sábado, 3 de fevereiro de 2024

Inocentes - Cidade Solidão [2019]

 




“Estamos aqui para revolucionar a música popular brasileira, para pintar de negro a Asa Branca, atrasar o Trem das Onze, pisar sobre as flores de Geraldo Vandré e fazer da Amélia uma mulher qualquer”, escreveu Clemente Nascimento em 1982, um ano depois da formação do Inocentes, grupo de performance poderosa e um dos porta-vozes do movimento punk no Brasil. O anúncio era o que estava por vir no primeiro EP, “Miséria e Fome” (1983), e de lá para cá, o Inocentes acumulou na bagagem, além da experiência de banda veterana no cenário musical, uma extensa discografia. Na última sexta-feira (12), a banda divulgou um novo EP, intitulado “Cidade Solidão”, que segundo o vocalista e guitarrista Clemente Nascimento, “olha para o passado como inspiração para seguir em frente. É uma atualização do que seria feito no começo da carreira, com a mesma energia e criatividade, trazendo elementos novos sem se distanciar das raízes”.

Lançado pela gravadora paulista Hearts Bleed Blue (HBB) em vinil 7 polegadas para comemorar o Record Store Day de 2019, o EP conta com as faixas “Donos das Ruas”, “Fortalece” e “Cidade Solidão”, além da regravação do clássico “Escombros”, lançado originalmente no álbum “Ruas”. “Na época em que ‘Escombros’ foi gravada, em 1996, a banda não tinha a rodagem que tem hoje. Agora conseguimos registrá-la da maneira que queríamos e o resultado ficou ótimo, a música ganhou vida novamente”, conta Clemente. O EP está disponível também nas principais plataformas digitais, e neste formato ele ganha ainda a faixa bônus "Terceira Guerra", um cover da banda paulista Fogo Cruzado.

“Cidade Solidão” foi produzido por Wagner Bernardes e tem a capa assinada por Antônio Augusto, que também traz um resgate do passado. “A arte foi feita com o mesmo espírito dos compactos punks que comprávamos em 1977”, revela Clemente.









Catalau [1997]

 



1. Grande Espetáculo da Terra
(Catalau)
2. Dia Após Dia
(Catalau)
3. Mago dos Sons
(Catalau)
4. Natureza Sul
(Catalau)
5. Xangai
(Lanny Gordin)
6. O Pássaro
(Lanny Gordin, Catalau)
7. Carta de Amor
(Catalau)
8. Alma Selvagem
(Catalau)
9.  Página Doze
(Catalau)
10. Valeu Deus
(Catalau)
11. Vadio Rebelde
(Catalau, Luciano Mazzeo, Caio Doyone)
12. Desconto
(Catalau)
13. Vinho e Queijo
(Catalau)
14. Casa de Rock
(Catalau, Netinho, Pisca)
15. Provérbios Destorcidos
(Catalau)
16. Return To Zero
(Catalau










Dom Um Romão - Dom Um [1964]

 



O disco solo de estreia do baterista brasileiro que passeou por diversos elementos jazzísticos

No caso de não conhecer, deixe-me que lhe apresente resumidamente Dom Um Romão: no final dos anos 1940, ele foi contratado para ser baterista em orquestras de dança pela Rádio Tupi e formou, em 1955, o Copa Trio no lendário Beco das Garrafas, no Rio de Janeiro.

Pouco tempo depois ele ajudou a formatar a sonoridade do instrumento na bossa nova no inaugural Canção do Amor Demais (1958), de Elizeth Cardoso, que tinha violões de João Gilberto e composições de Tom Jobim e Vinicius de Moraes.

As coisas foram acontecendo com turbulência naquele período. Ele conheceu Sérgio Mendes e foi convidado para tocar fora dos palcos brasileiros pela primeira vez com o Sexteto Bossa Rio, no Uruguai; em 1962, com o Bossa Rio, participou do Festival de Bossa Nova, realizado no Carnegie Hall (Nova York), além de tocar no disco do saxofonista Cannonball Adderley: Cannonball’s Bossa Nova (1962).

No ano seguinte ele voltou ao Brasil e reformulou o Copa Trio ao lado do pianista Dom Salvador e o baixista Miguel Gusmão. Tocou no disco de estreia de Jorge Ben, Samba Esquema Novo (1963), pavimentando um caminho que depois seria seguido pelo também baterista João Parahyba.

