terça-feira, 4 de novembro de 2025

Nove Bons Motivos Para Não Odiar os Can

 

Nove Bons Motivos Para Não Odiar o Can

Dentre todos os temores que assombram o ser humano, o medo do desconhecido é o que encabeça a lista. É uma sensação desconfortável, extrema e por vezes incontrolável. Ninguém se sente à vontade diante dele e faz de tudo para evitá-lo. Mas eu faço questão de nas próximas linhas confrontar o leitor com um belo exemplo do desconhecido: a banda alemã Can. Pouca gente admite gostar do Can. E o motivo disso, claro, é que pouca gente conhece realmente a banda. Ouviu uma ou outra música, estranhou a sonoridade e a deixou de lado, com uma terrível, precipitada e definitiva conclusão: não gosto.

Admito que o Can não seja o que podemos chamar de convencional, uma banda de rock que ao lançar seu disco de estreia já tinha três de seus músicos acima dos 30 anos. Irmin Schmidt, o tecladista, e Holger Czukay, o baixista, foram alunos do rígido e genial músico de vanguarda Karlheinz Stockhausen, o compositor que simplesmente revolucionou a percepção de ritmo, melodia e harmonia na música contemporânea. Também tiveram aulas com Luciano Berio e Gyorgy Ligerti.  Jaki Liebezeit, o baterista, vinha da escola do jazz e seu estilo foi todo influenciado e moldado pelo maior mestre dos compassos rítmicos: o metrônomo. Sobrou o guitarrista, Michael Karoli, de apenas 20 anos e ex-aluno de Czukay. Foi ele quem apresentou os trintões ao rock e, através dos Beatles, mostrou toda a capacidade que o rock tinha de absorver os vários gêneros musicais, principalmente a vanguarda. O Can ainda teve dois vocalistas entre 68 e 74: o americano Malcolm Mooney, que acabou saindo pouco mais de um ano depois com sérios problemas psicológicos devido à pressão criativa imposta pelo grupo e o japonês maluco Damo Suzuki, que cantou em verso, prosa e haicais toda a glória dos melhores discos da banda.

Formado em 1968 e baseado no hoje mitológico Inner Space, estúdio que o grupo adaptou dentro do Schloss Norvenich, um palácio situado em um bairro da cidade de Cologne, o Can contava ainda com uma certa assistência extra-sensorial, a telepatia. Irmin Schmidt explica melhor: “Nada é planejado, nem no estúdio nem ao vivo. Cada membro do grupo é um telepata e não há nada especialmente misterioso sobre a telepatia – é algo que acontece com todo mundo todos os dias. Como tudo o mais, ela requer treino: você tem um certo grau de telepatia e precisa atingir o próximo nível. É aquilo que eu chamo de ponto de crise – essa é a base da criatividade, a crise.”

Bom, vamos ver abaixo alguns exemplos de como a improvisação ajudou os telepatas do Can a transformar crise em arte. E que eu espero sejam os nove bons motivos para fazer alguém conhecer e gostar da banda:



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 – “LITTLE STAR OF BETHLEHEM” (do álbum Delay 1968 [1981])

As músicas relacionadas aqui deveriam seguir uma ordem cronológica, mas eu começo pela última música de um disco lançado em 1981.Delay 1968, como a data diz, seria uma compilação de alguns dos materiais mais antigos do Can, gravados no Inner Space.  As músicas desse disco, na realidade, foram reunidas em 1968 para ser o primeiro disco oficial do Can, antes ainda de Monster Movie, com o título Prepared to Meet Thy Pnoom. Como o resultado final parecia muito estranho na época e nenhuma gravadora se mostrou interessada por ele, as fitas foram engavetadas e a banda se pôs a gravar um novo material que acabou se tornando o Monster Movie. Esse disco também aparece aqui em primeiro lugar como um pretexto para falar um pouco do primeiro vocalista do Can: Malcolm Mooney.  Mooney não era um cantor, mas sim um artista plástico americano que Hildegard Schmidt, esposa de Irmin e uma espécie de gerente da banda, conheceu em Paris e disse que seu marido estava formando uma banda e que tinha um estúdio.  Mooney entendeu se tratar de um estúdio de pintura e, ao chegar em Cologne,  foi surpreendido por um estúdio de gravação. Esse cantor bissexto negro intoxicado de soul music e de jazz (e que arriscava algumas notas no saxofone) a partir do momento em que abriu a boca para cantar no Castelo Norvenich, fez as experimentações do Can transpirarem rock por todos os poros.  Basta ouvir “Uphill“ e mesmo “The Thief, mais tarde transformada em cover ao vivo do Radiohead. Mooney ficou apenas 14 meses com a banda.  Esgotado pelo ritmo massacrante de ensaios do grupo, com saudades da família em Nova Iorque e sérios problemas emocionais, ele finalmente surtou e abandonou o grupo rumo à América logo após o lançamento de Monster Movie.


