segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Saecula Saeculorum

 


Saecula Saeculorum é uma lendária banda de Rock Progressivo que foi criada em 1974, no estado de Minas Gerais. A banda era formada por Giacomo Lombardi (piano e voz), José Audisio (guitarras), Bob Walter (bateria), Edson Plá Vieguas (baixo), Juninho (bateria) e o violinista Marcus Viana, que depois iria formar o Sagrado Coração da Terra.
Dentre os músicos do Saecula Saeculorum, Giácomo Lombardi era filho de uma família de imigranes italianos, e assim como Marcus, desde pequeno desenvolveu seu apetite por música, aprendendo diversos instrumentos com seu pai. Entre todos os instrumentos, passou a se destacar no piano, sendo que com doze anos, já dava aulas para colegas e também compunha canções, que com o passar dos anos, transformaram-se na principal fonte de renda da família Lombardi.
O encontro dos dois gênios da música nacional se deu em um grupo único, que passou a excursionar, destacando-se como um dos principais nomes do rock progressivo na época, graças principalmente à técnica de seus integrantes, mas sem nunca lançar um material original.

O grupo acabou em 1977, e nunca mais se falou da banda, até que em 1996, foram encontradas algumas fitas demo, as quais foram gravadas em setembro de 1976, nos estúdios Bemol, e que acabaram sendo tratadas, mixadas e transformando-se no álbum Saecula Saeculorum. O álbum acabou não saindo em 1976 por problemas contratuais.
O grupo havia sido apresentado à gravadora Time Warner, que na época, colocou o baixista Liminha (ex-Mutantes) para negociar com os mineiros. Liminha acabou não concordando com as longas canções, e exigiu canções curtas, que pudessem atingir um sucesso comercial. Os membros do Saecula Saeculorum recusaram a oferta, e o projeto ficou engavetado por anos, enquanto o grupo rompia os laços e Marcus Viana partia para uma bem sucedida carreira ao lado do Sagrado Coração da Terra e também compondo trilhas para filmes e novelas. 
Já Lombardi abandonou a música nos nos 80, após algumas participações com o Sagrado Coração da Terra, fundando ao lado da irmá Roberta Navarro a marca de roupas Vide Bula, a qual foi responsável por vestir Nina Hagen e Rod Stewart na primeira edição do Rock in Rio, em 1985.

Felizmente, em 96, Marcus Viana, no estúdio Sonhos & Sons, reúne, edita e masteriza digitalmente o material que ainda possuíam e que seria a base da fita demo. O som é considerado como um dos melhores trabalhos da cena progressiva nacional de todos os tempos.

1976 - Saecvla Saecvlorvm
http://*www.*mediafire*.com/download/7oo48o80whz4y3s/1976+-+Saecula+Saeculorum.rar (precisa tirar os *)



01 Saecula Saeculorum
02 Acqua Vitae
03 Eu Quero Ver o Sol
04 Constelação de Aquarius
05 Rádio no Peito

(*) não tenho os compositores das músicas, assim que conseguir, farei a atualização.

As letras são em português, mas devido a gravação não estar muito nítida desfavorece uma compreensão maior das letras.
O som é de muita personalidade, onde é fácil perceber a competência de todos os músicos, além, é claro, das músicas serem muito bem feitas e de muita inspiração. O disco é bem consistente não contendo nenhuma música ruim, é realmente triste que este disco não seja devidamente conhecido dos apreciadores do progressivo porque como está escrito no encarte do cd "o Saecula foi como ouro debaixo da terra por 20 anos".

Os primeiros minutos começam como se fosse um álbum de MAHAVISHNU ORCHESTRA. Os violinos são bastante Jazzy. Mas a música entra em um território mais familiar depois de um tempo. A faixa de abertura, a faixa-título não menos, é muito jazzy por causa do violino.
O resto do álbum é muito bonito cheio do espírito do Renascimento, e influenciado por YES e AREA. É pesadamente influenciado pelo compositor clássico Handel, além de bandas como PFM da cena italiana. O som é muito aberto. Os principais instrumentos são o violino, piano, teclados, existem algumas guitarras - segundo o próprio Marcus : "a guitarra era mais forte ao vivo...no disco está por trás...mas é parte fundamental da criação sonora". A boa voz de Marcus Viana é um detalhe a parte, romântica, tranquila e muito bem empostada.
A qualidade da banda é muito boa. Saecula Saeculorum tinha seu próprio estilo. O álbum é curto mas dá conta do recado e certamente com a continuação da banda, muita coisa boa viria a ser realizada.

Este trabalho é altamente recomendável para qualquer amante do rock progressivo, tanto pela virtuosidade por parte de alguns integrantes da banda, como também pela curiosidade dos fatos.


Ultraje a Rigor

 



O Ultraje a Rigor foi formado no final de 1981, inicialmente como uma banda de covers, principalmente Beatles, rock dos anos 60, punk e new wave. Depois de algumas formações provisórias, a banda se estrutura com Roger (guitarra base), Leôspa (bateria), Sílvio (baixo) e Edgard (guitarra solo), e começaram a se apresentar em festas e barzinhos. Em 1982, ainda sem um nome fixo, decidiram por Ultraje a Rigor, já que nunca eram muito fiéis às versões originais dos covers que faziam, frequentemente avacalhados ou distorcidos. O nome Ultraje a Rigor foi escolhido meio por acaso em uma conversa entre Roger e Leôspa que tentavam achar um nome durante uma festa em que se apresentavam. Roger sugeriu Ultraje, mas achava meio punk demais (para a época, pelo menos). Roger perguntou a Edgard, que chegou no meio da conversa, o que ele achava de Ultraje. Edgard, sem entender direito a pergunta, disse: "que traje? O traje a rigor?" Roger e Leôspa adoraram e adotaram então este nome.
Logo depois, Sílvio sairia, entrando Maurício em seu lugar. Com esta formação, em abril de 83 participaram do projeto Boca no Trombone, do Teatro Lira Paulistana, em São Paulo, seu primeiro show só com composições próprias.
Foram contratados após uma das apresentações pelo produtor Pena Schmidt, na época contratando grupos para a WEA. Gravaram seu primeiro compacto: "Inútil/Mim quer tocar", que, por problemas com a Censura, só saiu em outubro daquele ano.

