O vasto e rico rock progressivo italiano merece ser explorado de forma latente e visceral. A cada voo alçado na velha bota uma velha nova história é descoberta e a banda que falarei hoje foge um pouco o convencionalismo sinfônico que permeia a cena italiana progressiva. Como Il Balletto Di Bronzo, temos outros grandes nomes do hard progressivo dignos do peso que ostentam em sua música. Mas do peso das guitarras, dos riffs poderosos, de solos agressivos, fluía também a natureza plena e altiva da complexidade do rock progressivo e do folclore italiano e uma dose sombria de música pagã, marginal como deve ser o rock na sua mais genuína expressão. Falo de uma das mais emblemáticas bandas da cena progressiva italiana de todos os tempos: Osanna. A dica é o seu debut chamado “L’Uomo”, de 1971.
"L'Uomo"
Como muitas bandas italianas surgidas entre o fim dos anos 60 e o início da década de 70, o Osanna mostra um beat cheio de psicodelia, música pop, classic rock e um progressivo ainda em processo embrionário enquanto música, cena e cultura. Mas o Osanna, além das características citadas, mostra uma força sonora, calcado no hard rock cru, mesclado com a flauta em nuances de suavidade e caos, saxofones frenéticos, cheios de corpo e substância, com um pouco de um jazz fusion e música clássica também. O que poderia soar algo desconexo, tudo se encaixa fantasticamente bem. Uma das poucas bandas de sua época que tiveram a capacidade de criar um estilo inovador e memorável. “L’Uomo” trazia o frescor da nova música que nascia na Itália, é a pedra fundamental de sons que se flertavam, se retroalimentavam, como o prog rock, o hard rock, o folk rock, era uma sinergia que se personificava também em um aspecto teatral, cênico, com os seus músicos com máscaras, com vestimentas coloridas, talvez resquícios do hipismo, aliado ao peso e a agressividade de uma música intrincada e complexa A história do Osanna começa na cidade de Nápoles no final da década de 60, surgido das sombras do Monte Vesúvio, em uma região chamada Vomero, entre becos lotados, onde o medo, a violência, a pobreza era evidente nos olhos e na pele. Foi nesse ambiente que a música do Osanna foi edificada. O Osanna foi construído a partir da banda local I Volti Di Pietra com Lino Vairetti no vocal, Carlo Fagiani na bateria, Enzo Petrone no baixo e Lino Ajello na guitarra. O nome mudou para Cittá Frontale, nome retirado de um livro do escultor abstrato da Sicília Pietro Consagra. Desde 1969 a banda vinha sofrendo com os intensos rodízios de músicos mas que, a partir dessas intensas mudanças a formação umbilical do Osanna estava nascendo. Fagiani é substituído por Massimo Guarino, Petrone também abandona a banda dando lugar a Lello Brandi e Lino Ajello também decide sair indo para o Il Balletto Di Bronzo, dando lugar a Danilo Rustici. O saxofonista Elio d’Anna, que era de outra banda local, de Nápoles, Showmen, estabilizaria a formação do jovem Osanna.
Osanna
A banda atraiu muita publicidade e atenção ao subir nos palcos com vestimentas romanas e os rostos pintados, mostrando seus dotes artísticos não apenas pela música, mas pela parte visual, teatral e estética, tanto que alguns grupos de teatro colaboraram com a banda neste quesito estético transformando seus shows em verdadeiras performances cênicas o que era totalmente novo e revolucionário naquela época na Itália. O Osanna ganhou alguma fama e foi considerada como uma das melhores bandas no Festival Pop de Caracalla. Nessa época o Gênesis se apresentou na Itália e o Osanna os acompanhou abrindo seus shows o que facilitou a vida da banda para atingir certa visibilidade. A formação do Osanna em “L’Uomo” tinha: Lino Vairetti no vocal, harmônica, hammond, sintetizador e guitarra, Danilo Rustici na guitarra, Elio D'anna na flauta e saxofone, Lello Brandi no baixo e Massimo Guarino na bateria e percussão.
Osanna com seus rostos pintados
O álbum é inaugurado com a sugestiva faixa “Introduzione" com um violão suave, sintetizadores em uma atmosfera contemplativa, depois surge o baixo, bateria, guitarra e gaita em uma crescente agressiva, pesada, o hard rock de braços com o progressivo em uma mescla mais do que perfeita.
