terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Vasco Rossi; Álbum: Bollicine

 

Artista: Vasco Rossi
Álbum: Bollicine
Ano: 1983
Gênero: Rock; Pop

Alguns artistas são tão famosos dentro de nosso país que fica difícil imaginar que são anônimos em outros. Chico Buarque certamente poderia caminhar tranquilamente na Noruega, Ivete Sangalo poderia fazer compras sem ser interrompida na Grécia e dificilmente uma das duplas de sertanejo universitário do momento sofreria assédio na Itália. O motivo do alcance restrito do sucesso de músicos brasileiros talvez se dê pela língua, ou talvez pelas características regionais não compreendidas por aqueles que não estejam inseridos no contexto. Mas, independentemente da razão, o alcance é, de fato, curto, raramente ultrapassando nossas fronteiras.

A consequência disso é a seguinte: para os não-brasileiros ou não-lusófonos, um disco de um artista brasileiro tem grande chance de soar estranho e ser considerado exótico. Essa é minha deixa para resenhar um álbum de um dos maiores expoentes da música italiana contemporânea e que, além de tudo, foi eleito o mais bello disco italiano do século XX pela revista Rolling Stone.

Antes de irmos ao álbum, falemos um pouco de seu autor. Vasco Rossi nasceu na cidade de Zocca, norte da Itália, em 1952. Filho de um caminhoneiro, foi nomeado em homenagem a um companheiro de cela que seu pai conheceu na prisão durante a Segunda Guerra Mundial. Sua mãe, apaixonada por música, incentivou-o desde cedo a ouvir e aprender, inscrevendo Vasco em uma escola de canto ainda criança. Foi o suficiente para fazê-lo apaixonar-se também, e aos 13 anos o garoto vencia um concurso de música local com uma canção composta por ele mesmo. Logo estaria formando suas próprias bandas.

Um período determinante para a vida de Vasco foi o ensino médio. Estudando em um colégio salesiano na cidade de Modena, o rapaz não se adaptava à rígida estrutura hierárquica e às rígidas regras impostas pelos padres. A situação resultou em um caráter cada vez mais rebelde e contestador, uma das características pelas quais Vasco é mais conhecido em seu país.

Após muito sacrifício, forma-se do ensino médio e muda-se para a cidade de Bologna. Com uma cena estudantil vibrante nos anos 70, Vasco começa a se envolver com o teatro e as artes, mas é repreendido por seu pai e acaba ingressando na universidade, cursando Economia. Apesar de um bom começo, não demorou para que o já citado envolvimento de Vasco com as artes e os demais estudantes o seduzissem. Largou a Economia e inscreveu-se em Pedagogia, mas também acabou abandonando o curso e, por fim, voltou para Modena. É importante, porém, frisar que os anos de faculdade de Vasco não foram desperdiçados. Foi nesse período que realmente entrou em contato com o rock inglês, que viria a ser muito importante em sua formação como artista.

Em 1975, Vasco funda, junto a seu amigo de infância Marco Gherardi, uma estação de rádio chamada Punto Radio. Além de ser um dos principais DJs e desenvolver sua persona de showman, Vasco entrou em contato com diversos nomes importantes da música local. Eis que, em um dos eventos da Punto Radio, Vasco se apresentou com uma guitarra pela primeira vez em anos, tocando covers e algumas músicas que ele mesmo havia escrito. Era o que faltava para reacender a chama artística dentro do rapaz.

Com a ajuda de alguns amigos do meio artístico, lança seu primeiro compacto em 1977 e, no ano seguinte, seu primeiro álbum (Ma cosa vuoi che sia una canzone - "Mas o que você quer que seja uma canção?"). Nenhum deles foi um grande sucesso, e a fama de Rossi teve de aguardar pacientemente até os anos 80, quando uma polêmica envolvendo uma aparição de alguns segundos em um programa dominical da RAI (canal de TV italiano) o trouxe em evidência.


A breve aparição do rebolante Vasco, que canta que "não importa se a vida será curta, a gente quer gozar", não causou uma boa impressão no jornalista Nantas Salvalaggio, que a execrou em seu artigo na revista semanal Oggi: "(a performance foi) idiota, ruim e drogada". Naturalmente, a juventude da época discordou e o interesse no roqueiro, que apenas viria a confirmar sua fama de bad boy, aumentou consideravelmente. Menos de um ano depois, Vasco já era dono do status de rockstar em seu país.