514Z3P+Q8ML02 – “YOU DOO RIGHT”  (do álbum Monster Movie [1969])

Monster Movie, o primeiro disco da discografia do Can, foi lançado primeiramente numa pequena tiragem de 500 cópias pelo selo Music Factory, de Munique. A edição foi totalmente vendida em duas semanas, mas algumas cópias serviram de cartão de visita da banda para as gravadoras. Quem se interessou foi a United Artists que logo depois relançou o álbum, com outra capa, para o mercado tradicional. O Can nessa época praticava em seu som a ideia da Restrição, onde cada integrante, que já tinha provado ser músico em algum gênero específico, procurava se despir de tudo e se restringir a quase nada para, a partir daí, achar alguma coisa que fosse comum a todos. Esse talvez fosse o grande segredo da comunicação telepática conseguida pelo grupo em suas improvisações. Segundo Holger Czukay, a Restrição criava a tensão necessária para a banda evoluir um tema. “You Doo Right” é um belo exemplo disso: seus pouco mais de 20 minutos no lado dois do Monster Movie foram editados de duas longas performances dessa mesma música que eles tocaram ao vivo em seu estúdio improvisado no Castelo Norvenich no dia 25 de julho de 1969. Mesmo com dois amplificadores estourados no meio do concerto, eles foram em frente, mostrando que o som do grupo se adaptava a qualquer circunstância e que eles sabiam sim tirar proveito das tais restrições. O resultado que aparece no disco mostra a banda bem distante de qualquer influência dos grupos da moda e muito atenta, embora não comprometida, ao sentido de repetição presente nas ideias de músicos como Terry Riley. Uma admiração confessa era o Velvet Underground, que Czukay e companhia achavam ter uma relação completamente nova e pouco convencional com seus instrumentos. Para o Can, repetição era se comportar como uma máquina e, como todo alemão, eles adoravam as máquinas. Na ficha técnica da edição limitada do Monster Movie pelo selo Music Factory eles se apresentavam assim: Irmin Schmidt (adminaspace co-ordinator & organ laser), Jack Liebezeit (propulsion engineer & mystic space chart reader), Holger Czukay (hot from Vietnam; technical laboratory chief & red armed bass); Michael Karoli (sonar & radared guitar pilot), Malcolm Mooney (linguistic space communicator).


61Nr40YNdCL03 – “MOTHER SKY”  (do álbum Soundtracks[1970])

O lp Soundtracks, segundo na discografia do Can, foi uma espécie de tapa buraco. Na realidade, o segundo disco oficial seria Tago Mago, mas as gravações desse álbum duplo estavam tomando mais tempo do que era previsto e eles precisavam colocar alguma coisa na rua para ganhar tempo. Como a banda nessa época não podia se dar ao luxo de viver de shows ao vivo, encontraram nas trilhas sonoras para a fervilhante cena dos novos diretores alemães uma forma de garantir um troco. E bota troco nisso, pois já li reclamações de outras bandas alemãs, como o Amon Duul II, pelo fato do Can roubar mercado cobrando qualquer dinheiro por uma trilha sonora. Esse disco também marca a saída de Malcolm Mooney e a chegada de Damo Suzuki, descoberto por Czukay e Liebezeit certa manhã cantando na rua.  Holger perguntou a Damo se ele toparia participar de um concerto naquela mesma noite na discoteca The Blowup e foi uma espécie de prova de fogo para o japa. Foi uma apresentação furiosa. Damo se comportou a princípio de forma muito concentrada, encarando a plateia pacificamente enquanto o som corria solto ao fundo. Mas eis que de repente, num acesso dramático, tomou o microfone nas mãos e, como um samurai ensandecido, passou a berrar para o público. A reação da audiência migrou do espanto para o nervosismo, com gente se estranhando e até brigando, abandonando o local a seguir.  Apenas três dezenas de alemães e americanos permaneceram fiéis e entusiasticamente até o fim do show, entre eles o ator hollywoodiano David Niven, que com certeza presenciou o maior pesadelo sonoro de sua vida. Voltando ao Soundtracks, ele contém duas músicas cantadas por Mooney, a linda e sonolenta “She Brings The Rain” e o teste para pastilhas Valda “Soul Desert“, onde o cantor negro prova que poderia ser um Damo Suzuki se quisesse. As outras músicas são todas na voz do novo cantor, sendo “Don’t Turn The Light, Leave Me Alone”  a primeira gravação de Suzuki no grupo. “Mother Sky”, a música escolhida aqui, é uma road trip de mais de 14 minutos e que serviu de trilha para o filme Deep End, do cineasta Jercy Skolimovsky (vi o filme e achei a música subaproveitada). “Mother Sky” é uma das peças mais intensas já gravadas pelo Can e vale a pena destacar a acachapante guitarra de Michael Karoli, tido por alguns entendidos, e não registro isso para provocar ninguém, como o maior guitarrista psicodélico da história do rock.