O primeiro disco solo de Dom Um Romão somente foi gravado em 1964. Praticamente todo instrumental (com exceção de “Consolação”, composição de Baden Powell e Vinicius de Moraes cantada por José Delphino Filho), Dom Um traz 12 temas de autoria de renomados compositores em arranjos pra lá de sofisticados.

O toque de brasilidade, perceptível em todas as faixas, tem a bossa nova como contexto, mas abraça um pluralismo de referências estéticas que deram uma prévia da interessante trajetória que Dom Um Romão teria pela frente. Provavelmente ele deve ter escutado bastante Moacir Santos (cortesia dos trombones de Macaxeira e Edson Maciel) e Dave Brubeck antes de trazer aos estúdios versões para “Jangal” (Orlandivo, Rubens Bassini) ou “Africa” (Waltel Branco).

O samba se faz presente em diferentes estados emocionais em Dom Um. Aparece nostálgico como nos tempos de Noel Rosa em “Samba Nagô” (João Mello, Marso Vanarro), melancólico e reflexivo em “Diz Que Fui Por Aí” (de (H. Rocha, Zé Keti, famosa na voz de Luiz Melodia) e belamente orquestrado em “Birimbau (Capoeira)”, de João Mello e Clodoaldo Brito.

Por ser disco de um baterista, alguns desavisados podem achar que o instrumento toma as dianteiras nos temas. Não é bem isso que acontece. Dom Um se apresenta como uma espécie de manual de como levar a bateria nos ritmos que contagiavam a música brasileira naquele momento.

Sua principal base é o jazz, porque mantém uma linha rítmica controlada em curtas quebradas dinâmicas. Pegue uma “Vivo Sonhando” (Tom Jobim): Romão toca relativamente acelerado, para que músicos como Paulo Moura e Hamilton Cruz dialoguem fluidamente nos metais.

Em “Zona Sul” (Luiz Henrique, A. Soares), Romão abre alas para que J. T. Meirelles (sax), Toninho Oliveira (piano) e Pedro Paulo (trompete) transitem livremente da bossa nova para o acid jazz.

Dom Um Romão ainda faz um passeio pelas marchinhas (“Zambeze”, de Orlandivo e Roberto Jorge), joga tempero forte na bossa dos parceiros Ronaldo Bôscoli e Roberto Menescal com a inspirada versão de “Telefone”, visita o terreiro candomblé em “Dom Um Sete” (Waltel Branco) e convida todos a dançar ao som de “Fica Mal Com Deus”, o baião acústico de Geraldo Vandré.

Por conta da alta demanda de trabalho, Dom Um Romão não teve como divulgar devidamente o disco de estreia. Afinal, ele estava trabalhando com o Copa Trio (até tocou no programa ‘Fino da Bossa’, de Elis Regina), tocou no disco de estreia de Flora Purim (que veio a se tornar sua esposa) e, em 1965, mudou-se para os Estados Unidos a convite do chefão da Verve Records, Norman Granz, onde gravou com Stan Getz e Astrud Gilberto e contribuiu com suas baquetas no antológico Francis Albert Sinatra & Antônio Carlos Jobim(1967).

Romão tocou, ainda, com Tony Bennett, excursionou com o grupo Bloody, Sweat and Tears e substituiu o percussionista Airto Moreira no virtuoso Weather Report, supergrupo de Wayne Shorter e Joe Zawinul que revelou nomes como Jaco Pastorius e Victor Bailey.

Nos anos 1980, Romão mudou-se para a Suíça e focou em projetos solo com o Dom Um Romão Quintet, gravando um total de cinco discos até sua morte, em julho de 2005.



1 Telefone
(Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli)
2 Jangal
(Orlandivo, Rubens Bassini)
3 Vivo Sonhando
(Antonio Carlos Jobim)
4 Consolação
(Baden Powell, Vinicius De Moraes)
5 África
(Waltel Branco)
6 Samba Nagô
(João Mello, Marso Vanarro)
7 Diz Que Fui Por Aí
(Hortênsio Rocha, Zé Ketti)
8 Zona Sul
(A. Soares, Luiz Henrique)
9 Zambezi
(Orlandivo, Roberto Jorge)
10 Fica Mal Com Deus
(Geraldo Vandré)
11 Birimbau (Capoeira)
(Clodoaldo Brito, João Mello)
12 Dom Um Sete
(Waltel Branco)






Entropia – Eclipses (2023/ Clestidrium)

Nada se sabia sobre o Entropía de Vitória desde sua estreia em 2018, “Invisível”. Parece que o motivo do seu silêncio foi a pausa forçada em 2020.