Osanna - "Introduzione"
“Introduzione” leva a faixa título, “L’Uomo” que, diante de uma apresentação de guitarras acústicas, uma balada inicial com o vocal limpo e dramático de Lino Vairetti, irrompe em frenéticas notas de saxofone com interlúdios de flauta e gritos de “Hosana”! Uma letra que fala de criação, de vida. Seus versos iniciais dizem por si só: "O homem, a terra, o céu e o mar / Criar, criar, criar em todos os lugares / O sol, a luz, o frio e o calor / O amor, o amor, o amor em todos os lugares."
Osanna - "L'Uomo"
A fusão de música clássica, de hard rock é perceptível em faixas como “Mirror Train” que nos mostra um hardão nos riffs de guitarra, com uma mistura de jazz rock e folk com uma flauta a la Ian Anderson cheio de energia e força. E como toda grande banda de rock italiana dos anos 1970 tem de ser politizada e se posicionar de forma corajosa. A música termina com as notas do hino comunista "Bandiera Rossa", com uma guitarra distorcida e raivosa, lembrando Jimi Hendrix, uma das referências do Osanna que dizia: "Mente para onde você está indo / Se você quiser fazer / Nunca olhe para trás”.
Osanna - "Mirror Train", Live at Napoles (2012)
“Non Sei Vissuto Mai” vem poderosa, varrendo tudo que vem pela frente, um típico e poderoso hard rock, cadenciada por doces flautas, em uma pegada mais psicodélica e folk, mas que logo se encorpa com o peso dissonante das guitarras de Danilo Rustici e o vocal rasgado de Vairetti.
Osanna - "Non Sei Vissuto Mai", Live (1973)
Temos a avassaladora “Vado Verso Una Meta” com um riff pegajoso, mas muito competente de guitarra e uma cozinha de tirar o fôlego, certamente a mais hard do álbum.
Osanna - "Vado Verso Una Meta"
“In Un Vecchio Cieco” começa com um solo de bateria que descortina uma sonoridade bem folk e suave ao som de um violão acústico, uma balada bem viajante, mas depois nos mostra o poder sonoro e caótico de um saxofone louco e o riff de guitarra que combina com essa loucura toda me remete ao King Crimson dos primórdios.
Osanna - "In Un Vecchio Cieco"
Temos a poderosa balada chamada “L'amore Vincerà Di Nuovo” com destaque expressivo da flauta de Elio D'anna, com dedilhados de guitarra que, entre riffs mais pesados traz todo o clima intenso de um clássico, de um hino, com o vocal poderoso de Vairetti.
Osanna - "L'amore Vincerà Di Nuovo"
“Everybody's Gonna See You Die” é a faixa mais solar do álbum, animada começa com riffs de guitarra pesados, uma faixa cantada em inglês, com uma intensa velocidade com um excelente desempenho vocal. Um hardão setentista com direito a solos de guitarra e flauta tocada mais freneticamente.
Osanna - "Everybody's Gonna See You Die"
E para fechar o álbum “Lady Power” dando sequência a faixa anterior que também é cantada em inglês. Um verdadeiro petardo, uma catarse sonora com solos criativos e pesados de Rustici, flautas arrebatadoras de Elio D’Anna, cozinha bem afiada e sinérgica com um baixo pulsante de Lello Brandi e uma bateria forte e marcada de Massimo Guarini. Uma hecatombe instrumental!
Osanna - "Lady Power"
Não se pode falar da história do hard rock e do progressivo italiano sem passear pelas notas, arranjos e melodia de “L’Uomo”. Já neste álbum torna-se perceptível um Osanna já maduro e com uma identidade musical plenamente definida que viria a se consagrar em “Palepoli”, por exemplo. Um grande álbum que representa com maestria o gênese do progressivo italiano pelo seu compromisso visual, criativo e social e claro, sonoro.
A banda:
Lino Vairetti no vocal, 12-string guitar, harmonica, Hammond e sintetizadores
É inquestionável que a cena progressiva italiana é rica e brilhante. Não se tem a questão quantitativa apenas, mas a qualitativa também e que se equivale nos brindando com diversidade cultural que impacta positivamente a sua música, fazendo dela o nome que a define: progressiva, progressista, porque é de vanguarda, arrojada, sofisticada sim, mas por muitas vezes marginal e urgente, pois encarnam os conceitos primordiais do rock n’ roll: contestador, transgressor por natureza.