Can_-_Tago_Mago04 – “PAPERHOUSE” (do álbum Tago Mago[1971])

Tago Mago acabou de ser gravado em fevereiro de 1971. Um álbum duplo, com o segundo disco contendo peças experimentais. É um disco mágico em vários sentidos, não apenas no nome que evoca um mago (na realidade uma ilha próxima a Ibiza) ou na fórmula mágica implícita no mantra “Aumgn” (primeira música do segundo disco) ou ainda no sugestivo nome da música “Mushroom” . É mágico porque enfeitiçou Deus e o mundo, tornando-se um sucesso absoluto de crítica e apresentando ao mundo o rock extremo de uma banda que influenciaria gerações. Apesar de ser o primeiro álbum totalmente gravado com Damo Suki nos vocais, o grande personagem do disco, para mim, é o baterista Jaki Liebezeit. Se o Can queria soar como uma máquina, Jaki era o motor, ou melhor, o pistão que dependendo da velocidade com que subia e descia imprimia cadência ou vertigem no ritmo hipnótico da banda. Sua ambição era fazer jus ao apelido de Human Metronome, em torno do qual toda a improvisação de seus companheiros era construída. Suzuki, por outro lado, era o anti-vocalista, soando em alguns momentos mais experimentais como um pasteleiro maluco que frita seus pastéis no óleo de efeitos que escorre dos teclados de Schmidt. Damo já havia imposto seu estilo único de misturar inglês, japonês e fonemas no álbum Soundtracks, mas em alguns momentos de Tago Mago essa sua “Linguagem da Idade da Pedra” (como ele a chamava) é responsável pela aura de encantamentos do disco. Tago Mago é perfeito, não apenas na performance de todos os envolvidos, mas também por ser o oposto, como escreveu o crítico Paul Alessandrini nas páginas da revista francesa Rock & Folk, de todos os conceitos classe média que afetavam o rock na época.


can_ege_bamyasi_okraschoten_front05 – “SPOON” (do álbum Ege Bamyasi (Okraschoten) [1972])

Para os padrões experimentais do Can, Ege Bamyasi (Okraschoten) foi o disco mais pop e acessível gravado pela banda e seu maior sucesso comercial até então. Vendeu 10 mil cópias no primeiro mês em todos os países onde foi lançado e o single “Spoon”, usado como trilha sonora de um popular seriado de gangster na Alemanha, levou o Can ao top 10 das paradas. O dinheiro deste single chegou em boa hora e ajudou a banda a mudar seu estúdio para um novo endereço, bem mais de acordo com as necessidades do grupo do que o já decadente Castelo Norvenich. Essa mudança de certa forma inspirou o clima mais light das músicas presentes no Ege Bamyasi (Okraschoten) e a capa do disco, uma espécie de brincadeira visual enlatada, surgiu por acidente quando a banda estava em um restaurante na Turquia. Essa lata de quiabo não só existia como era um produto de uma companhia de Istambul chamada Can. Outras músicas de destaque no disco são “Pinch”, “Sing Swan Song”  e “Vitamin C”. Feita em cima da hora por necessidade de fechar o disco, a faixa “Soup”, que soa mais como um out take do Tago Mago, é um ótimo exemplo da espontaneidade coletiva e capacidade de improvisação da banda.


homepage_large.8fda021106 – “FUTURE DAYS”  (do álbum Future Days[1973])

Li em algum lugar que Damo Suzuki teria abandonado o grupo após este álbum de 1973 por se sentir alienado pelos novos rumos que o Can estaria trilhando. Não creio. Acredito mais na versão oficial de que ele saíra para abraçar a religião de sua jovem esposa e se tornar Testemunha de Jeová. O Can nunca foi uma banda de seguir caminhos, mas sim de apontá-los e, uma vez numa estrada, optaria sempre por sair dela no primeiro desvio. Future Days foi o primeiro e único álbum do grupo a sair no Brasil e não levou nem seis meses para figurar nas baciadas de encalhes das boas lojas do ramo. Tremenda injustiça. A faixa título é um delicioso exercício de futurismo tecnológico nos fazendo crer que se um dia o mundo acabasse, terminaria em bossa nova. Outra música emblemática é a que pega todo o lado dois do disco, “Bel Air”  , um esforço coletivo de improvisação sobre um tema intuído por Michael Karoli enquanto de férias na costa de Portugal, observando as nuvens, ouvindo os sons do vento e do mar e registrando tudo no único gravador que tinha à disposição: sua cabeça. Liebezeit achou o disco muito sinfônico e Czukay adorou tê-lo gravado justamente por causa disso.


