quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Discografias Comentadas: Jethro Tull (Parte II)

 

Discografias Comentadas: Jethro Tull (Parte II)
Jethro Tull 1975
Martin Barre e Ian Anderson na tour de Minstrel in the Gallery.

Como já avisado pelo Mairon na Parte I, eu darei continuidade na discografia dessa banda incrível. É de se notar que se antes o Jethro Tull funcionava mais como banda, agora começa-se a ficar mais com cara de projeto próprio de Ian Anderson, com o próprio protagonizando sozinho várias capas do Tull com sua tradicional pose de Pan. Muitos integrantes vem e vão a partir do final da década de 70, tendo mais o próprio Anderson e o guitarrista Martin Barre como músicos principais. Porém, nos primeiros discos desta parte, a formação considerada clássica contendo Barriemore Barlow, John Evan e Jeffrey Hammond-Hammond se mantém.


war-childWar Child [1974]

Concebido para ser a trilha sonora de um filme (que não conseguiram ninguém que os patrocinassem), War Child nos apresenta um disco orquestrado riquíssimo (liderado pelo futuro tecladista da banda David Palmer) e de músicas muito variadas no cardápio do Tull. Há o progressivo famoso dos discos anteriores, o folk rock animado que a banda consagrou nessa época e alguns resquícios do velho hard rock dos primeiros discos. O disco é curto, bem diferente das suítes longas de A Passion Play [1973]. Iniciada em uma levada de piano e saxofone “Warchild” surge em uma animação típica que a banda produz e que faz o progressivo soar bem diferente do que aquela aura “intelectualóide” que muitos criticam no estilo, abrilhantada ainda mais pela orquestração ao final, assim como “Queen and Country” demonstra uma riqueza instrumental grandiosa principalmente no uso do acordeão, violino e guitarra. O folk da banda se fortalece em “Ladies” com o violão, a flauta de Anderson, os sopros e cordas da orquestra se sobressaindo, além daquele naipe de metais divertido ao fim (pena que é curto). “Back-Door Angels” parece uma continuação da música anterior, com mais variações de velocidade instrumental e maior participação dessa vez da guitarra de Barre com solos bem hard rock setentistas. O lado sarcástico da banda surge em cheio com “Sealion”, uma curta faixa cujo tema é um leão marinho em um circo. Pois é, coisas de Anderson. “Skating Away in the Thin Ice of the New Day” dá uma baixada no clima em uma balada que particularmente não me apeteceu muito, enquanto que o hit do disco se chama “Bungle in the Jungle” música que apareceu bem posicionada nas rádios da época e divertidíssima como uma boa canção do Tull deve ser. “Only Solitaire” é uma curta acústica que precede as faixas finais “The Third Hoorah” que parece marchinha militar de soldadinhos de brinquedo e “Two Fingers” finaliza bem, com o baixo em destaque e o acordeão intervindo bem. Este disco é bastante “ame ou odeie” na discografia do Jethro Tull, com críticas fortes nas publicações especializadas e com alguns fãs o odiando até hoje, todavia, vejo que o disco está sendo melhor recebido em tempos mais recentes. Particularmente aprecio muito este disco, um dos melhores desta época.

O disco em seu relançamento veio com muitas faixas extras, algumas podendo fazer parte tranquilamente do tracklist, principalmente “Paradise Steakhouse” e “Rainbow Blues”, além de “Warchild Waltz” totalmente instrumental e orquestrada que está de arrepiar os cabelos da nuca. Recomendo bastante a parte bônus que melhora ainda mais a audição.


minstrell_in_the_galleryMinstrel in the Gallery [1975]

Considerado por muitos como um “retorno à boa forma”, este álbum resgata uma sonoridade mais próxima de Aqualung (1971) e faz uma mistura do progressivo e do rock clássico que o Jethro Tull costuma fazer, com a flauta ainda mais presente e aquela típica mistura da guitarra elétrica e da acústica. E sim, as intervenções de Barre e a agressiva bateria de Barlow deixaram o disco bastante hard rock principalmente nas três primeiras músicas. A faixa título que abre o disco deixa bem claro que o Jethro Tull também sabe tocar pesado e “Cold Wind to Valhalla” traz o bom e velho violão misturado a um quarteto de cordas liderado novamente por David Palmer. E obviamente, a guitarra de Barre despeja hard rock nessa que é minha música favorita do disco. Sem maneirar, vem “Black Satin Dancer” iniciando calmamente com a flauta, piano e um singelo vocal de Anderson para que sinos, e até um inesperado órgão hammond e belas guitarras nos brindem com um instrumental rico logo em seguida. Incrível como o Jethro Tull sabe misturar tanta instrumentação sem bagunçar ou encavalar um em cima do outro de forma que todos soem bem. “Requiem” é uma bonita balada enquanto “One White Duck/0^10 = Nothing At All” já nos apresenta o foco maior no folk rock que a banda nos apresentará principalmente nos álbuns finais da década de 70. “Baker St. Muse” é uma suíte de mais de 16 minutos que novamente demonstra a progressividade da banda de uma maneira bem folk, se é que isso é possível mas que não encontrei termos melhores para descrevê-la. O disco finaliza com a curtinha “Grace”.