Bandas como o MAXOPHONE sintetizam, com extrema fidelidade, tais quesitos mencionados. A banda foi resultado, na sua gênese, dessa miscelânea cultural, enfatizada fortemente na sua música. Resultado este inovador, revolucionário e que até hoje serve de referência para a história contemporânea do rock progressivo italiano que, a plenos pulmões e com muita força, segue florescendo com o frescor da novidade, relevante.
A sua atemporalidade personifica a cena e, mesmo que obscura e com uma pequena carreira discográfica, marcou época. O vilipêndio da indústria fonográfica e das agitações político-ideológica na Itália nos longínquos anos 1970 quase pôs tudo a perder, colocando o Maxophone em uma condição total de ostracismo, mas a força de abnegados, como os apreciadores da música e profissionais incansáveis que representam pequenas e undergrounds gravadoras disseminaram, lançaram e multiplicaram para o mundo a música seminal desta banda.
Graças também ao advento de tecnologias da informação, das redes sociais o trabalho dessas grandes bandas e, claro, a persistência dessas, a qual o Maxophone faz parte, a obra assume uma espécie de legado.
O Maxophone foi formado na cidade de Milão, na região da Lombardia, no final do ano de 1972 por jovens músicos que tinham estilos diversificados e peculiares sendo que metade foi formada em conservatórios italianos e a outra metade pertencia a uma base mais pesada, mais entusiasta da música como o “classic rock” e o jazz rock, por exemplo.
E esses jovens eram: Roberto Giuliani (vocal, piano e guitarra), Alberto Ravasini (vocal, baixo, violão e flauta) e Sandro Lorenzetti (bateria), conhecido no meio jazzístico da Lombardia. A eles se uniram Sergio Lattuada (Hammond e teclados), Maurizio Bianchini (trompa, vibrafone, percussão e voz) e Leonardo Schiavone (clarineta, flauta e saxofone).
Essa mistura, essa “salada sonora”, proporcionou à música da banda algo novo, gratas novidades, pouco corriqueiras até então na cena progressiva à época como trompa, trompete, clarineta e vibrafone, além dos habituais instrumentos do cotidiano progressivo incluindo um maravilhoso sax e um hammond de presença marcante.
Pronto! O caráter sonoro do Maxophone estava delineado! Uma banda diversificada, eclética, versátil, muito particular e extremamente interessante, que ia do progressivo sinfônico, música clássica, jazz rock, rock, folk etc. E é nessa estrutura que o debut do Maxophone foi edificado e lançado em 1975, homônimo, que será alvo de meu texto hoje.
Maxophone ao vivo
Com algumas relevantes apresentações ao vivo, o Maxophone passou a atrair a atenção do público. Tanto que a banda conseguiu lançar o seu primeiro 45 rotações: "C'è un paese al mondo/Al mancato compleanno di una farfalla".
A banda se apresentou em vários festivais, excursionando inclusive em uma turnê de razoável porte com a banda Area, em 1976. Neste mesmo ano a banda se apresentou no importante e icônico Festival de Montreaux, na Suíça, e logo depois gravou uma participação na emissora de televisão italiana, RAI, sendo lançado em 2018 comercialmente, com muitos materiais raros e valiosos. Mas antes, em 1975, a banda lançou o seu emblemático álbum, “Maxophone”, pelo selo "Produttori Associati", tanto na versão original, cantado em italiano, como na versão inglesa.
Em meados da década de 1970 algumas bandas aderiram ao formato inglês para alçar mercado norte-americano e também todo o mundo, resultado do sucesso internacional de bandas como Premiata Forneria Marconi e Le Orme.
A banda que gravou este álbum, era formada por Sergio Lattuada no piano, órgão, piano elétrico, vocal, Roberto Giuliani na guitarra, piano, vocal, Leonardo Schiavone no clarinete, sax, flauta, Maurizio Bianchini na corneta, trompete, vibrafone, percussão, vocal, Alberto Ravasini no vocal, baixo, violão e Sandro Lorenzetti na bateria com Paolo Rizzi no baixo acústico, Eleonora de Rossi no violino, Susanna Pedrazzini no violino, Giovanna Correnti no cello e Tiziana Botticini na harpa.
“Maxophone” é um álbum técnico, mas emocional e orgânico, com uma dramaticidade em sua sonoridade, bem peculiar em se tratando do progressivo italiano. É pesado, progressivo, clássico com jazz rock, sinfônico e passagens agradáveis de folk.