"Inútil" surgiu enquanto Roger cantarolava no chuveiro. O português canhestro ("a gente somos inútil") foi baseado em um pedreiro que trabalhava com o baterista Leôspa, com a frase de abertura "a gente não sabemos escolher presidente" sendo inspirada em uma declaração de Pelé de que "o povo brasileiro não sabe votar". A canção encontrou simpatizantes entre o movimento Diretas Já, com Osmar Santos tocando a música em um comício em São Paulo, e o deputado Ulysses Guimarães citando a letra em um discurso na Câmara Federal e prometendo dar o compacto para Carlos Átila, porta-voz do presidente João Figueiredo. A canção ficou situada na 23ª posição entre "As 100 Maiores Músicas Brasileiras" lista feita pela revista Rolling Stone Brasil em outubro de2008.

"Mim Quer Tocar" é uma canção sobre dinheiro, com trechos em inglês. Já foi assunto para uma questão no vestibular da Unicamp.

Após a gravação do compacto, agora fazendo mais shows, Edgard, já na época com o Ira (ainda sem ponto de exclamação), não pôde mais dividir-se entre os dois grupos. Para o seu lugar foi chamado Carlinhos. Com esta formação gravaram seu segundo compacto: "Eu me amo/ Rebelde sem causa" em '84. "Eu me amo" foi bem nas rádios, impulsionado um pouco pela polêmica coincidência de refrões com a música Egotrip, da Blitz. Mas o lado B do compacto, que começou a tocar no começo de '85 foi que detonou a explosão do Ultraje.

Seu primeiro LP: "Nós vamos invadir sua praia", lançado a seguir e puxado inicialmente por "Ciúme", foi um enorme sucesso. Foi o primeiro LP de rock nacional a conseguir discos de ouro e platina. Das 11 músicas do disco, 9 foram amplamente executadas e o Ultraje quebrou recordes de público em diversas casas de shows no Brasil inteiro. No começo de '86, gravaram um EP chamado "Liberdade para Marylou", com uma versão remixada de "Nós vamos invadir sua praia", o "Hino dos cafajestes" e a música "Marylou" gravada em ritmo de carnaval e com as frases censuradas substituídas por frases de trombone. "Marylou" arrebentou nos bailes de carnaval daquele ano e até hoje continua sendo tocada quase como um clássico de carnaval.

1985 - Nós Vamos Invadir sua Praia
http://*www.*mediafire*.com/download/bnkbdy455u4ubt7/1985+-+Nos+Vamos+Invadir+sua+Praia.rar (precisa tirar os *)


01 Nós Vamos Invadir sua Praia (Roger)
02 Rebelde sem Causa (Roger)
03 Mim quer Tocar (Roger)
04 Zoraide (Roger)
05 Ciúme (Roger)
06 Inútil (Roger)
07 Marylou (Roger, Edgard, Maurício)
08 Jesse Go (Roger, Maurício)
09 Eu me Amo (Roger)
10 Se Você Sabia (Roger)
11 Independente Futebol Clube (Roger)
12 Inútil (Roger) - single 1983
13 Mim quer Tocar (Roger) - single 1983
14 Hino dos Cafajestes (Roger, Maurício)
15 Ricota (Edgard)

Em 87 gravaram seu segundo LP: "Sexo!!". Durante a gravação deste disco, Carlinhos, que já pensava em mudar-se para Los Angeles para formar sua própria banda (o que acabou fazendo), saiu para dar lugar a Sérgio Serra na guitarra. O disco foi tão bem sucedido quanto o primeiro, quebrando um tabu da indústria fonográfica, que ditava que um primeiro disco que vendesse muito bem era sempre sucedido por um fracasso. Isso não aconteceu. 
O disco foi lançado com um show-surpresa histórico na Avenida Paulista, uma das principais avenidas de S. Paulo, provocando um congestionamento de vários quilômetros. Nova turnê por todo o Brasil, novas músicas estouradas nas rádios e nada de férias, desde 1984.

1987 - Sexo!!
http://*www.*mediafire*.com/download/8x8wo0u95ixydw3/1987+-+Sexo.rar (precisa tirar os *)


01 Eu Gosto de Mulher (Roger)
02 Dênis, o que Você quer ser Quando Crescer? (Roger)
03 Terceiro (Roger)
04 A Festa (Roger)
05 Prisioneiro (Roger, Maurício)
06 Sexo! (Roger, Maurício)
07 Pelado (Roger)
08 Ponto de Ônibus (Roger, Maurício)
09 Maximillian Sheldon (Roger)
10 Will Robinson e Seus Robots (Roger, Edgard, Maurício, Leôspa)

Em 89, amadurecidos e um pouco estressados pelas longas turnês, gravaram "Crescendo", seu terceiro LP. O disco vendeu bem, mas a mídia já não estava tão interessada no Ultraje, após 4 anos de sucesso ininterruptos. Mesmo assim, o Ultraje ainda provocava polêmica, ao provocar o anunciado fim da Censura oficial com a música "Filha da Puta". Palavrões não eram coisa comum naquela época, muito menos num refrão. Logicamente, a música foi censurada extra oficialmente em diversas rádios e em programas de TV, o que também atrapalhou na divulgação do disco. Outras músicas, com palavrões leves ou temas picantes, como "O Chiclete" e "Volta comigo", que fala de adultério, também tiveram a execução prejudicada.

1989 - Crescendo
http://*www.*mediafire*.com/download/ii42whiivpf886k/1989+-+Crescendo.rar (precisa tirar os *)


01 Crescendo (Roger)
02 Filha da Puta (Roger)
03 Volta Comigo  (Roger)
04 Laços de Família (Sérgio Serra)
05 Secretários Eletrônicos (Roger)
06 Maquininha (Roger)
07 Ricota (Edgard)
08 A Constituinte (Domínio Público
09 Crescendo II - A Missão (Roger)
10 Ice Bucket (Maurício)
11 Coragem (Roger)
12 Os Cães Ladram (mas não modem) e a Caravana Passa (Roger)
13 Querida Mamãe (Sérgio Serra)
14 O Chiclete (Edgard)
15 Inútil (Roger)
16 A Constituinte (Domínio Público)
17 Filha da Puta (Roger)

Em 90 o Ultraje volta às origens e lança "Por Quê Ultraje a Rigor?", um disco de covers que faziam parte de seu repertório original.

