sábado, 6 de janeiro de 2024

45 músicas para entrar no clima do Jazz Rock


 Dentre as diferentes vertentes do Jazz, talvez a que obteve uma, muitas vezes injusta, pecha de “patinho feio” no estilo foi o relacionado ao Jazz Rock/ Fusion, consolidada na segunda metade dos anos 1960 e até agora com grupos e artistas oferecendo trabalhos de boa qualidade.

Vendo hoje, com discos como Bitches Brew, de Miles Davis, considerados peças fundamentais para a renovação do jazz, e gêneros como o hip hop e o rock alternativo/indie não escondendo sua admiração ao fusion, parece um pouco estranho indicar essa rejeição.

Porém, durante décadas, músicos e bandas da cena, apesar do sucesso comercial, sofreram pesadas críticas da imprensa especializada, que acusava, sem meias palavras, do estilo ter desvirtuado o que foi o “verdadeiro” jazz (um exemplo dessa abordagem pode ser visualizado na monumental série Jazz, produzida por Ken Burns em 2001, que além de dedicar muito pouco espaço ao fusion, não esconde críticas ao subestilo). Cita-se que também no rock esse estilo de jazz também teve dificuldade de aceitação, onde, em um primeiro momento, somente a soul/black music e o rock progressivo estavam de braços abertos ao gênero nos anos 1970.

O tempo passou, a cena foi revisitada e analisada em diferentes obras, e o respeito e consideração do gênero, ambígua no início, finalmente foi consolidada. A “heresia” em unir o jazz com elementos do rock e pop foi reconsiderada, e os acertos apresentados pelo estilo foram e estão sendo reapresentados tanto pela crítica quanto público.

A presente lista pretende contar um pouco da história do jazz rock/fusion, entre a segunda metade dos anos 1960 até o fim dos anos 1970, apresentando 45 músicas que representam o melhor oferecido pelo gênero.  O espaço temporal justifica-se por mostrar as origens, o ápice e posterior desmembramento do fusion em outras vertentes, e evitar uma lista muito extensa. Essa delimitação implicou em algumas omissões, indo de músicos como Christian McBrideGreg HoweJohn ZornBill FrisellVictor Wooten e Allan Holdsworth, além de bandas como Planet XCAB,  Liquid Trio Experiment, e Tribal Tech, incluindo as experiências ligadas ao metal extremo (PestilenceAtheistCynic e Meshuggah), e estilos como M-baseAcid JazzPunk Jazz e Jazzcore, mas que não comprometem a quem quer conhecer o estilo em seus primórdios, a quem essa lista é dedicada.

A playlist completa pode ser visualizada aqui.

Origens

Apenas recentemente a discussão sobre as origens do Fusion ganharam contornos mais aprofundados. No âmbito do Jazz, que já sofria com propostas mais vanguardistas desde o início da década de 1960 como, por exemplo, no free jazz, alguns músicos mostraram simpatia  não somente com o rock (em especial Beatles), mas também com os primeiros experimentos ligados a psicodelia entre 1965-66. Há um consenso em indicar os músicos Larry CoryelGary Burton e Charles Lloyd como os primeiros jazzistas a incluírem elementos do rock em sua sonoridade. Os resultados, no geral, mostram-se embrionários, mas serviram de base para a consolidação do Jazz Rock no final dos anos 1960.

1. The Free Spirits –I’m Gonna be Free (1966)


Considerado o “marco zero” da junção entre o rock e o jazz, o grupo, de curta duração (1965-1967), liderado por Larry Coryel, fazia uma intensa mistura, indo do pop rock ao blues, do jazz a elementos orientais. O resultado por vezes mostra-se irregular, mas a faixa acima indica que também houveram bons momentos.

2. Larry Coryel e Gary Burton – General Mood (1967)


Dois dos principais nomes de consolidação do jazz rock ao vivo, onde é interessante perceber o cuidado da inclusão de instrumentos elétricos, mas a manutenção de elementos tradicionais na performance.