A faixa inaugural é “C'È Un Paese Al Mondo” que abre com um linda linha de piano agradável que irrompe em um peso protagonizado por guitarra e bateria, cadenciando com passagens suaves, mostrando o casamento perfeito entre o clássico e o rock.
"C'É Un Paese Al Mondo", live at RAI 1976
“Fase” começa com o peso da guitarra, dando o tom mais pesado da música, um legítimo hardão setentista, um protagonismo dos instrumentos, com passagens interessantes de jazz.
"Fase", live at RAi 1976
“Al Mancato Compleanno Di Una Farfalla” tem a introdução de uma guitarra clássica em uma atmosfera contemplativa e onírica, mostrando um pouco de folk, música celta, a música tradicional e regional italiana se faz presente, mas da suavidade a música fica mais enérgica, mostrando ótimas passagens de ritmo com linhas de hammond excelentes.
"Al Mancato Compleanno Di Una Farfalla", live at RAI 1976
“Elzeviro” tem a introdução excepcional do vocal, poderoso e dramático, pois a letra enaltece em seu teor questões políticas e sociais, como em todo o álbum, muito comum entre as bandas progressivas italianas da época. Destaque nesta música fica para o riffs de guitarra, vocal nos momentos mais “calmos” e para órgão dando a camada sonora necessária para a sequência da música.
"Elzeviro", live at Tokyo 2014
“Mercanti Di Pazzie” traz a introdução da harpa tirada da obra “Sonata per arpa” gravada originalmente por Paul Hindemith em 1939. É uma música viajante, uma sensação de paz e tranquilidade, de transcendência da alma.
"Mercanti Di Pazzie", live at Tokyo, 2014
O álbum fecha com “Antiche Conclusioni Negre”, a mais longa faixa do álbum, e começa enérgica, animada, uma faixa solar, sinfônica, tendo instrumentos de sopro como destaque, alternando momentos mais serenos. Não podemos negligenciar a bela participação de linhas de baixo e teclado também, uma música de banda, todos participando intensamente e com destaque nesta faixa.
"Antiche Conclusioni Negre", live at RAI 1976
Em 1977 o Maxophone produziu material para um segundo álbum, mas a gravadora faliu e o projeto foi engavetado vendo a luz somente em 2006 em uma caixa com CD e DVD de nome “From Cocoon To Butterfly”, incluindo algumas gravações inéditas em um período que compreende entre os anos de 1973 e 1975, além de alguns vídeos raros do show que fizeram no estúdio da RAI em Turim.
"From Cocoon to Butterfly" (2006)
Porém anos antes, nos anos 1990, graças ao ressurgimento do rock progressivo italiano com novas bandas, em 1993, o álbum de estreia, “Maxophone” foi reeditado pelo selo Mellow e em 1997, também foi relançado a versão italiana pela mesma gravadora.
Em 2001 o selo Akarma republicou o álbum em vinil com a adição de algumas músicas que saíram somente nos 45 rotações. Um álbum essencial, um tesouro que a terra progressiva nos brindou, que o Maxophone nos entregou para deleite eterno.
A banda:
Sergio Lattuada no piano, órgão, piano elétrico, vocal.
Roberto Giuliani na guitarra, piano, vocal.
Leonardo Schiavone no clarinete, sax, flauta.
Maurizio Bianchini na corneta, trompete, vibrafone, percussão, vocal.
O rock progressivo brasileiro é de uma vasta riqueza. E estamos identificando, observando e constatando com um trabalho de extrema dedicação, interesse e um intenso garimpo com um grande aliado: a internet e disseminação de tais conteúdos sonoros e suas bandas, por verdadeiros guerreiros amantes do rock progressivo, verdadeiros abnegados que não esmorecem e compartilham o que há de bom na música brasileira de qualidade que está escondido nos porões escuros do prog rock.
Eu não conhecia essa banda e fiquei curioso pela sua música, sobretudo após as descrições destas em leituras de resenhas e matérias. Uma banda que sempre militou em nossos domínios territoriais, mas que por desconhecimento ou quaisquer outros motivos que não saberia narrar, não conhecia e que, após um breve hiato de um ano, retorna aos palcos para um momento de comemorações e celebrações de sua história. Falo da banda LummeN.
LummeN em 1999
O significado do nome “Lummen” foi retirado da fábula “O Senhor dos Anéis”, de J.R.R. Tolkien, que na língua dos Altos Elfos significa "luminoso", "brilhante", "estelar". Lummen surgiu da criação e idealização do multi-instrumentista, compositor e ator Marco Aurêh e fez a sua estreia no dia 15 de setembro de 1995 na Concha Acústica do Museu Imperial na cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro, cidade de origem da banda, com o show “Na Corte do Rei”.
