domingo, 10 de setembro de 2023

DISCOS DE ÊXITOS

 

                                              UB40 - The Very Best Of (1980-2000

 

Traklist:

01. One In Ten    [4:33]
02. Red Red Wine    [3:03]
03. Kingston Town    [3:50]
04. Higher Ground    [4:21]
05. King    [4:36]
06. Cherry Oh Baby    [3:18]
07. I Got You Babe (With Chrissie Hynde)    [3:09]
08. Come Back Darling    [3:28]
09. The Earth Dies Screaming    [4:38]
10. If It Happens Again    [3:43]
11. Don't Break My Heart    [3:50]
12. Can't Help Falling In Love    [3:29]
13. Watchdogs    [4:16]
14. Tell Me Is It True    [3:24]
15. Rat In Mi Kitchen    [3:05]
16. Homely Girl    [3:22]
17. Light My Fire    [3:46]
18. Bring Me Your Cup    [4:09]
19. Food For Thought    [4:11]
20. Sing Our Own Song    [4:05]


Tião Carreiro e Pardinho - Dose Dupla Vol. 01




Traklist:

01. Rei Do Gado
02. Boi Soberano
03. Pagode Em Brasília
04. A Morte Do Carreiro
05. Saudade Do Araraquara
06. Irmão De Ferreirinha
07. Três Cuiabanas
08. Sucuri
09. Triste Desengano
10. Teu Nome Tem Sete Letras
11. Violeiro Solteiro
12. Preto Fugido
13. Alma De Boêmio
14. Borboleta Do Asfalto
15. Punhal Da Falsidade
16. Amigo Sincero
17. Teus Beijos
18. Despedida
19. Nove E Nove
20. Urutu Cruzeiro
21. Minas Gerais
22. Carteiro




Santana - Corazón [2014]

 



O que leva um artista consagrado a manter-se em ativa? Seria a conquista de novos fãs? Continuar acesa a chama de um passado de glórias? Inovar musicalmente e chocar o mundo com um álbum de relevância? Faturar mais algum com o que sabe fazer de melhor?

No caso do guitarrista Carlos Santana, a última indagação parece a correta. Afinal, depois do aclamado lançamento de Supernatural (1999), seguido pelos também aclamados Shaman (2002) e All That I Am (2005), Santana ficou cinco anos sem lançar nenhum material original, tentando redescobrir a fórmula do sucesso que foi com Supernatural, fazendo canções mais diretas e com a participação de diversos cantores convidados para interpretar sua música. Como não conseguiu reinventar a roda, resolveu apostar em covers, e saiu-se muito bem com Guitar Heaven (2010), um dos melhores trabalhos de sua carreira.

Novos parceiros musicais (!) de Carlos Santana?

Veio Shape Shifter (2012), tentando volta às origens do grupo, mantendo apenas dois vocalistas fixos - no caso Andy Vargas e Tony Lindsay - e um grande fracasso comercial, apesar do álbum também ser muito bom. Daí que em busca de mais um $, e só pode ser essa a resposta, Santana resolveu que não adiantava voltar ao passado distante, mas sim ao passado recente, e pouco antes de apresentar-se na festa de encerramento da Copa do Mundo do Brasil, lançou ao mundo Corazón.

Trazendo doze canções, e tendo como propaganda o fato de ser totalmente cantado em espanhol, esse álbum é bastante decepcionante, pois além de não ser uma sequência natural para Shape Shifter, tão pouco consegue colocar na cabeça e no corpo do fã clássicos como "Maria Maria", "Smooth" ou "Corazón Espinado", que apesar de puramente populares, são boas músicas para se ouvir em uma festa. Para piorar, Santana a banda não existe no álbum. O número de convidados é tamanho (mais de 30 músicos participam do álbum) que em nenhuma canção temos um grupo fechado, o que torna tudo ainda mais triste.

Casal Carlos Santana e Cindy Blackwell com excelente química dentro e fora dos estúdios

Começando pelo o que é bom, vá direto para a faixa cinco, "Iron Lion Zion", com a participação de Ziggy Marley e ChocQuib Town, o que já diz o que é a música, um reggae de primeira linha que casou perfeitamente com a guitarra de Santana, confira a singela vinheta instrumental "I See Your Face" e a presença magnífica do saxofonista Wayne Shorter dando um espetáculo a parte na apimentada "Yo Soy La Luz", tendo a percussão de Cindy Blackman (esposa de Carlos Santana), vocais que consagraram a banda, percussões e um arranjo de metais impressionante. 