3. Fourth Way - The Sun And Moon Have Come Together (1968)


Além de Burton, Lloyd e Coryel, outros grupos também tiveram importância na consolidação do jazz rock no fim dos anos 1960. Entre essas bandas citam-se, por exemplo, o quinteto de John Handy, os conjuntos Dreams (liderado por Michael Brecker e Randy Brecker), Jeremy and The Satyrs (liderado por Jeremy Steig) e, minha favorita entre os pioneiros, Forth Way (liderada por Mike Nock). Os grupos, apesar da importância, sofreram com lançamentos problemáticos na época, o que prejudicaram sua divulgação. The Sun And Moon Have Come Together foi um bom exemplo desses problemas. Lançado em dezembro de 1968, somente obteve uma edição decente dois anos depois, felizmente presenteada também com uma excelente edição remasterizada em 2015, fazendo jus a um dos discos que melhor captou a fase inicial do Fusion.

Consolidação - Miles Davis

Cabe ao mestre Miles o papel de consolidador do jazz rock no fim dos anos 1960. Sua entrada num viés mais “roqueiro” em sua música foi gradativo, por um lado curioso com a psicodelia, o soul de James Brown e Sly and the Family Stone e experimentos da música vanguardista, incluindo-as, aos poucos, em seus discos; e, por outro, influenciado pela namorada Betty Davis (ativista e cantora) e por vínculos com músicos como Carlos Santana e Jimi Hendrix. Em  1969 essa transição consolidava-se, e Miles seguiria pelo Jazz rock, com recepção muitas vezes mista de público e crítica, até sua morte, em 1991.    

4. Miles Davis – In a Silent Way/ It’s About That time (1969)

Miles in the Sky e Filles de Kilimanjaro foram os ensaios para a entrada de Miles ao Fusion, e In a Silent Way, de forma suave e melodiosa, seu definitivo passo musical para o estilo.

5. Miles Davis – Miles runs the voodoo down (1970)


Minha faixa favorita do grande Bitches Brew.

6. Miles Davis – On The Corner (1972)


Em 1972, Miles resolveu unir o funk com experimentos sonoros, influenciados principalmente por Stockhausen, ideia essa que lhe rendeu críticas negativas na época, mas que o tempo deu ao trabalho a devida importância.

7. Miles Davis – Ife (1973)


Entre 1973-75, Miles continuou suas experimentações, lapidando-as ao vivo (registrado nos discos AghartaPangea e Dark Magus) com uma boa banda de apoio (Michael HendersonAl FosterPete CoseyJames Mtume , David Liebman e Reggie Lucas) , numa longa, e tortuosa, excursão (que chegou a passar no Rio de Janeiro e Sampa em 1974). Cada vez mais entregue à cocaína, heroína e morfina, Miles saiu de cena em agosto de 1975 e voltou apenas seis anos depois. A faixa acima é um dos bons momentos dessa fase do trompetista.

Consolidação - Frank Zappa

Multi-instrumentista, excêntrico, produtivo, politizado, eclético, precursor do rock experimental, com uma carreira profícua e multifacetada, não há como negar sua importância ao Fusion, sendo uma espécie de “pai roqueiro” do mesmo, ajudando-o na sua gestação.   

8. Frank Zappa - Son of Mr Green Genes (1969)


Um dos melhores momentos do álbum Hot Rats, onde o músico incorpora o jazz em sua sonoridade. Antes desse trabalho (com seu grupo de apoio Mothers of invention), rolavam apenas flertes com o estilo.     

9. Frank Zappa – Waka / Jawaka (1972)


Última faixa do disco homônimo, e talvez um dos momentos mais jazzísticos de Zappa.

“Santíssima trindade”

A partir de 1970, alguns músicos colaboradores de Miles Davis- Chick CoreaJohn McLaughlinWayne Shorter e Joe Zawinul – resolveram investir no Fusion a partir da criação de bandas que, de várias maneiras, expandiram os horizontes do estilo e consolidaram o sucesso comercial e (em menor medida) artístico do mesmo. Três grupos oriundos dessa época tornaram-se, com justiça, referência para o jazz rock setentista, e influenciaram uma geração de músicos nas décadas seguintes.

10. Mahavishnu Orchestra – Meeting of the Spirits (1971)


Faixa de abertura do primeiro disco da banda, um senhor “cartão de visita” oferecido por McLaughlin e companhia.

11. Mahavishnu Orchestra - Eternity's Breath Partes 1 e 2 (1975)


Ótimo momento de uma fase já não tão inspirada do Mahavishnu (representado pelos discos Visions of the Emerald Beyond e Inner Worlds).

12. Chick Corea/Return to Forever – Return to Forever (1972)


Podendo ser considerado tanto um trabalho solo de Corea quanto o início do Return to forever, a faixa, com feras como Flora PurimStanley Clarke e Airto Moreira, apresenta arranjos de alto nível e uma eficiente mistura de estilos.