1990 - Por que Ultraje a Rigor?
http://*www.*mediafire*.com/download/vipsl2753bhbvj9/1990+-+Por+Que+Ultraje+A+Rigor.rar (precisa tirar os *)


Image result for por que ultraje a rigor

01 Os Monstros (J. Marshall)
02 Barbara Anne (Fred Fassert)
03 I Wanna Be Your Man (J. Lennon, P McCartney)
04 Slow Down (Willians)
05 Nobody But Me (R. Isley, O' K. Isley)
06 I Found that Essence Rare (The Gang of Four)
07 El Cumbachero (Rafael Hernandez)
08 Runaway (Crook, Shannon)
09 Twist an Shout (B. Russel, P. Medley)
10 Walk Right Back / Volta Já (Sonny Curtis)
11 Mauro Bundinha (Roger)
12 Vem Quente que Eu Estou Fervendo (C. Imperial, A. Araújo)
13 Let's Twist Again (K. Mann, D. Appell)
14 Boys (Dixon, Farrel)
15 Dizzy Miss Lizzy (Williams)
16 Os Quatro Cabeludos (R Carlos, E. Carlos)
17 You Wondering Now (Clement Seymour)
18 Slow Down (Williams)

Maurício, casado com uma americana, muda-se para Miami (onde vive até hoje) e Andria Busic entra em seu lugar provisoriamente, sendo substituído por Oswaldo um mês depois. Quase um ano de turnê depois Roger percebe que o Ultraje já não era a mesma coisa. Leôspa, casado, já não tinha mais a mesma disposição para viajar e ensaiar. Sérgio Serra queria sair para formar sua própria banda e Oswaldo preferia trabalhar em seu estúdio profissional. Após uma conversa com Leôspa, decide procurar novos integrantes que quisessem continuar o Ultraje a rigor.
Procurando em bares e shows de bandas iniciantes, encontra Flávio Suete, baterista que tocava com a banda Nem e com o Central Scrutinizer Band, cover de Frank Zappa. Flávio indica Serginho Petroni, baixista com o Zappa cover. Juntos, começam a fazer audições para novos guitarristas. Após meses de ensaio e procura, acabam encontrando Heraldo Paarmann, por meio de um anúncio informal na rádio Brasil 2000 (hoje 107,3 FM). Continuam com os ensaios e uns poucos shows para entrosamento.
Em 1992, contra a vontade do grupo, a gravadora lança uma coletânea, "O mundo encantado do Ultraje a rigor", sendo a palavra "encantado" uma ironia de Roger com relação ao encanto dos primeiros anos e as dificuldades com a gravadora, em relação a novos projetos. Apesar de ser uma coletânea, o disco tem duas faixas inéditas gravadas com a nova formação, além de algumas gravações diferentes de sucessos anteriormente lançados.

1992 - O Mundo Encantado do Ultraje a Rigor
http://*www.*mediafire*.com/download/2ns544vc675cjcq/1992+-+O+Mundo+Encantado+do+Ultraje+a+Rigor.rar (precisa tirar os *)



01 Vamos Virar Japonês (Roger)
02 Nós Vamos Invadir sua Praia (Roger)
03 Sexo! (Roger, Maurício)
04 Pelado (Roger)
05 Inútil (Roger)
06 Rebelde sem Causa (Roger)
07 Filha da Puta (Roger)
08 Mim quer Tocar (Roger)
09 Eu me Amo (Roger)
10 Marylou (Roger, Maurício, Edgard)
11 Rock das Aranhas (Raul Seixas, Claudio Roberto)
12 Independente Futebol Clube (Roger)
13 Ciúme (Roger)
14 Eu Gosto de Mulher (Roger)
15 Terceiro  (Roger)
16 O Chiclete (Edgard)
17 A Festa (Roger)
18 Volta Comigo (Roger)
19 Zoraide (Roger)
20 Crescendo II (Roger)

Ainda em 92, revoltados com o descaso da gravadora com o grupo, gravam de maneira independente "Ah, se eu fosse homem ", uma divertida divagação sobre as dificuldades encontradas pelos homens frente à nova posição da mulher pós-movimentos feministas. A fita com esta música, distribuída às rádios pelo próprio grupo, acaba provocando a reação esperada. Em 93, num clima já tenso com a gravadora, lançam ""Ó!", seu sexto LP, o quarto com músicas inéditas, gravado às pressas e com orçamento pequeno, por imposição da gravadora.

1993 - Ó!
http://*www.*mediafire*.com/download/2csakf4s2bc0qjo/1993+-+O.rar (precis tirar os *)


01 (Acontecetoda vez que eu fico) Apaixonado (Roger, Flávio, Serginho, Heraldo)
02 Ah, Se Eu Fosse Homem... (Roger)
03 Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas (Roger)
04 Teimoso (Roger)
05 A Inveja é uma Merda (Roger)
06 Inútil (Roger)
07 This Boy (Lennon, McCartney)
08 O seu Universozinho (Roger)
09 Oh Carol (Neil Sedaka)
10 O Fusquinha do Itamar (Roger)
11 Tuaregue (Serginho e Heraldo)
12 Fuck the World! (Roger, Flávio, Heraldo)
13 Êta Sonzinho Fuleiro (Roger)
14 Oração (Roger)

Foi um disco um pouco estranho, ainda pouco entrosado com relação a estilo e praticamente ignorado pelo departamento de divulgação da Warner. Teve um clip de sucesso na MTV, "(Acontece toda vez que eu fico) Apaixonado" e sucesso discreto na mídia e nas lojas, embora tenha agradado seus fãs mais fiéis e conseguido alguns novos fãs. 
Em 95, nova coletânea, dessa vez, sem nem o conhecimento do grupo, foi lançada. Faz parte de uma série chamada "Geração Pop". Em 96, também de surpresa para a banda, lançaram uma série chamada "O melhor do Ultraje a rigor/2 é demais!", reunindo os dois primeiros LPs do Ultraje, sem as faixas bônus dos CDs originais. Sem nunca se incomodar em avisar a banda, mas já não "de surpresa", a Warner lança mais duas coletâneas, em 97 "Pop Brasil", na verdade uma reedição do Geração Pop com menos músicas. Em 98 "Ultraje a rigor Vol. 2 / 2 é demais!" com o terceiro e quarto discos da banda reunidos em um CD e, mais uma vez, sem as faixas bônus originais.

*o blog não tem nada contra as coletâneas, porém não faz a divulgação das mesmas.

No início de 99 Serginho deixa a banda para seguir carreira como Engenheiro Químico e Mingau assume o baixo.
O Ultraje a Rigor assina contrato com a Deckdisc/Abril Music para lançar "18 anos sem tirar!", um disco ao vivo, com algumas canções inéditas gravadas em estúdio. 

