terça-feira, 30 de abril de 2024

Esquivel “Exploring New Sounds In Stereo” (1959)

 

Um dos exponentes máximos de uma visão pop instrumental que ganhou forma na reta final dos anos 50 e à qual se chamou então ‘space age pop’, o mexicano Juan Garcia Esquivel (que assinava apenas com o último dos seus nomes) chegou uma vez a sublinhar o caráter invulgar das suas criações ao afirmar, ao dono de um clube onde ia tocar, que muitos achavam que ele vinha de Marte. Na verdade, vinha do México. Nasceu em Tampico a 20 de janeiro de 1918 (sim, é verdade, assinalou-se bem “discretamente” o seu centenário) e tinha dez anos quando se mudou com a sua família para a Cidade do México. Por essa altura já tocava piano, rezando a mitologia que completou a sua formação por si mesmo, aprendendo entre livros, ouvindo música e tocando por si mesmo.

Em 1956 o seu álbum de estreia Las Tandas de Juan Garcia Esquivel chegou aos ouvidos de um produtor da RCA que o chamou aos Estados Unidos, dando-lhe oportunidades para criar a sua própria música. E entre 1958 e 1960 lança uma sucessão de álbuns pelos quais define um terreno muito pessoal algures entre a música lounge e heranças do jazz com temperos latinos, adicionando depois uma série de elementos instrumentais menos habituais, entre os quais algumas das primeiras ferramentas da música eletrónica, nomeadamente o theremin.

Editado em 1959 o álbum Exploring New Sounds In Stereo representa um dos momentos maiores desta etapa no percurso de um músico que se manteve ativo, apesar de os seus poucos discos lançados depois de chegada a década de 70 não tivessem já qualquer impacte no panorama musical. Na verdade Esquivel é nome redescoberto num revival da cena lounge em plenos anos 90, surgindo então algumas antologias que revisitam momentos da sua obra, entre os quais este álbum que explora as potencialidades do estéreo e que, apesar de incluir apenas um original seu, consegue transformar os demais temas aqui apresentados segundo uma forte abordagem “de autor” (nos arranjos e interpretação, claro). De Boulevard of Broken Dreams à música de Miklós Rósza, este alinhamento junta os ingredientes mais característicos da música de Esquivel, incluindo incursões por terrenos da “exótica” e de formas mais habituais na escrita para cinema, num verdadeiro cocktail de sons com muitas cores.


“Exploring New Sounds In Stereo” conheceu edição original em 1959 pela RCA Victor tanto nas versões Mono como Estéreo. O disco só conheceu reedição em 1997, já no formato de CD. Em 2017 a Waxtime colocou no mercado uma reedição em vinil.

Da discografia de Esquivel vale a pena descobrir álbuns editados sob o nome Esquivel and His Orchestra como:
“Other Worlds Other Sounds” (1958)
“Infinity in Sound” (1961)
“Latin Esque” (1962)


Babatunde Olatunji, “Drums of Passion” (1959)

 

Com origens na Nigéria e educação feita nos Estados Unidos nos anos 50 Babatunde Olatunji é muitas vezes lembrado como tendo sido o primeiro embaixador da música africana junto do grande público ocidental e, por isso, talvez corresponda o seu álbum de estreia, Drums Of Passion, ao primeiro disco de grande sucesso que, não correspondendo de todo a uma lógica de “recolha” etnomusicológica, se inscreve num espaço que, algum tempo depois, acabaria designado como world music.

Babatunde Olatunji nasceu em 1927 numa aldeia no sudoeste nigeriano e foi entre as tribos da região que cedo foi exposto às tradições musicais locais, nomeadamente as percussões. Numa altura em que frequentava aulas em Nova Iorque criou um grupo de percussão que lhe permitiu fazer atuações e ganhar dinheiro para pagar os estudos. É, contudo, depois de uma atuação com uma orquestra (em 1957), que a Columbia Records o convida para gravar para a editora, lançando o seu primeiro álbum em 1959.

Drums Of Passion foi um sucesso, colocando um disco essencialmente feito com trabalho de vozes e percussão sob a atenção de muitos, sobretudo nos EUA. Jin-Go-Lo-Ba, um dos temas do álbum, vendeu milhões de cópias no formato de single, gerando um clássico que mais tarde conheceria versões e citações por figuras como Serge Gainsbourg, Carlos Santana, Jellybean ou Fatboy Slim. O tema tornou-se numa referência na obra de Babatunde Olatunji, músico que depois de Drums of Passion manteve uma carreira aberta a várias linguagens e espaços musicais, cativando inclusivamente atenções entre grandes figuras do jazz. Apesar de traduzir ecos de tradições africanas, o álbum na verdade só teve em Babatunde Olatunji o único músico com berço em África já que os restantes percussionistas e vocalistas usados em estúdio eram de origem norte-americana.

“Drums of Passion” conheceu edição original em 1959 pela Columbia Records nos EUA numa versão Mono, surgindo pouco depois uma versão em Estéreo. O disco manteve-se sempre em catálogo, conhecendo várias reedições em vinil e, mais tarde, em CD. Nos últimos anos surgiram algumas novas prensagens em vini.