O conteúdo bônus do relançamento deste disco não é tão rico quanto em War Child, com simples faixas de conteúdo acústico, mas “Pan Dance” é uma que vale a pena pelo seu instrumental belo.

Como profissionalismo não era lá o grande forte dos críticos da época (talvez não tenha mudado muito nos tempos atuais…) esses não perdoaram e malharam o disco e principalmente Ian Anderson, que obviamente alimentava mais com declarações ácidas sobre as críticas que recebia e respondia com ainda mais sarcasmo nas letras do Jethro Tull. Memórias das críticas ferrenhas de A Passion Play que atormentaram a banda por anos. O baixista Jeffrey Hammnond-Hammond (brincadeira com o seu nome devido a seu pai e sua mãe possuírem o mesmo sobrenome, antes mesmo de se casarem) deixa a banda em dezembro de 1975 para dedicar-se a sua paixão por pintura, largando o seu baixo e a música que não voltaria nunca mais. Para o próximo disco, este seria substituído por John Glascock.


Too-Old-To-Rock-N-Roll-Too-Young-To-Die-1024x1023Too Old to Rock ‘n’ Roll: Too Young to Die! [1976]

Com toda a boa vontade do mundo, dá para apreciar algumas partes acústicas e as poucas intervenções elétricas da guitarra de Barre, mas difícil não concordar com uma maioria que acha este álbum pouco inspirado. Mais um disco conceitual, a ideia de Ian Anderson era fazer um disco que tratasse da história de um velho rockeiro que volta à fama após anos de ostracismo. Tudo inspirado pela ascensão do punk rock justamente nesta época. O disco até abre bem com “Quizz Kid” que lembra as composições mais rockers dos primeiros álbuns da banda, mas depois simplifica demais com “Crazed Institution”. Sinto um pouco de falta de ousadia por parte dos membros em explorar outros instrumentos, coisa que qualquer fã do Jethro Tull espera de um disco clássico da banda. Eu aqui escutando o início de “Salamander” e minha mãe pergunta “ouvindo o Almir Sater?”. Olha, ser comparado ao Almir Sater é um baita elogio, porém, ainda acho que o nosso velho violeiro brasileiro trata melhor desse folk interiorano do que Ian Anderson nessa canção. Mais uma canção médio tempo, “Taxi Grab” anima mais pelas intervenções de guitarra, piano e gaita, apresentando um solo instrumental interessante (ainda que para alguns pareça bagunçado) e alguma malícia antiga nos vocais de Anderson. Entre canções lentas e sem nada aproveitável (“From a Deadbeat to an Old Greaser”, “Bad-Eyed and Loveless) e algumas médias que não me tocaram muito (a faixa título, “Pied Piper” e “The Chequered Flag (Dead or Alive)”), ainda posso destacar “Big Dipper” com um jeitão bem bluesy-folk que considero a melhor do álbum.

O tradicional espancamento crítico em cima da banda (a Rolling Stone britânica era famosa por suas resenhas ácidas na década de 70), vendas inferiores ao disco anterior (mas ainda relativamente boas se comparado ao desempenho de outros discos famosos contemporâneos) e a capa medonha não agradaram a ninguém. Por isso, hora de botar o coração folk/celta para bater e lançar o melhor disco da banda em anos.


songs-from-the-woodSongs from the Wood [1977]