Marco Aurêh
Pelo título que ostenta neste show, torna-se perceptível ou pelo menos nos dá uma pista, de sua proposta sonora que, entre outros aspectos, nos revela elementos do período medieval e renascentista em uma fusão erudita e contemporânea.
A banda, por ter um ator como frontman também explora elementos teatrais com um interessante trabalho estético, com os seus integrantes trajados com indumentárias da época a qual propuseram a sua sonoridade, como bobos da corte, nobres, etc. Os arranjos e os instrumentos usados para produzir a sua música seguem, é claro, tal proposta, mostrando grande multiplicidade, uma rica variedade e improvável aos ouvidos mais incrédulos que vai dos óbvios instrumentos de sopro como flauta a outros mais eruditos como violino, bandolim, viola de 10, a instrumentos de viés progressivos como teclado, violão e instrumentos mais viscerais do rock n’ roll como guitarra.
Essa mescla garante muita inspiração, liberdade criativa, cênica e visual. É o conceito entre o clássico e o moderno, o antigo e a tecnologia. Uma resposta a esse conceito são os telões nos shows projetando imagens medievais, mostrando a tecnologia a serviço do medieval, do passado.
As influências do LummeN vai de Renaissance, principalmente pelo cerne de sua proposta, ao Jethro Tull pela sua sonoridade carregada de uma efusiva flauta. A banda, após várias apresentações na capital e interior do Rio, realizou, em fevereiro de 1997, três shows no Rio Jazz Club, conhecida casa situada no Rio de Janeiro e que não existe mais. Tais shows resultaram no primeiro lançamento do LummeN, em 1999, chamado “Ao Vivo no Rio Jazz Club”, pelo selo Som Interior, minha dica da banda, tendo repercussão na cena nacional e internacional.
A banda, na época do lançamento do álbum, tinha a seguinte formação: Marco Aurêh no vocal, flauta, violão e teclado, André Henriques no violino, bandolim, violão e backing vocal, Celso Schopen na guitarra, Fred Mendonça no baixo e backing vocal e Marcelo Ksesky na bateria. O álbum abre com a faixa “Mansão” que já mostra todo o cenário sonoro medieval com o uso de flautas e violinos.
"Mansão" ao vivo em Petrópolis (2013)
Segue com “Vulcão”, uma linda música, uma balada meio folk, com um belo violão acústico e uma harmonia linda, irretocável. “Destino Imaginário” é uma das melhores faixas do álbum e te proporciona uma viagem agradável tendo o destaque do violino e acordes simples, mas necessários de guitarra com solos bem executados também, me remete alguns momentos de experimentalismo e viagem lisérgica também.
"Destino Imaginário" ao vivo em Petrópolis (2013)
“Tempo Imóvel” começa com uma bateria meio tribal, percussiva e soa em seguida os primeiros acordes de flauta, uma viagem sonora, com tons psicodélicos com desconcertantes solos de guitarra.
"Tempo Imóvel" ao vivo no Neblina Rock em 2019
“O bobo da corte” traz aquele clima medieval de novo, uma música bem teatralizada, afinal você consegue visualizar a cena, de acordo com o andamento da faixa. E fecha com a espetacular “Relembrando” com destaque, mais uma vez para o violino e acordes excepcionais de guitarra que lembra muito King Crimson em seus primórdios. Um som progressivo de tirar o fôlego.
"Relembrando", ao vivo na Concha Acústica do Museu Imperial
A banda teve muitas formações ao longo da década de 1990 até encerrar as atividades em 2001 e remontada em 2013, sendo realizados vários shows até 2015. Em 2017 a banda retornou com o show “Medieval Contemporâneo” que contou com todos os ingredientes que fez do Lummen conhecido entre os fãs puristas de prog rock e que teve a participação de uma cantora soprano e uma edição de pinturas do pintor e músico do Quaterna Réquiem e Vitral, Cláudio Dantas, e o surrealista belga Renné Magritte. A banda está na ativa até hoje com Marco Aurêh na sua concepção visual e conceitual. Álbum essencial de uma banda genuinamente brasileira.