1999 - 18 Anos sem Tirar!
http://*www.*mediafire*.com/download/t0xodkzvoz99if3/1999+-+18+Anos+Sem+Tirar.rar (precisa tirar os *)



01 Nada a Declarar (Roger)
02 O Monstro de Duas Cabeças (Roger)
03 Preguiça (Roger)
04 Giselda (Roger)
05 My Bonnie (Roger)
06 Filha da Puta (Roger)
07 Zoraide (Roger)
08 Independente Futebol Clube (Roger)
09 Ciúme (Roger)
10 Volta Comigo (Roger)
11 Eu Me Amo (Roger)
12 Mim quer Tocar (Roger)
13 Sexo! (Roger)
14 Pelado (Roger)
15 Eu Gosto de Mulher (Roger)
16 Inútil (Roger)
17 O Chiclete (Edgard)
18 Marylou (Roger, Maurício, Edgard)
19 Nós Vamos Invadir sua Praia (Roger)
20 Rebelde sem Causa (Roger)
21 Terceiro (Roger)

O CD é muito bem recebido por público e crítica e recebe o disco de ouro por vendagens acima de 100.000 cópias, estourando a faixa "Nada a declarar", que critica o tédio e a falta de assunto geral do cenário musical e da juventude em especial. 

Em Maio de 2002, novamente o Ultraje precisa de um ajuste na formação. Logo antes de começarem as gravações de Os Invisíveis, Flávio e Heraldo estavam distanciando-se das intenções musicais de Roger e Mingau. Havia insatisfação de ambas as partes e a melhor solução era a separação. Para gravar o disco e continuar com o grupo foram chamados Sérgio Serra, que adorou voltar ao Ultraje, e Bacalhau, ex-Rumbora e Little Quail, que também aceitou imediatamente o convite. O disco saiu em Agosto de 2002, puxado pela faixa Domingo eu vou pra praia, que no dia de seu lançamento foi uma das mais executadas no país.

2002 - Os Invisíveis
http://*www.*mediafire*.com/download/8qfhgd47l37nb7u/2002+-+Os+Invisiveis.rar (precisa tirar os *)



01 Esta Canção (Roger)
02 Miss Simpatia (Renato, Gabriel Thomaz)
03 Domingo Eu Vou pra Praia (Roger)
04 I'm Sorry (Roger)
05 O Velho Surfista (Roger, Mingau)
06 A Gente é Tudo Igual (Roger)
07 Me Dá (Roger)
08 Me Dá um Olá (Roger)
09 Agora é Tarde (Roger)
10 Onda (Roger)
11 Todo Mundo Gosta de Mim (Roger)


Em 2005, aceitando um convite da Deckdisc e da MTV, o Ultraje grava seu CD e primeiro DVD na carreira, Acústico MTV, ambos recebidos muito bem pela crítica e público e ambos atingindo as marcas de CD de Ouro e DVD de Ouro. O Ultraje grava de maneira diferente, considerado por muitos como o Acústico MTV mais roqueiro de todos. A banda é apresentada a uma nova geração que só tinha ouvido falar do Ultraje através de pais e irmãos e faz enorme sucesso com ela.


2005 - Acústico MTV
http://*www.*mediafire*.com/download/g361ll17gew2d8l/2005+-+Acustico+MTV.rar (precisa tirar os *)




01 Zoraide (Roger)
02 Ah, Se Eu Fosse Homem... (Roger)
03 Filha da Puta (Roger)
04 Inútil (Roger)
05 Independente Futebol Clube (Roger)
06 Cada um Por Si (Roger)
07 Jesse Go (Roger, Maurício)
08 Rebelde sem Causa (Roger)
09 Me Dá um Olá (Roger)
10 Mim quer Tocar (Roger)
11 Maximillian Sheldon (Roger)
12 Ciúme (Roger)
13 Ponto de Ônibus (Roger, Maurício)
14 Agora é Tarde (Roger)
15 Eu não Sei (Pete Townshend / versão Roger)
16 Nada a Declarar (Roger)
17 Eu Gosto de Mulher (Roger)
18 Pelado (Roger)
19 Giselda (Roger)
20 Nós Vamos Invadir sua Praia (Roger)


No final de 2008, Roger anunciou que o Ultraje estava abandonando a gravadora Deckdisc para lançar um álbum independente disponível para download. Esse projeto recebe o nome de Música Esquisita a Troco de Nada!, não sendo necessário pagar para ter as músicas em seu computador.

No início de 2009, após a gravação de algumas demos, Sérgio Serra abandona a banda. 
Lançado em 5 de abril de 2009, o novo trabalho foi gravado com as participações especiais de Edgard Scandurra nas guitarras, e a cantora Klébi Nori, dividindo os vocais com Roger na música Amor.

2009 - Música Esquisita a Troco de Nada!
http://*www.*mediafire*.com/download/jouj1jyyjgg8quv/2009+-+Musica+esquisita+a+troco+de+nada.rar (precisa tirar os *)


01 Vida de Bebê (Roger)
02 Nossa, que Cabelo Bonito! (Roger)
03 Amor (Roger)


Depois de três meses tocando como um power-trio acompanhados pela banda de apoio, através de uma conta no Facebook, Roger anuncia a entrada do novo guitarrista Marcos Kleine, que toca com o Mingau na banda Vega.

Em 2015, a banda grava o álbum instrumental Por quê Ultraje a Rigor? - Vol. 2, sendo uma continuação do álbum de versões. O registro, gravado ao vivo no estúdio, conta com 20 regravações e tem a distribuição da EF, selo pertencente à Sony Music.

2015 - Por que Ultraje a Rigor? vol.2
http://www.mediafire.com/download/rd09tddg1ed3jej/2015+-+Por+que+Ultraje+a+Rigor+2.rar



01 Nitro
02 Rawhide
03 Arnold Layne
04 Love Pipe
05 O Milionário
06 La Cumparsita
07 Walk Don't Run
08 Sleep Wlak
09 Run Chicken Run
10 Green Hornet
11 Penetration
12 Rise and Fall of Fligel Bunt
13 Marcha Funebre
14 Rebel Rouser
15 Perfidia
16 Mae
17 Caravan
18 Pipeline
19 The Man Fron U.N.C.L.E. Theme
20 Tema de Abertura do The Noite





Módulo 1000

 