Como fez bem o troca-troca de informações e ideias entre o Jethro Tull, Steeleye Span e o Fairport Convention na inspiração para as composições deste disco. Claro que o folk rock esteve presente desde os primeiros anos da banda, mas é aqui que botam o folclore cravado nos ouvidos de quem apreciar este disco com a vantagem de ter um Anderson, um Barlow, um Barrie, um Palmer (agora efetivado como membro permanente) e um Evan tocando para ti. Ah claro, backing vocals do baixista Glascock (presentes sem muito destaque no disco anterior), abrilhantam a abertura animada e encantadora de “Songs from the Wood” em que um incrível sintetizador (isso mesmo, álbum folk mas com sintetizadores) recheia o fundo de um trabalho vocal excepcional de Anderson e Glascock. “Jack-In-The-Green” é uma música curta em que Anderson toca tudo e nos lembra o já citado Steeleye Span na maneira como se conduz o instrumental. “Cup of Wonder” apresenta uma harmonia entre a flauta, órgão e vocais que é muito bacana. Uma canção deveras hard rocker sintetizada com Barriemore batendo agressivamente em sua bateria é o que temos nas excelentes “Hunting Girl” e “Ring Out, Solstice Bells” com a segunda parecendo uma continuação da primeira, exceto pelo ar mais “cristão” com sinos e atmosfera bem natalina. Já “Velvet Green” nos leva direto nas épocas do século XVI e XVII em que o sintetizador configurado como um cravo e as velhas violas nos levam àquelas rodas de música em volta da fogueira com colonos europeus dançando felizes após um dia cansativo de trabalho. Olha a animação em “The Whistler”, não consigo imaginar nada além de Ian Anderson ter encarnado o deus Pan e sair saltitando por um palco tocando sua flauta enquanto se equilibra em uma perna só. Após toda essa magia folk, uma intro de guitarra distorcida que passa a impressão de que Tony Iommi retornou ao Tull surge em “Pibroch (Cap in Hand)” uma faixa pesada sem deixar o folk de lado que mistura a singeleza do teclado e da flauta à uma guitarra áspera do rock. Um espetáculo. O disco ainda fecha com a ótima “Fire at Midnight”, acalmando um pouco o disco ainda que prossiga nas guitarras distorcidas da faixa anterior.

Songs from the Wood

Este disco é fantástico, o meu preferido do Jethro Tull ainda que existam Thick as a Brick [1972], Aqualung [1971] e Stand Up [1969] que são os que mais gosto da primeira fase. Apenas o primeiro de uma trilogia de discos folk que a banda usou para contra-atacar o sucesso do punk no final da década de 70.


heavy-horsesHeavy Horses [1978]

Podemos classificar este disco como uma sequência digna de Songs from the Wood. De fato, a estrutura e o estilo das músicas é bem parecido com o disco anterior, parecendo até que foram compostos juntos e aí Anderson resolveu guardar algumas para este ano. Claro que a temática folk deixa um pouco o medieval de lado e nos apresenta uma atmosfera mais “rural” contemporânea. Sem deixar-nos respirar, o disco já inicia com uma flauta e uma guitarra solando firme em “… And the Mouse Police Never Sleeps”, seguindo a tradição da banda de nomes esdrúxulos de músicas (mas que eu acho hilário). “No Lullaby” tem um baixo marcante e com uma estrutura bem típica progressiva dos discos do início da década de 70. Ideal para quem quer matar as saudades dessa época. “Moths” é uma pequena peça acústica e leve, com um arranjo orquestral de cordas simplesmente lindo. O lado acústico do violão nos passa a impressão de ter sido gravada em algum rancho velho inglês do século XX, porém, as orquestrações dão um toque de sofisticação que me fez ter a faixa como favorita do disco. “Rover” é bem diferenciada das demais, em que utilizam-se marimbas dando uma impressão meio latina que até me surpreende. “One Brown Mouse” talvez seja a única que eu não posso dizer que curti muito, talvez um ponto baixo que poderiam ter deixado de lado. Homenageando os cavalos do título, “Heavy Horses” tem uma característica diferente de várias outras canções do Tull: Ian Anderson parece cantar à la Waters no Pink Floyd, com um tom mais introspectivo nos momentos mais calmos ao invés do seu tradicional canto ao estilo “bardo europeu”. Outras que não falei anteriormente como “Acres Wild”, “Journeyman” e o encerramento com “Weathercock” não deixam o disco cair em nenhum momento, seguindo com aquele folk delicioso que o Tull nos proporcionou nesses tempos. Dentre as canções bônus do cd, que são mais duas, gostaria que “Broadford Bazaar” estivesse no lugar de “One Brown Mouse” e o disco original seria ainda melhor.

