terça-feira, 4 de novembro de 2025

Praying Mantis com Dennis Stratton: A Fase Mais Melódica da NWOBHM

 

Praying Mantis com Dennis Stratton: A Fase Mais Melódica da NWOBHM

A New Wave of British Heavy Metal (NWOBHM) produziu centenas de bandas com variados graus de importância e reconhecimento. A meu ver, quatro delas extrapolaram os limites do movimento, tornaram-se amplamente conhecidas e são consideradas influências para muitos que vieram depois: Iron Maiden, Saxon, Def Leppard e Venom.

Além dessas, há um grande número de outros nomes que sempre são citados como referência por terem produzido álbuns de alta qualidade — entre eles, o Praying Mantis.

Eles quase foram reduzidos a uma banda de um álbum só, lançado durante o período de ouro da NWOBHM. Time Tells No Lies (1981) é considerado um dos clássicos da época, embora, na minha opinião, não seja o melhor trabalho da banda (leia mais sobre o álbum aqui). Depois disso, ficaram anos batendo cabeça, sem conseguir dar continuidade à carreira. Chegaram até a mudar o nome da banda para Stratus, cuja formação incluía o baterista Clive Burr e o vocalista Bernie Shaw.

Essa, aliás, não foi a única ligação com o Iron Maiden. Anos depois, durante um show no Japão — evento que buscava resgatar a nostalgia da NWOBHM — convidaram Dennis Stratton e Paul Di’Anno para participações especiais. O show foi gravado e lançado sob o nome Live at Last. Em seguida, Dennis Stratton foi efetivado na banda, iniciando uma parceria que resultaria em diversos álbuns — e é essa fase que será tema deste texto.

Após sua saída do Iron Maiden em 1980 (após o álbum de estreia), Dennis Stratton tocou em diversos projetos, incluindo Lionheart e o projeto Gogmagog. Sua saída do Iron Maiden se deu muito pelo tipo de música que o guitarrista gostava e pela intenção de adicionar mais polimento às músicas, algo que ele já esboçava fazer no Iron Maiden. Isso desagradou a Steve Harris e sua saída foi questão de tempo.

Esse estilo mais melódico de Stratton casou perfeitamente com a sonoridade do Praying Mantis — mais próxima do AOR e do hard rock melódico. O primeiro álbum dessa nova fase foi Predator in Disguise (1991), que abusava das harmonias de guitarras e vocais bem trabalhados em uma mistura de hard rock melódico e heavy metal. A formação incluía Tino Troy (guitarra e piano), seu irmão Chris Troy (baixo e voz), Bruce Bisland (bateria) e Dennis Stratton na outra guitarra e, um detalhe importante, também era creditado como voz principal e isso vou detalhar um pouco mais na frente. Tino e Dennis também assinam a produção do disco.

Outro detalhe curioso é que o produtor executivo dessa nova empreitada foi o japonês Itoh Masanori — jornalista, DJ e entusiasta do rock, conhecido por participar de diversos documentários sobre o gênero ao longo dos anos.

A sequência veio com A Cry for the New World (1993), que manteve a linha melódica do álbum anterior e acrescentou climas mais épicos, lembrando bastante bandas como UFO e Thin Lizzy. O terceiro álbum com Stratton, To the Power of Ten (1995), é ligeiramente inferior aos anteriores, mas mantém a mesma proposta musical.

Quanto aos vocais, há certa confusão. Em Predator in Disguise, apenas Tino e Dennis são creditados. No disco seguinte, junta-se Colin Peel, e em To the Power of Ten, aparece também o nome de Gary Barden (ex-MSG). Se você ouvir os discos sem atenção aos créditos, pode ter a impressão de que é sempre o mesmo vocalista. Isso se deve ao uso intenso de harmonias vocais e à semelhança entre os timbres. Ou, talvez, à tentativa consciente de manter uma uniformidade sonora. Na minha análise, as faixas em que Dennis Stratton canta sozinho são, ao menos: “Can’t See the Angels” (Predator in Disguise), “Best Years” (A Cry for the New World) e “Turn the Tide” (To the Power of Ten).

Foi com Gary Barden nos vocais que gravaram um álbum ao vivo no Japão: Captured Alive in Tokyo City (1996). Mas outra conexão com o Iron Maiden ainda surgiria. Durante a turnê japonesa de 1995, o baterista Bruce Bisland sofreu um acidente de bicicleta e quebrou o braço. Para não cancelar os shows — já que a banda era bastante popular no Japão — Clive Burr foi chamado para substituí-lo. Ele é, portanto, o baterista nesse registro ao vivo. Seria o “Praying Maiden”?

Após isso, iniciou-se uma nova fase. Tony O’Hara foi convidado a se tornar vocalista principal e também trouxe suas habilidades como tecladista, o que agregou ainda mais à sonoridade da banda. O resultado foi Forever in Time (1998), considerado por muitos o melhor trabalho do grupo — e é difícil discordar. Dois anos depois, com essa formação consolidada, lançaram Nowhere to Hide, um bom álbum também, embora alguns fãs achem que a banda exagerou nos elementos AOR. Pessoalmente, não vejo problemas no álbum. Um detalhe importante é que a participação de Dennis Stratton começou a diminuir — tanto nas composições quanto nos vocais.

O encerramento dessa fase veio com um disco um tanto estranho. Dennis Stratton praticamente limitou-se às guitarras, já não contribuía nas composições, Tony O’Hara saiu e os vocais foram divididos entre John Sloman (Uriah Heep, Lone Star, Gary Moore Band), Dougie White e, pela primeira vez, Chris Troy assumindo os vocais principais em uma faixa.

Seguiu-se mais um hiato na carreira da banda, que só retornaria seis anos depois com os irmãos Troy e novos músicos. Desde então, lançaram cinco álbuns, sempre mantendo o selo de qualidade do Praying Mantis — mas essa já é outra história.

A fase com Dennis Stratton ajudou a consolidar o estilo do grupo inglês, contribuindo com sua abordagem melódica na guitarra e nas harmonias vocais — hoje uma das marcas da banda. Foi uma época de maturidade musical, marcada por um hard rock britânico mais clássico, distante do metal agressivo e mais próximo do AOR. Muitos fãs consideram essa a melhor formação da banda, mesmo que tenha atuado quase exclusivamente em nichos. Todos esses álbuns foram lançados praticamente apenas no Japão, com tiragens mínimas no Reino Unido. Dennis Stratton é sempre tratado como o ex-Iron Maiden, mas seria muito mais justo ele ser conhecido com o ex-Praying Mantis.

O Praying Mantis é uma banda que nunca recebeu o reconhecimento que merece. Espero que esta análise ajude, de alguma forma, a influenciar novos ouvintes.


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