Depois, coloque o CD na estante e volte a ouvir somente quando bater a curiosidade, já que Corazón começa decepcionando logo na abertura, com o riff conhecidíssimo de "Saideira", um dos grandes sucessos comerciais do grupo brasileiro Skank sendo interpretado pelo próprio Samuel Rosa (guitarrista e vocalista do grupo mineiro) em espanhol, e apresentando um arranjo peculiar a latinidade de Santana, mas que não empolga mesmo com as intervenções dos sempre vibrantes solos de guitarra do músico que empresta seu nome à banda. O pior de tudo é que dentre as parcerias feitas pelo músico para Corazón, a de Samuel Rosa é uma das menos piores.

Uai! Mas que dupla cê foi me formar sô! (Samuel Rosa e Carlos Santana)

"Margarita", com Romeo Santos nos vocais, parece ter saído das piores lembranças dos piores momentos da carreira do mexicano, soando como uma canção de Romeo Santos com a participação especial de Santana, e beirando o ridículo com a mistura de frases em espanhol com um refrão em inglês. Aguentar a choradeira de Miguel em "Indy", acompanhado apenas de Santana, é missão complicada para quem um dia idolatrou "Jingo", "Soul Sacrifice" ou "Toussaint L'overture", e o bolero La Flaca, com os vocais por Juanes, resgata momentos interessantes de outras canções similares lançadas no passado recente da banda, mas também não empolga. 

A tríade do terror é completada pela tosca recriação de "Oye Como Va", rebatizada como "Oye 2014" e com os vocais rappers de Pitbull (?!) complementados por samplers hip-hop injustificáveis para quem um dia gravou pérolas como Caravanserai ou Abraxas. E antes que esqueça, nem perca seu tempo com "Feel It Coming Back", trazendo Diego Torres nos vocais (sinceramente, essa daí só pode ser algum sertanejo universitário com Maná de muito mal gosto que Carlos Santana ouviu em sua passagem pelo Brasil).

Gloria Estéfan e Carlos Santana, uma das poucas parcerias que deu certo em Corazón

Tentando salvar a pátria, Santana resgata cantora Glória Estéfan no samba "Besos de Lejos", uma canção que ganha força pelo arranjo vocal e pelo andamento sensual, e com a presença de Los Fabulosos Cadillacs durante "Mal Bicho", outra cantada em espanhol, alivia um pouco mais a decepção, principalmente pela legítima latinidade dos músicos do que pela canção em si, assim como o bonito bolero "Una Noche em Nápoles", com o trio vocal Lila Downs, Niña Pastori e Soledad, que nos remete aos áureos tempos de grupos como Trio Irakitán, Los Tres Diamantes ou Los Dandys, mas com todo o tempero das notas de Carlitos Santana (assim anunciado durante o bolero) ao violão, nessa que compete com "Iron Zion Lion" ao posto de melhor de Corazón.

O álbum recebeu uma versão DELUXE com três bônus (um rearranjo para "Saideira", a versão em português para "Bejos de Lejos", que virou "Beijos de Longe", também interpretada por Gloria Estefan,  e "Amor Correspondido", versão em português para "Feel it Coming Back", também com os vocais de Diego Torres), além de um DVD com o Making-Of de Corazón, e uma versão especial para o mercado latino, trazendo as músicas que ficaram de bônus na versão DELUXE oficial agora como faixas principais, e as versões que estão na versão oficial como bônus na versão DELUXE do mercado espanhol.

Cores para apresentar Corazón

Outro ponto positivo vai para a bela arte da capa, criada pela empresa La Fábrica de Pepinos de Boa Mistura, que caprichou nas cores e psicodelia no encarte do álbum.

Claro que em todas as canções, os solos estridentes e cheios de energia de Carlos Santana estão presentes, mas é só. Percussões enlouquecidas, passagens vibrantes de órgão, vocalizações empolgantes, nada disso é encontrável em Corazón, uma das maiores decepções de 2014, e com certeza, a maior decepção da carreira de Santana.

“Ai mamita querida, yo quiero plata!!”

Para complementar o estado de pobreza associado a Corazón, o álbum já vendeu mais de 100 mil cópias somente nos Estados Unidos, rendendo platina dupla para Corazón e provando que os fãs, indiferentes a porcaria que estão levando para casa, estão famintos, pelas novidades sonoras de Carlitos, cujos bolsos vão enchendo-se novamente.

