Com um alinhamento de 55 faixas, traduzindo uma escolha alargada de singles editados entre 1985 e 2020, “Smash” propõe um olhar panorâmico sobre uma das obras mais sólidas e representativas da história da canção pop.

A caminho dos 40 anos de vida discográfica (que se assinalam em 2024), os Pet Shop Boys não carecem de mais discursos nem de apresentação nem de justificação, neles podendo ser reconhecida uma das mais sólidas, longas e demarcadas entre as obras criadas até hoje no grande universo da canção pop. Sob um relacionamento prioritário (mas não exclusivo) com as electrónicas, atentos às formas que emergiram na club culture, com inteligência na palavra, um saber clássico na composição e uma atenção nunca secularizada pelas materializações físicas das canções (capas, looks, vídeos, palcos), os Pet Shop Boys captaram heranças para criar um universo próprio que, mesmo estando já hoje temporalmente distante da sua “imperial phase” (como a imprensa britânica gosta de designar), continua a definir um caminho fiel a uma identidade e às possibilidades de mutação que a evolução dos tempos (e das vivências de Neil Tennant e Chris Lowe) possam acrescentar.
Se é verdade que, sobretudo depois de “Yes”, os álbuns não voltaram mais a mobilizar entusiasmos como outrora, tanto que uma canção magnífica como “The Pop Kids” (de 2016) não foi além do número 128 na lista de singles no Reino Unido, mesmo assim a obra editada pelo duo no século 21 juntou algumas novas adendas notáveis às colheitas anteriores (e basta evocar, de 2013, “Love Is a Bourgeois Construct”, que cita Purcell, para dar um exemplo). E “Smash”, o gigantesco olhar panorâmico que agora chega tem, de facto, no seu alinhamento, argumentos suficientes para poder levar muito boa gente a repensar a eventual falta de atenção dada a álbuns recentes como “Electric”, “Super” e sobretudo o subvalorizado (mas belíssimo) “Elysium”. Já do menos vitaminado “Dreamland” não diria o mesmo…
Sucessor de “Discography” (1991) e “Pop Art” (2003), que tinham juntando semelhantes visões sobre a obra editada no formato de single, “Smash – The Singles 1985-2020” não se apresenta contudo como a integral que esta relação dos Pet Shop Boys com os formatos a 45 rotações (e os seus descendentes em CD single e digitais) já justificava. E de fora continuam a ficar peças como “How Can You Expect to Be Taken Seriously?” (que teve edição individualizada nos EUA e em França) e “Absolutley Fabulous”, deixando igualmente apeados, entre os singles do século XXI, títulos como “Beautiful People”, “Love Life” (editado no Record Store Day de 2003), “Axis”, “Inner Sanctum”, “Undertow” ou o mais recente “Cricket Wife”, de 2021, assim como os EPs “Agenda” ou “Lost”. Ou até mesmo a recente parceria com os Soft Cell em “Purple Zone”, estes últimos de facto fora já do intervalo de tempo definido pelo título. Mas parte desta colheita ausente não está representada em álbuns…

É certo que o conceito de single mudou muito na era digital, com várias canções por vezes apenas lançadas individualmente sem na verdade incluirem uma edição física, um teledisco ou uma campanha de comunicação (como em tempos tudo o que era single geralmente implicava). Mas, e notando como de facto a reta final de “Smash” (sobretudo parte do LP6 na edição em vinil) não guarda o mesmo sabor viçoso do que vem de trás, a nova compilação não repete a excelência de fio a pavio de “Discography” ou “Pop Art”, firmes documentos da tal fase “imperial”. É de notar que, ao longo dos tempos, compilações complementares como “Alternative” e “Format” trataram de reunir a obra extra dos singles, ou seja, os lados B… Mas, sobretudo com a dispersão de atenções discográficas dos últimos tempos – que contrasta curiosamente com os aplausos recorrentemente conquistados ao vivo – um “Smash” um nadinha maior (e, já agora, com tudo) mostraria como, nestes últimos anos, há nos singles, mais até do que nos álbuns, razões para continuar a seguir atentamente os Pet Shop Boys.
“Smash – The Singles 1985-2020”” dos Pet Shop Boys está disponível numa caixa com 6LP, em edições de 3 CD e 3 Cassettes, e ainda uma outra, que junta aos CD um par de BluRay com os respetivos vídeos. A edição é da Parlophone/Warner.
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