Em suma: Vasco Rossi é o típico rocker que seguiu a trindade sexo, drogas e rock & roll ao pé da letra durante os anos 80, chegando a ser preso, a sumir e a ter um retorno triunfante nos anos 90. Mas falemos logo de seu álbum mais importante.

Gravado em 1983, Bollicine ("Bolhas", em português) é um álbum que se aventura por diversos meandros do pop rock oitentista. Ao contrário de muitos álbuns resenhados neste blog, é possível datá-lo logo na primeira audição: a produção, o timbre dos instrumentos, os sintetizadores - tudo isso forma uma impressão digital de muito bom gosto, mas irrefutavelmente oitentista.

A primeira faixa carrega o nome do disco e é uma referência explícita à popularidade da Coca-Cola - a empresa, aliás, chegou a ameaçar abrir um processo legal contra Vasco devido às diversas (diversas mesmo) menções ao nome da marca, mas acabou recuando quando percebeu o enorme sucesso da canção e toda a publicidade gratuita que estava recebendo. É um pop rock divertido, com uma letra sarcástica incentivando o consumo da bebida "que te faz bem, que te faz digerir" mas que "me faz morrer com todas aquelas bolhas". Ótima abertura.


Una canzone per te (Uma canção para você) é uma balada quase inteira recitada, com belíssimos interlúdios entre as estrofes e um final belíssimo: quando temos a impressão que estamos diante de um spoken word, entra um coro belíssimo falando sobre como as canções são como flores e sonhos. Interessante o contraste entre a melodia doce e a voz rouca e áspera de Rossi.

Portatemi dio (Traga-me Deus) é puro rock and roll, com um arranjo que poderia estar tranquilamente no clássico Maior Abandonado, do Barão Vermelho. Levada cheia de groove, baixo no talo, licks de guitarra no lugar certo e letra contestadora: "coloquem Deus no banco dos réus e vão defendê-lo, bons cristãos (...) quero contá-lo sobre uma vida que vivi mas não entendi".

Talvez a grande faixa de Bollicine para o público italiano seja Vita Spericolata (Vida Imprudente). Tida como o "hino de uma geração", a bela canção fala do desejo do narrador por uma vida sem grandes expectativas ou planos, com cada pessoa simplesmente "perseguindo seus próprios problemas". Musicalmente, é uma balada belíssima, que começa com um arranjo modesto e aos poucos ganha instrumentos e um refrão marcante, que inclusive cita um lugar chamado Roxy Bar, em homenagem a seu compatriota Fred Buscaglione, falecido em um acidente de carro no auge da carreira, em 1960
Deviazioni (Desvios) é a mais oitentista de todas as faixas oitentistas de Bollicine. Dominada por sintetizadores, tem uma pegada quase Wanna Be Startin' Somethin', do Michael Jackson. A virada de bateria após cada estrofe chega a ser até engraçada quando escutada nos dias de hoje, mas combina tanto com o conjunto que é difícil imaginar outra coisa no lugar. A letra é um desafio de Rossi a um hipócrita: "Quantos desvios você tem? (...) Você acredita que basta ter um filho para ser um homem e não um coelho?", esbraveja. Canção muito bacana.

A suingadíssima balada Giocala (Jogue-a) é uma das minhas faixas favoritas. O excesso de metais, a levadinha canastra e a letra transgressora ("vai e foda-se o orgulho", literalmente) são uma combinação sensacional. Certamente é um dos melhores arranjos do álbum e transborda feeling.


Ultimo domicilio conosciuto tem um feel quase de jingle, com a frase "this is my radio, my radio star" repetida por um coro feminino durante toda a faixa e uma base instrumental agitada e muito bem elaborada.  Não é o melhor momento de Bollicine, mas é bacana mesmo assim.

Por fim, temos de longe a faixa mais punk e pesada do álbum: Mi piaci perchè (Gosto de você porque). Como o nome sugere, Vasco lista os motivos pelos quais gosta da ouvinte, entre eles "porque você é suja", "porque você usa saia", "porque você é bonita", "porque você é loira" e "porque você é bastarda". Encerra com chave de ouro este belo registro.