Depois de dois anos muito bons para a banda, começam a aparecer alguns problemas sérios: o baixista John Glascock começa a sentir a saúde piorar ao não conseguir completar a tour de promoção de Heavy Horses. Diagnosticado com um problema sério em sua válvula cardíaca, o baixista ignora as orientações médicas e continua levando a vida regada a álcool e festas. Sua saúde continua a deteriorar que este só consegue gravar os baixos de três canções do próximo disco, em que Ian Anderson se obrigou a gravar o restante.


stormwatchStormwatch [1979]

O último disco da “trilogia do folk” mantém um ótimo nível, apesar de considerá-lo um pouco inferior aos dois anteriores. Porém, não são poucos os que alegam que a morte de John Glascock devido aos seus problemas cardíacos, poucos meses após o lançamento deste disco, levou consigo também a qualidade do Jethro Tull. Independente disso, Stormwatch foi bem recebido pelo público e pela crítica, finalizando aí o que seria uma época de “trégua” entre a banda e as publicações especializadas. O disco também é menos influenciado pelo folk se comparado com os dois últimos, sendo mais seco e mais direto principalmente na guitarra de Barre, que em muitos momentos usa o hard rock como base para melodias e solos mais pesados. “North Sea Oil” começa bem, com uma ótima pegada de bateria de Barlow que energiza a música. “Orion” varia entre singela e pesada, com o violão e os teclados de Evan e Palmer dando o toque singelo e o baixo e a bateria botando energia para fora quando exigidos. “Home” chega colocando uma atmosfera levemente bucólica em uma balada agradável, enquanto “Dark Ages” talvez seja uma das canções mais pesadas da carreira do Tull e a melhor do disco, usando uma base hard rock blueseira sem deixar de lado aquelas orquestrações de Palmer que costumam dar uma embelezada nas canções de grande parte dos discos. Uma pena que “Warm Sporran” que vem logo em seguida decepciona por soar bem deslocada do disco. Umas vozes masculinas misturadas a órgão, flauta e bateria lembrando fanfarra que não faço ideia do que faz aqui, logo após a pancada que foi “Dark Ages”. Prosseguindo com “Something’s On The Move” aqui seria mais uma faixa mediana, apesar de muitos apreciarem o jeito hard rockeiro da faixa, achei menos inspirada que muitas outras que a banda já lançou.  “Old Ghosts” e “Dun Ringill” (sendo esta acústica) são mais lentas e mais simples que as anteriores e que embora não sejam lá grandes destaques do disco, são apreciáveis. O nível sobe bem com “Flying Dutchman” com tema marítimo (por sinal, como grande parte do álbum) em que a base lenta orquestrada de guitarra muitas vezes lembra canções do seu contemporâneo The Wall dos conterrâneos do Pink Floyd. “Elegy” finaliza o disco com uma canção instrumental composta apenas por David Palmer, um encerramento parecido com aquelas canções de final de filme, lenta e reflexiva, como se despedindo da banda que de fato ocorreria em breve.

As quatro canções bônus do cd apareceram originalmente no boxed set 20 Years of Jethro Tull e diferente da maioria das faixas bônus que normalmente são canções mais simples e menos trabalhadas, estas parecem ter sido deixadas de lado aqui por talvez não se encaixarem tão bem no tema náutico do disco. Não saberia dar uma resposta concreta sobre elas no momento.

John Glascock
John Glascock

Logo após a morte de John Glescock em 1979 – sendo seu substituto Tony Williams na turnê de Heavy Horses e logo após Dave Pegg seria efetivado como membro na turnê de Stormwatch – as coisas degringolaram para a banda ao fim da tour deste disco. O baterista Barriemore Barlow, deprimido pela morte do baixista do qual era muito próximo, discordando do direcionamento musical que Anderson queria para a banda e não muito contente com os contratos leoninos que o líder fazia os membros assinarem (ao qual lhes pagavam pouco), deixa a banda. Já comentando sobre os destinos de cada membro, Barrie se torna músico de estúdio tocando bateria para outros artistas-solo tais como Robert Plant, Jimmy Page e John Miles, também fundando um estúdio de gravação de discos que mantém até hoje. Os dois tecladistas-organistas John Evan e David Palmer acabam sendo demitidos visto Ian Anderson buscar outro tipo de direcionamento musical que falarei a seguir. A dupla tenta formar uma nova banda chamada Tallius, porém, sem conseguir levar adiante e sem deixar nada oficialmente lançado. John Evan hoje vive na Austrália e é dono de uma construtora. Já David Palmer voltou a fazer orquestrações para filmes e outras bandas, se tornou músico de estúdio e mudou de sexo em 2003, sendo agora chamada Dee Palmer.