Contra-capa da versão DELUXE de Corazón

Track list

1. Saideira
2. La Flaca
3. Mal Bicho
4. Oye 2014
5. Iron Lion Zion
6. Una Noche en Nápoles
7. Besos de Lejos
8. Margarita
9. Indy
10. Feel It Coming Back
11. Yo Soy La Luz
12. I See Your Face





Maravilhas do Mundo Prog: Mutantes – Hey Joe [1992]

 



 A incrível "Cavaleiros Negros", lançada em 1976. Depois daquele ano, o grupo liderado por Sérgio Dias (guitarra, violões, Sitar, vocais) peregrinou pela Itália, voltando ao Brasil em 1978, quando realizou mais dois shows até encerrar as atividades em junho daquele ano, após dois malfadados shows, um em São Paulo e outro em Ribeirão Preto. Sérgio seguiu com uma carreira solo de altos e baixos, mudando-se para os Estados Unidos e apagando a chama Mutante de vez.

Os anos se passaram e sempre ficou uma sombra do passado pairando sobre a cabeça não só de Sérgio, mas dos outros dois membros da formação inicial: Rita Lee (vocais, teclados, percussão) e Arnaldo Baptista (baixo, teclados, mellotron, moog, órgão, vocais). Enquanto Rita consolidou uma carreira solo de extremo sucesso, seja com o grupo Tutti Frutti entre os anos de 1974 e 1977, seja com o marido Roberto de Carvalho, a partir de 1978, Arnaldo tentou de tudo o que pôde erguer uma carreira solo, lançado o aclamado Lóki!? em 1974 e Singin' Alone em 1982, além de montar a Patrulha do Espaço no final da década de 70, ao lado do excelente baterista Rolando Castelo Jr.. Porém, na virada do ano de 1982, Arnaldo jogou-se do terceiro andar de um prédio onde estava internado para tratamento, e acabou praticamente destruindo sua carreira musical. Apesar de ter sobrevivido à queda, Arnaldo ficou com diversas sequelas, e ano após ano, vem fazendo um longo tratamento de recuperação, gerando resultados satisfatórios.

Acima: Rita Lee com o Tutti Frutti (esquerda) e com o marido Roberto de Carvalho (direita);
Abaixo: Arnaldo Baptista e a Patrulha do Espaço

Em 1988, através de Luiz Carlos Calanca, as canções da Patrulha do Espaço com Arnaldo Baptista foram finalmente lançadas através dos excelentes O Elo Perdido e ... Faremos Uma Noitada Excelente. No ano seguinte, quando começaram a serem preparadas as atrações para a segunda edição do Rock in Rio, boatos de que o trio Rita, Sérgio e Arnaldo iriam voltar brotaram de todos os lados. Mas os contatos não passaram de reuniões Titanic, e mais uma vez o sonho era adiado indefinidamente.

Como consolo, e aproveitando-se do grande retorno que o Mutantes teve à mídia através da exposição que o líder do Nirvana, Kurt Cobain, fez quando de sua vinda ao Brasil, e com grande incentivo de Sérgio, a gravadora Polydor, através do produtor Mayrton Bahia, retirou da gaveta o projeto gravado em 1973 pelo quarteto Sérgio Dias, Arnaldo Baptista, Dinho Leme (bateria, tabla, percussão) e Liminha (baixo, violão e voz), o fantástico álbum O A E O Z.

Liminha, Arnaldo Baptista, Sérgio Dias e Dinho Leme

Em uma fase onde o quarteto vivia, respirava e se alimentava de rock progressivo, O A E O Z foi originalmente concebido para ser um álbum duplo, gravado totalmente ao vivo nos estúdios, e com um dos vinis sendo dedicado à faixa-título, uma suíte com mais de 40 minutos de duração, nos moldes das grandes peças musicas de Yes, Genesis e Emerson Lake & Palmer, os grandes expoentes britânicos do rock progressivo da época. Lembrando que na época o quarteto vivia em uma casa na Serra da Cantareira, onde passava ensaiando, ouvindo muita música e consumindo diversos tipos de drogas, em uma comunidade na qual todos viviam como se fossem uma única pessoa, gerando o famoso lema "Uma Pessoa Só". A faixa "O A E O Z" iria registrar essa espécie de "religião", na qual todos eram um só, desde o A até o Z, e como a própria letra da suíte afirma, sendo o começo e o fim em uma pessoa só. A audácia e por que não estranha comunidade acabou sendo vetada pela Polygram, que considerou o projeto totalmente anti-comercial, e engavetou o álbum por diversos anos.

Decepcionado, Arnaldo saiu da banda, que seguiu adiante temporariamente com Manito (Incríveis, Som Nosso de Cada Dia) no seu lugar, e depois, já com Túlio Mourão nos teclados, começou a gravação de Tudo Foi Feito Pelo Sol, ocasionando então na Maravilhosa "Pitágoras", apresentada aqui em setembro passado.