Talvez Bollicine não possa ser apreciado integralmente devido à barreira do idioma, mas mesmo assim vale a pena conferir este belíssimo registro da nata do rock italiano oitentista.

Recomendadíssimo.

Tracklist
1. Bollicine
2. Una canzone per te
3. Portatemi Dio
4. Vita spericolata
5. Deviazioni
6. Giocala
7. Ultimo domicilio conosciuto
8. Mi piaci perchè



VA - Tamla Motown Connoisseurs (2 x CDs)

 

Tamla Motown Connoisseurs Volume 1, lançado em 2001, é uma joia para os entusiastas da Motown. Esta compilação mergulha fundo nos arquivos da Motown, oferecendo 20 faixas raras e menos conhecidas que mostram a rica diversidade do catálogo da gravadora. Os destaques incluem a versão de "Sunny" de Marvin Gaye, "Here Are the Pieces of My Broken Heart" de Gladys Knight & The Pips e "My Love Is Your Love (Forever)" dos The Isley Brothers. Elogiado por sua qualidade de som nítida e pela inclusão de muitas faixas inéditas em CD, este álbum é essencial. É uma prova do apelo atemporal da música da Motown e sua capacidade de trazer alegria aos ouvintes, mesmo décadas depois. Se você é fã da Motown ou está apenas procurando explorar algumas joias escondidas, este álbum definitivamente vale a pena ouvir. Aproveite a jornada musical!

Tamla Motown Connoisseurs Volume 2, lançado em 2003 - é um tesouro de faixas raras e menos conhecidas da Motown. Esta compilação apresenta 21 músicas de vários artistas, destacando a rica diversidade do catálogo da Motown. As faixas de destaque incluem "My Love For You" de Marvin Gaye, "What You Gonna Do With Me Baby?" do Four Tops e "Way Over There" de Edwin Starr. A qualidade sonora nítida do álbum e a inclusão de muitas faixas inéditas em CD o tornam um item essencial para os fãs da Motown e do Northern Soul. Esta compilação é uma prova do apelo atemporal da música da Motown e sua capacidade de encantar os ouvintes mesmo décadas depois.

Mesmo que você não esteja profundamente familiarizado com a cena Northern Soul britânica, esses CDs de tesouros raros da Motown encantarão qualquer fã do som da Motown ou da música soul em geral.

MUSICA&SOM

MUSICA&SOM


Track lists

Vol. 1

01 Gladys Knight & the Pips - Here Are the Pieces of My Broken Heart 3:34

02 Isley Brothers - My Love is Your Love [Forever] 3:07

03 Brenda Holloway - Tell Me Your Story 2:24

04 Marvin Gaye - Sunny 2:50

05 Tammi Terrell - Lone Lonely Town 2:52

06 Originals - Don't Stop Now 3:24

07 Chris Clark - Do I Love You 2:25

08 Temptations - That'll Be the Day 2:44

09 Junior Walker & the All-Stars - Ain't That the Truth 3:03

10 Barbara McNair - Forget You Ever Met My Baby 2:52

11 Contours - It's Growing 2:40

12 Martha Reeves - No One There 3:28

13 Undisputed Truth - You Got the Love I Need 3:00

14 Bobby Taylor - Don't Be Afraid 2:44

15 Marvelettes - Don't Make Hurting Me a Habit 2:53

16 Four Tops - Where Did You Go 2:24

17 Stevie Wonder - Hey Love 2:40

18 Detroit Spinners - Where is That Girl 3:01

19 Kim Weston - When We're Together 2:37

20 Smokey Robinson & the Miracles - Flying High Together 2:53


Vol. 2

01 Marvin Gaye - My Love for You 2:58

02 Four Tops - What You Gonna Do With Me Baby 2:47

03 Martha & the Vandellas - You've Been in Love Too Long 2:57

04 Choker Cambell - Come See About Me 2:31

05 Vows - Tell Me 2:37

06 Velvelettes - Let Love Live (A Little Bit Longer) 2:36

07 Freddie Gorman - Take Me Back 2:40

08 Edwin Starr - Way Over There 2:43

09 Barbara Randolph - You Got Me Hurtin' All Over 2:34

10 Marvin Gaye - California Soul 2:49

11 Bobby Taylor - Blackmail 3:13

12 Hearts of Stone - If I Could Give You the World 3:04

13 Barbara McNair - It Happens Everytime 2:24

14 Originals - Tear it on Down 2:45

15 Lollipops - Look What You've Done Boy 2:03

16 Fantastic Four - Don't Tell Me I'm Crazy 3:29

17 Brenda Holloway - How Many Times Did You Mean It 3:00

18 Temptations - I Got Heaven Right Here on Earth 2:53

19 G.C. Cameron - Don't Wanna Play Pyjama Games 3:09

20 Four Tops - Red Hot Love 3:47

21 Marvin Gaye - Rilleh! 2:33




segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

VA - For Connoisseurs Only Vol. 1 [2001] + Vol. 2 [2005] + Vol. 3 [2007] (3 x CDs)

