terça-feira, 14 de janeiro de 2025

O Rappa

 

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Em 1993, com a vinda do cantor granadino Papa Winnie ao Brasil, foi montada uma banda às pressas para acompanhar o cantor em suas apresentações. Formada por Nelson Meirelles, na época produtor do Cidade Negra; Marcelo Lobato, que havia participado da banda África Gumbe; Alexandre Menezes, o Xandão, que já havia tocado com grupos africanos na noite de Paris e Marcelo Yuka, que tocava no grupo KMD-5. Após essa série de apresentações como banda de apoio do cantor, os quatro resolveram continuar juntos e colocaram anúncio no jornal O Globo para encontrar um vocalista. Dentre extensa lista de candidatos, Marcelo Falcão foi o escolhido.
A decisão sobre o nome da banda envolveu opções como "Cão-careca" e "Bate-Macumba". O nome escolhido, O Rappa, vem da designação popular dada ao ato em que policiais interceptam camelôs, o rapa. Com um p a mais para diferenciar, o nome foi escolhido. 
Finalmente, com Falcão na voz, Marcelo Yuka na bateria, Xandão na guitarra, Nelson Meireles no contra-baixo e Marcelo Lobato no teclado, estava formado O Rappa.
Em 1994, lançaram seu primeiro disco, que levou o nome da banda. O Rappa não obteve muito sucesso e foi o único disco com a presença de Nelson Meirelles, que abandonou a banda por motivos pessoais.
1994 - O Rappa
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01 Catequeses do medo (Marcelo Yuka)
02 Não vou me matar (Falcão)
03 Todo camburão tem um pouco de navio negreiro (O Rappa, Marcelo Yuka)
04 Take it easy my brother charles (Jorge Ben)
05 Brixton, bronx ou baixada (O Rappa, Marcelo Yuka, Nelson Meirelles)
06 R.A.M. (O Rappa, Marcelo Yuka)
07 Skunk jammin (Marcelo Yuka)
08 Coincidências e paixões (Marcelo Yuka, Falcão)
09 Fogo cruzado (Marcelo Yuka, Falcão)
10 noite (Marcelo Yuka)
11 Candidato caô caô (Pedro Butina, Walter Meninão)
12 Mitologia gerimum (Marcello Lobato, Marcelo Yuka)
13 Sujo (Marcelo Yuka)


Com a saída de Nelson Meireles, Lauro Farias, que tocava com Yuka no KMD-5, assumiu o contrabaixo. Em 1996, foi lançado o Rappa Mundi, que praticamente introduziu a banda no cenário nacional e quase todas as canções foram sucesso. Entre elas, Pescador de IlusõesA FeiraMiséria S.A.Ilê AyêO Homem Bomba, a regravação de Vapor Barato que ficou conhecida na voz de Gal Costa e a versão nacional para o sucesso de Jimi HendrixHey Joe.

1996 - Rappa Mundi
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01 A feira (O Rappa, MarceloYuka)
02 Miséria S.A (Pedro Luiz)
03 Vapor barato (Jards Macalé, Waly Salomão)
04 Ilê Ayê (Paulinho Camafeu)
05 Hey hoe (B.Roberts, Marcelo Yuka)
06 Pescador de ilusões (O Rappa, MarceloYuka)
07 Uma ajuda (O Rappa, MarceloYuka)
08 Eu quero ver gol (Xandão, O Rappa, Falcão)
09 Eu não sei mentir direito (O Rappa, MarceloYuka)
10 Homem bomba (Marcelo Yuka)
11 Tumulto (Marcelo Yuka)
12 Lei da sobrevivência (O Rappa, Falcão)
13 Óia o rapa (Sergio Natureza, Lenine)



