quinta-feira, 25 de dezembro de 2025

Grandes álbuns do Prog: Pollen - "Pollen" (1976)


Montréal, Québec, Canadá. Em 1972, Jacques Tom Rivest (voais, baixo, violão e teclados) e Richard Lemoyne (guitarras, violões, baixo e teclados) resolveram formar uma banda de Rock Progressivo. No ano seguinte, agregaram o baterista Serge Courchesne, que sugeriu o ingresso de dois tecladistas para lhes dar mais liberdade: Claude "Mego" Lemay (que também tocava flauta, vibrafone, baixo e fazia vocais de apoio) e Serge Locat. Este último não permaneceu (ele já tinha compromisso com outra banda canadense, o Harmonium). O nome da banda surgiu por acaso quando, na cozinha da casa onde moravam juntos, avistaram um pote de pólen de flor. Não demorou mais para adotarem o nome e imaginarem um conceito mais criativo.
O primeiro show aconteceu numa faculdade, o Collège de Maisonneuve, em Montréal. Graças a Alain Simard, o empresário deles,  e com a ajuda de designers amigos e muito talentosos (Jacques Lamarche e Jean Saro), o grupo montou um sofisticado show de luzes e elementos visuais/efeitos cênicos de rara beleza. Em 74, foi anunciada uma turnê em Québec do Gentle Giant com o Pollen abrindo os shows. Foi um grande momento, mas exatamente nele (nas vésperas do início da turnê) o baterista Serge Courchesne resolveu deixar a banda (não suportando as pressões), que teve que "se virar nos 30" e completar os compromissos no formato trio (eles dividiram-se entre si tocando a bateria, percussões e seus instrumentos regulares simultaneamente). Em 75, o grupo acrescentou o baterista Sylvian Coutu e continuou se apresentando em espaços lotados como o Outremont Theatre, L'Évêché (Hôtel Nelson) e o Café Campus.
Tom Rivest, Sylvian Coutu (agachado), Claude Lemay e Richard Lemoyne 
No outono de 75, o grupo entrou no Studio Marguerite, em Québec, para gravar seu primeiro álbum. A arte gráfica da capa já era impactante (feita por Jacques Lamarche), mas o álbum em si era ainda mais. Um trabalho diferente em que cada faixa trazia algo específico e nada parecido com a anterior (por exemplo, havia influência do Gentle Giant ou Yes numa, do Ange noutra, Genesis ou Folk bem suave noutra e assim por diante). Vocais em francês (língua oficial local) e, como a maioria das bandas de Québec, apresentando uma mistura de melodias ricas, tons sinfônicos e veios de grande originalidade. Uma jóia. Teclados analógicos, ótima guitarra, baixo/bateria sólidos, rítmo exuberante, fluído e em constante mudança. Verdadeiro "tesouro perdido" (tomando emprestado a expressão cunhada pelo brother Marcão), de qualidades inegáveis, difícil resistir às delícias desse álbum. Paisagens sonoras adoráveis, desenvolvimentos dramáticos, ótimas letras (aliás, um álbum conceitual com o lado A chamado "Face Solaire" e o lado B chamado "Face Lunaire"), demonstrando que Rivest, Lemoyne e Lemay eram multi-instrumentistas executando arranjos completos e duelos instrumentais de deixar qualquer um sem fôlego. O álbum foi lançado durante um show no Grand Théâtre de Québec, quando o Pollen dividiu a noite com o Caravan (atração principal).
Rock Progressivo sinfônico, com influências sim, mas sem ser clone e transcendendo-as de forma grandiosa (talvez, a música do Harmonium projete um caráter mais original, mas o Pollen tem momentos excelentes). Aliás, por manter um forte conjunto de conexões estilísticas com outras bandas da região (como por exemplo o SlocheEt Cetera e o próprio Harmonium), o Pollen gera percepção (não equivocada) de encapsular múltiplas facetas típicas da rica cena musical de Québec. Os teclados (de Claude Lemay, lembrando que Rivest e Lemoyne também recebem crédito por eles) são um destaque. Desde a abertura de "Vieux Corps de Vie d'Ange" (primeira faixa com mais de 7 minutos), o que se ouve são construções musicais cheias de desenvoltura, firmeza, emoção, vibrafone... "L'étoile" (mais de 6 minutos) e "L'Indien" (de quase 5 minutos) são belos trabalhos pastorais, requintados. "Tout l'Temps" é uma linda peça curta que explode em vida com uma fascinante série de execuções de cravo e órgão, ótima melodia vocal e um solo de sintetizador arrasador. "Vivre la Mort" (de quase 6 minutos) é gótica e traz um solo de guitarra de Lemoyne que encherá de orgulho fãs de Steve Howe. O encerramento com "La Femme Ailée" (com mais de 10 minutos) é o momento máximo do álbum, misturando tendências Folk e sinfônicas. Música energética e tocante, ao mesmo tempo. Beneficiando de uma qualidade de som excelente (para a época), o álbum era isso: seis composições muito bem acabadas reunindo tons da West Coast (magníficas harmonias vocais) e delicado Prog em finos bordados orientados por teclados (mas com uma guitarra muito participativa). Na verdade, o Pollen não tinha nada a invejar das principais bandas Prog dos anos 70. Apesar de hoje constar entre aquelas de que poucas pessoas já ouviram falar (ainda mais fora dos círculos Prog), é nítido que esta banda quebequence era muito talentosa.
Este álbum acabou sendo o único lançado por ela. Eles se separaram no final de 76 já que a indústria musical passava por mudanças rápidas. Em 79, Rivest lançou seu primeiro álbum solo trazendo a todos seus companheiros do Pollen (reza a lenda utilizando ideias de sua antiga banda já iniciadas com vistas a um segundo álbum, que nunca existiu. Sim, um trabalho digno contendo reminiscências do grupo, porém arranjadas por Rivest como a estrela e para seu próprio uso). Ele continuou carreira tornando-se diretor musical da cantora/atriz canadense Jo Bocan, vencedora de vários prêmios. Rivest lançou outro álbum em 81 (mais comercial) e outro em 84 (todo instrumental, guiado por sintetizadores, na linha New Age/Ambient). Ele também compôs música para outros artistas, trilhas sonoras para teatro, cinema e televisão. O baterista Sylvian Coutu se juntou ao grupo Uzeb (de Jazz), enquanto Richard Lemoyne foi diretor musical de Richard Séguin e de outros artistas. Claude "Mego" Lemay se tornou tecladista de Celine Dion e mais tarde seu diretor musical.




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