Da discografia de Babatunde Olatunji vale a pena descobrir álbuns como:
“Zungo!” (1961)
“Soul Makossa” (1973)
“Drums of Passion: The Invocation” (1988)




Muddy Waters “At Newport 1960” (1960)

 

Um dos mais icónicos encontros da história do rock’n’roll ocorreu numa estação de comboios de Dartford, nos arredores de Londres, numa manhã de outubro em 1961. Dois jovens dirigiam-se às respetivas aulas… Um levava consigo uma guitarra. O outro segurava, nas mãos, dois LP. Um deles era Rockin’ at the Hops de Chuck Berry, o segundo sendo a compilação The Best of Muddy Waters que, poucos anos antes, reunira num álbum uma série de singles que Muddy Waters havia registado para a Chess Records, casa de referência dos blues de Chicago, desde a aurora dos anos 50. Se juntarmos à história os nomes das personagens e algumas consequências daquele momento o jogo de coordenadas ganha mais sentidos. Quem levava consigo a guitarra era Keith Richards. E os discos seguiam nas mãos de Michael Taylor (que o mundo conheceria pouco depois como Mick Jagger)… Os LP motivaram uma conversa e um primeiro encontro para ouvir mais discos… Alguns meses mais tarde, na hora de pensar o nome para a banda que juntaria os dois, olharam para o alinhamento do ‘best of’ de Muddy Waters e encontraram a pista no título de uma das faixas: Rollin’ Stone. 

Não era preciso esta narrativa para justificar a importância da obra de Muddy Waters, figura central na divulgação mundial dos blues de Chicago e importante força no desafio de eletrificar os blues, facto que na altura custou (sem surpresa) a crítica dos espíritos mais conservadores. Na verdade a obra gravada de Muddy Waters precede em muito aquele disco que ajudou a juntar Jagger e Richards, tanto que, mesmo antes de registar o seu primeiro 78 rotações em finais dos anos 40, já na alvorada dessa mesma década fora figura presente numa das históricas gravações de campo de Alan Lomax. Mas o peso icónico que o músico conquistou através desse episódio recorda quão marcante foi a sua voz para uma nova geração de músicos para a qual, além daquele ‘best of’, o disco ao vivo registado no Festival de Jazz de Newport (no estado de Rhode Island, nos EUA) em 1960 foi outra importante fonte de encantamento e ideias.

Gravado e editado nesse mesmo ano, At Newport 1960 (que foi um dos primeiros LP de Muddy Waters e representou a sua primeira edição de uma atuação ao vivo) capta ecos não apenas do momento da desafiante abordagem elétrica aos blues como traduz um tempo em que esta música começava a ganhar focos de atenção junto de novos públicos, nomeadamente entre jovens brancos norte-americanos e também em solo europeu. O concerto que podemos escutar em disco na verdade esteve quase para nem acontecer, já que os motins que se seguiram à atuação de Ray Charles na véspera por pouco não levaram ao seu cancelamento. Já frente a serena plateia, Muddy Waters entrou em palco ao fim da tarde de 3 de julho (de 1960, claro), vestindo de negro, em contraste com a opção (a branco) dos elementos da banda que o acompanhava. O disco abre com a gravação então inédita de I Got My Brand on You, gravada cerca de um mês antes. E lança depois um alinhamento histórico ali registado que, a dada altura, e perante uma questão ao público, sobre o que queriam ouvir, e ao obter por resposta “Mojo”, volta a investir por I’ve Got My Mojo Working, que acabara por interpretar, o que explica o facto de ali surgir em duas faixas, a segunda apresentada como I’ve Got My Mojo Working (Part 2).

“At Newport 1960” conheceu edição original em mono, em 1959 pela Chess Records nos EUA chegando, pouco depois ao Canadá e Reino Unido.. O disco conheceu algumas reedições nas décadas de 60, 70 e 80, mantendo o alinhamento, mas a dada altura começando a surgir numa mistura em estéreo, a mesma que encontramos na primeira edição em CD, pela Chess, em 1986. É com uma reedição em CD feita no Japão em 1989 que surgem as três faixas extra que hoje habitualmente encontramos em edições recentes do disco nos formatos digitais.

Da discografia de Muddy Waters vale a pena descobrir álbuns como:
“The Best of Muddy Waters” (1958)
“Sings Big Bill Broonzy” (1960)
“Down on Stovall’s Plantation” (1966)




Chavela Vargas ““Con el Cuarteto Laura Foster” (1961)

 

Apesar das origens rurais mexicanas entre as décadas de 20 e 30 do século XX, cativando originalmente um público socioculturalmente mais desfavorecido, foi em ambiente urbano que, mais adiante a canção ‘ranchera’ ganhou outras plateias e, consequentemente, uma expressão discográfica numa geografia bem para além daquela que antes conhecera. A canção, tradicionalmente cantada por homens, veiculando as palavras um ponto de vista masculino, teve contudo em Chavela Vargas (1919-2012) uma das suas mais notáveis vozes. Os jogos de ambiguidade que vincaram a diferença, sublinharam traços de identidade que moldaram tanto a figura como a carreira, e que, juntamente com as capacidades interpretativas, um importante corpo de canções e uma vida atravessada por episódios difíceis (dos quais deu conta em Y si quieres saber de mi pasado, autobiografia publicada em 2002), fizeram da cantora um ícone que se fez referência.