Depois do solavanco, “Eclipses” (2023) assume o controle com consolidação e resolução. Os alemães Clestidrium também acreditaram nisso, publicando algo tão familiar em sua história musical. De Gasteiz, o Entropía iniciou sua jornada em 2014. Sendo um quarteto formado por Jon Bellido (teclados, voz), Roberto Nieves (guitarra, voz), Lasto (baixo) e Andoni Penela (bateria). Foi gravado no Brasil Studios, em Madrid, em um console analógico Harrison de 1976. Tudo era, na verdade, estritamente analógico. Incluindo sua gravação em estúdio ao vivo. Pinta bem. E então eu confirmo. 

Do início sequencial de "Thesan" (7'30) e da sua "música flutuante" com aspecto teutônico dos anos 70. Exposição de rochas espaciais sem peso que nos leva pelos caminhos cósmicos de Wallenstein/ Grobschnitt/ Harlis. Mas com a grosseria ocasional de algum Motorpsico/Earthless/Mastodon. Passado e presente se fundem na mesma coisa. Stoner cósmico? Poderia ser. Mas não. A escala é muito poderosa no lado vintage. Boas vozes e coro “chapado” (não confundir), em espanhol, lembrando bandas históricas daqui. Ritmos algébricos que levitam e um violão finíssimo que solta passos devastadores. Excelente entrada.

"Dysania" (6'37) assume um ambiente progressivo com sutil fluidez histórica. Como Granada/ Orange Blossom/ com enxerto de Groundhogs/ Blonde on Blonde/ Home. E eles desfrutam de um nível semelhante. A sério.

Com reflexão acústica vem "Tarbes" (9'35), expressando um efeito de voz surreal que resulta, e uma possível pretensão carmesim, também. Absolutamente alcançado. Se eles te desconectam do mundo é porque são bons no que fazem. E cara, eles fazem isso. Uma delicadeza espaço-psíquica como normalmente não se ouve nestas latitudes. E uma mudança emocional lógica e esperada que introduz premissas de fantasia dura com a marca Hawkwind/Nektar/Message. Quatro músicos em transe xamânico com seus instrumentos em estado de graça. Crescendo climático espetacular até o fim, numa questão que supera as previsões. 

"Kaleidoscopia" (9'25) tem uma estratégia semelhante, com Mellotron e Rhodes tocando com notas latimerescas e um ritmo irresistível ao estilo de Mike Giles. Eles abrem um portal espaço-tempo e assumem um papel moderado de riff do deserto. Eles tocam mais uma vez com sons dos anos 70-90. E essa mistura os assusta. Eles consertam como os grandes, porque são. E lá eles encontram King Crimson novamente sem nenhum remorso. Belo solo de Fripp que parece clássico. E um aconchegante colchão mellotrônico. Acabamento em granito com toque de textura suave. Algo que não é fácil. 


Terminam em "Polaris" (7'15) com uma essência de Modules ou memória argentina, e pesadas flutuações psicológicas interrompidas por um exaustivo limite progressivo. O ritmo oferece um mundo separado no qual se perder. E o kraut mostra o seu devaneio de pesadelo, numa imensa e dura paisagem cósmica digna de Walpurgis, Cherubin, Blackwater Park ou da "Fading Beauty" de Faithful Breath.

Outro muito marcante do ano que acabou de terminar. Verdadeiramente incrível. Falo sério.

     


VALE A PENA OUVIR DE NOVO

 

          Martinho da Vila - "Memórias de um sargento de milícias" [1971]

Depeche Mode - 2023-04-02 - San Antonio

 



Depeche Mode - 2023-04-02 - San Antonio, TX

MUSICA&SOM

Depeche Mode

April 2nd, 2023

San Antonio, TX

AT&T Center

Memento Mori Spring North America Tour


Setlist:

Speak To Me (Outro) Intro

My Cosmos Is Mine

Wagging Tongue

Walking In My Shoes

It's No Good

Sister Of Night

In Your Room (Zephyr Mix)

Everything Counts

Precious

Speak To Me

A Question Of Lust

Soul With Me

Ghosts Again

I Feel You

A Pain That I’m Used To (Jacques Lu Cont’s Remix)