613Q9N8X8TL07 – “DIZZY DIZZY”  ( do álbum Soon Over Babaluma [1974])

Damo Suzuki foi embora. Tim Hardin até que tentou mostrar sua competência para assumir os vocais da banda, mas o Can preferiu ser um quarteto e improvisar (como sempre) Karoli e Schmidt nos vocais. O guitarrista resolve também assumir seu lado violinista e “Dizzy Dizzy” , a música que abre o lp Soon Over Babaluma, de 1974, se revela uma das primeiras adaptações do reggae ao rock. A letra é um texto do escritor britânico e fã incondicional Duncan Fallowell, que confessou poucos anos atrás ter sido sondado na época para substituir Suzuki. Duncan também é o comentarista, junto com Rob Young, de todos os discos do grupo no livro Can Box: Book, lançado em 1998. Também nos anos 90, Schmidt colaborou com Duncan, musicando um libreto seu que virou a ópera Gormenghast. Soon Over Babaluma tem outras pérolas babalumescas: o cha cha chá teutônico, que Czukay prefere chamar de tango hipnótico, de “Come Sta, La Luna”, o tablado high speed construído por Jaki Liebezeit para os 15 minutos da música “Chain Reaction” e sobre o qual Schmidt  improvisa golpes de karatê em seu teclado, e “Quantum Physics”, uma das primeiras peças de música ambiente com características techno, novamente com Liebezeit  lubrificando o motor de sua bateria com Bardahl B12 e Schmidt ressuscitando um velho sintetizador Alpha77. Talvez esse seja o último grande disco do Can.


Can-Limited-Edition-11501308 – “GOMORRHA”  ( do álbum Limited Edition [1974])

Em 1974 o Can lançou uma coletânea de sobras de estúdio, porralouquices e devaneios sonoros chamada Limited Edition. A pinkfloydiana “Gomorrha” abre o disco e mostra que emular banda inglesa é fácil, mas a recíproca não é verdadeira. A banda por essa época era muito comparada ao Pink Floyd e fez até mesmo uma piada em um programa da TV britânica, The Old Grey Whistle Test, nomeando sua apresentação de Set The Controls For The Art Of The Sun.  O único paralelo entre as duas bandas, porém, está no fato de que seus dois cantores originais atingiram extremos e enlouqueceram: Malcolm Mooney de forma temporária e Syd Barrett infelizmente não. Em Limited Edition encontramos também alguns exemplos das Ethnological Forgery Series, as EFS, que eram tentativas conscientes, embora improvisadas, de imitar várias formas de world music. Do jeitinho Can, é claro. “Mother Upduff”  é outra curiosidade deliciosa: gravada em 69 e tendo Mooney nos vocais, ela é toda baseada em uma lenda urbana que conta a história de uma família em férias cuja matriarca morre e é amarrada envolvida em cobertor no teto do carro. E o carro é roubado, levando o corpo junto. Ouvir o cantor narrar essa história é uma experiência e tanto. O disco foi batizado de Limited Edition e uma tiragem de apenas 15 mil exemplares. Dois anos depois, em 1976, ele foi relançado em bases normais e no formato álbum duplo, com o segundo disco repleto de inéditas e o apropriado nome deUnlimited Edition.


R-217141-1336230083.jpeg09 – “I WANT MORE”  (do álbum Flow Motion [1976])

Segundo Czukay, o disco Flow Motionmostrou o quanto o Can foi influenciado pelo reggae. Gostaria imensamente, no entanto, que alguém me apontasse um único reggae nesse álbum, pois procuro isso há anos. Em algumas entrevistas, o baixista afirma o quanto ficou impressionado a primeira vez que viu um show de Bob Marley, principalmente com as batidas, o baixo e o desenho das notas de guitarra que emanavam da banda jamaicana. Isso explica muita coisa, menos o fato de que a música “I Want More”, o maior sucesso comercial do CAN, era uma disco music e “Cascade Waltz” , outra faixa emblemática, era forrada de guitarras havaianas. “I Want More” cometeu até mesmo a façanha de colocar o grupo nas paradas inglesas e provou que, entre todas as bandas alemãs que se aventuraram nos ditames hedonisticos da onda disco, o Can foi a que menos vergonha passou. Flow Motion, apesar de todo o sucesso de seu single, foi um disco menor na discografia do Can, assim como o anteriorLanded e os próximos Saw Delight e Can. Como tudo que existe caminha para um fim, o CAN resolveu encerrar a conta no começo dos anos 80, com seus músicos tocando carreiras e projetos solo e reunindo-se mais uma vez em 1987 para satisfazer a vontade de Malcolm Mooney de voltar a cantar com a banda. O resultado disso foi Rite Time, uma espécie de Wish You Were Here com todos os desejos realizados.