13. Return to Forever – Medieval Overture (1976)


Um dos grandes momentos da formação clássica da banda (Chick corea, Stanley Clarke, Al di Meola e Lenny White).

14. Wheater Report – Birdland (1977)



Zawinul, querendo homenagear o clube de jazz nova-iorquino Birdland, acabou compondo um dos “hinos” do Fusion, e talvez a música mais conhecida do Wheater.  

15. Wheater Report – Teen Town (1977)



O grupo, entre 1976-82, firmou sua reputação nas apresentações ao vivo, que lhe rendeu um público fiel e boa recepção da crítica.  

Contribuições solos

Além dos “supergrupos”, vários músicos seguiram por profícuas carreiras solos durante a década de 1970, expandindo o leque de opções ao Fusion.   

16. The Tony Williams Lifetime- Emergency (1969)


Logo após a dissolução do segundo quinteto de Miles Davis, ao qual fazia parte, o baterista Tony Williams resolveu organizar um projeto, unindo originalmente o guitarrista John McLaughlin e o tecladista Larry Young. Emergency, primeiro disco do projeto, não é somente um importante trabalho de consolidação do Fusion, mas um dos álbuns mais intensos do estilo.    

17. Santana – Soul Sacrifice (1969)

Carlos Santana, guitarrista mexicano-americano, uniu o rock com o jazz, blues e elementos latinos, criando um diferencial que marcou sua carreira por décadas. A faixa acima, do primeiro disco de sua banda Santana, evidencia a potencialidade dessa mistura.  

18. Carlos Santana e John McLaughlin – Let Us Go Into the House of the Lord (1973)


Dois grandes guitarristas expondo seu talento e virtuosismo nessa bela suíte.

19. Billy Cobham – Spectrum (1973)


Profícuo baterista, o panamenho Cobham oferece em Spectrum um pouco de sua versatilidade.  

20. Herbie Hancock – Chameleon (1973)


Escolha óbvia, mas como ignorar o melhor momento de Hancock em estúdio? (Que Cantaloupe Island, Watermelon Man e Rockit não me ouçam)

21. Jeff Beck - Scatterbrain (1975)


Com ótima orquestração do produtor George Martin e suporte dos músicos Max Middleton , Phil Chen e Richard Bailey, Beck mostra porque é considerado um dos maiores guitarristas da história do rock.

22. Stanley Clarke – School Days (1976)


Dois grandes baixistas em um de seus melhores momentos em estúdio. De um lado Stanley Clarke (Return to Forever) ...

23. Jaco Pastorius – Kuru/ Speak Like a Child (1976)


...e de outro, Jaco Pastorious, recrutado para o Wheater Report na época em que a faixa em questão foi lançada.

24. Jean Luc Ponty – Enigmatic Ocean (1977)


Um dos grandes momentos em estúdio do violinista francês.

25. Al Di Meola - Mediterranean Sundance (1978)


O guitarrista em um belo dueto de violão com o virtuoso Paco de Lucia.

26. Pat Metheny Group - April Wind/April Joy (1978)


Do terceiro, e para muitos o melhor, disco do guitarrista, a faixa mostra toda a versatilidade de Metheny e seu grupo de apoio.

Canterbury

Uma cena importante para o Fusion, nem sempre lembrada, é a da cidade inglesa de Canterbury. De estrutura universitária, a cidade foi um importante polo cultural na segunda metade dos anos 1960, rendendo bandas e artistas que, partindo de experimentações e do psicodelismo, seguiram para o jazz rock na década seguinte.   Apesar de seu papel ser muito relacionado a consolidação do Rock progressivo (com certa razão, pois músicos como Steve HillageRobert WyattMike OldfieldFred Frith e Daevid Allen foram oriundos ou tiveram relação com a cena), a contribuição desse cenário para o jazz rock não deve ser subestimada.

27. Caravan – The love in your eyes (1972)


Faixa que engloba elementos de todas as fases da banda, indo da psicodelia dos primeiros discos (entre 1968-1970), caindo para o jazz rock (1971-1974) e até um pouco pop rock (que seria a principal sonoridade do grupo entre 1976-1982).  

28. Soft Machine – Harzard Profile (1975)


Grupo ícone da cena, o Soft Machine ofereceu alternativas tanto a psicodelia, rock progressivo quanto ao jazz rock. A faixa acima é último grande momento do grupo em estúdio.