Rara imagem dos Mutantes: Rui Motta e Liminha (acima); Túlio Mourão e Sérgio Dias (abaixo)

Ao que consta, quando O A E O Z chegou às lojas, muito do material que foi registrado em 1973 acabou sendo perdido. Se isso é mito, não posso afirmar, mas o que afirmo tranquilamente é que mesmo o CD sendo curto, com quase cinquenta minutos, o grupo conseguiu apresentar parte da suíte O A E O Z, através de três Maravilhosas mini-suítes, das quais escolhi a maior delas para ser apresentada por aqui, "Hey Joe".

O álbum abre com a primeira mini-suíte, "O A E O Z", explorando os dotes musicais de Arnaldo nos teclados, em pouco mais de oito minutos de belíssimas experimentações, que nos remetem por diversas vezes para passagens de Tales from Topographic Oceans (lançado pelo Yes também em 1973) e gravam na mente as palavras "sou o começo, sou o fim, sou o A e o Z numa pessoa só", o lema do grupo na época. Após passarmos pelo rock simples de "Rolling Stones" e a intrincada peça acústica de "Você Sabe", baseada explicitamente em linhas da Mahavishnu Orchestra, chegamos na segunda parte da suíte, a Maravilhosa "Hey Joe".

Sérgio Dias e Liminha, ao vivo em 1973,
durante o espetáculo
Mutantes com 2000 Watts de Rock

A mais longa das três mini-suítes começa com um dedilhado sombrio da guitarra de Sérgio, carregada de efeitos, em uma longa e bela introdução que nos coloca dentro da viagem musical que o Mutantes irá apresentar ao ouvinte. A voz adocicada de Sérgio surge ao mesmo tempo em que ele dedilha a guitarra, com intervenções do moog de Arnaldo e do baixo de Liminha, também carregado de distorção. Duas estrofes vocais explodem em uma série de vocalizações acompanhadas por rufadas de bateria e que novamente, nos levam para álbuns do Yes como Close to the Edge e o já citado Tales from Topographic Oceans. O trabalho vocal é fantástico, muito bem construído, e enquanto os instrumentos se sobrepôem, o trio Liminha, Arnaldo e Sérgio dá um show.

Uma breve passagem leva para o pesado riff de baixo e guitarra, trazendo o duelo vocal de Sérgio com o órgão de Arnaldo, e assim "Hey Joe" vai sendo construída, com mais uma variação surpreendente, agora com a guitarra de Sérgio acompanhada pelo órgão, em um novo riff que é repetido pelo baixo, responsável por resgatar o ritmo da canção.

Dinho faz batidas intrincadas enquanto Sérgio solta a voz sobre o riff de baixo, as viagens passagens do mellotron e o dedilhado da guitarra. Esse momento é fantástico e arrepiante. O que Sérgio canta é um absurdo, e as vocalizações ao fundo são emocionantes, arrancando lágrimas junto com as camadas de teclados, o pesado baixo de Liminha, bem na cara do ouvinte, e momentos instrumentais que fazem qualquer fã de Yes vibrar com o que está ouvindo.

A nossa Maravilha muda novamente, ganhando tons de apreensão com mais um novo dedilhado da guitarra, acompanhado pelo órgão assombroso de Arnaldo. Sérgio executa arrepiantes vocalizações, ganhando pontos até entre aqueles que nunca souberam valorizar sua capacidade vocal, e os minutos que se passam sob o comando tenso do órgão e do dedilhado da guitarra, com Liminha socando seu baixo em batidas precisas e pontuais, mescladas com percussões delirantes, só podem ter sido concebidas por gênios do rock progressivo.



Encarte de O A E O Z, devidamente autografado

"Hey Joe" modifica-se mais uma vez, surpreendendo novamente voltando para um ritmo mais ameno com o dedilhado da guitarra, o órgão de Arnaldo e as escalas de baixo e bateria supostamente inspiradas em "The Remembering" e "Ritual" (Yes). Sérgio canta com vocais duplicados, entoando o nome da canção, e o ritmo ameno, quase jazzístico, é mais uma prova de que os garotos aprenderam muito bem as lições de rock progressivo que tiveram com os britânicos.

Finalmente, "Hey Joe" encaminha-se para o final repetindo o lema "Todos juntos, reunidos, numa pessoa só", sobre um andamento simples dos quatro instrumentos, concluindo com uma breve passagem de baixo.

