sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

Behemoth: crítica de The Satanist (2014)

 


Cinco anos passam rápido. Porém, na atual indústria musical, onde novas sensações surgem todas as semanas, é um longo período. A banda polonesa Behemoth lançou o seu último disco em 2009, o bom Evangelion. De lá para cá, muita coisa aconteceu. Em agosto de 2010 o líder, vocalista, guitarrista e principal compositor do grupo, Nergal, foi diagnosticado com leucemia. Só havia uma cura: o transplante de medula. Após alguns meses um doador foi encontrado, e Adam Darski foi submetido a uma cirurgia em janeiro de 2011. A banda, enquanto isso, ficou adequadamente em segundo plano.

Toda essa história parece ter mudado Nergal e, por consequência, o Behemoth. Após cinco longos anos de silêncio, a banda retorna com The Satanist, seu décimo disco, lançado no dia 3 de fevereiro pela Nuclear Blast na Europa e pela Metal Blade nos Estados Unidos. A banda soa diferente em seu novo  álbum. Os arranjos exagerados e a sonoridade pomposamente complexa dos trabalhos anteriores foi deixada de lado, e em seu lugar surgiu um som muito mais eficaz e letal. O death black metal barroco de outrora foi submetido a um processo de limpeza e soa menos épico, mais melódico e acessível, porém mantendo, e enfatizando, a agressidade e o peso. Na verdade, essa limpeza nos excessos deixou a música do Behemoth mais efetiva, com as canções sendo reduzidas à sua essência.

As orquestrações tão comuns nos discos recentes do grupo praticamente não existem mais. Em seu lugar temos uma banda trabalhando a partir do formato vocal,  guitarra, teclado, baixo e bateria, com inserções certeiras de alguns samplers - como o trecho declamado pelo dramaturgo polonês Witold Gombrowicz em “In the Absence ov Light”.

Com canções predominante mais diretas do que as presentes em seus últimos trabalhos e com uma produção de primeira linha, o álbum soa sombrio e amedrontador, porém sem o toque frio e impessoal que começava a dominar os últimos discos do grupo. Há essência, há alma, há feeling transbordando pelos sulcos de The Satanist, e são justamente essas qualidades subjetivas que tornam o álbum tão objetivo. A execução é exemplar, com grandes performances individuais dos músicos, que se encontram literalmente na ponta dos cascos após cinco anos sem gravar.

Com pouco mais de 44 minutos, The Satanist é um trabalho relativamente curto. Suas nove músicas formam um tracklist eficiente, com elementos que vão do death ao black sem maiores cerimônias. Com criatividade e inspiração, o Behemoth brinda os ouvintes com pequenas obras-primas como “Blow Your Trumpets Gabriel”, a sensacional “Messe Noire” (com um solo de guitarra arrebatador), “Ora Pro Nobis Lucifer”, “In the Abscence ov Light” e a exemplar faixa-título. Para quem, em pleno 2014, ainda olha para os estilos mais extremos do metal e acredita cegamente que eles não passam de uma massa sonora mal tocada e mal produzida, trata-se de um disco para esfregar na cara e mostrar como a agressividade, a fúria e o peso podem gerar  álbuns complexos e excelentes como os vindos de qualquer outro gênero da música.

The Satanist é um dos melhores discos do Behemoth. Ao despir-se dos exageros da sua fase black metal Cirque du Soleil os poloneses deram ao mundo um álbum de cair o queixo, com uma sonoridade intensa, sombria e apaixonante.

Vale cada segundo, vale cada minuto, vale cada centavo. Vale muito!

Faixas:
1 Blow Your Trumpets Gabriel
2 Furor Divinus
3 Messe Noire
4 Ora Pro Nobid Lucifer
5 Amen
6 The Satanist
7 Ben Sahar
8 In the Absence ov Light
9 O Father O Satan O Sun!




Sem comentários:

Enviar um comentário

Destaque

Liquid Soul - Funk & Fusion Jazz (US)

  Liquid Soul é um conjunto de fusão de jazz, hip-hop, funk e freestyle formado em 1993 em Chicago, Illinois , que ajudou a pioneirar o mov...