29. National Heath – Dreams Wide Awake (1978)


Surgido em 1975, o National ofereceu uma sobrevida as propostas oferecidas pela cena Canterbury.

Contribuições progressivas

O rock progressivo também ofereceu boas contribuições, correndo em paralelo com o jazz rock, e por vezes mantendo relações mais aprofundadas com o gênero. Mesmo não obtendo resultados tão expressivos quanto da tríade Mahavishnu-Return-Wheater, houveram trabalhos e contribuições de qualidade oferecidas pelo gênero.

30. King Crimson – Fracture (1974)


Em 1972, o líder do Crimson, Robert Fripp, numa ousada atitude, reformulou abruptamente o grupo, incluindo o baterista Bill Bruford, o baixista e vocalista John Wetton, e o Violinista David Cross (além do percussionista Jamie Muir, que ficou poucos meses na banda), com uma sonoridade que caia para o experimentalismo e o jazz rock. Apesar dos resultados em estúdio, segundo palavras do próprio Fripp, irregulares, ao vivo, essa formação, que vigorou até julho de 1974, mostrou coesão e peso, considerada por muitos fãs (eu incluso) a melhor encarnação do KC ao vivo. A faixa citada é um dos bons momentos dessa fase.

31. Gong – Cat in Clark’s Shoes (1975)


Apesar de oriundo de Canterbury, a banda abraçou, em décadas de carreira, diferentes propostas musicais, capitaneada em vários momentos pela liderança de Daevid Allen e com o músico brasileiro Fabio Golfetti em suas últimas formações. A canção acima é um dos melhores momentos da fase “fusion” da banda (entre 1975-1980), liderada pelo percussionista Pierre Moerlen.

32. Area - L'elefante bianco (1975)


O rock progressivo italiano também ofereceu boas contribuições ao Fusion. Junto com o Picchio dal Pozzo (que seguiu por uma carreira instável), o Area, seja pelo instrumental dos músicos Paolo Tofani, Ares Tavolazzi e Patrizio Fariselli, seja pelas letras politizadas do vocalista Demetrio Stratos, foi talvez o grupo italiano que melhor contribuiu para a inclusão de elementos do jazz rock no progressivo.  

33. Brand X –  Born Ugly (1976)


Conciso projeto de fusion, com destaque para o baixo de Percy Jones, a guitarra de John Godsall e, principalmente, a bateria de Phil Collins, dividindo na época suas baquetas com o Genesis.

34. Bil Bruford – One of a Kind (1978)


Um dos melhores bateristas progressivos (ex-yes e ex-king crimson) mostrando uma eficiente pegada jazzística em sua empreitada solo.

Do jazz rock ao “rock jazz”

Se o jazz assimilava o rock em sua música desde 1966, a recíproca era verdadeira. Cream, Grateful Dead, Jimi Hendrix, Pink Floyd e vários outros incluíam elementos jazzísticos ou longas improvisações, sejam em faixas de estúdio ou em apresentações ao vivo. Mas, no geral, essas inclusões eram apenas flertes, não chegando a uma mistura ou junção de estilos.

Porém, alguns grupos deram um passo a mais e tiveram bons resultados, onde elementos jazzísticos foram assimilados de forma eficiente em sua música. Depois de boa aceitação na década de 1970, alguns desses grupos sofreram críticas por serem responsáveis por uma guinada do Jazz a uma sonoridade pop (ou “jazz de elevador”), que vigoraria nas décadas de 1980 e 1990 (injusto, pois até Miles Davis, de forma constante, aderiu a inclusão de elementos do pop rock em sua música nesse período).  

35. Blood, Sweat and Tears – God Bless the Child (1968)


Do segundo disco de estúdio da banda (número 1 nos EUA quando lançado), a bela versão da música de Billie holliday reflete um pouco do potencial do mais jazzístico grupo psicodélico.  

36. Chigaco –Beginnings (1969)


Com uma carreira longa e recheada de hits nos EUA, o grupo, liderado por Robert Lamm, passeou com tranquilidade pelo Jazz, folk e pop, o que lhes garantiu o lugar de um dos consolidadores do jazz rock. Beginnings, de seu disco de estreia, mostra bem a versatilidade da banda (com direito a pitadas latinas no final da faixa).    

37. Steely Dan – Do it Again (1972)



Talvez o grande hit da banda centrada na dupla Walter Becker e Donald Fagen.

