A primeira obra-prima de Sly mistura funk com pop psicadélico. Uma espécie de James Brown com flores no cabelo.

James Brown inventou o funk, honra lhe seja feita. Sly e seus compinchas avançaram para o passo seguinte: democratizá-lo, enxertando-o com o imaginário hippie do mainstream de então. Nos três primeiros discos da banda, esse projecto de aproximação foi tímido e pouco inspirado. Tudo mudou em ’69 com Stand!, uma fusão perfeita entre o groove demente do funk e o melodismo soalheiro da pop.

O seu psicadelismo é discreto para os padrões do acid rock mas revolucionário no seio do R&B: a guitarra wah-wah, o baixo distorcido, o processamento electrónico da voz, as longas jams. Ao mesmo tempo, Isaac Hayes também inventava a sua versão de soul psicadélico com Hot Buttered Soul. Impressionada com o sucesso de ambos, a Motown depressa os usaria como moldes estéticos para a sua nova fase florida.

Stand! é abertamente político, um dos primeiros discos de R&B a sê-lo. Político e ingenuamente optimista, como o flower power que o inspirou. Sly acreditava mesmo na paz e no amor, apelando à união de todas as tribos. Essas boas vibrações irradiam por todo o disco como raios quentes de sol.

O facto de a banda integrar homens e mulheres de pele clara e escura era, em si mesmo, uma pedrada no charco, irritando os racistas de ambos os lados, rednecks e black panthers unidos no mesmo boçal tribalismo.

Mas o mundo não quis saber dos sonhos lindos de Sly. Poucos meses depois, aconteceria Altamont, Nixon e novos motins raciais. O disco seguinte teria a marca da desilusão. There’s a riot going on…