 

Esta é mais uma coleção fascinante e gratificante de singles raros e, em alguns casos, material inédito de artistas que gravaram nas gravadoras Kent e Modern nas décadas de 1960 e 1970. Essas faixas cobrem os anos de 1964 a 1975.

A série "For Connoisseurs Only" da Kent/Modern Collectables é um tesouro para os entusiastas da soul music. Esses álbuns são jornadas cuidadosamente selecionadas pela rica e diversa paisagem da soul dos anos 60 e 70. Cada faixa é uma joia que requer várias audições para ser apreciada completamente, tornando esses álbuns um verdadeiro deleite para os conhecedores.

O que diferencia esses álbuns é sua capacidade de capturar a essência do papel da Kent/Modern como a principal gravadora independente de Los Angeles. A série apresenta uma mistura diversificada de estilos de soul, refletindo o comprometimento da gravadora com a qualidade e a autenticidade. Das performances cruas e emocionais às produções polidas e sofisticadas, cada faixa é um testamento da arte e do talento da era.

Os álbuns também destacam a mistura perfeita de blues e soul que definiu o final dos anos 60 e o início dos anos 70. Essa era, muitas vezes esquecida pelos fãs de blues mainstream, é trazida à vida com produções nítidas e limpas e musicalidade excepcional. A inclusão de faixas inéditas adiciona um elemento de surpresa e descoberta, tornando cada álbum uma experiência auditiva única.

A série "For Connoisseurs Only" é um trabalho de amor, movido pela paixão pela música soul e pela dedicação em preservar seu legado. A curadoria meticulosa e a atenção aos detalhes garantem que cada faixa seja um destaque, oferecendo algo novo e emocionante a cada audição. Esses álbuns não são apenas para ouvintes casuais; eles são para aqueles que realmente apreciam a profundidade e a complexidade da música soul.

Em resumo, a série "For Connoisseurs Only" é essencial para qualquer colecionador sério de soul music. Ela oferece uma experiência rica e envolvente que vai além da mera nostalgia, convidando os ouvintes a explorar e redescobrir a beleza atemporal do soul dos anos 60 e 70. Seja você um conhecedor experiente ou um novato no gênero, esses álbuns certamente cativarão e inspirarão.