Logo na sequência, a suíte "O A E O Z" é encerrada com outra Maravilha musical, "Uma Pessoa Só", a mais curta das mini-suítes, com pouco mais de sete minutos de duração de uma canção que praticamente virou o apelido do álbum, já que sua letra é a mais forte dentre as três partes que apareceram no álbum, destacando a emocionante interpretação de Arnaldo, que inclusive registrou a sua versão para "Uma Pessoa Só" no já citado Lóki!?. O álbum encerra-se com o agito de "Ainda Vou Transar Com Você", último registro de uma formação inesquecível para o rock progressivo mundial.

Arnaldo na Cantareira
Vale resgatar que pouco antes das gravações de O A E O Z, os Mutantes apresentaram o espetáculo Mutantes com 2000 Watts de Rock, iniciado em 12 de janeiro de 1973 no Teatro Aquarius, em São Paulo. Era a primeira apresentação dos Mutantes sem Rita Lee, e nesse show, traziam instrumentos inéditos no Brasil como mellotron, Sitar, moog e clavinete, o grupo tinha a seu dispor uma máquina sonora do mesmo porte do que o Pink Floyd tinha durante a turnê de Dark Side of the Moon (1973), oferendo aos fãs os 2000 Watts de potência que o nome do espetáculo propagandeava. Esse show passou por diversas cidades do interior do país, e também em Porto Alegre, Florianópolis, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador, onde lotaram o Teatro Castro Alves com mais de cinco mil pessoas. O grupo começava a viver um auge progressivo no Brasil.

As influências para a mudança no som do Mutantes não foi somente por conta do rock progressivo britânico. Arnaldo, em uma de suas descidas da Serra da Cantareira, viu o ensaio de uma banda chamada Mescla, no bairro da Aclimação, em São Paulo. A Mescla era liderada por Bartô, um maluco que raspava lascas de ácido diretamente nos olhos. Esse grupo, mergulhado em ácido, fazia um som viajante, e eram muitos mais novos do que os Mutantes. Aquele tipo de som era o objetivo de Arnaldo, virando uma cobiça a posição de melhor banda do país, não só musicalmente, mas tecnicamente, e que espalhou-se aos demais, e culminou com Maravilhosas canções que apareceram em sequência por aqui.

Mutantes em 2012, nada progressivo

A E O Z foi lançado em CD e em uma tiragem limitadíssima de 700 cópias em vinil. Depois de seu lançamento, passaram quatorze anos de muitos boatos, ainda mais quando do lançamento de Tecnicolor, álbum gravado na Europa em 1970 com o quinteto Sérgio, Arnaldo, Rita, Dinho e Liminha, mas somente em 2006 os Mutantes voltaram à atividade com Sérgio, Arnaldo e Dinho acompanhados por Zélia Duncan, no inesquecível show no Barbican Theatre em Londres, e uma grandiosa excursão de retorno feita pelo Brasil e também Estados Unidos e Europa. Arnaldo e Zélia saíram pouco antes do lançamento de Haih ... or Amortecedor (2010), e Dinho ano passado, quando do lançamento de Fool Metal Jack, álbuns que resgatam um pouco do lado irônico dos Mutantes, que sobrevivem com uma formação muito diferente daquela que se consagrou como talvez a melhor banda de rock progressivo da América Latina.





Robert Plant - Lullaby and... The Ceaseless Roar [2014]

 



É fato que o ano de 2014, assim como 2013, vem trazendo diversas novidades no mercado fonográfico mundial. Além de bons grupos que surgem como promessas de grandes bandas, alguns medalhões voltaram para os estúdios, e saíram de lá com álbuns muito interessantes (Uriah HeepU2 ou Judas Priest) ou fracassos retumbantes (Yes Santana).

O caso de Robert Plant não está nem no primeiro e nem no segundo, mas em um patamar que é a curva divisória entre ambos. Afinal, seu mais recente álbum, Lullaby and... The Ceaseless Roar, apesar de não impressionar como nos tempos de outrora no Led Zeppelin, mantém em alta os mais recentes - nem tão recentes assim - álbuns do eterno ex-vocalista do Led Zeppelin (Dreamland, de 2002, e Mighty Arranger, de 2005), muito por conta da participação do grupo Strange Sensation, composto por John Baggott (teclados), Porl Thompson (guitarrras), Justin Adams (guitarras, Gimbri, Darbuka), Charlie Jones (baixo) e Clive Deamer (bateria, percussão) em Dreamland, e Adams, Deamer, Baggott, Billy Fuller (baixo) e Liam "Skin" Tyson (violão, guitarras, lap steel guitar, baixo) em Mighty Rearranger.