Ian Anderson e Martin Barre, junto ainda a Dave Pegg, se encontram sozinhos com a banda. Como eu havia dito no início dessa matéria, Anderson já dava sinais de fazer o Jethro Tull funcionar mais como seu projeto pessoal e agora é o que a banda basicamente se torna. Entrando na década de 80, Anderson queria fazer um disco solo baseado em sintetizadores e no pop eletrônico, abandonando o folk e o progressivo de vez, algo que muitas bandas progressivas setentistas fizeram como o Yes e o Genesis. Pressionado pela gravadora para continuar a lançando sob o nome Jethro Tull, o trio corre atrás de novos membros e acaba recrutando o baterista Mark Craney e convidando o tecladista Eddie Jobson para gravarem o próximo disco.


AA [1980]

Imagino o choque dos fãs ao botarem a agulha no vinil e ouvir sintetizadores tomando conta das faixas, guitarras de Barre apagadas e uma postura modernosa na sonoridade deste disco. Não vou dizer que esse disco é péssimo, porém, como gosto da new wave da época e dos típicos “tecladinhos anos 80”, posso dizer que Anderson teve boas ideias aqui (em algumas passagens mais space rock), embora sua execução não foi uma maravilha. Acho interessante a batida do baixo estar bem evidente e algumas boas tocadas de sintetizador, todavia, a voz e o jeito de cantar de Anderson não combinam nem um pouco com essa new wave já que este parece um tiozão maltratado soando moderno para a garotada. “Crossfire” e “Flyingdale Flyer” tem jeito de umas canções já sem ânimo do fim do boom da new wave lá perto dos anos 90. “Working John, Working Joe” é terrivelmente ruim, Desanimada, sem graça, nem uns poucos riffs de Barre salvam aqui. Estou de bom humor hoje, logo, vou pular para comentar as duas faixas boazinhas deste disco e deixar o restante de lado. “The Pine Marten’s Jig” é uma canção mais folk para relembrar tempos melhores da banda e a última “And Further On” que é uma balada levada no piano com boas melodias que se destaca (coisa não muito difícil) dentro desse disco. Curiosamente, nos tempos atuais tem se mostrado críticas mais favoráveis a este álbum como pude ler internet afora, mas a mim não teve efeito. Que sabe daqui mais uma década…


BroadswordThe Broadsword and the Beast [1982]

Após 12 anos em que todo ano a banda lançava um disco novo, eis que o ciclo se corta. Mark Craney deixa a bateria sendo substituído por Gerry Conway e Peter-John Vettese assume os sintetizadores neste disco em que Anderson prossegue pop eletrônico mas dessa vez tentando temperar um pouco mais com o conhecido folk que sempre acompanhou a banda. É um disco um pouco melhor que A, mas também não muito. Há umas guitarras mais proeminentes e eles voltam com a temática pirata já usada antes. “Beastie” até surpreende bem, com bons solos de guitarra e sintetizadores que até ficaram bons, embora eu ainda ache a voz de Anderson inadequada para o estilo. Porém, aqueles defeitos do disco anterior voltam a se sobressair em “Clasp” e “Fallen On Hard Times” com alguns efeitos vocais desagradáveis (já disse algumas vezes em várias matérias minhas que não curto vocal sintetizado em 95% das vezes) e um certo ar de desânimo. Não vou dizer que os sintetizadores são ruins, eu já disse que gosto da new wave oitentista. E eu sempre tento escrever ignorando passado e clássicos e focando apenas no disco em questão. E não dá, parece que não dá liga. Pouco me animo de comentar outras faixas, mas “Flying Colours” é uma boa canção principalmente com seu andamento de baixo e guitarra e “Watching Me, Watching You” é uma experimentação até interessante de sons dos sintetizadores que acredito que muita gente deve ter odiado, mas até que surpreendentemente me agradou. As outras músicas, em geral, são melhores que A porque tem umas guitarras de Barre aparecendo mais, pena que não é nada que se destaque ou que seja memorável na carreira do Jethro Tull.


Encerro esta segunda parte por aqui, em que a audição me foi agradável na maioria das vezes, com a fase folk da banda se sobressaindo. Na terceira e última parte teremos uns discos ainda mais polêmicos, dos quais muitos dos fãs da banda não perdoam até hoje. Volto em 15 dias!

Tull 1980
Jethro Tull de visual futurista quando promovia A [1980].


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