USPM – O Elo Perdido do Metal dos Anos 80

 

USPM – O Elo Perdido do Metal dos Anos 80

USPM… Você já deve ter visto essa sigla em algum lugar: um site de música, um livro ou até em certos encartes de CD. A sigla NWOBHM, apesar de mais estranha, é mais conhecida, e talvez você não saiba a relação entre USPM e NWOBHM ou nunca tenha feito essa ligação entre elas. Mas, afinal, o que é USPM? USPM significa United States Power Metal, que é um subgênero do heavy metal surgido no início dos anos 80 nos Estados Unidos. Ele é, às vezes, tratado como uma evolução da New Wave Of British Heavy Metal ou até mesmo uma resposta americana a ela. Nesse texto, vou tentar mostrar as peculiaridades desse subgênero, falar um pouco sobre o estilo e as bandas que surgiram nesse período.

Como todos estão cansados de saber, a NWOBHM foi um movimento musical surgido no Reino Unido, que trazia de volta a sonoridade das bandas mais pesadas do início da década de 70 e que foram, de certa forma, escanteadas por conta do surgimento do punk, da disco e de outros gêneros musicais. Foi muito importante para revitalizar o heavy metal, que passava por um declínio. Por questões de proximidade e influência direta, surgiram também bandas no continente europeu que tinham o mesmo direcionamento e algumas daquelas bandas europeias foram classificadas como Power Metal.

Assim, em paralelo, as bandas americanas, que foram absorvendo as características das bandas da NWOBHM e do Power Metal europeu, começaram a desenvolver seu próprio som também. Daí a definição USPM. Claro que o background do rock americano, a tradição doméstica no estilo de bandas como Aerosmith, Ted Nugent, Kiss e Blue Öyster Cult foi muito importante e serviu como um ponto de partida. Por ter surgido praticamente em paralelo ao Thrash Metal, muitas vezes compartilhando palcos e, principalmente, o público, pode-se até dizer que o USPM foi uma espécie de ponte entre o heavy metal e o thrash metal, com uma sonoridade um pouco mais épica e melódica. Já a diferença entre o Power Metal americano e o europeu se dá na intensidade e velocidade: enquanto os europeus prezavam mais pela velocidade, pela produção mais polida e pela grandiosidade dos refrãos, os americanos privilegiavam riffs mais pesados e ritmos mais variados. Na temática também havia, no geral, algumas diferenças: os europeus eram mais fantasiosos e otimistas, enquanto os americanos eram mais sombrios e densos. Para amarrar todos esses estilos, havia uma grande semelhança entre todas as bandas da NWOBHM, do Power Metal europeu e do americano: uma cada vez menor influência e dependência do blues em suas músicas, bastante diferente das grandes bandas pesadas da década anterior.

E qual foi o primeiro lançamento desse estilo musical? Tirando as demos, EPs e singles que foram lançados por várias bandas no período entre 1981 e 1983, tivemos os primeiros álbuns saindo pouco depois. Os primeiros álbuns foram os do Rat Attack e Lady Killer, com seus discos homônimos lançados em 1983. Porém, são muito importantes os dois EPs do mesmo ano do Jag Panzer (Jag Panzer e Death Row), por se tratar de uma grupos que seriam expoentes do estilo. Também não posso deixar de citar os primeiros álbuns do Culprit, Guilty As Charged, e a estreia do Hawaii, banda formada em Honolulu por um jovem guitarrista de nome Marty FriedmanOne Nation Underground. Porém, os principais álbuns lançados no ano de 1983 são mesmo o Crystal Logic do Manilla Road, o Sirens do SavatageInto Glory Ride do Manowar. Alguns diriam que a estreia do Cirith Ungol, Frost and Fire, de 1981, pode ter esse mérito de ser o primeiro, mas eu vejo esse álbum com tanta influência inglesa que não consigo identificar a sonoridade dos álbuns citados aqui. Seu álbum seguinte, de 1984, seria mais adequado.

O ano de 1984 também foi muito prolífico. Levando em consideração os nomes e os álbuns lançados, é possivelmente o melhor ano dessa safra. Muitas bandas soltaram EPs muito cultuados pelos fãs, como os do Nasty Savage, do Leatherwolf, The Warning do Queensrÿche e o famoso Dungeons Are Calling do Savatage, banda que estaria se tornando uma das principais do estilo, junto com o Manowar, que lançou não um, mas dois clássicos: Sign of the Hammer e Hail to England. O título desse último mostra bem que a intenção dessas bandas americanas era se relacionar com o que estava sendo feito dentro do metal europeu, principalmente na Inglaterra. Não posso deixar de citar mais alguns excelentes discos e muito representativos: Ample Destruction do Jag Panzer, o Battle Cry do Omen, a estreia do Armored Saint, March of the Saint, e o Warlord, que veio com o fantástico And the Cannons of Destruction Have Begun. Um álbum que não é considerado da USPM e é mais relacionado ao thrash metal é a estreia do Metal Church. Porém, ele apareceu tanto nas minhas pesquisas que não pude deixar de citá-lo. Podemos dizer que o Metal Church está na fronteira que dividiria os dois estilos.