Billy Fuller, Dave Smith, Juldeh Camara, Robert Plant, John Baggott, Liam “Skin” Tyson e Justin Adams

Agora, Plant surge lançando seu décimo álbum acompanhado pela Strange Sensation rebatizada para  The Sensational Space Shifters, formada por Justin Adams (Bendirs, Djembe, guitarras, Thardant, background vocals), Liam "Skin" Tyson (banjo, guitarra, background vocals), John Baggott (teclados, loops, moog bass, piano, tabla, background vocals), Juldeh Camara (Kologo, Ritti, Fulani vocals), Billy Fuller (baixo, programações, omnichord, upright bass) e Dave Smith (bateria), sendo que o álbum (na versão em CD e Vinil) chegou às lojas mundias no último dia 08 de setembro.

Quem acompanhou os últimos discos solo, deparou-se com as experimentações africanas e orientais cada vez mais acentuadas nas composições de Plant, e aqui, elas aparecem com força na ótima faixa de abertura, "Little Maggie", a qual explora com maestria os toques animados da composição oriental com a música eletrônica, assim como sua irmã "Arbaden (Maggie's Babby)", faixa que encerra o álbum resgatando a letra de "Little Maggie", ou então na envolvente viagem de "Embrace Another Fall", com os instrumentos orientais cercados por densas camadas de sintetizadores, em um ambiente bastante denso, e uma arrepiante participação dos vocais de Julie Murphy.

Vinil

Plant apresenta a voz que o consagrou mundialmente nas suaves "Rainbow" e "House of Love", com a experiência de compor canções românticas e agradáveis para homens e mulheres, trazendo melodias que ficam na cabeça do ouvinte por dias, ou na Zeppeliana "Turn It Up", que resgata as experimentações de Plant com Jimmy Page (guitarrista do Led Zeppelin) realizadas em No Quarter (1994) e Walking into Clarksdale (1998), e ainda aproxima-se do pop romântico com "Somebody There", boa faixa para tocar nas rádios e sem experimentações muito expressivas.

Os que desejam viajar conduzidos pela música de Plant poderão fazê-los pelas estradas intrincadas de " Up on the Hollow Hill (Understanding Arthur)", com a guitarra de Adams sendo o principal instrumento entre a levada percussiva bastante pesada, ou com os dedos levantados e um sorriso no rosto na alegre "Poor Howard", inspirada em "Po' Howard", de Leadbelly, e que também possui seus momentos No Quartet, apresentando as vocalizações de Nicola Powell.

Encarte

Para quem gosta da fase Manic Nirvana (1990) e Fate of Nations (1993), "Pocketful Golden" certamente trará momentos de nostalgia, apesar da demasiada (mas não intolerante) inclusão de eletrônicos. Já os que apenas querem curtir um bom álbum, ficarão fascinados com a delicadeza emocional de "A Stolen Kiss", com Plant acompanhado apenas por um piano muito triste e intervenções da guitarra, nesta que talvez seja a canção mais dolorida de toda a carreira solo de Plant,

O que chama a atenção é que em todas as canções de Lullaby and... The Ceaseless Roar temos a participação de no mínimo quatro integrantes da Space Shifters, ao lado de Plant obviamente. A instrumentação é impecável, e após ouvir o disco, você fica com a sensação de que precisa ouvir de novo para capturar melhor as nuances escondidas nos belos arranjos, dos quais "House of Love", "Embrace Another Fall" e "A Stolen Kiss" são os pontos mais fortes, não tendo nenhum ponto negativo.

Capa interna

Plant, no alto de seus 66 anos, definiu o álbum como uma gravação para celebrar, poderosa, africana, em um encontro de Trance com Led Zeppelin. Não ouço muito de Led Zeppelin em Lullaby and ... The Ceaseless Roar, mas sim bastante do que Plant fez com Page em Walking into Clarksdale. Se o Led iria virar o que a dupla registrou naquele ano, isso não posso afirmar, mas o que está registrado no álbum aqui resenhado está como disse lá no início, muito longe de ser algo do nível dos trabalhos do Zeppelin de Chumbo, mas tão pouco um disco a ser desprezado. 

Aposto minhas fichas que com o passar dos anos, Lullaby and ... The Ceaseless Roar irá entrar nos Top 5's de Robert Plant facilmente, sendo que no contexto geral, é um álbum para ser ouvido e absorvido aos poucos. 