MUSICA&SOM

MUSICA&SOM

Track lists

Vol. 1

01 Sims Twins - I've Got to Win Your Love 2:29

02 Johnny Adams - One Day 2:53

03 Danny Monday - Good Taste of Love 2:55

04 Other Brothers - I Got Love 2:27

05 Z. Z. Hill - Make Me Yours 2:54

06 Universals - New Lease on Life 2:56

07 Johnny Gilliam - Baby Take Me Back 2:44

08 Cliff Chambers - Just for You 2:52

09 Bobby White - Just Another Week Behind 2:02

10 Vernon Garrett - Something Went Wrong 3:38

11 Foxfire feat. Johnny Adams - A Star in the Ghetto 3:37

12 Johnny Copeland - Soul Power 2:26

13 Lowell Fulson - Make a Little Love 2:38

14 Vernon & Jewel - That's a Rockin' Good Way 2:50

15 Billy Harner - Honky Dory 2:28

16 Saints - The Sun Don't Shine 2:48

17 Styles - Baby You're Alive 2:30

18 Mary Love - Let Me Know 2:54

19 Ike & Tina Turner - I Need a Man 3:00

20 Ikettes - It's Been So Long 2:39

21 Clay Hammond - I'm Gonna Be Sweeter 2:42

22 Gene Taylor - The Hunch 2:20

23 Marvellos - Down in the City 3:06

24 Tami Young - Come Back Baby 1:50

25 Johnny Williams - You've Got It 2:30

26 Arthur K. Adams - Gimme Some of Your Lovin' 2:43

27 Jackie Day - I Dig it Most 3:05

28 Sweethearts - Eddie My Love 2:32


Vol. 2

01 Bill Watkins - I'm Tired Aka Love Line 2:38

02 Jimmy Robins - That Someone Don't Know It 3:11

03 Joe Haywood - Let Me Whisper in Your Ear 1:51

04 Johnny Copeland - Wizard of Art 2:37

05 Leon Peterson - My Bag 2:35

06 Arthur K Adams - I Need You 2:58

07 Jackie Day - What Kind of Man Are You? 2:48

08 Betty Bibbs - Enough for Everybody 2:53

09 Johnny Williams - Don't Cha' Ever Forget It 2:53

10 Jimmy Bee - Wanting You 2:12

11 Terry & the Tyrants - Say it Baby 2:22

12 Mary Love - Dance, Children, Dance 1:56

13 Felice Taylor - Captured by Your Love 3:06

14 Sweethearts - No More Tears 2:49

15 Brilliant Korners - Change in Me 2:40

16 Styles - I Know You Know That I Know 2:36

17 Willie Hutch - I Can't Get Enough 2:52

18 Trini Lopez - Sinner Not a Saint 2:33

19 Sherwood Fleming - Peace, Love & Understanding 2:26

20 Wayne Boykin - Gray Skies 3:17

21 A Cappella Male Group - I Need Your Lovin' So Bad 3:04


Vol. 3

01 Billy Watkins - Beverly 2:23

02 Marvin Phillips & the Spinners - That Righteous Feeling 2:08

03 Terry & the Tyrants - Love Me to Death 2:56

04 Johnny Copeland - You Must Believe in Yourself 2:28

05 Freeman King - Working for the Woman I Love 3:04

06 Jeb Stuart - Can't Count the Days 3:32

07 Jackie Day - If I'd Lose You 2:56

08 Al King - My Name is Misery 2:54

09 Tommy Youngblood - Back in the Saddle 2:23

10 Willie Headen - I Want to Know 2:19

11 Vernon Garrett - I'm Guilty 2:54

12 The Ikettes - Don't Feel Sorry for Me 2:44

13 Felice Taylor - Good Luck Aka New Love 2:10

14 Mary Love - I've Gotta Get You Back 2:44

15 The Windjammers - Poor Sad Child Part 1 3:08

16 The Four Tees - I Could Never Love Another 3:35

17 Bobby White - It's a Great Life 2:34

18 Leon Peterson - Baby, Baby, Baby 2:45

19 Gene Taylor - Cut Me Loose 2:49

20 Frank Armstrong & the Stingers - Feel Like I Want to Holler 2:42

21 Esther Williams - It's O. K. 2:14

22 Little Henry & the Shamrocks - The Ta Ta Song 2:06

23 Jimmy McCracklin - This Life of Mine 2:29

24 Willie Gauff & the Love Brothers - Whenever I Can't Sleep 2:40




“Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas” (Warner, 1987), Titãs

 


Em 1986, CabeçaDinossauro fez com que os Titãs saíssem da condição de uma banda mediana para a linha de frente do rock nacional. Combinando letras corrosivas, que atacavam o conformismo e a repressão, com uma sonoridade crua e direta, a banda paulista conseguiu um raro feito: agradar tanto à crítica quanto ao público em uma época de efervescência cultural. O sucesso desse álbum, marcado por hits instantâneos como “Polícia”, “O Que”, “Homem Primata”, “Família”, “AA UU” e “Bichos Escrotos”, trouxe uma nova responsabilidade para a banda: o que fazer a seguir? Em meio à alta expectativa, os Titãs abraçaram o desafio de continuar inovando, e o resultado foi Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas, o quarto álbum de estúdio da banda. Se Cabeça Dinossauro foi uma revolução, Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas representou a consolidação dessa revolta criativa, expandindo os horizontes da banda sem perder o vigor que a consagrou. 

Os Titãs entraram em estúdio para as gravações do novo álbum quando ainda estava fazendo a turnê de Cabeça Dinossauro. As gravações do novo álbum ocorreram no estúdio Nas Nuvens, entre agosto e outubro de 1987, tendo Liminha à frente da produção. Era o segundo álbum dos Titãs que Liminha produzia, sendo Cabeça Dinossauro o primeiro. 