World In My Eyes

Wrong

Stripped

John The Revelator

Enjoy The Silence

Encore Break

Waiting For The Night To Fall

Just Can’t Get Enough

Never Let Me Down Again

Personal Jesus




Five Horse Johnson - The Taking of Blackheart

 



Ok, hora das cartas na mesa, eu adoro Five Horse Johnson…muito!!! Eu gostaria de conhecer o chefe da Small Stone, Scott Hamilton, apertar sua mão e comprar uma cerveja para ele, até porque seu rótulo é um parâmetro quase constante para o rock and roll incrível, mas porque ele nos deu sete, conte ' em, sete pedaços de pura alegria de blues rock não adulterado na forma do catálogo desta banda. Então, com isso em mente, peço desculpas antecipadamente porque esta revisão NÃO será tendenciosa e imparcial e, quer saber, não precisa ser. 

Podem ter se passado quase sete anos desde o último álbum do 5HJ, “The Mystery Spot” em 2006 e, para todos os efeitos, pode ter parecido que a banda estava morta na água, possivelmente até para a própria banda, mas em “ The Taking Of Blackheart” esses caras mostram que não só existe vida no velho cavalo ainda, eles ainda têm o que é preciso para sugar a vida da maioria das outras bandas e jogá-la de volta como um grande e velho pedaço de merda. excelente.

Assim que a faixa de abertura “The Job” entra em seu riff sinuoso de blues e ritmos agitados, fica claro que os últimos sete anos simplesmente derreteram. 5HJ não perdeu tempo tentando se reinventar, eles não pretendem reivindicar um território inexplorado aqui, não, em vez disso, eles lançam onze faixas exatamente do que eles fazem de melhor... blues rock pesado e imundo com arrogância. Eric Oblander e Brad Coffin compartilham os vocais principais, embora Oblander reivindique a maior parte, mas os dois caras possuem vozes que ecoam com anos de suor, bebida e fumaça. A voz de Coffin, embora ainda áspera, é a mais suave das duas, desgastada pelo tempo com bourbon fino e charutos cubanos, enquanto a de Oblander fala de anos de vida difícil e amor ruim... mais aguardente barata e tabaco árabe áspero!!!! A guitarra de Coffin, apoiada pelo ex-Big Chief, Phil Durr, soa espessa com lama do Mississippi, seu trabalho de slide veio direto do Delta. Com certeza é bom ouvir alguém tocando à moda antiga e não ceder ao hábito cada vez mais cansativo de tentar ir mais fundo e mais pesado. A execução e os timbres aqui são ricos e orgânicos, exatamente como o bom rock and roll deveria ser. É claro que nenhum álbum do 5HJ estaria completo com uma dose saudável da gaita de Oblander e aqui ele singularmente falha em decepcionar, já que suas habilidades na harpa são colocadas em destaque com a execução principal de Coffin. É claro que esta revisão não poderia progredir sem alguma menção ao homem que segurava as rédeas do cavalo neste lançamento. JP Gaster do Clutch instila o material com seu groove fluido tradicional e eminentemente dançante que empurra os riffs em uma direção quase funky, particularmente na bola curva do álbum “You're My Girl”, que apresenta uma aparição surpresa do vocalista do Cheap Trick, Robin Zander. Material único aqui? Eu penso que sim!!!

Então não importa as performances, e o material em si? Não se preocupe, meu velho. Cada música é uma pérola. Ok, então 5HJ pode ter seu estilo, eles podem não se desviar desse estilo com muita frequência...ei, o blues não é o gênero mais diversificado de qualquer maneira, mas cada faixa é uma pepita de ouro puro formada a partir de um riff perfeitamente executado, vocal ganchos em abundância e finalizados com aquele groove, aquela arrogância… Caramba, é quase sexy (a menos que você esteja olhando uma foto da banda!!!). Os últimos sete anos certamente não foram desperdiçados no que diz respeito à acumulação de matéria-prima.

Vou arriscar meu pescoço aqui e dizer que este álbum estará bem perto do topo da minha lista como um dos melhores álbuns de 2013.... 





Destaque

Geronimo Black - Geronimo Black (1972)

"Geronimo Black foi uma banda formada, em 1970, pelos ex-integrantes do Frank Zappa and the Mothers of Invention: o baterista Jimmy Car...