No ano seguinte, 1985, mais uma enxurrada de ótimos discos: Master of Disguise do Savage Grace (um pouco mais rápido que os de outras bandas), Flight of the Griffin do Griffin, Battle at Helm’s Deep do Attacker, a estreia do Malice, In the Beginning…, o Fates Warning já dando um dos primeiros passos no metal progressivo com The Spectre Within, além de outros.

Nos anos seguintes, para não ficar falando de ano a ano, os lançamentos mais importantes foram o disco homônimo do Fifth Angel (1986), o Savatage com o excepcional Hall of the Mountain King (1987), o Riot, que foi reformulado depois de uma carreira já bastante estabelecida e um som totalmente diferente em Thundersteel (1988). No mesmo ano, o Helstar com A Distant Thunder e o Titan Force com seu álbum de mesmo nome de 1989.

Poderia ficar citando nomes e mais nomes de discos e bandas ao longo de todos os anos até meados dos anos 90. A partir do fim dos anos 80 e na virada da década de 90, as influências globais acabaram sendo muito absorvidas por todos e, pelo menos dentro do heavy metal tradicional, já não existiam tantas diferenças marcantes para que a gente pudesse ficar criando essas caixinhas dos estilos. Porém, muitas bandas importantes surgiram, como o Sanctuary, do saudoso e excelente vocalista Warren Dane, o Iced Earth, que se consolidou como uma das grandes bandas nos anos 90, e o Virgin Steele, caminhando um pouco na trilha do Manowar, mas fez discos com personalidade própria que atraíram bastante fãs. Lembrando que a carreira de Yngwie Malmsteen, apesar de ser sueco, surgiu e se desenvolveu um pouco dentro de todo esse contexto também após ter estreado em disco com o Steeler. Também existe a carreira solo de Ronnie James Dio, porém, por conta de seu trabalho com o Black Sabbath, fica um pouco difícil de encaixá-lo aqui dentre essas bandas. Acho que, da mesma forma que o Judas Priest já era muito veterano para ser considerado da NWOBHM, o Dio também podemos considerá-lo assim em relação ao USPM.

Obviamente, com o benefício do distanciamento temporal, poderíamos até mesmo expandir todo esse universo em três vertentes distintas: o USPM Agressivo, o USPM Melódico/Progressivo e o USPM Épico. O primeiro deles beira o thrash, com vocais bastante agudos e velocidade maior (não tanto quanto o próprio thrash). Seus representantes seriam o Jag Panzer, o Liege Lord e o Helstar. O USPM Progressivo, como o nome já diz, é mais melódico e intrincado, e abriu caminho para muitas bandas de prog metal: Fates Warning, Crimson Glory e, claro, o Queensrÿche como seu principal representante. E, para finalizar, o USPM Épico, com mais semelhança aos seus pares europeus, que abusavam das temáticas de guerreiros e sagas fantásticas, de bandas como o Manowar, Virgin Steele, Omen, Warlord e Manilla Road.

Algo bastante importante é que durante todo o período de desenvolvimento e crescimento das bandas de power metal americano, tiveram uma concorrência pesada com o hard rock oitentista, ou glam metal. Esse estilo, muito mais radiofônico, ofuscava essas bandas deixando-as relegadas ao underground. Chegou num ponto que na década de 90 muitas bandas já estavam em declínio e mais uma vez o power metal europeu aparece na história do USPM. Próximo dos anos 2000 alguns grupos de power metal como Stratovarius, Blind Guardian, Hammerfall e Rhapsody ajudaram no ressurgimento dessa cena americana, pois os fãs acabam se interessando por todas as influências que essas bandas tiveram. Isso influenciou no surgimento de novos grupos americanos, Visigoth e Eternal Champion, que também ajudaram a renovar o público.

Espero que, com esse monte de nomes, eu não tenha assustado o leitor; pelo contrário, quero incentivar quem, porventura, nunca sequer leu os nomes dessas bandas ou que nunca ouviu e tinha curiosidade de saber qual seria o tipo de som delas. Saiba que deixei muitos nomes fora do texto e eu tenho certeza de que vou ficar chateado por isso. Tudo bem, vou deixar mais alguns nomes aqui: Tyrant, Chastain, Brocas Helm, Obsession, Lethal, Wild Dogs, Hexx, Malice, Artch, Abattoir…


Rumi Ensemble & Salar Aghili - In the footprints of Rumi (2011)

 

O Conjunto Rumi , composto por 10 músicos de diversas nacionalidades e tradições culturais (Irã, Índia e Noruega), juntamente com a voz extraordinária de Salar Aghili, interpreta musicalmente as palavras e versos do grande poeta e mestre sufi do século XIII, Jalaluddin Rumi. Formada em 2007 para comemorar o 800º aniversário do nascimento de Rumi, a orquestra traça um caminho através de séculos de história e encontros, unindo o Oriente e o Ocidente por meio da poesia e da música. Representa também uma nova cena clássica dentro da música tradicional iraniana, combinando habilmente inovação musical com um profundo senso de classicismo e interpretação.
Javi Afsari Rad (Isfahan, Irã) lidera o conjunto, musicando a obra de Rumi, inspirado pelo misticismo de sua poesia e focando no ritmo como um elemento vital que reflete o êxtase filosófico, a sensualidade e o mistério de seus poemas.