As gravações foram marcadas por experimentalismo, desde novidades tecnológicas como a bateria eletrônica e o sample. Mas o experimentalismo titânico foi também marcado por improvisos, como o uso de utensílio de cozinha assadeira, para fazer a percussão da faixa “Diversão”. 

No final de outubro de 1987, a mixagem do álbum estava concluída, e o material gravado foi enviado para Londres para realizar os cortes no Town House. Algumas faixas, sobretudo as que são “grudadas” nas outras, precisavam cortes entre elas que no Brasil não foi possível por não haver no país tecnologia possível para realizar os cortes como a banda e produtor queriam. 

Ainda sob os efeitos do impacto causado por Cabeça Dinossauro, a Warner começou a divulgar nas rádios de todo o Brasil a música “Lugar Nenhum”, faixa do novo álbum que estava por vir. 

Os Titãs na época do álbum Cabeça Dinossauro.

O álbum Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas foi finalmente lançado em 23 de novembro de 1987 através da gravadora Warner. Na época, o lançamento do disco foi acompanhado de um release escrito pelo poeta Paulo Leminski (1944-1989) que dentre outras coisas ditas sobre o disco destacava que “No Cabeça Dinossauro, vocês demoliram com os cinco pilares da ordem social, a polícia, o Estado, a Igreja, a família e o capitalismo selvagem. Agora chegou a hora de vocês começarem a demolir as coisas de dentro”. 

Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas é uma evolução natural de Cabeça Dinossauro. O álbum mantém o discurso contestador do seu antecessor, mas musicalmente, vai além ao propor o experimentalismo ao fazer uso dos recursos eletrônicos para a criação como bateria eletrônica e o sample. Nesse aspecto, os Titãs já acenavam para essa possibilidade com “O Que”, última faixa do álbum Cabeça Dinossauro, um funk onde a banda utilizou bases rítmicas eletrônicas e que foi o ponto de partida para o experimentalismo eletrônico empregado em Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas. 

O curioso título do disco vem do título de uma das faixas do álbum. Esse título tão incomum veio de uma frase dita pela esposa de Nando Reis, ao afirmar que o Brasil era “o país de banguelas” ao se referir à pobreza no país. A dificuldade das camadas mais pobres da população brasileira ter acesso a tratamento dentário, acabava levando essas pessoas a perderem seus dentes. A partir da frase dita pela esposa, Nando Reis teve a ideia de compor com Marcelo Frommer (1961-2001) a música “Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas” e que daria nome ao álbum. 

A capa do disco é uma foto que mostra colunas de um templo grego antigo, num total de oito colunas, contadas com a contracapa, cada uma delas representando cada membro dos Titãs. Ao mesmo, as colunas e os espaços vazios entre elas representariam simbolicamente uma arcada dentária desdentada, fazendo uma alusão do título do álbum. 

O outro dado interessante é que as colunas do templo grego antigo na capa do álbum fazem referência ao nome da banda, que evoca os titãs da mitologia grega. As fotos das colunas foram tiradas por um tio do vocalista Branco Mello durante uma viagem à Grécia, e o conceito artístico foi criado por Sérgio Britto.

O escritor Paulo Leminski escreveu o release de lançamento do álbum
Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas.

Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas não era divido por lado A e lado B ou lado 1 e lado 2, como era o comum, mas sim por lado T e lado J, e cada um musicalmente diferente do outro. Enquanto o lado T é mais voltado para as experimentações eletrônicas, o lado J é mais roqueiro, mais apoiado no baixo, bateria guitarra e teclados. 

O álbum abre com “Todo Mundo Quer Amor”, faixa curta, com uma base eletrônica e cheia de colagens sonoras. A letra escrita por Arnaldo Antunes versa sobre o amor como um sentimento vivenciado por todo tipo de gente, independente de caráter e condição social. 

Logo na sequência, “Comida”, uma canção que traz nos seus versos a mensagem do inconformismo e da insatisfação. A letra discute a busca por mais do que necessidades básicas, enfatizando que as pessoas desejam também prazer, arte, diversão e uma vida plena, além de comida e dinheiro, afinal de contas, viver não se resume a trabalhar para pagar contas. 

