quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

Sr. Chinarro – El Progreso (2016)

 

 Se é verdade que o nome ainda não é propriamente muito conhecido entre nós, também não deixa de ser um facto que muito nos temos esforçado para que isso aconteça, ou venha a acontecer num futuro próximo. Sobretudo por gostarmos do que faz, e também por um certo sentido de justiça que os melómanos teimam em ter, felizmente. Pena é que ainda não tenha sido possível vê-lo a atuar por cá, mas mantemos a esperança que mais dia, menos dia Sr.Chinarro possa assentar arraiais num qualquer palco português para nos oferecer aquela que é a melhor música moderna espanhola do momento. É quase criminoso, se isso não vier a suceder. Fica a sugestão, portanto, para quem quiser avançar.

Posto isto, este segundo parágrafo serve para introduzir as linhas de apresentação do mais recente álbum de Sr. Chinarro, intitulado El Progreso, disponível desde o dia oito deste mês de abril. El Progreso é o décimo sexto longa duração do músico de Sevilha, se tivermos em conta o álbum de raridades saído em 2001 (Despídete del lago. Las rarezas de Antonio Luque 1993-2001).

Parece ser já uma constante: os discos de Sr. Chinarro abrem sempre com temas que se tornam clássicos, e neste El Progreso essa regra impera uma vez mais. “Efectos Especiales”, a faixa inicial, é uma fabulosa canção, sobretudo pela força que vai ganhando, segundo a segundo, até explodir no refrão “Sigue y déjate de hablar de principios y finales / la historia no está ni bien ni mal, son solo efectos especiales”. Maravilhosa, hino presente e futuro do repertório de Antonio Luque. Depois vem a salerosa “La Ciudad Provisional”, cheia de força e encanto, castelhana até ao tutano, uma autêntica festa. “La Fiebre del Oro”, com o seu início a lembrar Ennio Morricone e os seus fantásticos temas com sabor a western, acalma um pouco a alegria e o regozijo das anteriores, impondo-se de outra forma, menos direta, menos impetuosa. Depois vem a belíssima guitarra de abertura de “El Castigo”, caso muito sério neste álbum. Canção adulta, é balada que já nasce clássica. “Fase Lunática” vem logo a seguir, e nesta vertigem em que me encontro (a de ouvir fervorosamente, uma a uma, todas as canções de El Progresso), parece ser outro exercício de estilo bem conseguido, embora a sinta, na ordem em que os temas se apresentam, como aquela que mais resistência oferecerá a qualquer ouvido. A sexta chama-se “Mania Persecutoria”, e nesta altura já faz sentido um primeiro balanço: a energia das duas faixas de abertura (“Efectos Especiales” e “La Ciudad Provisional”) vai sendo substituída por uma abordagem musical mais densa, embora, mesmo assim, com a leveza sensível das obras iluminadas, registo que se mantém com outro dos grandes momentos do disco, a elegantíssima “El Progreso”, dueto com Soleá Morente. Curiosamente, este é o segundo dueto registado nos dezasseis álbuns de Sr. Chinarro, tendo o primeiro sido gravado no longínquo Noséqué, Nosécuántos (1998), na canção “El Idilio”, um dos melhores temas de sempre de Antonio Luque. Aí era Sandra Rubio quem cantava com Luque. Convém dizer, já que vem a talhe de foice, que Soleá Morente é um valor crescente na música do país vizinho, tendo gravado no passado ano o muito bem recebido Tenderá Que Haber Un Camino, seu primeiro longa duração. Segue-se “La Mujer”, e estamos perante nova balada, com uma guitarra de fundo bem marcada, bela, a pontuar a canção, em crescendo. A penúltima do disco é “Maravilla”, e aqui de novo as guitarras e o baixo forte a marcarem o ritmo. Boa melodia, mais soalheira que muitas das anteriores. Finalmente “Walden”, remetendo para a tranquilidade transversal à maioria das composições de El Progresso, mas apenas de início. E de novo o dedilhar marcante das guitarras, quando a canção começa a ganhar corpo e ritmo, tornando-se num excelente momento, a terminar muito bem o álbum.

Não apresentando uma nova direção ou um novo rumo na carreira de Sr. Chinarro, este El Progreso mantém o elevado registo dos trabalhos mais recentes do cantautor sevilhano. Talvez um pouco menos radio friendly do que o anterior Perspectiva Caballera (2014), mas entusiasmaste como sempre costuma ser. Irei vê-lo a Madrid, dentro de dias, e a expectativa é elevadíssima, como não poderia deixar de ser. Termino repetindo o lamento inicial. Pena é que por cá (e estamos mesmo ao lado do país de Sr. Chinarro) ainda ninguém (Altamont à parte) tenha reparado na importância da obra deste músico, e o tenha trazido para um espetáculo ao vivo. Com tantos e tão bons festivais de verão aí à porta, e estando Antonio Luque com um novo disco na bagagem, é mesmo de estranhar este desinteresse. Resta-me a esperança que El Progreso possa vir a mudar o atual estado de coisas. Ele merece. E nós também.


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