quinta-feira, 25 de dezembro de 2025

CRONICA - OS MUTANTES | Os Mutantes (1968)

 

Referência no rock psicodélico brasileiro, Os Mutantes viu sua reputação se estender para além do continente sul-americano.

1968 foi um ano crucial para o Brasil. O país vivia sob o regime da ditadura militar instaurada em 1964, que impunha censura, repressão política e rígido controle social. Nesse clima tenso, os jovens buscavam formas alternativas e criativas de expressão. A cultura popular tornou-se um campo de batalha de resistência: o cinema, a literatura e, sobretudo, a música ofereciam maneiras de contornar a censura e afirmar uma identidade nova, moderna e audaciosa.

Foi nesse contexto que surgiu o Tropicalismo, um movimento artístico e musical que fundiu a tradição brasileira, o samba, a bossa nova e o folclore local com influências do rock psicodélico internacional, do pop, do free jazz e da música de vanguarda. Entre as principais figuras, Os Mutantes se destaca por sua abordagem radical e experimental. O grupo não se limita a reproduzir modelos estrangeiros; ele os reinventa, misturando cores locais, ritmos brasileiros e uma fantasia sonora desenfreada.

O grupo foi formado em 1966 em São Paulo pelos irmãos Arnaldo Baptista (baixo, teclados, vocais) e Sérgio Dias (guitarras, vocais), com a participação da cantora Rita Lee. Após um primeiro single que passou despercebido, o trio adotou o nome Os Mutantes, uma referência ao romance de ficção científica O Império dos Mutantes, de Stefan Wul. O grupo participou do programa O Pequeno Mundo, de Ronnie Vononde sua notável performance lhes garantiu um lugar no elenco fixo. Eles também participaram da gravação do LP Ronnie Von nº 3 .

De transmissão em transmissão, Os Mutantes participaram de inúmeros festivais e algumas gravações com Gilberto Gil. Com a ajuda do baterista Dirceu Medeiros, o grupo assinou com a Polydor em 1968, que lançou seu álbum homônimo em junho, composto por 11 faixas cantadas em português, um verdadeiro manifesto psicodélico e o início de uma carreira que deixaria uma marca indelével no rock brasileiro.

Um início rápido e repleto de fanfarras com “Panis et Circencis”, uma composição de Gilberto Gil, mas acima de tudo, uma abertura alucinante em algum lugar entre os Beatles e o Mothers of Invention de Frank Zappa. Algo realmente impressionante! Sob essa melodia pop vibrante, a faixa se transforma em um campo experimental onde um instrumento de sopro vitoriano e colagens sonoras audaciosas se cruzam, criando um turbilhão sonoro absolutamente fascinante.

A Minha Menina” é um convite para um carnaval garageiro doo-wop, onde o fuzz e as influências folk se misturam numa explosão sonora no coração do Rio. A faixa exala energia, exuberância e uma alegria tipicamente brasileira, como se a psicodelia e o pop estivessem celebrando juntos nas ruas da cidade. Tropicalismo em sua melhor forma!

O canto angelical de Rita Lee em “O Relógio” nos embala em um sonho caleidoscópico, antes da música explodir, nos levando de volta ao carnaval do Rio.

A festa noturna continua com “Maria Fulô”, impulsionada por uma percussão de samba exuberante e um ritmo irresistível que te faz dançar até altas horas da noite. “Baby” é uma balada estranha e etérea, enquanto “Senhor F” é como um trem partindo para uma casa de shows vibrante. “Bat Macumba” estende o frenesi com uma faixa de bossa nova eletrizante, um turbilhão rítmico que literalmente nos lança em órbita. Vale ressaltar que Gilberto Gil toca percussão nesta faixa.

Felizmente, a versão de Françoise Hardy para "Le Premier Bonheur du Jour", cantada em francês, nos permite recuperar a compostura. A flauta suave e os coros quase religiosos trazem uma calma frágil, quase sagrada. Mas a acidez nunca está longe. Como uma doçura que pode desmoronar a qualquer momento. "Trem Fantasma" retoma sua jornada alucinógena antes de dar lugar a "Tempo no Tempo", sustentada por uma base de jazz de Nova Orleans e uma missa estranhamente eficaz.

Por fim, “Ave Gengis Khan” conclui essa jornada fantástica juntando-se ao Magical Mystery Tour no meio das favelas, em um turbilhão alucinante tão louco quanto inesperado.

Um clássico do rock psicodélico.

Títulos:
1. Panis Et Circensis 
2. A Minha Menina   
3. O Relógio  
4. Adeus Maria Fulô 
5. Baby          
6. Senhor F    
7. Bat Macumba        
8. A Primeira Felicidade do Dia       
9. Trem Fantasma     
10. Tempo No Tempo (Once Was A Time I Thought)       
11. Ave Genghis Khan

Músicos:
Rita Lee: Vocais
Sérgio Dias: Vocais, Guitarra
Arnaldo Baptista: Baixo, Vocais
+
Maestro: Bateria
Jorge Ben: Vocais, Violão
Dr. César Baptista: Vocais
Clarisse Leite: Piano
Cláudio Baptista efeitos eletrônicos
Gilberto Gil: Percussão

Produção: Manoel Barenbein




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