“O Inimigo” é uma repetição de dois versos, quase um “mantra”: “O inimigo sou eu, O inimigo é você”, que finaliza com “O inimigo sou eu / Às vezes você tem razão”. É daquelas faixas que não acrescentam grande coisa ao disco. 

“Corações e Mentes” é um pop rock radiofônico que explora o conflito entre o amor e ódio. Reflete sobre as contradições emocionais e as dificuldades de encontrar paz em meio a esses sentimentos intensos. Em “Diversão”, os Titãs tratam da busca por prazer e distrações superficiais como uma forma de aliviar a dor e a solidão, apesar de muitas vezes serem soluções temporárias e fúteis. 

“Infelizmente” encerra o lado A do álbum. A faixa aborda a alienação e a miséria humana, retratando a via de alguém preso em uma existência degradante e sem perspectiva de mudança. 

Arnaldo Antunes em cena do videoclipe de "Comida".

O lado B, o lado mais roqueiro do disco, começa com a faixa-título. A letra repete o tempo todo o título da música, enquanto que a base instrumental é pesada e agressiva. “Mentiras” é um pop rock veloz que cujos versos expressam a frustração e a desconfiança em relação às tentativas alheias de impor julgamentos e soluções, sendo percebidas como falsas e manipuladoras. 

“Desordem” é outro pop rock radiofônico presente no disco, que abordam o caos social e a falta de justiça em uma sociedade marcada pela violência e corrupção. “Lugar Nenhum” remete aos tempos de Cabeça Dinossauro, e expressa a sensação do indivíduo em não pertencer a lugar algum, a rejeição de identidade e nacionalidade, e a sua busca por uma existência fora de qualquer categorização. 

“Armas Pra Lutar” é de longe a faixa mais pesada e agressiva do álbum, e se mostra como um “filhote” da linha evolutiva de Cabeça Dinossauro. Veloz e pesado, o ritmo desta faixa traz como destaque a bateria executada por Charles Gavin, que alguns momentos têm a sua sonoridade sofrendo alternados tipos de efeito. As guitarras e o baixo garantem o peso necessário para o som agressivo desta faixa que versa sobre a ideia de viver sem a necessidade de recorrer a armas ou ferramentas de combate, defendendo uma abordagem mais pacífica e desarmada frente aos desafios da vida. 

“Nome Aos Bois” encerra o álbum fazendo uma crítica através de uma lista com nomes de figuras históricas e contemporâneas negativas, incluindo ditadores e líderes polêmicos como Josef Stalin (1878–1953), Adolf Hitler (1889–1945), Richard Nixon (1913–1994) entre outros. 

Adolf Hitler, Josef Stalin e Emílio Garrastazu Médici são citados
na letra de "Nome Aos Bois".

A recepção do álbum por parte da imprensa foi satisfatória. O jornalista do jornal Folha e S. Paulo, André Singer, achou o álbum “clichê e pouco poético”, mas afirmou que as letras “primitivas” faziam um “contraste satisfatório” com a criatividade dos arranjos detalhistas e bem elaborados das canções do disco. Para Luiz Carlos Mansur, do Jornal do Brasil, foi o “melhor disco produzido no Brasil” até então. 

O público reagiu bem, afinal, mais 250 mil cópias do álbum Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas foram vendidas, e foram gerados quatro singles, “Lugar Nenhum”, “Comida”, “Desordem” e “Diversão”. 

Embora tenha lançado o álbum no final de novembro de 1987, os Titãs só partiram para apresentação em público do álbum a partir de janeiro de 1988, quando se apresentaram na primeira edição do festival Hollywood Rock, ocorrido na Praça da Apoteose, no Rio de Janeiro, e no estádio do Morumbi, em São Paulo. O evento contou com a participação de bandas e cantores nacionais e internacionais. No entanto, o Jornal do Brasil afirmou que a performance dos Titãs foi a melhor de todo o festival. 

Em fevereiro de 1988, os Titãs deram início à turnê nacional do álbum Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas. Mas, em junho, o então octeto paulista embarcou para a Suíça, onde se apresentou no Festival de Jazz de Montreux. O show foi gravado e o material resultou no primeiro álbum gravado ao vivo dos Titãs, Go Back, lançado em outubro de 1988. 