A banda:
Marco Aurêh no vocal, flauta, violão e teclado
André Henriques no violino, bandolim, violão e backing vocal
Graduou-se em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1983. Estudou com Jodacyl Damasceno (violão clássico e técnica violonística). Já aos 16 anos começou a ter ativa participação no movimento cultural de Belém atuando como ator e como compositor de trilhas sonoras para peças teatrais. Iniciou sua carreira artística em 1974, ainda estudante de Direito na Universidade Federal do Pará, classificando-se em 2º lugar no I Festival de Música e Poesia Universitária, com sua música "Por tua causa nº 2", interpretada por Fafá de Belém, que iniciava a carreira. No ano seguinte, a cantora Marlene gravou de sua autoria a música "Rock'and'roll". Nessa época, transferiu residência para o Rio de Janeiro. Em 1978 lançou seu primeiro disco, "Pastores da noite", registrando canções de sua parceria com Hermínio Bello de Carvalho. A música título tornou-se tema da novela "Memórias de amor", da TV Globo.
Participou, com Marluí Miranda e Osvaldo Montenegro, do primeiro ano da série "Seis e meia" (Teatro João Caetano/RJ). Em seguida, percorreu diversas cidades brasileiras com o "Projeto Pixinguinha", ao lado de Carmélia Alves e Antonio Adolfo, Belchior e Marília Barbosa, Fafá de Belém e Walter Queiroz. Apresentou-se ainda na sala Funarte no Rio de Janeiro com o Grupo Terra Trio no show "Bandidos e bandidos". Em 1980 gravou seu segundo disco, o LP "Cheganças", que contou com a participação especial do conterrâneo Nilson Chaves no lançamento do disco em Brasília. No mesmo ano obteve classificação no Festival MPB-80 da TV Globo. Em seguida, desenvolveu, com o conterrâneo, uma parceria musical com temática amazônica, registrada em 1984 no LP "Interior", com destaque para "Flor do destino" e "Tempodestino". Em 1990 lançou o LP "Vital". Ainda na década de 1990, lançou os CDs "Waldemar" (1994), em homenagem ao maestro Waldemar Henrique, com Nilson Chaves, e "Chão do caminho" (1998), uma coletânea de seus sucessos. Constam da relação dos intérpretes de suas músicas artistas como Marlene, Wanderléa, Simone, Ademilde Fonseca, Elizeth Cardoso, Fafá de Belém, Emílio Santiago, Nilson Chaves, Lucinha Araújo, Lula Carvalho, Zé Renato, Zeca do Trombone, Grupo Quintais, Alaíde Costa, Magno, Delço Tainará, Marco André, Walter Bandeira, Amadeu Cavalcante, Marisa Gata Mansa e Alaíde Costa, entre outros. Em 2005, lançou o álbum "Das coisas simples da vida". Em 2015, após dez anos sem gravar, lançou o CD “O que não tem fim”, com 15 composições próprias. O disco foi produzido pelo próprio Vital, que também tocou violão eletroacústico nas gravações.
"Ain't She Sweet" foi escrita por Milton Ager e Jack Yellen em 1927, e tornou-se muito popular e famosa na década de 1950. Foi gravada por dezenas de artistas antes e depois dos Beatles, entre os quais: Frank Sinatra, Benny Carter, Jimmy Smith, Gene Vincent & the Blue Caps e Raul Seixas.
Os Beatles tocaram regularmente "Ain't She Sweet" ao vivo de 1957 a 1962. De acordo com vários historiadores dos Beatles, John Lennon conheceu a música em 1956 do álbum de Gene VincentBluejean Bop!
Em 22 ou 24 de junho de 1961, durante sua primeira sessão de gravação profissional, os Beatles gravaram uma cover de "Ain't She Sweet", no Friedrich-Ebert-Halle em Hamburgo, produzida por Bert Kaempfert e projetada por Karl Hinze, a sessão contou com os Beatles apoiando Tony Sheridan. George Harrison lembrou mais tarde que o grupo entendeu mal o propósito da sessão de gravação e só soube na hora que apoiariam Sheridan. Harrison acrescentou ainda: "Foi um pouco decepcionante porque esperávamos conseguir um contrato de gravação como nós mesmos". "Ain't She Sweet" foi uma das duas canções gravadas sem Sheridan com Lennon arrasando no vocal principal. Em uma entrevista em 1975, Lennon explicou que o cover de Gene Vincent era "muito suave e muito agudo, e eu costumava fazer assim, mas eles diziam mais, mais forte - você sabe, todos os alemães querem que seja um pouco mais parecido com uma marcha - então acabamos fazendo uma versão mais dura".