A trajetória do grupo se inicia em meados da década de 60, de forma não muito diferente da de tantos outros: garotos da zona sul carioca, amigos de colégio, com muita disposição e praticamente nenhum dinheiro no bolso. Após diversas experiências mal-sucedidas, Daniel C. Romani (guitarra) e Eduardo Leal (baixo) montaram o conjunto Código 20, já percorrendo, no final de 1968, o tradicional circuito de bailes dos clubes do Rio de Janeiro. Amigos de infância, há anos tocavam juntos, com várias formações e nomes: Os Quem, Brazilian Monkes, Os Escorpiões. “O Daniel disse que estava montando um conjunto com o Armando (bateria) e que estava precisando de um guitarrista base”, conta Eduardo. Autodidatas, vivendo a onda dos Beatles e dos Rolling Stones, eles economizavam até o último tostão para conseguirem alguns instrumentos. Recolhiam ferro-velho, fabricavam guitarras (ou algo vagamente similar, que acabava ganhando esse nome, na falta de outro melhor...) para vender, e tocavam de graça, porque, como defendia o Armando, “tocar era o grande lance”. Os resultados vinham chegando devagar, como atesta Daniel: “Era Armando na bateria, eu tocando solo, o Alemão na guitarra base, e o Eduardo já tocando baixo. Embora a gente não fosse grande coisa, não éramos fracos, chegamos a tocar nos melhores lugares por aqui em termos de baile. O grande lance dessa época era você tocar no Fluminense, Botafogo, em grandes domingueiras onde também tocavam uns grupos como Os Selvagens, por exemplo, que se jogavam no chão, pulavam nas mesas, as calças saint-tropez caíam, era uma loucura”. Nessa altura dos acontecimentos, enquanto a trajetória da banda ia evoluindo a pequenos passos, surge em cena um novo integrante, que daria uma grande guinada profissional no jovem conjunto, abrindo diversas portas e tornando possível tudo o que aconteceu depois.


Paulo Cezar Willcox era um jazzista por excelência, e um grande vibrafonista, mas parecia ter chegado um pouco tarde à cena musical brasileira. Depois do boom de bossa-nova instrumental de meados da década de 60, esse som já estava começando a ficar por demais saturado, e ele resolveu tentar a sorte no crescente e promissor mercado do rock’n’roll. Juntou-se ao Código 20 pouco antes de um concurso de bandas amadoras da TV Globo, que oferecia como prêmio: quatro apresentações no programa do Paulo Silvino, além de toda uma nova aparelhagem e instrumentos musicais, coisa que o grupo precisava urgentemente. Integrado ao conjunto, “Zé Bola”, como era chamado, logo se colocou em posição de destaque, introduzindo grandes doses de profissionalismo e planejando a performance do grupo na grande final. Devidamente caracterizados de terninhos, para horror da maioria dos rapazes (que não usavam paletó nem em casamentos), eles apresentariam “There’s a Kind of Rush” dos Herman’s Hermits, seguido de “Tequila”, aquele clássico instrumental cucaracha dos Champs, que tinha o título cantado em uníssono ao fim de cada frase. Na apresentação final, no programa do Chacrinha, Willcox tocou o vibrafone de maneira feroz, saiu em seguida do palco e voltou empurrando dois enormes tímpanos de orquestra, atacando-os em duelo furioso com a bateria. Isso causou um grande furor no público e nos jurados, e fez o grupo afinal levar o primeiro prêmio dentre, literalmente, milhares de jovens bandas concorrentes.

Logo após a entrada de Willcox, o baterista Candinho (Cândido Souza Farias), já com alguma experiência e também versado no idioma do jazz, também havia se juntado à banda. “Na realidade, o Willcox e o Candinho na época entraram praticamente juntos”, recorda Daniel. “O Willcox chegou pra mim e falou que com o Armando não dava, não tinha jeito. Eu argumentei que montei tudo com ele, desde o começo, mas ele insistia em trazer o Candinho. O Armando ficou muito aborrecido, mas o Willcox tinha conhecimentos, ia abrir algumas portas para a gente. Na realidade eles não entraram só porque nós éramos bacanas. No fundo eles viam a banda mais como uma oportunidade de faturar um troco. Nós éramos músicos tecnicamente e teoricamente mais fracos frente ao nível deles, então tínhamos que ralar muito para conseguir acompanhá-los”. E essa foi a época em que todos começaram a deixar o amadorismo para trás e a efetivamente amadurecer como músicos.

No começo de 1969, o conjunto conseguiu um contrato na boate Catraka de São Paulo. Egresso da bossa nova (mais especificamente do grupo Agora-4), o tecladista Luiz Paulo Simas se juntou à banda nessa ocasião: “O grupo precisava de um organista para cumprir um contrato longo numa boate em São Paulo. Me contrataram, pois eu tinha um órgão Eletrocord, e eu larguei o segundo ano da faculdade de arquitetura no Fundão para ir com eles para São Paulo. Era um bom salário, e uma boa desculpa para largar a faculdade”. 

Assim, com Willcox no vibrafone, Daniel na guitarra, Luiz Paulo Simas no órgão, Eduardo no baixo e Candinho na bateria, surgiu a primeira formação do Módulo 1000, nome inspirado pelos módulos lunares americanos e soviéticos, muito em voga naquela época de corrida espacial.

Na temporada na Catraka, o Módulo 1000 tocava o repertório de clássicos da época, como Beatles, Stones, Hair e Hendrix. Mirna, irmã de Daniel, participou por um tempo, adicionando uma voz feminina, mais comercial e acessível, ao gosto de Willcox. Entretanto, os objetivos dele e do resto do grupo estavam começando a se distanciar. “A Catraka era uma casa muito grande, e a gente morava no andar superior; só dormia, ensaiava e tocava o dia inteiro. Foi aí, nesses ensaios, que a gente começou o nosso complô”, lembra Daniel. “O Willcox percebia que nessas horas extras fora do trabalho, nós quatro fazíamos um esquema paralelo de jam sessions para anotar algumas coisas, gravar outras. Ele notava que a gente estava sempre querendo dar uma guinada para esse lado, mas não houve uma briga, nós nunca discutimos. Ele mesmo foi percebendo que aquele som não abrigava mais o vibrafone ou a contrariedade dele. A gente queria sair daquele esquema de show-baile, queria fazer uma banda de rock progressivo, isso nunca saiu da nossa cabeça”. Antes de se despedir do grupo, Willcox ainda deu uma mão no V Festival de MPB da Record, em novembro de 1969. Para se vingar dos odiados ternos impostos em “Tequila” no ano anterior, um figurino “tropicalista” típico – totalmente esculachado – foi escolhido a dedo para o desconforto de Willcox.

“O Módulo 1000 foi aquela banda que falou: ‘não quero tocar mais nada de ninguém’”, afirma Daniel. Os quatro músicos começaram 1970 dispostos a tudo. Não que não houvesse exceções – dentro de um certo contexto, poderia ainda rolar algo como “Communication Breakdown” (do Led Zeppelin) ou “Sweet Leaf” (do Black Sabbath), por exemplo – mas a meta agora era vencer nos próprios termos, definitivamente. Permanecendo mais tempo em São Paulo, onde o circuito de shows oferecia mais oportunidades, os espaços foram sendo pacientemente conquistados. Os shows-baile de quatro horas foram reduzidos para quarenta minutos. “Conseguimos um contrato para tocar em Praia Grande, no Clube Siri. Tocávamos para dançar no clube todas as noites – sete vezes por semana! – para um salão sempre lotado de jovens que nos adoravam. Quando chegava a época de temporada só dava a gente no clube”, relembram Eduardo e Luiz Paulo, sobre o clube onde ainda iriam se apresentar por mais dois anos. Daniel também tem boas recordações desse período: “O Módulo 1000 já tinha uma aceitação; não era um som de parada de sucesso, mas o pessoal vinha ver. As pessoas gravavam, pediam, conheciam já as músicas pelo nome, até cantavam junto em latim! Todo lugar que a gente ia, havia comitivas de carro acompanhando a gente”.