Com Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas, os Titãs demonstraram que o sucesso de Cabeça Dinossauro não foi um golpe de sorte, mas o resultado de uma trajetória marcada pela ousadia e pela vontade de desafiar as convenções. Ao misturar crítica social com inovação musical, o álbum consolidou a identidade da banda e deixou um legado duradouro na música brasileira. As faixas deste trabalho, que continuam a ecoar em shows e influenciar novas bandas, são a prova de que os Titãs souberam traduzir o espírito do seu tempo em arte, mantendo-se relevantes e à frente de seu tempo.

 

Faixas

Lado A

  1. “Todo Mundo Quer Amor” (Arnaldo Antunes) Arnaldo Antunes    
  2. “Comida” (Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer, Sérgio Britto) Antunes             
  3. “O Inimigo” (Branco Mello, Marcelo Fromer, Tony Bellotto) Branco Mello  
  4. “Corações e Mentes” (Marcelo Fromer, Sérgio Britto) Sérgio Britto  
  5. “Diversão” (Nando Reis, Sérgio Britto) Paulo Miklos            
  6. “Infelizmente” (Sérgio Britto) Britto

 

Lado B  

  1. “Jesus não Tem Dentes no País dos Banguelas” (Marcelo Fromer, Nando Reis) Nando Reis         
  2. “Mentiras” (Marcelo Fromer, Sérgio Britto, Tony Bellotto) Miklos
  3. “Desordem” (Charles Gavin, Marcelo Fromer, Sérgio Britto) Britto             
  4. “Lugar Nenhum” (Arnaldo Antunes, Charles Gavin, Marcelo Fromer, Sérgio Britto, Tony Bellotto) Antunes            
  5. “Armas pra Lutar” (Arnaldo Antunes, Branco Mello, Marcelo Fromer, Tony Bellotto) Mello 
  6. “Nome aos Bois” (Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer, Nando Reis, Tony Bellotto) Reis

 

Titãs: Arnaldo Antunes (voz e vocais de apoio), Branco Mello (voz e vocais de apoio), Paulo Miklos (voz e vocais de apoio), Marcelo Fromer (guitarra base), Tony Bellotto (guitarra solo), Nando Reis (baixo, voz e vocais de apoio), Sérgio Britto (teclados, voz e vocais de apoio) e Charles Gavin (bateria e percussão).

Músico convidado: Liminha (percussão em “Diversão”, baixo, sintetizadores e guitarra em “Comida”; violão em “Desordem”; além de produtor do álbum).


Ouça na íntegra o álbum Jesus Não Tem 
Dentes no País dos Banguelas
(incluindo a faixa bônus "Violência")

"Comida" (videoclipe original)

"Lugar Nenhum" (videoclipe original)

"Desordem" (videoclipe original)
 

Há 54 anos, em 11 de janeiro de 1971, Janis Joplin lançava Pearl, segundo álbum de estúdio da artista americana.

Há 54 anos, em 11 de janeiro de 1971, Janis Joplin lançava Pearl, segundo álbum de estúdio da artista americana. 🇺🇲
A obra foi lançada três meses após a morte da artista americana, decorrente de uma overdose de heroína em outubro de 1970. Todas as nove faixas em que ela canta em Pearl, contudo, foram aprovadas e arranjadas pessoalmente por Joplin, produzido por Paul A. Rothchild (The Doors) no Sunset Sound Recorders em Los Angeles enquanto a artista estava viva.
A banda que acompanhou Janis em Pearl foi a Full Tilt Boogie Band, cujos músicos também a acompanharam na Festival Express, uma turnê de show de trem pelo Canadá, no verão de 1970, sendo que muitas canções do álbum foram originalmente gravadas no palco.
Pearl apresenta os single, "Me And Bobby McGee", que tornou-se um hit #1 nos Estados Unidos, "Cry Baby" e "Get It While You Can". A composição autoral Mercedes Benz", cantada à capela, foi a última música que a artista gravou antes de sua morte -- "Buried Alive In The Blues", por sua vez, foi a única faixa cujos vocais Janis não conseguiu registrar, sendo lançada somente instrumental no álbum.
Pearl atingiu o #1 na Billboard 200, nos Estados Unidos, onde vendeu mais de 4 milhões de cópias até hoje, além de atingir o topo das paradas no Canadá, Holanda, Noruega e Austrália. Em 2003, o álbum foi classificado como 122° na lista da revista Rolling Stone dos 500 melhores álbuns de todos os tempos.



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