Na estrada há quase quarenta anos, a banda piauiense Megahertz lançou em 2022 o seu segundo álbum, Burning Like Hell, exatas duas décadas após soltar seu disco de estreia, Pyramidal Power (2002). O CD saiu pela Mog Records e Orange Produções, e foi disponibilizado em um belo digipack com encarte de doze páginas trazendo todas as letras. A produção é do guitarrista Mike Soares, com capa de Rafael Tavares e Romano Rocha. Pra fechar a introdução, a banda é formada por Nixxon (vocal), Kasbafy (guitarra), Mike Soares (guitarra), Marcelo Briba (baixo) e Iado Dayvison (bateria).
Burning Like Hell vem com doze faixas e a sonoridade da banda traz influências de nomes lendários do thrash metal como Exodus e Testament, e até algo que lembra, nas canções mais diretas, o cultuado Hirax. Traduzindo, é thrash construído com uma chuva de riffs, vocais rasgados e andamentos contagiantes, tudo muito bem feito e que agradará em cheio quem é fã do estilo. Algumas passagens flertam com o metal mais extremo, notadamente o refrão da música título, onde Nixxon arrisca um vocal gutural, e em “Hostage to Violence”.
O grande destaque vai para o trabalho de guitarra, que explora a abordagem tradicional do gênero sem soar repetitivo, o que é sempre uma conquista em um gênero como o thrash metal. O resultado final é um álbum super coeso, com um tracklist extremamente nivelado e que fica mais forte a cada audição, revelando destaques a cada novo play.
Por mais que o Megahertz tenha demorado vinte anos para conseguir gravar o seu segundo disco, e isso diz mais sobre a realidade das bandas brasileiras do que algo sobre o quinteto em si, Burning Like Hell vale demais a audição e é indicadíssimo pra todo fã de um thrash metal com sonoridade mais tradicional.
Como é bom ser surpreendido. Amo a sensação de colocar pra tocar um CD de uma banda que não conheço, e logo nos primeiros acordes perceber que estou ouvindo algo especial. E tive essa sensação ao escutar Why Do We Suffer?, segundo álbum do Deep Memories. A banda é formado pelo vocalista e multi-instrumentista Douglas Martins, responsável por tudo que ouvimos no álbum, inclusive as composições e a produção. Musicalmente, o som é uma união entre doom, gothic e prog, com alguns elementos de death metal vindos principalmente do vocal gutural. Esse é o segundo disco do Deep Memories e sucede Rebuilding the Future (2018).
Douglas não é novo no cenário. Ele criou o Deep Memories em 2016, após sair do Desdominus, banda de death/black de Americana na ativa até hoje, e onde permaneceu entre 1997 e 2005 como vocalista e guitarrista. As influências adquiridas nesse período estão presentes no seu som atual, que se mostra muito maduro e competente.
Com ótima produção, Why Do We Suffer? entrega uma sonoridade emotiva, onde o uso constante de vocais limpos compondo harmonias com o timbre gutural imprime uma característica bastante singular. Instrumentalmente, o álbum é irretocável. O trabalho de guitarra conduz as canções com melodias e riffs poderosos, enquanto a bateria é responsável por uma percussão eficaz e sólida. É impressionante ouvir canções como a “Enslaved by Reciprocity Obligation” (que abre o CD), “Get Away From Poison” (com uma bela mudança de dinâmica na parte final), “Uncontrolled Cells Multiplication” e a espetacular “Prerogatives of Exceptions” e perceber que elas são frutos de um único músico, que literalmente fez todo o trabalho sozinho.
O talento de Douglas Martins é muito fora da curva, e, ao contrário de algumas one man bands onde a solidão criativa muitas vezes conduz para uma música repetitiva, autoindulgente e sem autocontrole justamente pela ausência de uma troca com outras visões criativas, o Deep Memories consegue transmitir uma atmosfera de banda, com as múltiplas capacidades de Martins trabalhando juntas.
Why Do We Suffer? é um álbum excepcional feito por um artista completo, e a minha única crítica em relação a ele é o fato de ter conhecido o Deep Memories somente agora. Não cometa o mesmo erro que cometi e ouça já esse disco!
