, tudo carregado de humor e de leveza.

Luís Varatojo já teve muitas vidas e esta é mais uma que vale a pena. Entremos no ringue com esta Luta Livre, e as suas Técnicas de Combate.


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