Nesta edição de estúdio, produzida em Oslo sob os auspícios do Arts Council Norway e do Akershus Fylkeskommune, temos a oportunidade de apreciar a beleza singular com que instrumentos orientais tradicionais (santur, ney, oud, tombak, daf, dayereh) se fundem com a instrumentação clássica (violino, viola, violoncelo e contrabaixo), e com a voz imponente de Salar Aghili (um dos vocalistas mais destacados da tradição musical persa de sua geração e solista da Orquestra Nacional do Irã), cuja união resulta em uma visão peculiar da música como uma linguagem comum que une culturas além-fronteiras.


Lista de faixas
01. Masnavi
02. Rumi
03. Eshtiagh
04. Ey Asheghan
05. Jané Ashegh
06. Avaz
07. Roz o Shab
08. Bayate Rajé
09. Deldare Man
10. Lezgi






Gilles Peterson Presents Havana Cultura. The Search Continues (2011)

 

Dando continuidade à sua longa relação com Cuba e seu caldeirão musical, o DJ e apresentador viajante Gilles Peterson retornou a Havana em 2011 em busca de novos talentos, acompanhado pelos co-produtores Vince Vella (veterano do primeiro álbum) e Simbad (co-produtor de Gilles em seus projetos de remixes). "Eu queria manter o espírito de 'tudo pode acontecer' do primeiro lançamento, mas desta vez com um som cubano mais maduro . "
Mais uma vez, este CD duplo apresenta Gilles na produção, recebendo diversos músicos, vocalistas e rappers convidados, e orquestrando jams musicais gloriosas. Esta nova e mágica mixagem de Gilles também inclui suas mais recentes descobertas (Arema Arega, Osdalgia, Melvis Santa, Silvito El Libre, Dreiser, Elain Morales, Sexto Sentido, Kola Loka, Djoyvan…), uma maravilhosa representação da cena musical underground cubana de 2011, reconhecida localmente e com potencial global.
O amplo espectro do arco-íris musical cubano está bem representado, desde a rumba improvisada de "La Tormenta" até uma adaptação de rumba-jazz e hip-hop de uma música do A Tribe Called Quest ("Check La Rima") e o clássico soul de Eddie Kendricks "People… Hold On" ("Espera Mi Gente").
Aos momentos inegavelmente cubanos oferecidos por certas faixas – "Orisa", "Agita", "La mulata abusadora", "Vamos al mar", "Malecón habanero" e "Chica cubana" – somam-se surpresas como a divertida "Si esta es mi mama", com a participação do rapper El Tipo Este e sua mãe (Maria Mola Jiménez), e pérolas como o cativante downtempo de "Ay", de Arema Arega.
Três anos se passaram desde que a exploração inicial de Gilles revelou a fértil e independente cultura underground do hip-hop cubano: uma homenagem musical ao estrondo do movimento reggaeton local e um destaque para um grupo de artistas que produzem um som inovador que mistura jazz, soul, ritmos tradicionais cubanos e hip-hop.

tracks list:
01. Drusil & Sexto Sentido - Orisa
02. Telamry & Elain Morales - La Mulata Abusadora
03. Los Aldeanos & Silvito El Libre - Malecón Habanero
04. Vida Interlude
05. Los Aldeanos, Danay & Silvito El Libre - Check La Rima
06. Oresteslude
07. Micha & Osdalgia - Agita
08. Melvis Santa & Francis del Rio - Vamos al Mar
09. Saxolude
10. El Tipo Este - Sobreviviente
11. Danay Suárez - Cuando ya no este
12. El Tipo Este & Arema Arega - La tormenta
13. Danay Suárez & Ogguere - Espera mi gente
14. Muestrame lude
15. Gilles Peterson’s Havana Cultura Band feat. Osdalgia & Edgaro - Vida
16. Golpe Seko - Me queda voz
17. Interactivo - Chica Cubana
18. Vince Vella feat. Danay Suárez & Julito Padrón - Bailalo
19. The Heavy Weights Brass Band feat. Edrey From Ogguere - Nueva Orleans
20. Kola Loka - No me da mi gana americana
21. Anónimo Consejo - Cojimar
22. Melvis Santa - Tu momentico
23. Maria Mola Jiménez & El Tipo Este – Si esta es mi mama
24. Arema Arega - Ay
25. Francis del Río - Misa para Miguelito
26. Afrikun – Kimbiseros
27. Creole Choir of Cuba - Peze Café
28. Danay Suárez - Yo aprendí
29. Obsesión - Tu con tu ballet
30. Djoyvan feat. Luz de Cuba - Afro Nupa andandao