O Brasil é continental e possui aficionados por rock em todas as suas regiões. Veja esse exemplo: eu, aqui no sul do país, estou ouvindo o álbum de estreia do Godhound, quarteto natural de Mossoró, no Rio Grande do Norte. A distância geográfica é eliminada por um rock super pesado e que aproxima apreciadores do estilo tão distantes entre si.
Refueled é o primeiro disco do grupo formado por Kael Freire (vocal e baixo), Victor Freire (guitarra e vocal), Vitor Assmann (guitarra) e Lazaro Fabricio (bateria). O álbum apresenta oito faixas e traz a participação de Jimmy London, do Matanza, em “Deathmask Trucker”. A linda arte da capa foi criada por Wildner Lima e a produção ficou a cargo de Kael e Victor. A sonoridade é um stoner com letras em inglês, calcado em bons riffs e vocais bem agressivos, algo na linha entre o Orange Goblin, o High on Fire e o Red Fang.
O peso do material é acentuado pela produção, que a princípio soa meio abafada, mas na verdade prioriza e intensifica os tons mais graves dos instrumentos, o que faz com que o som seja denso e espesso, como convém ao estilo. O trabalho de composição é muito bem feito e mostra uma maturidade surpreendente para um primeiro álbum, pois as composições têm tudo no lugar certo e não soam imaturas como se poderia esperar do primeiro trabalho de uma banda. A participação de Jimmy London pouco agrega ao material, e, pelos contatos do agora apresentador do Multishow, deve ser muito mais produtiva para promover a banda, já que não fez nenhuma diferença artística.
Destaques para a cadenciada “Gravestone”, a influência de Motörhead em “Dieser Burner”, o belo riff de “Warriors”, a energética “Open Letter” e o encerramento com a paulada “Takeover”, que traz bonitas harmonias de guitarra.
O álbum foi lançado de forma independente em CD digipack, com encarte de doze páginas com todas as letras.
Uma bela estreia de uma banda que demonstra potencial para entregar álbuns ainda melhores nos próximos anos.
Principal nome do chamado nu metal, o KoRn sempre despertou sentimentos antagônicos. Os fãs reverenciam os novos caminhos que o grupo sempre buscou com a sua música, enquanto quem não simpatiza com o som da banda os classifica como repetitivos, monótonos, sem graça e outros adjetivos elogiosos. Neste sentido, a coletânea Greatest Hits Vol. 1 é uma boa pedida. Ouvindo-a de cabo a rabo fica evidente que o KoRn, ainda que tenha dado algumas bolas fora em sua carreira, acertou em vários momentos.
O disco abre com a melodiosa "Word Up!", música para cima que destoa da maioria das músicas (para não dizer de todas) que o grupo gravou em sua carreira. Com um ar festivo que lembra um pouco a Los Angeles dos anos 1980, avisa logo o ouvinte que, por mais que ele ouça guitarras pesadas durante o CD, é bom ele manter os ouvidos e a cabeça abertos para o que está por vir. Uma versão para "Another Brick In The Wall" do Pink Floyd dá sequência ao álbum. O andamento marcado, aliado aos vocais agressivos de Jonathan Davis, atualiza um dos maiores hinos do rock para uma nova geração de ouvintes. Ainda que pareça desnecessária, é uma releitura interessante, executada com competência pela banda.
As experiências com outros estilos, notoriamente com o rap, estão presentes em "Y'all Want A Single", e nesta música especialmente fica claro que, por mais que a riqueza e o conceito central da música do KoRn estejam na mistura de novos elementos com o metal e o hard rock, em alguns momentos é preciso aparar algumas arestas. Em "Y'all Want A Single" essa colagem de estilos não funciona, e a canção soa desconexa e estranha aos ouvidos. Já "Right Now", destoa completamente de "Y'all Want A Single". Nela vemos que, quando o KoRn acerta a mão, o resultado é arrebatador. Independente do gosto pessoal de cada um, é inegável o poder de "Right Now", com um andamento baseado no baixo funkeado e um refrão agressivo, quase gutural. Um ótimo cartão de visitas para quem não conhece a banda.