As convicções podiam ser fortes quanto ao direcionamento musical, mas a meta também era gravar, afinal de contas. Através de um contato com a dupla de compositores Sérgio Fayne e Vítor Martins (posteriormente parceiro de Ivan Lins), o grupo conseguiu uma audição na Odeon, que estava abrindo espaço em seu cast para grupos alternativos. Seguindo o conselho da dupla, o conjunto apresentou um material bem mais acessível, com influências de MPB e sonoridades mais leves, o que deu resultado, agradando aos produtores. Seis faixas foram lançadas ao todo pela Odeon. Apesar de reconhecer que o esforço era legítimo para chegarem a um LP exclusivo pela gravadora, Daniel não guarda muita afeição por essas faixas: “Nós fizemos todas essas músicas, que eu não gostava na época e continuo não gostando, não refletiam o nosso som. Naquela época a gente não fazia nada daquilo. Mas os caras (Odeon) acharam interessantes as faixas anteriores, e aí já dava para fazer uma coisa diferente, que já me agradou mais, era o som que eu estava a fim de fazer. Compus algo numa veia mais Led Zeppelin, naquele balanço. Eu pedia ao Candinho: ‘Eu quero esta batida tipo John Bonham’, no que ele respondia: ‘Foda-se, vou fazer a minha’. A gente brigava muito, eu dizia que tinha que ser mais rock, ele dizia que ia dar um rufo de jazz, e aí ficava totalmente diferente”. A composição em questão se chamava “Ferrugem e Fuligem”, e foi lançada na ótima compilação “Posições” da Odeon, junto com a faixa “Curtíssima” (que era realmente muito curta...). Junto ao Módulo 1000 dividindo o LP, havia um time de respeito, contando com os grupos Som Imaginário, Tribo e Equipe Mercado. Destes, apenas o Som Imaginário conseguiria efetivamente lançar LPs (três) pela gravadora.

O período na Odeon também possibilitou a participação no V Festival Internacional da Canção, em outubro de 1970. Eles defenderam a música “Cafusa” (de Fayne e Martins) na fase nacional, onde também participava O Terço com seu “Tributo ao Sorriso” (classificada em nono lugar). Eduardo lembra da importância do evento: “Conseguimos um contrato com a Odeon e de lá fomos classificados para a final do FIC, que ia acontecer no Maracanãzinho. Foi quando voltamos para o Rio com outro status, mais perto dos deuses. Foi nesta volta que começamos a compor de fato”. Ensaiando 8 horas por dia, sete dias por semana, antes do final do ano o Módulo 1000 já tocava todas as faixas que comporiam seu futuro LP de estréia. Basicamente o material era de Daniel e Luiz Paulo, com Eduardo e Candinho participando dos arranjos. Por causa da letra em latim de “Turpe Est Sine Crine Caput”, em um show em Juiz de Fora os federais do DOPS subiram no palco, desligaram tudo, e convocaram os músicos para explicar a “terrível letra cifrada e subversiva”. Na realidade se tratava apenas de “É um fato, é um fato, é horrível uma cabeça sem cabelos...”.

De novo baseado no Rio, o grupo trabalhava com o empresário Marinaldo Guimarães, um personagem típico da época, preocupado sempre em fazer o público pensar. O espetáculo “Aberto para Obras” pode ter representado o auge de suas proposições estéticas. Montado no Teatro de Arena do Largo da Carioca, o público entrava por estreitos corredores e se via separado dos palcos por cercas de arame farpado. Descobrindo finalmente como chegar a seus lugares, tinham que escolher entre olhar para baixo, onde estava o Módulo 1000, ou para cima, onde se encontrava O Terço. Abaixo havia também uma mulher preparando pipoca em um fogão e mais adiante, sentado em um vaso sanitário, o irmão de Jorge Amiden (d’O Terço) empunhando estático um violão por três horas seguidas, apenas para arrebentá-lo no final de tudo. No meio da platéia, diversos pintores, entre eles Wander Borges, que faria a capa do LP da banda. “Entre os shows que fizemos no Rio”, recorda Luiz Paulo, “me lembro bem do Teatro da Praia, com o ‘leão da Metro’ projetado nas cortinas antes de se abrirem, manequins espalhados pela platéia e eu estreando com o primeiro sintetizador no Rio (talvez no Brasil?) – meu Synthi A da fábrica EMS inglesa. O nosso empresário era muito chegado a ‘happenings’, avant-garde e afins, e sempre nos dava força quando a coisa ia para esse lado”. O grupo também experimentava na busca de novos sons, criando o “mandum”, sua versão da talk-box (voice bag).

Foi nesse momento que apareceu o convite de Ademir Lemos para a gravação de um LP pela Top Tape, em 1971. O grande problema era que o estúdio só estaria disponível se o registro fosse feito imediatamente, e o grupo estava em um momento de transição entre o material do ano anterior e uma nova fase do repertório. Todavia, o novo material não estava ainda suficientemente polido, enquanto que aquelas músicas de 1970 já estavam mais que acertadas. Para não deixar a oportunidade escapar, a solução foi gravar aquele repertório que já se encontrava bastante defasado, e nem era mais tocado ao vivo.

No modesto estúdio da Musidisc os técnicos de som não viam com bons olhos as experimentações do conjunto. As caixas Leslie do órgão, os ecos, a colocação do amplificador no banheiro (onde mais conseguir aquela sonoridade? Até o Deep Purple fazia essas coisas), guitarras gravadas ao contrário, tudo era uma dor-de-cabeça para Valter, o técnico chefe. O estúdio ficava à disposição do grupo, e apesar dos técnicos, desacostumados com aquela loucura toda, acharem os resultados horríveis e “sujos”, a cervejinha sempre acabava distraindo suas atenções, e o disco foi assim finalizado. A caríssima capa tripla, com ilustrações psicodélicas de Wander Borges, parece ter sido inspirada na faixa de Daniel que dava nome ao disco: Não Fale com as Paredes. “As paredes eram os obstáculos que as pessoas tinham para emitir seu ponto-de-vista político, sexual, de gostos. As paredes sempre existiram dentro da nossa própria casa... Eu não era um cara político mas na época os caras sempre enchiam o teu saco”. O jornal Rolling Stone, em sua edição nacional de número 4 (de 21 de janeiro de 1972) trazia um anúncio de página inteira: “Nosso som é o som do mundo, para ser sacado e curtido” – Módulo 1000, com a foto do quarteto e a capa do disco, trazendo apenas o nome da banda, do disco e do produtor Ademir.