Gilles Peterson Presents Havana Cultura. New Cuba Sound (2009)

 

Em 2009, Gilles Peterson uniu forças com o premiado pianista de jazz cubano Roberto Fonseca para descobrir os melhores talentos e estrelas em ascensão de HavanaHavana Cultura. New Cuba Sound representa a melhor coleção de artistas cubanos contemporâneos desde o aclamado projeto Buena Vista Social Club de 1997.
Pioneiro do "acid jazz" em Londres no final da década de 1980 e das fusões de soul-funk-hip-hop-disco-jazz-electro em Ibiza na década de 1990, Gilles Peterson é um produtor inovador e de renome internacional que ajudou a lançar carreiras (Jamiroquai, Erykah Badu) e entretém milhões de pessoas. Ele defende a boa música onde quer que a encontre, com sua própria gravadora (Brownswood Recordings) e um programa de rádio apropriadamente chamado Gilles Peterson Worldwide. E isso sem mencionar seus blogs, podcasts, tweets e qualquer outro meio que ele possa usar para divulgar seu trabalho.
Sua busca incessante por ritmos o levou a Havana, onde queria observar o efeito que os novos sons cubanos teriam sobre Gilles Peterson, e vice-versa. Como esperado, ele acabou "descobrindo muitos músicos incríveis que estão apenas começando e têm o potencial de causar um grande impacto na música mundial". O próximo passo foi reunir esses músicos no estúdio EGREM em Havana — onde o álbum Buena Vista Social Club foi concebido — e gravar um álbum. Para Gilles, foi "uma tremenda oportunidade de fazer algo que seja verdadeiramente uma mistura musical, algo novo, algo revigorante, algo que não seja apenas Buena Vista Social Club… Unir tudo: o urbano, o de rua e o mais tradicional " .
O resultado: dois CDs. O primeiro contém as 12 faixas originais que Gilles gravou com sua "Havana Cultura Band", cuidadosamente selecionada e liderada pelo pianista Roberto Fonseca. O CD conta com participações especiais de artistas como Mayra Caridad Valdés, Ogguere, Danay, Francis Del Río e Obsesión. O segundo CD é uma compilação de 16 faixas, inéditas e já lançadas, de alguns dos maiores talentos de Cuba: Los Aldeanos, Telmary, Yusa, Kelvis Ochoa, Doble Filo, Descemer Bueno, Gente de Zona, Harold López Nussa, Kumar, Free Hole Negro, Cubanito 20.02, Wichy de Vedado e Tony Rodríguez. A capa do CD foi criada por Alexandre Arrechea, um dos maiores nomes da cena artística cubana.
Tudo isso acompanhado de um site completo que promove e fornece informações sobre esse incrível tesouro musical. Não perca!

CD1
01. Gilles Peterson - Pa' Gozar
02. Gilles Peterson - Arroz Con Pollo
03. Gilles Peterson Feat. Mayra Caridad Valdes - Roforofo Fight
04. Gilles Peterson Feat. Danay Francis Del Rio And Julio Padron - Ipacuba
05. Gilles Peterson Feat. Ogguere Danay And Obsesion - La Revolucion Del Cuerpo Part 1
06. Gilles Peterson Feat. Roberto Fonseca - La Revolucion Del Cuerpo Part 2
07. Gilles Peterson Feat. Danay - Lagrimas De Soledad (No Existen Palabras)
08. Gilles Peterson Feat. Danay And Obsesion - Think Twice
09. Gilles Peterson Feat. Mayra Caridad Valdes - Chekere Son
10. Gilles Peterson - Afrodisia
11. Gilles Peterson - Mami
12. Gilles Peterson - Rezando

CD2
01. Ogguere - La Revolucion Del Cuerpo
02. Gente De Zona - Homenaje A Benny More
03. Free Hole Negro - Listos Pa La Lucha
04. Wichy De Vedado - La Perla Del Son
05. Yusa - Candao Cerrao
06. Kumar - Acompañanos
07. Obsesion - Me Lastimas
08. Danay - Individual
09. Los Aldeanos - Pasa El Borrador
10. Doble Filo - Amor Internacional
11. Cubanito 20 02 - Por Un Milagro
12. Francis Del Rio - Sentimento
13. Doble Filo Feat. Pepito - Que Tu Te Crees
14. Descemer Bueno And Kelvis Ochoa - Punala
15. Telmary Diaz - Spiritual Sin Egoismo
16. Harold Lopez Nussa - La Jungla





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