38. Dixie Dregs – Odyssey (1978)


Liderado pelo futuro guitarrista do Deep Purple Steve Morse, a banda realizou uma eficiente mistura de jazz, hard/ southern rock, bluegrass e progressivo, visualizada na faixa citada.

39. Passport – Ataraxia (1978)


Um dos “filhotes” bem-sucedidos do Fusion foi o Smooth jazz, com considerável sucesso comercial a partir dos anos 1980, representado por músicos como George Benson, Kenny G e David Sanborn, unindo o jazz com elementos do easy listening e pop. Dois grupos são considerados precursores desse estilo. O primeiro foi o Passport, banda liderada pelo saxofonista Klaus Doldinger, em trabalhos a partir da segunda metade dos anos 1970...

40. Spyro Gyra – Morning Dance (1979)


...mas, principalmente, o Spyro Gyra, com a música acima considerada um dos “marcos zero” do smooth jazz.

“Menções honrosas” - Brasil

A cena de jazz no Brasil merece uma lista própria, ponto. Cito aqui alguns dos nomes que ajudaram a consolidar o jazz rock, ou pelo menos um jazz mais misturado, com um tempero tipicamente brasileiro, nos anos 1970.

(Som imaginário, citado aqui, ficou de fora).   

41. João Donato – The Frog/ A Rã (1970)


Faixa do disco A Bad Donato, gravado nos Estados Unidos, não somente um dos melhores momentos de Donato em estúdio, mas um dos discos de jazz rock brasileiros mais ecléticos, indo do funk aos sons afro-caribenhos.

42. Eumir Deodato - Also sprach Zarathustra (1973)


Excelente releitura da obra de Richard Strauss, que rendeu ao talentoso Deodato um Grammy e (ainda mais) reconhecimento internacional a sua obra.

43. Airto Moreira – Tombo in 7/4 (1973)


Um samba com aquela pitada jazzística, somada a arranjos sofisticados típicos do percussionista.

44. Hermeto Pascoal – Maturi / Quebrando tudo (1979)


Jazz rock? Jazz experimental? MPB experimental? MPB forró jazz? Difícil rotular o som do versátil Hermeto (que chegou a tocar com Miles Davis e com uma profícua carreira desde os anos 1960). Melhor apreciar sua música.

45. Egberto Gismonti – Palhaço (1979)


Egberto é outro profícuo músico de difícil classificação, mas que não tira a qualidade de décadas de bons serviços prestados a MPB e o jazz. Acima minha faixa favorita do grande instrumentista.



10 bandas de rock brasileiras que valem o play

 Não é raro ouvirmos lamentações cotidianas sobre a qualidade da música nos dias de hoje. Alguns apontam os cinco dedos de cada mão, julgando Justin Bieber, Restart ou Lady Gaga pela vida, alegando que o mundo está perdido e os artistas não têm talento.

É compreensível que estejamos ocupados no nosso cotidiano e, por isso, não tenhamos tempo para garimpar o que há de melhor por aí. Portanto, pensando nisso, resolvi me dar ao trabalho de ouvir diversas sugestões da equipe PdH e fazer uma triagem entre as dicas que surgiram.

Antes de irmos direto ao ponto, gostaria de explicar o critério com o qual as bandas foram escolhidas. Em primeiro lugar, excluí logo de antemão as bandas mais famosas, que já fizeram história e estão no bê-a-bá do rock' n roll nacional e foquei em bandas mais recentes, ainda em atividade. A ideia é dar um panorama do que é o rock brasileiro nos dias de hoje.

A ordem na qual listei as bandas não reflete qualquer tipo de hierarquia. Também não está em ordem alfabética, de idade ou qualquer coisa assim. Apenas imagine como se fosse uma playlist e divirta-se.

Macaco Bong

A banda é formada por três caras de Cuiabá-MT e está em atividade desde 2004. Tocam um instrumental com peso e criatividade numa mistura de elementos de progressivo, fusion, jazz, pop e rock, só pra citar algumas coisas. Músicos muito técnicos destilando bastante habilidade em composições com montagens bem interessantes que às vezes nos deixam perguntando onde tudo isso vai terminar.

Achei fenomenal o fato deles utilizarem de rigor técnico para compor músicas complexas, porém bem simples de serem digeridas. Recomendado para fãs de rock progressivo e fusion com uma boa dose de distorção e peso.