Outros momentos altos de Greatest Hits Vol. 1 são as músicas "Did My Time" (um dos maiores hits do grupo), a atmosférica "Alone I Break", a pesada "Here To Stay", "Somebody Someone" e "Falling Away From Me". O Korn experimental marca presença em faixas como "Freak On A Leash", com todos aqueles elementos apontados por seus críticos na hora de falar mal do som da banda. A música do grupo realmente não é de fácil assimilação para quem está acostumado a ouvir as abordagens mais tradicionais do rock e do metal, e soa estranha aos ouvidos menos avisados. O baixo sempre na cara e os andamentos marcados funcionam na maioria das vezes, e dão uma característica única ao som. Já os vocais rapeados de Jonathan Davis, quando surgem, passam longe do agradável, e puxam o som do grupo para baixo. Isso fica bem claro na já citada "Freak On A Leash" e na chatíssima "Twist".
Como as músicas vão sendo apresentadas em ordem cronológica inversa no CD, chegando ao seu final entramos em contato com um KoRn dos primeiros anos, que soa bem mais cru. A união de influências que gerou "Right Now", talvez a melhor música e o melhor exemplo do som do KoRn, ainda estava sendo testada em músicas como "A.D.I.D.A.S." e "Blind".
Sem dúvida o grupo ouviu muito o álbum Angel Dust, lançado pelo Faith No More em 1992, já que é claríssima a influência da banda de Mike Patton no som do KoRn até hoje. As mais claras, como o baixo funkeado, e as não tão óbvias assim, como o desejo de subverter a estrutura padrão das canções, saindo da fórmula verso-ponte-refrão. A escolha pelos caminhos mais difíceis gera estranheza e uma certa má vontade em qualquer ouvinte, porque a música do grupo, principalmente no início de carreira, não é, na maioria das vezes, agradável de se ouvir. Mas a experiência na estrada fez bem à banda, e a pretensão que era palpável nos primeiros álbuns se transformou em um estilo próprio.
Há quem goste, e há quem não suporte ouvir, como acontece com qualquer banda, mas a audição deste Greatest Hits Vol. 1 nos leva à conclusão inegável de que o KoRn, dentro de seus erros e acertos, construiu uma carreira de respeito e, mais do que isso, uma sonoridade que influenciou gerações, dentro e fora do metal. Despindo-se dos pré-conceitos, ficam claras as qualidades da banda, e só não percebe isso quem constrói a sua opinião baseado em uma visão focada no conservadorismo e na desconfiança a qualquer coisa que soe como novo. E, convenhamos, ter uma opinião baseada nestes dois conceitos vivendo na realidade em que vivemos é, no mínimo, um contrassenso.
Greatest Hits Vol. 1 foi lançada em outubro de 2004 e é a primeira compilação da carreira da banda norte-americana. Em 2006 sairia Chopped, Screwed, Live and Unglued, material com 2 CDs e 1 DVD que acompanhou uma edição especial do álbum See You on the Other Side (2005) e traz remixes das canções do disco e versões ao vivo para clássicos do quinteto. No entanto, como cartão de visitas ou como o único item do KoRn em uma coleção, Greatest Hits Vol. 1 ainda é a melhor pedida, principalmente na versão especial limitada que vem com um DVD com um show gravado no lendário CBGB, em Nova York, e que foi lançada inclusive no Brasil pela Epic/Immortal Records.
O som do KoRn pode não ser para todos os ouvidos ou para todas as coleções. Mas essa coletânea é muito indicada para quem quer construir um acervo que cobre todos os caminhos que o metal trilhou em todas as suas décadas de existência e evolução.
Anteriormente conhecido como "Gruppo Improvvisazione Nuova Consonanza" O Grupo é um conjunto de Roma formado por bons músicos dos quais Ennio Morricone se destaca. Sua produção musical é um excelente jazz-rock no bom mainstream dos "Dedalus", "Perigeo" e outras bandas italianas. Este álbum, chamado "The Feed-back", é muitas vezes descrito por engano como um clássico da música italiana de vanguarda. só porque tem algumas semelhanças com a música cósmica de produção alemã, mas é realmente um álbum de jazz muito bom com algumas nuances eletrônicas.
