quarta-feira, 15 de março de 2023

Resenha Okhotsk Fantasy Álbum de Isao Tomita 2016

 

Resenha

Okhotsk Fantasy

Álbum de Isao Tomita

2016

CD/LP

Isao Tomita (1932-2016), como já foi apresentado em outras resenhas dele, foi um compositor e arranjador japonês  que se destacou por montar uma orquestra inteira com sintetizadores e passou parte das décadas de 1970 e 1980 interpretando música sinfônica com instrumentos eletrônicos. O som dele é um gosto adquirido, pois entra frequentemente em território bizarro com seus timbres e efeitos esquisitos, mas é consenso entre muitos músicos que o domínio e qualidade sonora de sua performance com instrumentos analógicos não teve rival em seu tempo. Imagine pegar um Moog modular e tocá-lo exatamente como se fosse um violino, reproduzindo todas as modulações e inflexões expressivas do instrumento natural, só que com um timbre absolutamente diferente. Seu estilo ganhou o apelido de "som espacial", em parte por conta da manipulação espacial dos sons (posicionamento das vozes e reverb), e disso ele tirou proveito comercial. É assim que a mesma pessoa que fez a trilha sonora do anime "A Princesa e o Cavaleiro" com orquestra também gravou parte da música de "Cosmos" de Carl Sagan com teclados. Tomita só desacelerou um pouco quando levou suas gravações para a estrada nos concertos "Sound Cloud" nos anos 1980, e depois disso voltou a compor para orquestra tradicional, com as definitivas obras "Tale of Genji" e "Symphony Ihatov".

Explicado tudo isso, este álbum é o último LP dele com material inédito, coincidente com seu falecimento aos 84 anos. No caso, a faixa de abertura é inédita, enquanto o miolo é tirado de "Daphnis et Chloé" de 1980 e a última faixa é um trabalho bem antigo que só tinha aparecido em "Sound Creature" de 1977.

A faixa de abertura é uma suíte composta pelo próprio artista, em três partes sonoramente desconectadas. Começa com uma incongruente máquina de ritmo e sons aparentemente inspirados pela Sibéria, em conformidade com o título; tem um interlúdio similar ao que Tomita fazia nos tempos áureos; e termina com um som de tabla indiana (!) que cede lugar a mais um de seus familiares corais espaciais. Sabe-se que em seus últimos anos ele tinha digitalizado todos os seus sons criados na era analógica para poder continuar brincando com eles, de modo que é meio impossível determinar de ouvido quando ele preparou esta composição, já que ela tem uns 40 anos de timbres misturados. Pode ser que ele tenha feito um mix reunindo trechos inacabados de épocas diversas. Dificil dizer.

Como a parte do meio da compilação corresponde a metade do álbum de Ravel, já relançado em sua sequência original, é adequado que o ouvinte se refira diretamente a ele e ignore esta repetição. Adianto que são arranjos bem cuidados, tecnicamente impecáveis e com um toque muito menos pesado que o de outras músicas produzidas pelo mestre japonês.

A faixa final, nomeada como a mais famosa das obras literárias aludidas em "Symphony Ihatov" ("Trem Noturno para as Estrelas" de Kenji Miyazawa), envelheceu mal. Não é mais que um teste ou experimento com sons que remetem a um parque de diversões ou circo, adicionado do resfolego de um trem a vapor e um caos sem forma de barulhos e efeitos, o que não torna este incipiente trabalho algo convidativo. Só mesmo para fãs completistas, do tipo que adicionam ao repertório de Tomita o horroroso e inaudível álbum pop "Switched On Hit & Rock", que ele produziu antes de abordar os clássicos e tirou convenientemente do catálogo.

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