Contra-capa

Track list

1. Little Maggie
2. Rainbow
3. Pocketful of Golden
4. Embrace Another Fall
5. Turn It Up
6. A Stolen Kiss
7. Somebody There
8. Poor Howard
9. House of Love
10. Up on the Hollow Hill (Understanding Arthur)
11. Arbaden (Maggie's Babby)




Maravilhas do Mundo Prog: Cannabis India - Lapis [1973]

 



Quando falamos dos grandes power-trio do rock progressivo, certamente o primeiro nome que vem à mente do fã é o britânico Emerson Lake & Palmer, união de três gigantes em seus instrumentos (Keith Emerson, teclados, Greg Lake, baixo, vocais, e Carl Palmer, bateria) que mostrou ao mundo como fazer rock sem guitarras. A fama do ELP espalhou-se pelo mundo, e concebeu mais um gigante na Europa, mais precisamente na então Alemanha Ocidental. Ali, o Triumvirat do tecladista Jürgen Fritz atravessou a década de 70 com diversas mudanças na formação, mas sempre como um trio poderosíssimo, capaz de bater de frente com as obras Maravilhosas advindas da Terra da Rainha.

Quase na garagem ao lado, porém muito menos desconhecido, o Triumvirat tinha a companhia de outro belíssimo trio progressivo, relegado a obscuridade eterna por conta principalmente do nome adotado para a banda: Cannabis India.

O grupo surgiu em 1971, na pequena cidade de Wuppertal, mesmo local de um grupo que tornou-se cultuado entre os admiradores de krautrock, o obscuro Höderlin, através dos músicos Oliver Petry (órgão, vocais), Dirk Fleck (baixo) e Rüdiger Braune (bateria). Antes, eles faziam parte de um grupo concentrado em executar covers da British Invasion, o The Futures, cujo principal formador, Burckhard Eick, acabou tornando-se o empresário do Cannabis India. Vale ressaltar que Oliver tinha dezesseis anos quando o grupo nasceu, mas tinha uma longa história musical, estudando música clássica desde os sete anos de idade.

O grupo começou a fazer apresentações em diversas cidades da Europa, assim como virou atração em festivais espalhados pela Alemanha, abrindo para nomes hoje consagrados como Birth Opera, Earth and Fire, Fumble entre outros. Dois shows foram marcantes nesse período, o primeiro deles em Berlin, e outro no Wuppstock Festival, na cidade Natal dos garotos. Ambos os shows ocorreram em 1973, e foi graças a eles que surgiu o convite para as primeiras gravações em estúdio da banda.

As gravações ocorreram em 11 maio de 1973, no Südwestfunk Studios em Baden Baden, mas foram lançadas somente em 2009 pelo selo Long Hair, através da série SWF Session, que resgatou nomes obscuros como Jud's Gallery, Coupla Prog e Kollektiv. O nome da bolachinha: SWF Session 1973, uma peça exemplar para mostrar aos que querem conhecer o rock progressivo por que se fala tanto da união entre a música clássica com o rock, já que os dotes clássicos de Petry são exibidos constantemente nas quatro estonteantes faixas instrumentais da bolacha.

O álbum abre com "Hand of the King", potência sonora que une os melhores momentos e Emerson Lake & Palmer, Triumvirat e Atomic Rooster em uma única canção, com o diferencial sendo exatamente as belas escalas clássicas das teclas de Petry, um belíssimo músico infelizmente relegado à obscuridade eterna, se não fosse o advento da internet. Vale a pena citar o quão belos instrumentistas são Fleck e Braune, com o primeiro praticamente solando o tempo todo ao lado de Petry, e o segundo providenciando ritmos impecáveis e dançantes para as belezas sonoras criada pela dupla, nessa canção que tranquilamente poderia estar sendo resenhada por aqui. Porém, escolhi a canção que vem na sequência.

Contra-capa do álbum

"Lapis" surge com uma imponente sequência de notas de órgão e baixo, com a bateria estraçalhando, seguida por marcações que nos remetem rapidamente para "Tarkus" (Emerson Lake & Palmer), intercaladas por velozes escalas do órgão. As marcações vão diminuindo, e com a entrada do moog, começa o ritmo alucinante da canção, com Petry solando alucinadamente, enquanto Braune rufa endemoniado e Fleck faz as marcações no baixo como se fosse a base de uma orquestra.

A velocidade do solo de Petry é incrível, explorando escalas clássicas com uma habilidade comum apenas entre os gigantes do teclado prog, e chama bastante a atenção as batidas fortes da bateria. A canção ganha ritmo através das marcações de Braune, enquanto baixo e órgão dão seu espetáculo de duelos e momentos individuais, deixando o ouvinte exausto e satisfeito com toda a explosão musical.

Depois de três minutos com uma velocidade absurda, a bateria conduz o baixo para uma suave canção, na qual o órgão é o principal instrumento em um solo de arrancar lágrimas. O que Petry faz com o instrumento, utilizando escalas lentas, longos acordes e uma dose extra de emoção advinda da cozinha, causa uma comoção até em estátuas, fazendo o aparelho de CD banhar-se em lágrimas, e gradualmente, o ritmo vai retornando através das velozes escalas de Petry, enquanto a cozinha Braune / Fleck mantém uma marcação constante e dançante.