O Grupo contou com: Franco Evangelisti (teclados, percussões), Mario Bertoncini (piano, percussões), Ennio Morricone (trompete), John Heineman (trombone, piano, violoncelo), Walter Branchi (contrabaixo), Egisto Macchi (percussões), e mais alguns colaboradores em vários álbuns e concertos
Muito poucas pessoas provavelmente conheciam esse álbum até alguns anos atrás, pois eles não foram notificados na época. Armando Piazza era um cantor e compositor de Nápoles e lançou esses álbuns com títulos curiosos pelo selo local BBB (que também lançou o álbum Showmen 2), vendendo-os sozinho em shows e em revistas.
Os álbuns continham baladas ácidas e psicológicas, todas cantadas em inglês e baseadas principalmente no violão, mas às vezes com bom uso de instrumentos elétricos, também se destacam pela ajuda do músico americano Shawn Phillips (que morou em Nápoles por alguns anos) em guitarra e baixo. Uma bem-vinda reedição de Akarma reúne os dois álbuns em um único CD.
Ambos os álbuns são raros de encontrar, especialmente o primeiro, e provavelmente foram lançados em quantidade muito pequena pela pequena gravadora BBB. Os álbuns foram mal distribuídos nas lojas e vendidos de forma privada pela Piazza através da Ciao 2001 e outras revistas. Uma estranha adição diz respeito à versão em fita cassete de Suàn (cat.no. NL PP 22), lançada com duas capas diferentes e que contém che omite a faixa I met a woman. A segunda edição é creditada a Shawn Phillips e Armando Piazza, e provavelmente foi publicada mais tarde, quando Phillips era bem conhecido na Itália.
A capa de Suan existe em duas versões, a primeira com encarte de 4 páginas com fundo branco, a outra (aparentemente a mais rara) com letra em tipo branco sobre fundo preto em encarte frente e verso. A versão posterior também tem um diferencial na capa externa, onde o logotipo do "bigode" e o número de catálogo (que ficam na frente na versão com interior branco) estão aqui na contracapa.Suàn foi reeditado em vinil para pela primeira vez em 2008 pela gravadora grega Missing Vinyl (cat.no.MV002), numa bela prensagem limitada reproduzindo fielmente a capa original e incluindo o livreto da letra (com fundo branco).
O segundo álbum Naus (com o subtítulo Ars mensuralis) teve capa de single laminada. O número de catálogo tanto na capa quanto no rótulo é BSLB 0011, mas na matriz é BSBL 0011. O difícil sistema de numeração adotado pelo BBB em seus discos até os confundiu!
Paulo de Carvalho está de regresso às edições com o álbum “2020”. Este é o primeiro lançamento de canções originais desde 2012 e será certamente mais um marco na sua reconhecida carreira, que ultrapassa os 60 anos. A par deste lançamento, Paulo de Carvalho estará em digressão pelo país.
“2020” é um trabalho profundamente pessoal e emotivo que nasceu durante a pandemia, onde a distância física imposta é superada pela intimidade das mensagens de voz. Composto por 12 faixas, todas da autoria de Paulo de Carvalho, o álbum conta também com vários convidados: Ivan Lins, Selma Uamusse e Yola Semedo em “Terra Mãe”, Carlos Mendes em “Rapazes do Meu Tempo”, Boss AC em “Tempo Voa”, Orlanda Guiland em “Mãe África”, Luiz Caracol em “O que se Leva”, Duarte Coxo em “O Cantador”, Tó Cruz em Flor e Midas em “Maria”.
Com uma carreira repleta de sucessos legitimamente inscritos no cancioneiro Português, Paulo de Carvalho é um dos mais importantes e relevantes cantores e autores da sua geração. A ele pertencem sucessos como “Flor Sem Tempo”, “Nini Dos Meus 15 Anos”, “Mãe Negra”, “Lisboa Menina e Moça”, “Os Meninos De Huambo” e “E Depois Do Adeus”, canção com a qual venceu o Festival da Canção em 1974 e que foi a primeira senha da Revolução do 25 de Abril, que completa 50 anos.
“2020” foi composto por Paulo de Carvalho (à excepção de Cacilheiro), com arranjos de Fernando Abrantes e Paulo de Carvalho e produção, mistura e masterização de Fernando Abrantes.