Los Porongas

Los Porongas têm o mérito de trazer o nome do Acre ao cenário da música. Trazem um som bem imersivo com letras e melodias muito bem construídas. É o tipo de coisa que você ouve várias vezes no dia.

Madame Saatan

Dê o play. Veja essa mulher cantando e observe-a chutar as bolas do James Hetfield sem descer do salto. Madame Saatan é uma banda paraense, formada em 2003, com um estilo de heavy metal bem moderno misturando punk rock, thrash metal e diversos elementos musicais característicos do Pará.

Eles devem lançar um novo disco muito em breve. Vale a pena ouvir o primeiro album e já ficar preparado pro segundo.

Pata de Elefante

Essa música é de tirar o fôlego e foi o que me fez colocar esta banda na lista. Simplesmente animal a pegada e a maneira como eles a conduzem até o final, sem deixar a peteca cair e sem se tornarem maçantes. Esta é uma habilidade valiosa, principalmente em bandas instrumentais.

Pata de Elefante é de Porto Alegre-RS. Lançou o primeiro disco em 2004. De lá pra cá, lançou mais dois. Não me arrependi nada em conhecer o material desses caras.

Apanhador Só

Outra de Porto Alegre, também muito boa. Possui influências de MPB e pop rock brasileiro. Há alguma coisa de bom-humor e nonsense nas letras que geram um diferencial. Essa música, "Um rei e o Zé", tem uma pegada melódica que lembra bastante os Los Hermanos

Velhas Virgens



Minha proposta inicial era dar preferência a bandas mais recentes, mas não dá pra excluir Velhas Virgens. A banda conta com um repertório que passa pelo blues e rock com o que há de melhor na vida: mulher e cerveja.

As letras mais engraçadas e sacanas que já ouvi são deles.

Canastra

Já começou bem pelo nome. Se não fosse o bastante, fazem um estilo de rock'n roll que passa pela surf music, rockabilly e country. Charme é pouco pra definir o som tocado, inclusive, com um contrabaixo acústico e trompete.

Mombojó

Essa banda me intriga bastante pelo simples fato de não saber muito bem onde enquadrá-la. Considero isso fantástico! O som deles passa por MPB, pop e, claro, o rock. Gosto bastante da produção com pequenos elementos eletrônicos misturados às vozes e instrumentais. É um som marcante com sotaque pernambucano que adiciona um bom tempero.

Rock Rocket

Para uma boa banda de rock não pode faltar aquilo que chamam de "Espírito Rock'n Roll". O Rock Rocket incorpora isso de uma maneira exagerada e muito divertida. É como se pegassem a energia de um Jerry Lee Lewis e acelerassem, adicionando uma pegada punk.

As temáticas escrachadas adicionam um toque de humor que tornam esta uma ótima banda para se ouvir tomando uma cerveja com os amigos.

Matanza

Matanza não podia faltar nessa lista. A banda carioca faz um hardcore misturado ao country cheio de marra que dispensa comentários. O vocalista gigantesco e mal encarado Jimmy London é um figuraça.

Algumas músicas são hinos. "Clube dos Canalhas" faz qualquer um sair coçando o saco e cuspindo no chão, como se fosse o próprio Clint Eastwood.



Como seria Get Lucky do Daft Punk em outras décadas?

 Apesar de todas as críticas, que vão desde o velho "não surpreendeu" até o "deveria ser mais dançante", o álbum Random Access Memories do Daft Punk acabou se tornando pra mim um daqueles discos para se ouvir do início ao fim. Bastante. Todos os dias.

Recheado de referências mais tradicionais e fazendo um movimento de volta às raízes, com diversas faixas que soam mais progressivas, soft rock, setentistas, o disco trouxe como primeiro single a música Get Lucky, que representa muito bem o conjunto da obra.

Se ainda não ouviu, aqui vai:


Agora, a enorme gama de referências e timbres que remetem a várias épocas desde os anos setenta parecem ter inspirado um remix pelo menos curioso.

Ouça Get Lucky em versões com estética dos anos 20, 30, 40, 50, 60, 70, 80, 90, 2000, 2010 e até uma projeção do que viria a ser ela em 2020.

Bem legal.


Destaque

Anna Calvi – Anna Calvi (2011)

Anna Calvi (Londres, 1982) é uma cantora e compositora ítalo-britânica. Ganhou fama através da participação na pesquisa "Sound of 2011...