1972 - Não Fale com as Paredes
http://*www.*mediafire*.com/download/ppiei5y6nj0g0hl/1972+-+Nao+Fale+com+Paredes.rar (precisa tirar os *)


01 Turpe Est Sine Crine Caput (Módulo 1000)
02 Não Fale Com Paredes (Módulo 1000)
03 Espelho (Módulo 1000)
04 Lem - Ed - Êcalg (Módulo 1000)
05 Ôlho por Ôlho, Dente por Dente (Módulo 1000)
06 Metrô Mental (Módulo 1000)
07 Teclados (Módulo 1000)
08 Salve-se Quem Puder (Módulo 1000)
09 Animália (Módulo 1000)



O resultado final dessas conturbadas sessões, o LP “Não Fale Com Paredes”, não teve, como já seria de se imaginar, uma recepção das mais calorosas. Nessa altura dos acontecimentos, Zezinho, o diretor da gravadora carioca Top Tape, já estava de certa forma arrependido de ter dado carta branca a Ademir Lemos – também conhecido nos bailes como DJ Ademir – então em alta na Top Tape (com o sucesso dos seus LPs de discotecagem “da pesada”). Na ocasião em que foi aberta a brecha para o Ademir produzir alguns discos, o disc jóquei logo lembrara dos amigos do Módulo 1000, que já tinham feito vários bailes com ele. Ele indicou a banda, se responsabilizou pela sua qualidade e produziu ele mesmo o LP. Quando Zezinho finalmente ouviu o trabalho, o LP já estava prensado e pronto para ir para as lojas. Ele sabia que rock brasileiro já não dava muito dinheiro, ainda mais... Aquilo!



Os quatro músicos do Módulo 1000 tinham tido muita sorte de ter conseguido em pleno 1971 – mesmo que numa gravadora pequena – aquela produção toda para um LP. Ainda que o estúdio da Musidisc fosse modesto e os técnicos de som despreparados para todas aquelas novidades, Ademir tinha dado total liberdade para eles gravarem o que quisessem. Quando foram afinal conversar com o diretor, já sabiam de antemão que ele estava irritadíssimo com o disco. Chegando a seu escritório, ele foi direto ao assunto: “Esse disco é uma merda!”. O que ele não esperava era a resposta do Daniel: “Então você vai ter que comer esta merda toda, porque você foi um cara omisso, não apareceu nas gravações para ver que banda era essa que você estava bancando, então vai se foder”. Isso não ajudou realmente a situação do grupo na gravadora, mas de qualquer forma o disco acabou indo para as lojas. Afinal de contas, o pessoal sabia que seria virtualmente impossível outra gravadora aceitar aquilo que eles faziam, sem nenhuma restrição.

Analisando-se o contexto musical da época sob perspectiva, o diretor da Top Tape tinha lá suas razões para não ter gostado do trabalho. Comercialmente falando, o disco era um suicídio. Se nem mesmo a exposição semanal no programa “Som Livre Exportação” da TV Globo garantia muito retorno aos Mutantes e O Terço, conjuntos de ponta da época, o que esperar então da hard psicodelia “pauleira” do Módulo 1000, influenciado por Black Sabbath e Led Zeppelin, e ainda por cima com letras em latim? Esse som praticamente inexistia no país. O pouquíssimo espaço que se dava ao rock era para as bandas estrangeiras, e era um sacrifício tomar conhecimento de shows e lançamentos de rock nacional, apesar da boa vontade da Rolling Stone brasileira (de curta vida nesses solos áridos). Desde os anos sessenta, a sobrevivência estava em tocar material alheio em bailes, ou conseguir trabalho com algum artista de sucesso, como A Bolha (companheiros de Top Tape e “concorrentes” diretos do Módulo 1000, pois seus empresários não se bicavam muito...) viria a fazer mais tarde, tocando com Erasmo Carlos.

O desentendimento com a direção da gravadora não impediu, contudo, que o grupo lançasse outro compacto pela Top Tape. Naquela década, uma grande fonte de renda desses selos eram os artistas brasileiros, sob pseudônimos e gravando em inglês. Daniel lembra com dificuldade dos detalhes: “Alguém chegou e falou que tinha tantas horas de estúdio, se a gente não queria fazer alguma coisa com um nome diferente, tipo Love Machine. A nossa reação não foi eufórica, principalmente porque a remuneração não era nada de fantástico. Talvez a gente tenha feito isso porque o Ademir era nosso amigo, arrumou um disco pra gente, e o Zezinho talvez ficasse mais feliz se a gente gravasse umas músicas bacanas em inglês. O lado A, ‘Cancer Stick’, era quase um rap, eu falando com voz encorpada sobre os malefícios do cigarro, e o Ademir tossindo ao fundo. ‘Waitin’ For Tomorrow’ foi composta na véspera e rapidamente finalizada no estúdio”.

Sobre o trabalho do grupo ainda em 1972, prossegue Daniel: “Na verdade, o novo material era completamente diferente do LP, tinha uma preocupação de não se repetir. Tinha ‘Lages Cadaverinas’, ‘Sete Quartos’ (uma música, adivinhem só, em andamento 7/4!), ‘Licor de Rabanete’, ‘Olhar Estéril’, ‘Nua’. A gente explorava mais os compassos quebrados, fazendo um diálogo maior de riffs que não existia antes. Além da guitarra, já havia um sintetizador, e um órgão Farfisa. Sonoramente o conceito mudou, mudamos todo o estilo – tinha muita coisa aleatória e muita coisa marcada, com um punch que faltava antes. Já fazíamos até a utilização de cavaquinho e bandolim, num contexto bem diferente”. Essa nova fase também foi marcante para Eduardo: “Estávamos começando um show no Teatro da Praia, em Copacabana, quando arrebentou minha corda bordão do contrabaixo. Tentei emendar, tentei tocar sem usar o bordão, não consegui. O Candinho me falou: ‘Cara, acho que você precisa de um choque para ver se muda’. Ele tinha toda a razão! A partir daí comecei a compor igual a um doido. Essa nova fase do Módulo 1000, que não ficou registrada, foi muito importante para mim, pois fiquei seguro da minha capacidade e criatividade. Se não me engano, o Daniel ou o Luiz Paulo, um dos dois fez um comentário, logo depois de um show, de que a melhor música do Módulo dessa fase havia sido criada por mim!”.

