O filme “Tubarão”, de Steven Spielberg, chegou às salas de cinema a 20 de junho de 1975. Para a criação de uma banda sonora (que faria história) o realizador chamou John Williams, com quem tinha já trabalhado uma vez. Daí em diante raramente se separaram.
A cena mostra um ambiente tranquilo. Há uma festa na praia, mas uma rapariga levanta-se, afasta-se, entra na água. O rapaz que a acompanhava, já com uns copos a mais, acaba por perder os sentidos na areia. Mas é na tranquilidade de um mergulho sob o luar que uma sensação de angústia começa a emergir… Não vemos ainda nada que possa comportar perigo… Mas a música sugere que algo se aproxima… Uma ameaça. E que em poucos segundos lança o tom, não apenas do filme mas da banda sonora que o acompanha. O ano era o de 1975 e se, com Jaws (entre nós estreado como Tubarão), Steven Spielberg assinou – sem o esperar – o primeiro episódio de um novo cinema capaz de grandes feitos de bilheteira (blockbuster seria o termo usado), ao mesmo tempo John Williams não só ganhava um primeiro Óscar pela sua música (já tinha um, mas decorrera de um trabalho de adaptação de um musical ao grande ecrã) como firmava um relacionamento com o realizador que, desde então, salvo em raríssimas exceções, não seria quebrado.
Jaws chegou às salas de cinema a 20 de junho de 1975. O filme contava a história da intrusão de um grande tubarão branco nas águas de uma ilha cuja economia dependia dos veraneantes. E, de certa forma, a primeira parte da narrativa reflete o modo como o poder (político e económico) por vezes lida mal com as questões de zelo pela saúde pública… Ressonância curiosa 45 anos depois…
Steven Spielberg tinha já assinado algumas experiências para televisão (como o telefilme Duel, de 1971) e feito a sua estreia no cinema com Sugarland Express (1974), filme ao qual chamara a colaboração de John Williams, compositor que por esses dias era já um nome oscarizado pelo trabalho em Um Violino no Telhado. Para a música de Tubarão propôs várias ideias, uma delas aquele momento (hoje célebre), desenhado apenas para duas notas em alternância, que começou até por fazer o realizador rir, até que deu razão ao compositor. Se esse leitmotiv definia as sugestões de ameaça (um pouco o fazia a música de Bernard Herrmann ao serviço dos momentos de tensão no cinema de Hitchcock), por outro a construção da restante banda sonora ora explorava esse músculo com toda a orquestra (aqui piscando o olho a Stravinsky) ora contemplava um certo lirismo “oceânico”, como o fizera Debussy em La Mer.
O filme desencadeou uma reação de entusiasmo tal que gerou uma bilheteira que superou em largas vezes os nove milhões de dólares investidos (há números que apontam para 450 milhões de lucro). Entre os casos de sucesso gerados pelo filme estão, além da bilheteira, os triunfos nos domínios do merchandising e, claro está, a edição em disco da banda sonora de John Williams. O álbum original incluía apenas parte da música composta e gravada para o filme. Pelo que só encontramos a totalidade da contribuição de John Williams para o filme numa reedição lançada em CD pela Decca no ano 2000.
Confirmação plena da ligação antes estabelecida em Sugarland Express, o sucesso de Jaws garantiu a John Williams a sua ligação a outros projetos de Spielbergb nos quais a música voltou a ter um papel fulcral, seja nas “fanfarras” que deram vida à figura de Indiana Jones ou aos vários capítulos da série Parque Jurássico ou em filmes como Encontros Imediatos de Terceiro Grau (1977), E.T. – O Extraterrestre (1982) , A Lista de Schindler (1994), estes dois últimos tendo-lhe valido mais dois Óscares. De resto, fora da colaboração com Spielberg, o compositor veterano (que já somou 52 nomeações para os prémios da Academia) venceu Óscares ora na adaptação de Um Violino no Telhado ou em A Guerra das Estrelas (1977), de George Lucas.