“No Trees Can Grow To Heaven Unless Its Roots Reach Down To Hell” é uma citação de Carl Jung, mas é também o título da pequena maravilha sonora que Icarus Phoenix nos deu este ano. Honra seja feita ao ilustre suíço, mas é para o norte-americano Drew Danburry que a maior das vénias terá hoje de ser feita!
Icarus Phoenix é um quase ilustre desconhecido. No entanto, o disco que aqui vos apresentamos mereceria toda a sorte do mundo, coisa que, eventualmente, nunca terá. Triste sina, a de muitos grandes músicos que não conseguem elevar-se mais do que à altura de um pequeno pulo, tantas vezes dado a custo. No Trees Can Grow To Heaven Unless Its Roots Reach Down To Hell exemplifica muito bem aquilo que dizemos, mas talvez isso pouco ou nada importe para Drew Danburry que, perdido entre discos, concertos, filmes, documentários que realiza e a sua barber shop na cidade de Provo, no estado de Utah, talvez se esteja nas tintas para o sucesso. Assim sendo, menos mal. Que siga fazendo coisas tão boas como estas, é o que importa.
É impossível não ouvir No Trees Can Grow To Heaven Unless Its Roots Reach Down To Hell sem pensar em Silver Jews, Purple Mountains, Stephen Malkmus, Adam Green, Clem Snide e ainda em tanta outra gente boa, mas todos eles açucarados, em versão radio friendly, sem que, no entanto, percam estilo e qualidade artística. Isso, aliás, é o que não falta neste disco. Antes sobra, se quisermos ser justos. São treze canções que não sairão facilmente das cabeças por onde venham a entrar. Isso parece-nos garantido. O próprio Drew Danburry lançou a ideia, ao apresentar este seu segundo longa duração, dizendo “The last album changed my life. This one might change yours.” Com a fasquia assim tão elevada, talvez seja interessante dar ouvidos a No Trees Can Grow To Heaven Unless Its Roots Reach Down To Hell. Foi o que fizemos, felizmente, embora com algum atraso, uma vez que o álbum saiu com os calores do nosso verão. Pouco importa. Aquece-nos agora. Ponhamos os óculos escuros, e carreguemos no play.
Só os norte-americanos sabem fazer discos assim. Basta ouvir o tema inicial (“Adam Seawright”) para se perceber que esse tão particular sotaque melódico e rítmico tem marca há muito registada no imaginário daquela parte do globo. Há por ali uma espécie de elegante nostalgia que lhes deve vir das imensas pradarias, dos cowboys estilosos à maneira de Lee Hazlewood, dos hambúrgueres, da Coca-Cola, do tabaco que mascam e cospem ou do que quer que seja, mas que lhes assenta que nem uma luva. Na verdade, nem só de nostalgia vive este álbum. Aqui há rock n’ roll com cheiro a kentucky fried chicken pronto a morder. “Jam Sessions”, “Sleep, for Ian Aeillo”, “Eddie King” (tão deliciosamente upbeat), “The Sea Legs of the Mandarin Dynasty” são provas bem acabadas do que dizemos. Mas os mais baladeiros encontram também em No Trees Can Grow To Heaven Unless Its Roots Reach Down To Hell canções de fazer tremer o coração, sendo que o único remédio, ao ouvi-las, será abrir mais uma lata de Budweiser ou de Coors Banquet para que o som e as palavras cantadas entrem de maneira ainda mais escorreita. Os exemplos são vários: “Swim (For Jake and Morgan)”, “All The Same” (linda, linda de morrer), “Anthem” (quase cópia de Adam Green dos tempos de Friends of Mine) ou “Dogma of No Dogma, Non Dogmatically”.
Um pouco fora desse âmbito encontra-se “Rivers”, uma das mais belas canções do álbum. Os versos iniciais são “So you want to write songs in a world full of sound / So you want to make art when entertainment abounds”, o que seguramente remete para as grandes e eternas dúvidas de quem quer fazer arte através de canções com pouco mais de três minutos de duração. Se entendermos esses versos como perguntas elaboradas pela consciência do próprio artista, então a nossa resposta sairá pronta e na forma deste texto. E assim, to cut a long story short, diremos que Icarus Phoenix é merecedor dos melhores aplausos que daremos neste ano que agora finda. A big round of applause para Drew Danburry, por favor!