Resenha
Mercy
Álbum de Altura
1996
CD/LP
O metal progressivo produzido pela Altura tem uma inclinação para o hard rock que é um pouco maior do que a que a maioria dos grupos do gênero costumam ter. Apesar de lançarem seu único disco pela gravadora, Magna Carta, que na época tinha sob suas asas nomes como Shadow Gallery, Magellan e Enchant, a banda não conseguiu atingir o mesmo grau de popularidade, por exemplo, de nenhuma das bandas citadas. Quando falamos de bandas de metal progressivo surgidas principalmente no período de 1993 a 1996, estamos falando de um período que era febre sofrer influências do Dream Theater, com isso, existindo dois grupos, o primeiro é aquele grupo que soa apenas genérico, enquanto o segundo, é aquele que, por meio de suas influências, desenvolve um trabalho interessante e até com alguns bons sinais de criatividade, além de muito dinâmico. Antes de eu comentar as faixas, relevem se eu falar muito o nome do Dream Theater aqui, mas é inevitável. “Mercy” começa primeiramente com um barulho de chuva que dura um pequeno momento, dando lugar em seguida para umas belas notas de piano. Então que há uma explosão instrumental intrincada, mas de certa forma suaviza de novo e os vocais aparecem pela primeira vez sobre uma batida média. Conforme avança, a peça também ganha a intensidade de um metal progressivo robusto. Por volta dos 3:12, a banda entrega uma passagem instrumental de mais ou menos um minuto que poderia se passar facilmente como um material perdido do Dream Theater do final dos anos 80. “The Calling”, antes de entrar em uma seção mais metálica, consegui perceber um pouco de “Tubular Bells”. Novamente não é difícil notar a banda deslizando pelo universo do Dream Theater. Como não canso de falar aqui no site, eu amo refrãos quando bem-feitos, sendo o dessa música algo realmente encantador. Uma peça de sonoridade forte e poderosa. Com certeza, um dos destaques do álbum. “One By One” inicia com algumas teclas fazendo trabalhos de corda, em uma sonoridade que vai crescendo até atingir um status musical poderosos e um pouco dramático. Conforme vai avançando, ela começa a atingir algumas mudanças mais dinâmicas, incluindo uma jam progressiva de muita qualidade. Há mais uma entrega de ótimo refrão, porém, esse me faz lembrar de “Innocence Faded” do Dream Theater, como se fossem uma espécie de músicas irmãs. Termina por meio de uma melodia suave e batida sutil. “The Continuum”, temos que falar de Dream Theater de novo. Os primeiros segundos me lembram “Trial of Tears”, a banda então entra de forma completa e eu penso que vai começar algo idêntico a “The Mirror”, mas devo dizer que ela também seus próprios méritos. Uma peça instrumental de pouco menos de 3 minutos, mas cheia de segmentos enérgico. “Horizons Fade” começa por meio de algumas texturas mais melódicas. Apenas piano – e depois piano e voz -, dominam a peça em seu primeiro minuto. Então o restante da banda entra na música e ela ganha um novo segmento. Devo admitir uma coisa, essa banda sabe fazer muito bem seus refrãos, quase sempre soam muito cativantes. Novamente acenos ao Dream Theater são evidentes. “One Dimension” já começa direcionando o som do disco muito mais para um hard progressivo do que para o metal progressivo, o que é ótimo, isso é bom para agregar alguma originalidade no álbum. Possui uma boa variedade musical e reúne mais um refrão cativante. Mas claro, ainda há muito metal tocado de maneira muito técnica e às vezes até frenética, sendo essas, as partes onde novamente o Dream Theater vem e mente. “Alternate Lines” começa em um ritmo bastante padrão, sendo puxada principalmente por um bom riff de guitarra e órgão ao fundo. Então que a peça muda de direção e fica mais intensa. Falando em mudanças, elas acontecem com tanta frequência, que fica parecendo que a banda construiu essa peça através de retalhos e ideias soltas, pois além de tudo, não soam muito coerentes. Ainda assim, tem seus momentos metálicos, melódicos e evocativos interessantes. Só acho que, em algumas partes tentaram complicar demais a música, com isso, as inclinações ao Dream Theater nunca ficaram tão evidentes. “Alone”, com quase 11 minutos, é a maior faixa do disco e também a que o encerra. Começa com um piano solo, mas logo ganha a companhia dos vocais, criando um dueto pungente e muito afetivo. A música vai seguindo com o dueto durante os dois primeiros minutos, então toda a banda entra na peça, mas mantendo a música dentro de uma esfera bastante melódica, até que ela explode em uma sonoridade mais efusiva. Mais à frente há uma pausa que leva a peça para uma seção dramática quase neoclássica. Após um interlúdio de um minuto, os vocais voltam dentro de uma melodia nova. A música ainda entrega uma explosão progressiva que faz ligação com um modo balada. Para citar um nome diferente no álbum, também é possível encontrar acenos ao King Crimson nessa música. Confesso que nunca achei tão difícil dar um veredito final para um disco. Sei que uma boa parte do álbum o ouvinte pode passar falando, “isso parece Dream Theater”, inclusive, eu devo concordar, tanto que na resenha eu falei muito sobre eles estarem soando muito como Dream Theater. Mas apesar de pecarem na falta de originalidade, ao mesmo tempo eu vejo ali músicos talentosíssimos e que poderiam evoluir bastante sua música em discos futuros, mas infelizmente, após o lançamento dessa estreia, eles simplesmente desapareceram do cenário e nunca mais foram vistos. Usando um pouco jogo de palavras com o nome do grupo, a banda aqui realmente não está à altura do que grandes bandas de metal progressivo estavam produzindo naquela época, porém, seu potencial para uma evolução era evidente. Inicialmente, a ideia era de um disco mediano, mas ainda acho que eles merecem meia estrela a mais.
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