MUSICA&SOM: Oumou Sangaré

Seya (Alegria) é o quinto álbum da extraordinária cantora maliana Oumou Sangaré , artista e empresária que há mais de vinte anos celebra as mulheres negras, um hino de liberdade para o seu continente: "Despertai, mulheres, vamos dançar".
Ouomou Sangaré é a cantora mais popular do Mali, o coração musical da África Ocidental, país cuja cultura produziu gigantes como Salif Keita, Toumani Diabaté, Rokia Traoré e Ali Farka Touré.
Ela não gravava um álbum há seis anos. Essa característica tipicamente africana de fazer as coisas com calma garante que o resultado final seja de qualidade excepcional. Seya , lançado pela World Circuit, é uma obra magnífica, como se comprova ao ouvir as onze canções baseadas na tradição musical Wassoulou, com instrumentos como o ngoni e guitarras elétricas, e com muitas influências das culturas de grupos étnicos vizinhos. Um excelente exemplo disso é o uso marcante dos tambores sabar wolof na faixa "Koroko", ou os maravilhosos instrumentos de corda em "Donso", que remetem à fusão da música africana e árabe Gnawa. A gravação envolveu cerca de cinquenta músicos, trabalho em estúdio em Bamako e produção de Cheick Tidiane Seck, uma lenda viva da música maliana.

Ela tinha 21 anos em 1990, quando seu primeiro álbum, Moussoulou , foi lançado. No Mali, as pessoas conhecem cada refrão, e nele, ela incitava as mulheres à rebeldia. Oumou desafiou o tabu em torno da sensualidade feminina com uma canção poética (e muito explícita). Mesmo naquela época, ela denunciava (e era ousado fazê-lo naquele contexto social e político) os casamentos arranjados. Ela diz que o fez porque sua mãe sofreu muito e ela, como filha mais velha, compartilhou desse sofrimento. Foi uma homenagem à sua mãe com a qual as mulheres malianas se identificaram. Em seu álbum mais recente, ela também se insurge contra os casamentos forçados para mulheres jovens e contra a poligamia. Ela canta com alegria sobre seu desejo de que as mulheres africanas sejam livres para escolher.
Hoje, Oumou Sangaré é um exemplo para as mulheres malianas: dona de um pequeno hotel, proprietária de uma empresa que importa veículos off-road chineses e dona de uma fazenda de dez hectares ("para incentivar aquelas que querem ser como Oumou, mas não têm dinheiro para construir um hotel, embora tenham terra para cultivar"). Como ela destacou em um artigo maravilhoso no El País , "Há vinte anos canto para mulheres negras, para mulheres africanas. Vamos mostrar aos nossos homens que somos capazes. As mulheres africanas sempre trabalharam duro. Agora elas querem ser reconhecidas e contribuir para o desenvolvimento do seu país. Com incentivo musical e microcrédito, as mulheres estão realizando muitas atividades. Hoje, as coisas no Mali mudaram muito para melhor. Os homens pensaram que eu ia incitar uma revolução feminina, que seria uma guerra. Mas não. É uma guerra sem derramamento de sangue, que também estou travando por eles . "