De seu nome Isabel Vargas Lizano (Chavela é como um diminutivo de Isabel), nasceu em San Joaquín de Flores, na Costa Rica, em abril de 1919. Aos 17 anos, e sem oportunidades de trabalho por perto, migrou para o México onde acabaria por se estabelecer definitivamente e, mais tarde, obter mesmo a nacionalidade. Começou contudo por cantar na rua antes de encetar uma atividade como profissional do meio. Os seus modos e imagem, que desafiavam códigos normativos de identidade, começaram a ter expressão igualmente no seu jeito de abordar e a si moldar a canção ‘ranchera’, lançando bases de uma carreira que a fez andar pelos palcos e pelos discos até depois dos noventa anos e que inclusivamente a levou ao cinema através de realizadores como Pedro Almodóvar ou Alejandro Gonzalez Iñarritu.

No final dos anos 50 a voz de Chavela Vargas começou a cativar atenções numa altura em que cantava habitualmente em salas de Acapulco, que se tornara um destino turístico com dimensão internacional. E na alvorada dos anos 60 chega finalmente aos discos, estreando-se com um par de álbuns em 1961, ambos registados sob a chancela de recomendação de José Alfredo Jiménez, uma figura de referência neste universo da canção mexicana. Além de Noche de Boemia, o seu primeiro ano de vida discográfica integra o álbum simplesmente chamado Chavela Vargas, muitas vezes referido como Con el Cuarteto Laura Foster (no qual surge uma primeira gravação sua para o clássico La Llorona), disco que lançou as bases de uma visibilidade internacional da canção ‘ranchera’. – N.G.

“Con el Cuarteto Laura Foster” teve primeira edição em LP no México em 1961. Uma primeira edição europeia ganhou forma em Espanha em 1967, embora com uma capa diferente. A capa original seria retomada por várias edições locais mais tarde, com a chegada do disco ao suporte de CD em 2007.

Da discografia de Chavela Vargas vale a pena descobrir álbuns como:
“Noche Boemia” (1961)
“La Llorona” (1993)
“En Carnegie Hall” (2004)




Todtgelichter - Schemen (2007)

 


Black metal alemão épico com um som expansivo, orgânico e pagão e uma tendência para o melódico e o triste. As aparições ocasionais de instrumentação pouco ortodoxa – o saxofone em “Aschentraum”, o drone didgeridoo espreitando em “Segen”, os vocais limpos em “Beginn des Endes” – são ao mesmo tempo inspiradas e surpreendentemente de bom gosto em sua apresentação. 

Track listing:
1. Impuls
2. Larva
3. Segen
4. Blutstern
5. Für Immer Schweigen
6. Aschentraum
7. Hammer
8. Beginn des Endes





Percy Jones Ensemble - Propeller Music (1990)

Bateria eletrônica, baixo fretless, teclados sintéticos, guitarras fragmentadas - geralmente tonto, um pouco perturbador, fusão 100% nerd. No meio do caminho, os vocais entram na mixagem e o álbum se transforma em um disco de Gary Numan da era intermediária . Eu ouço isso sozinho em fones de ouvido e penso: "caramba, isso é tão legal, gostaria que todas as músicas fossem tão estranhas"; Coloquei isso em um aparelho de som com outra pessoa na sala, me sinto um degenerado e um pervertido.


Track listing:
1. $10,000 Bookshelf
2. Heidelberg Switch
3. Barrio
4. Panic - Disorder
5. Count the Ways
6. Turn Around
7. Slick
8. Slack
9. All for a Better Way
10. Looking for a Sign of New Life
11. Razorville
12. K2





Honey Is Cool - Early Morning Are You Working? (1999)



O segundo e último álbum de Honey Is Cool, uma banda de indie rock de Gotemburgo que serviu de trampolim para a carreira de Karin Dreijer, também conhecida como Fever Ray. Os vocais poderosos e distintos de Dreijer são o ponto focal aqui, mas aqui está a serviço do indie rock sombrio, dinâmico e musculoso. Esqueci como encontrei essa banda pela primeira vez, mas sei que foi através de algum meio nerd da música da Internet, já que eu não tinha ideia de que Dreijer estava na banda quando os coloquei pela primeira vez, e lentamente me dei conta de que sua voz se elevou acima do turbilhão de abertura da faixa-título.

Track listing:
1. Early Morning Are You Working?
2. Bolero
3. Great and Smaller Things
4. There's No Difference
5. Summer of Men
6. I Surprise
7. Waiting for a Friend
8. My Love Is a Bell
9. Lead but Low
10. Something Above the Mountains
11. The Giraffe





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