terça-feira, 11 de junho de 2024

OBJECTIVO – Out of darkness (2009)

 

Se você está acostumado a ler este blog, deve ter notado que todas as entradas de álbuns são principalmente dos anos setenta, e na verdade o objetivo que me propus quando comecei foi justamente esse, divulgar a coleção de vinis que tenho de aquele tempo, uma forma de fazer perdurar no tempo, aqueles volumes que tantas horas de felicidade me deram e continuam a me dar. Mas claro que 2009, como aqui diz, está longe do anterior... bem, deixem-me explicar, é uma compilação de singles publicados por esta banda portuguesa entre 1969 e 1972, altura em que desapareceu. Nunca lançaram um long play, mas lançaram muitos singles em 45 rpm, o que levou uma pequena editora portuguesa a compilá-los num long play e a lançá-los ao público em formato vinil, e parece que um dos seus propósitos é editar antigas jóias do rock progressivo esquecidas no seu país, basta ver como se chama o rótulo: "Pérolas Progressivas Portuguesas"


É mais uma prova de tantos grupos progressistas que tiveram uma existência invisível aos grandes meios de comunicação, mas que deixaram uma marca profunda em muitas pessoas, graças à qualidade da sua música, que embora não tenham conseguido ultrapassar a barreira que protege a internacionalização sucesso, Eles mostram que o rock progressivo de primeira classe não foi feito apenas nas Ilhas Britânicas, longe disso, mas isso é como tudo, há sempre uns que triunfam sobre os outros e a história é escrita pelo vencedor. Ao contrário do que normalmente acontece, neste caso, a compilação dos vinis de 7 polegadas começa no final, ou seja, o último que foi publicado é o primeiro a aparecer, continuando no sentido inverso até fechar com os singles de estreia. Nesse curto período de 3 anos que durou a sua existência, a evolução musical é notável.

Acabaram fazendo rock progressivo com base de blues muito marcada, temas extensos e faixas instrumentais altamente trabalhadas, gerando cadências em loop. O que fica evidente é o ganho de agressividade, principalmente com o hammond, que é onipresente, criando uma parede musical sólida criando tensão, lembrando os clássicos do prog britânico incluídos na bolsa do heavy progressivo, a guitarra carrega na época um som intenso e interessante solos com um poder mais solvente. Em sua primeira e possivelmente melhor peça, que dá título à compilação, ouve-se o violão relembrando bons momentos ao estilo de Gilmour, nos acordes e na forma de atacar as cordas. A produção é um pouco mais aparente, embora em todos os casos seja frágil, o orçamento não deveria ter sido o seu forte e pode-se dizer que os arranjos nem sequer existem.

Quando recuamos no tempo, o estilo varia, num sentido que implica mais simplicidade e mais harmonia nas vozes, prevalecendo em alguns casos sobre a improvisação instrumental, o que não acontece nas fases posteriores. A diversidade de influências que levam em conta no seu trabalho é surpreendente. Denota a quantidade de música que consumiram e aproveitaram. Progressivo e psicodelia se destacam em cortes como "Music", lado B de "Out of dark", música com estilo semelhante porém mais feliz e com mais ritmo, guitarra funky e wah wah abundante, em que o baixo é o protagonista com uma frase retumbante. Continuamos dando passos para trás e nos deparamos com Glory em 1971, um trabalho mais curto e com uma busca por harmonias claras no som, e mais lírico, menos contundente portanto e com guitarras suaves que lembram MOODY BLUES num plano melódico, com a surpresa que na reta final nos oferecem um fragmento de evangelho!......, quem ia dizer. Como lado B encontramos Keep your love alive, outra boa canção dos portugueses, muito curiosa pelo seu ritmo amigável e contagiante, com uma estrutura de alma ao fundo, em que a percussão e o piano são os instrumentos que acompanham a voz, muito em linha com o otimismo que desperta. Um ano antes, em 1970 e fechando a primeira parte do Long Play, fomos mais uma vez surpreendidos pelo leque de possibilidades destas pessoas. É assim que nos despedimos, poderia ter sido uma música leve, pop descafeinado, música quente para envolver a voz suave e sugestiva com um órgão repetindo as notas simples ao fundo.

O outro lado abre com uma dark The dance of death, que inclui passagens da autêntica psicodelia do momento, um corte que poderia ser conceitual por si só. Um lugar no céu é o primeiro de 4 títulos incluídos em um mini-LP de 1969, seus primórdios onde mostram um aspecto tímido voltado ainda mais para o pop do que para o rock, uma sonoridade muito próxima daquela desenvolvida pela maioria das bandas do meados da década de 1960. década de 1960 na Inglaterra, brevidade, simplicidade na composição, refrões e rimas claras, À beira da morte com batida pronunciada, onde o baixo é brutal e a atmosfera se torna psicodélica. O corte estilo Beatle eu conheço, construído com guitarras rítmicas, pequenos solos e acompanhando a melodia apoiada no baixo arrasador da era Beat. E para dar o toque final a esta antologia está Gin blues, uma peça que nos seus primeiros grooves nos leva ao sucesso de Question and the Mysterians, 96 lágrimas nos registos limpos e simples do teclado.



Reconhece-se que se não fosse o trabalho de pequenas editoras como esta, certamente não conseguiríamos aceder a obras ou álbuns de bandas, fora dos círculos do mundo anglo-saxónico, como é o caso neste caso. E o que podemos dizer dos países do antigo bloco soviético, quantos deles desapareceriam na mesma velocidade com que outros surgiram. Esperemos que alguém siga os passos destes senhores e se concentre na arqueologia rupestre nos seus países de origem.


Temas
A1 Out Of Darkness
A2 Music
A3 Glory
A4 Keep Your Love Alive
A5 This Is How We Say Goodbye
B1 The Dance Of Death
B2 A Place In The Sky
B3 At Death's Door
B4 I Know That
B5 Gin Blues
B6 The Dance Of Death

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