Passagens entre os três instrumentos fazendo as mesmas batidas concluem esse momento, levando a segunda metade da nossa Maravilha, aberta por um belo solo clássico do órgão, transportando o ouvinte para um Igreja Medieval, e ganhando mais emoção com o retorno de baixo e bateria, que fazem um crescendo único para o órgão poder ser explorado sem piedade, ora com notas curtas, ora com acordes longos, ora atacado por notas velozes, ora com apenas a mão sendo sentada sem piedade nas teclas. Prepare o lenço, por que "Lapis" certamente já está fazendo até as paredes chorarem nesse momento.

Finalmente, breves segundos de silêncio estouram no baixo muito veloz, seguido pelo ritmo jazzístico da bateria. O órgão repete a velocidade e as notas do baixo, e então simplesmente Petry destrói as teclas com acordes longos, agudos e arrepiantes, enquanto a bateria pega fogo em um ritmo jazzy. A escala do baixo é repetida por diversas vezes, e a pauleira come solta, cada músico ganhando destaque em separado, e então, os três músicos voltam para o início da canção, com mais marcações que nos remetem facilmente para Emerson Lake & Palmer, mas com momentos bastante intrincados, na qual Braune é o polvo de dezesseis tentáculos (e não oito) tamanha a fúria e velocidade de suas batidas em pratos, tons e bumbo.

Petry faz uma velocíssima escala no órgão, e com muito barulhos em acordes arrepiantes, leva "Lapis" ao encerramento junto das marcações de baixo e bateria, concluindo essa Maravilhosa peça de doze minutos com um longo e assombroso acorde de órgão, e muito barulho por parte de baixo e bateria. De tirar o fôlego!

Encarte de SWF Sessions 1973, com breve história do Cannabis India em alemão

"Revolver" é uma canção mais alegre, na qual o órgão parece cantar, e Petry abusa de escalas clássicas acompanhado pela impressionante velocidade das batidas de Braune e da marcação perfeita de Fleck. Essas mesmas linhas clássicas são ressaltadas na linda versão para a "Nona Sinfonia" de Beethoven, obviamente intitulada "Beethoven's 9th", e concentrada especialmente na magistral, e por que não Maravilhosa, interpretação de Petry, tendo a fiel e fundamental participação da cozinha Braune / Fleck.

Depois das gravações, o Cannabis India ganhou um guitarrista, Martin Köhmstedt, ex-integrante do grupo Solomon Jackdaw, mas não demorou muito tempo no seu posto, já que logo no início de 1974, o Cannabis India separou-se. Petry acabou fundando o grupo Universe, ao lado de ex-membros do Solomon Jackdaw, Detlev Dalitz (baixo), Bernd Frielingsdorf (bateria) e Detlev Krause (guitarras), os quais fizeram um breve registro que entrou como bônus de SWF Sessions 1973, as faixas "Mirror" e "The Hunt", ambas mais acessíveis, porém mantendo a potência progressiva das cinco canções anteriores, com belas passagens clássicas seja no órgão ou na guitarra, e destacando uma maior presença do moog ao lado do órgão na primeira, e os vocais Gillanianos (além do moog) de Petry na segunda.

Os três álbuns do grupo Gate

Martin acabou ingressando no grupo Gate, onde registrou três álbuns: Live (1977), Red Light Sister (1977) e Well Done (1980). Os membros da Cannabis India voltaram a tocar juntos anos depois, em um projeto chamado Fritz Mueller Band, o qual fez diversas apresentações abrindo para Neu! e Kraftwerk no final dos anos 70, e gravou o álbum Kommt, trazendo um som que mistura punk com psicodelia, longe dos tempos áureos do progressivo de SWF Sessions. 

Braune tocou com o grupo The Ramblers, formando o Kowalski na década de 80, grupo pelo qual registrou dois álbuns: Schlagende Wetter (1982) e Over Man Underground, versão inglesa de Schlagende Wetter, lançada em 1983, ambos pelo selo Virgin. Dirk fundou o grupo Mama, enquanto Petry tornou-se vocalista do Empire, registrando apenas um álbum em 1981, e hoje vive como empresário e webdesigner. 

Quanto ao Cannabis India, sobrou a missão para os caçadores de preciosidades buscar essa relíquia chapante, de uma banda que podia ter sido uma das maiores do prog alemão, mas o destino infelizmente não quis dessa forma.






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