Foi editado em 1969 e representou um esforço de grande ambição dos Bee Gees que não seria reconhecido no seu tempo. Um álbum concetual com temperos folk, country, prog e aromas ainda próximos do modo como o psicadelismo marcou a pop dos 60s.
Os Bee Gees eram já um nome com carreira internacional estabelecida dez anos antes de o filme A Febre de Sábado à Noite os ter catapultado para um patamar de sucesso planetário, dessa vez animados por uma recentemente encontrada devoção global ao disco sound (que tanto o filme como as canções do grupo ajudaram a amplificar). Formados na Austrália (para onde os pais, ingleses, se tinham mudado em finais dos anos 50), os Bee Gees começaram a editar discos em 1963, tendo obtido um primeiro êxito internacional em 1966 com Spicks and Specks (canção que então deu título ao seu segundo álbum). Em 1967 fizeram as malas para regressar ao Reino Unido, editando então 1st, o seu primeiro álbum com edição internacional, somando logo uma primeira mão cheia, e bem açucarada, de singles de sucesso como New York Mining Disaster 1941, To Love Somebody, Holiday e Massachussets. Em 1968, entre outros mais singles, lançaram I Started A Joke (sim, aquele tema que valentes anos depois teria uma deliciosa versão pelos Faith No More). Eram por isso uma banda já com sucesso considerável quando, ainda em 1968, aproveitaram uma semana de tempo de estúdio em Nova Iorque, por ocasião de uns momentos de folga numa digressão americana, para registar um conjunto de canções que poderiam ter conhecido dois destinos. Ou rumava, a uma edição imediata. Ou seria, afinal, o começo de uma ideia mais ambiciosa. Optaram pelo segundo caminho…
Foi assim que começou a nascer Odessa, um álbum duplo. Era coisa rara nos anos 60, com raras exceções em casos como o “álbum branco” dos Beatles ou Blonde on Blonde de Bob Dylan. Mas a ambição da ideia que partiu daquelas sessões iniciais em Nova Iorque ganhou a dimensão de um objeto concetual maior. Passou, ao longo da sua conceção, por títulos de trabalho como “Masterpeace” ou “An American Opera” e apresentava como fio narrativo a memória de um naufrágio em 1899. As sessões prolongaram-se por algum tempo – pelo caminho lançaram o álbum Idea (ainda em 1968) – e cedo abriram momentos de tensão na história do álbum. Com apenas oito canções gravadas, o guitarrista Vince Melounay anunciou que iria abandonar o grupo (que era então um quinteto) para se concentrar em caminhos mais próximos dos blues, juntando-se aos Funny Adams (que editariam apenas um álbum, em 1971). Já com o disco gravado, a escolha de First of May para single de apresentação levou a que Robin Gibb se afastasse momentaneamente dos Bee Gees.
Editado em março de 1969, com capa em veludo vermelho, Odessa revelou um projeto de facto ambicioso, conciliando no vasto corpo de canções elementos de uma então emergente estética “progressiva”, imponentes baladas orquestrais (numa linha nada estranha a caminhos seguidos nos discos de 1967 e 68), uma evidente contaminação de elementos folk e até mesmo country e, ainda, uma clara presença de ecos da forma como a cultura psicadélica se manifestara em terrenos pop. Apesar do lote de potenciais grandes singles apenas First of May foi então editado a 45 rotações. Um segundo single (Melody Fair) surgiria dois anos depois, mas na verdade por surgir então na banda sonora do filme “Melody” (é verdade, houve uma banda sonora com canções dos Bee Gees antes das febres de sábado).
Odessa não correspondeu de todo ao patamar de sucesso que até então eram alcançado pelos discos dos Bee Gees e está igualmente longe do êxito global que alcançariam anos depois. De resto, o disco inicia uma etapa de visibilidade mais discreta que só seria ultrapassada precisamente pelos discos de finais dos anos 70 nos quais o grupo (então reduzido aos três irmãos Gibb) se apresentava já reinventado ao assimilar o r&b e o disco sound. O tempo deu razão a Odessa, disco que chegou a merecer uma reedição em 2009 que juntava as misturas mono e estéreo originais a gravações de estúdio destas sessões então ainda inéditas e o reconhecia como uma obra maior na discografia dos Bee Gees.
“Odessa”, dos Bee Gees, teve edição original em formato de duplo LP em misturas mono e estéreo lançadas pela Polydor em 1969. Houve depois edições em formato de um só LP com alinhamento condensado. As primeiras edições em CD datam de 1985, chegando em 2009 uma reedição “definitiva” numa caixa com um CD triplo acima referida. Por essa altura saiu ainda uma edição em vinil HQ 180 respeitando a capa original.
Da discografia dos Bee Gees vale a pena descobrir discos como:
“1 St” (1967)
“Children of The World” (1976)
“Spirits Having Flown” (1979)
Sem comentários:
Enviar um comentário