
Resenha
Les Nouveaux Mondes
Álbum de Nemo
2002
CD/LP
Já no seu disco de estreia, a banda mostra-se hábil na construção de um som próprio com características próprias, além de atual e original
Se você, assim como eu, conheceu a banda francesa, Nemo, por meio dos seus discos posteriores ao de sua estreia, muito provavelmente aqui você vai achar a banda um pouco menos aventureira, inventiva e até mesmo criativa, porém, já é nítido o potencial existente, por mais que ele não esteja suficientemente desenvolvido. Realmente é o menos progressivo – embora nem tão menos assim -, mas com isso estou querendo dizer que o álbum não vale a pena? Claro que não, longe disso inclusive, afinal, mesmo com suas ideias mais ingênuas e simples – lembrando que falo isso se comparado aos seus outros discos -, o que não faltam são passagens belíssimas durante os seus quase 60 minutos de duração. Como de costume, logo na estreia da banda, o foco principal da sua música fica na sensibilidade e ataques de guitarra de Jean Pierre Louveton e nos teclados muito bem assentados e mágicos de Guillaume Fontaine, os dois únicos membros que estiveram em todos os discos do grupo. “Abysses” começa o disco por meio de uma atmosfera poderosa criada pelos teclados, então que um belo piano também entra na música para depois os demais instrumentos se unir a eles e criarem um rock progressivo cheio de vigor. Mais à frente, a peça vai ganhando algumas voltas e reviravoltas e se transforma em um rock progressivo de linha mais melódica que por vezes soa pesado. Estilo e drama são duas coisas que não faltam nessa música. Em um dos movimentos, é claro que não poderia deixar de ter um excelente solo de guitarra. Perto dos 8 minutos, a música silencia brevemente antes de retornar primeiramente com uma guitarra suave para depois evoluir em uma jam instrumental que a leva para o fim. “Dr Fergusson Et Les Caprices Du Vent Vol.1: Au Dessus Des Toits”, um vocal suave desliza por cima de um movimento intrincado de guitarra e baixo, então que a peça passa a evoluir a partir daí. Por vezes, a banda entrega um som baseado no hard rock. Por volta da metade da música, uma seção de guitarra ardente assume o controle, conduzindo a faixa para um caminho mais pesado, explodindo em um rock progressivo mais empolgante e acelerado, regressando pouco depois para o ritmo mais lento tocado anteriormente. “Danse Du Diable” com pouco menos de três minutos, é de longe a música mais curta do disco. Começa com um baixo solo que logo em seguida vai recebendo a companhia dos demais instrumentos uma a um. Gosto muito desse tipo de compasso incomum. Essa música 100% instrumental pode ser mais curta que as demais do disco, mas consegue ser tão atraente como qualquer outra. “Tempête” começa com algumas vocalizações por cima de um rock progressivo muito bem-feito. Só o que a banda entrega nessa introdução, já vale pela magia progressiva que é criada. Quando os vocais entram pela primeira vez, a música está soando quase como um metal em ritmo lento. A linha de baixo dessa parte é bastante forte, dramática e cheia de energia. A parte instrumental em que a banda entra em seguida é bastante influenciada pelo fusion – ao menos boa parte dela. Os vocais retornam para mais alguns versos sobre uma música bem direcionada, então que a banda entra em uma jam progressiva muito boa, mas que não demora muito, ficando apenas o teclado para trás criando um clima muito temperamental e com alguns efeitos, permanecendo assim até o fim da peça. “Dans La Lune Encore” começa por meio de uma linha de baixo de ar misterioso, então que aparecem os primeiros vocais e a banda vai surgindo aos poucos, transformando a música em uma peça de arranjo poderoso e completo, soando até um pouco sinfônica. Há um recuo em uma seção dramática e de ritmo agradável. À medida que a música continua, ela entra em algumas zonas progressivas de sonoridade melódicas que são edificantes. Excelente do começo ao fim. “Dr Fergusson Et Les Caprices Du Vent Vol.2: Au Dessus Des Pyramides” é uma faixa instrumental que não é necessário de muito para defini-la. Possui um conceito sinfônico bastante pesado que estão em exibição constante, além de muito drama e estilo. Uma peça extremamente poderosa e bombástica. "Philléas" é um épico com mais de 20 minutos e que finaliza o disco, sendo apresentado como 4 faixas separadas, mas que obviamente, para ter a experiência completa é recomendado sempre escutar todas juntas. “Départ-Europe” começa como se a banda estivesse tocando bem ao fundo, porém, rapidamente a música emerge e se transforma em uma jam incrível cheia de suingue que ora se comporta com grande influência fusion e ora em um hard rock progressivo de primeira linha. “Les fleuves sacrés” é uma música mais suave e de textura mais orgânica, tendo influência na música típica asiática - que inclui até o uso de um gongo. Mais à frente, recebe alguns vocais suaves. “Luna”, começa mais ou menos no clima da música anterior, mas logo se transforma em uma jam incrível de rock progressivo. Um excelente trabalho de guitarra, teclado/piano bem acentuados e uma seção rítmica bastante rica. Há medida que a faixa avança, há uma entrega de timing muito legal. A bateria tocada isoladamente termina faixa e já cria um gancho para seguinte que encerra o épico. “Nouveau monde”, uma bateria dramática inicia a música, então que algumas notas de piano vão surgindo para adicionar melosidade, com alguns assobios juntando-se a eles mais à frente. Conforme vai seguindo, a peça vai se transformando em algo mais completo até explodir em uma sonoridade enérgica e progressiva – com pitadas fusion em alguns pontos - por meio de uma instrumental muito bem construída. Les Nouveaux Mondes foi o ponto de partida para a criação da sonoridade de sucesso e prolífica da carreira da banda que encerrou as atividades em 2015 – embora eu ainda acredite em um retorno, principalmente depois do Porcupine Tree sair do hiato e gravar um álbum de estúdio depois de 13 anos. Já no seu disco de estreia, a banda mostra-se hábil na construção de um som próprio com características próprias, além de atual e original.
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