Apesar da falta de perspectivas de um segundo disco, diversos shows e eventos ainda impulsionavam a banda. Em 1972 foram convidados pelo Governo para reinaugurar a concha acústica de Brasília. Com nada menos que 46 caixas de som conectadas ao PA, dava pra se ouvir o estrondo a 3km de distância. No ano seguinte o grupo participaria do terceiro festival ao ar livre do Brasil, o “Transa-Som-Folk-Rock-Pop no Sertão”, no Vale do Jequitinhonha, ao lado de DJ Ademir, Rui Maurity, Jorge Mello e Serguei. “Um acontecimento absolutamente surrealista, num lugar absolutamente surrealista também”, nas palavras de Luiz Paulo, “Tudo armado pelo filho de um fazendeiro da região. A população local nunca tinha visto cabeludos, nunca tinha ouvido rock. Foi um susto!”.

Em meados de 73, a história do Módulo 1000 chega a seu capítulo final. “Acho que foi por falta de perspectivas e de dinheiro. Ninguém brigou, realmente”, ressalva Luiz Paulo. Aquele mesmo ano ficaria marcado como o início de uma espécie de boom no rock brasileiro. Gradualmente, foi se tornando mais fácil lançar e divulgar um disco. A recém-lançada revista Pop já ocupava o lugar da finada Rolling Stone, e, no Rio de Janeiro, entrava no ar a histórica rádio Eldopop FM, que mudaria diversos conceitos e implementaria novos padrões musicais na cabeça de muita gente. Apesar disso, todos aqueles anos de luta tinham desgastado bastante o grupo. Nas palavras de Daniel: “A expectativa era lançar um segundo disco, mas o clima já não era o mesmo. A última coisa que eu me lembro dos últimos dias da banda foi após um festival de inverno em Juiz de Fora. A gente veio conversando, eu e o Luiz Paulo, das razões pessoais que nos levaram a um certo desgaste. Marcamos uma reunião, se não me engano no Alto da Boa Vista, e concordamos que a banda deveria realmente acabar. Cada um ia seguir o seu caminho... O Luiz Paulo, por exemplo, já estava entrando em contato com o Lulu Santos, do Veludo Elétrico, para montar outra banda”.

E foi o que realmente veio a acontecer. Depois do final do Módulo 1000, Luiz Paulo e Candinho se juntaram a Fernando Gama (baixo), ex-Veludo Elétrico, e formaram o mitológico Vímana. Pouco depois Lulu Santos (guitarra) completou a formação que participou dos festivais Banana Progressiva e Hollywood Rock, em 1975. Quando o grupo lançou em 1977 um compacto pela Som Livre, “Zebra”, Candinho já havia sido substituído por Lobão, e Ritchie Court havia assumido a flauta e vocais. Esse foi o único trabalho da banda publicado (de fato, um LP inteiro foi efetivamente registrado, para jamais chegar a ser lançado). O Vímana acabaria por se separar no ano seguinte, com seus meses finais sendo dedicados a uma parceria com o tecladista Patrick Moraz (N.E.: ex-Yes) que acabou não se concretizando, restando apenas algumas poucas faixas gravadas em estúdio e abandonadas. Tempos depois, Ritchie ainda proporia uma parceria a Daniel, mostrando-lhe seu novo trabalho, bem mais direto e focado para o mercado. Entretanto, apesar de todo o óbvio potencial comercial daquelas canções, “Menina Veneno” estava um pouco distante demais dos objetivos de Daniel... Luiz Paulo, por sua vez, passou a criar trilhas e jingles para filmes e TV (curiosamente, ele é o criador do famoso “plim-plim” da Globo), participando também de turnês e gravações de vários artistas. Em uma única ocasião se reuniu novamente a Daniel e Candinho, em um dos seis dias de show no Planetário carioca. Entre outros convidados, participaram também do evento Sérgio Dias, Cláudio Nucci, Marçalzinho e Liminha. Em 1989 mudou-se definitivamente para Nova York, onde, fiel às suas raízes musicais, se dedicou aos ritmos brasileiros, já tendo lançado alguns CDs. Em 2007 lançou nos EUA e no Brasil o CD “Cafuné”. Seu trabalho atual pode ser conferido em seu site, http://www.luizsimas.com. Candinho, possivelmente inspirado por Luiz Paulo, também migrou para os Estados Unidos, e no momento reside na Flórida, trabalhando com artesanato e ainda tocando bateria. Eduardo se mudou para Brasília e atualmente dedica parte de seu tempo à atividade de músico (agora nos teclados) e compositor, tendo dois CDs na linha new age já lançados, além de composições próprias gravadas por artistas da cena local. No momento desenvolve seu novo trabalho, chamado “Ópera Leiga do Cerrado”. Daniel acabou se voltando para o trabalho de músico de estúdio, dedicando-se também a dar aulas de guitarra e consultorias sobre o instrumento. Há mais de dez anos trabalha continuamente no projeto “Four Walls”, que reflete seu desenvolvimento como músico nas últimas três décadas, bem como seu interesse pela música progressiva e étnica. Por fim, Paulo César Willcox, após deixar o grupo, trabalhou como músico de estúdio e arranjador durante o restante dos anos setenta, muito respeitado entre seus pares, vindo a falecer de um ataque cardíaco ao final daquela década.

Nos dias de hoje, para a surpresa dos próprios músicos, que consideravam o disco praticamente enterrado, “Não Fale Com Paredes” continua despertando interesse de colecionadores e fãs do mundo todo. Diversas páginas na Internet colecionam apreciações apaixonadas sobre a banda, sempre elevando o álbum à categoria de “obra-prima” do hard-prog-psych brasileiro. Recentes reedições em CD e em LP (nem sempre oficiais, mas com razoável qualidade de gravação e apresentação, reproduzindo fielmente todo o trabalho gráfico e a capa tripla, como a edição em vinil e CD do selo alemão “World in Sound”) tornaram o trabalho do Módulo 1000 novamente acessível em maior escala. Edições originais do LP, entretanto, continuam sendo avidamente cobiçadas em todo o mundo. Distribuídas em catálogos de revendedores especializados e em sites de leilões virtuais, atingem facilmente o preço de algumas centenas de dólares. Todos esses fatores reunidos ajudam a manter brilhante ainda hoje a aura do Módulo 1000, que mesmo não tendo sido responsável pela criação de nenhum estilo musical propriamente dito, foi um dos honrosos pioneiros na introdução do rock progressivo em terras brasileiras. Ipso facto!




Destaque

ROCK ART