Depois de três anos sem um álbum novo, em 1999 vem a público Lado B Lado A. Com letras "mais fortes" que o anterior, mostra o amadurecimento da banda e revela Yuka como letrista de alto nível em canções como Minha Alma (a paz que eu não quero),O Que Sobrou do CéuMe Deixa e Lado B Lado A, além de Tribunal de Rua, que narra história baseada em fato real, conhecido na mídia como "Rambo, o torturador", que foi a capa da revista Veja de 9 de abril de 1997. Os videoclipe das duas primeiras foram premiadíssimos, tornando-se sucesso nacional. 
1999 - LadoB, Lado A
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01 Tribunal de rua (O Rappa, Marcelo Yuka)
02 Me deixa (O Rappa, Marcelo Yuka)
03 Cristo e oxalá (O Rappa, Marcelo Yuka)
04 O que sobrou do céu (O Rappa, Marcelo Yuka)
05 Se não avisar o bicho pega (Jorge Carioca, Marcinho, Marquinhos PQD)
06 A minha alma (O Rappa, Marcelo Yuka)
07 Lado B Lado A (O Rappa, Marcelo Yuka, Marcelo Falcão)
08 Favela (Xandão, O Rappa, Marcelo Falcão)
09 O Homem Amarelo (O Rappa)
10 Nó de fumaça (O Rappa, Marcos Lobato)
11 A todas as comunidade do engenho novo (O Rappa, Marcelo Falcão)
12 Na palma da mão (O Rappa, Marcelo Yuka)
Em 2000O Rappa causou "comoção pública e muita indignação" entre diversas bandas no Rock in Rio que ocorreria no ano seguinte, a banda seria colocada antes de alguns americanos, e protestaram. Foram retaliados com exclusão, e 5 bandas brasileiras saíram do festival em protesto (SkankRaimundosJota Quest, Cidade Negra e Charlie Brown Jr.)

Em novembro de 2000, o baterista Marcelo Yuka foi vítima direta da violência urbana, ao ser baleado durante tentativa de assalto, ficando paraplégico e assim impossibilitado de tocar bateria. Lobato assumiu o instrumento (deixando para seu irmão Marcos Lobato, contribuinte do O Rappa, os teclados, este não entrou oficialmente para a banda) e O Rappa voltou a tocar. Mesmo debilitado, o baterista voltou ao grupo e no mesmo ano lançaram o disco Instinto Coletivo ao vivo, com um show gravado em 2000, ainda com Yuka na bateria e três inéditas de sua autoria.

2001 - Instinto Coletivo
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01 Intro
02 Tumulto (O Rappa, Marcelo Yuka)
03 Se não avisar o bicho pega (Jorge Carioca, Marcinho, Marquinhos PQD)
04 Miséria S.A (Pedro Luís)
05 Todo camburão tem um pouco de navio negreiro (O Rappa, Marcelo Yuka)
06 O homem amarelo (O Rappa)
07 A minha alma (O Rappa, Marcelo Yuka)
08 Cristo e Oxalá (O Rappa, Marcelo Yuka)
09 Hey joe (Vrs. Ivo Meirelles - M. Yuka, Bill Roberts)
10 Nó de fumaça (O Rappa, Marcos Lobato)
11 Homem bomba (O Rappa, Marcelo Yuka)
12 Me deixa (O Rappa, Marcelo Yuka)
13 Vapor barato (Jards Macalé, Waly Salomão)
14 Lado B Lado A (O Rappa, Marcelo Yuka, Marcelo Falcão)
15 A feira (O Rappa, Marcelo Yuka)
16 Ilê Ayê (Paulinho Camafeu, Gege)
17 Ninguém regula américa (O Rappa, Marcelo Yuka, Sepultura)
18 Milagres (O Rappa, Marcelo Yuka)
19 Instinto coletivo (O Rappa, Marcelo Yuka)
20 Fica doido varrido (Frazão, Benedito Lacerda)
21 R.A.M (O Rappa, Marcelo Yuka)



Yuka desligou-se da banda deixando inimizade com os outros companheiros, alegando ter sido expulso por não concordar com o novo rumo que a banda vinha seguindo. Yuka fundou outro grupo, F.U.R.T.O (Frente Urbana de Trabalhos Organizados), que faz parte de um projeto social homônimo, que, segundo Yuka, era algo maior do que O Rappa o possibilitava.


Em 2003, O Silêncio Q Precede O Esporro, primeiro álbum sem ligação com Yuka foi lançado. Sem as letras de Yuka, Marcos Lobato, tecladista colaborador, tornou-se o principal compositor com a autoria de diversas canções de sucesso como Reza Vela, Rodo Cotidiano e Papo de Surdo e Mudo. Em parceria com Carlos Pombo compuseram O Salto, com letra forte em relação ao resto do disco, mais ameno sem as letras de Yuka.

2003 - O Silêncio Q Precede o Esporro
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01 Reza Vela (O Rappa)
02 Rôdo Cotidiano (O Rappa)
03 Papo De Surdo E Mudo (O Rappa)
04 Bitterusso Champagne (Marcelo Lobato/Falcão/Xandão/Lauro)
05 Mar De Gente (O Rappa)
06 O Salto (O Rappa)
07 Linha Vermelha (Marcelo Lobato/Falcão/Xandão/Lauro)
08 Pra Pegador (Marcelo Lobato/Falcão/Xandão/Lauro)
09 Óbvio (Marcelo Lobato/Falcão/Xandão/Lauro)
10 Maneiras (Chico da Silva)
11 O Novo Já Nasce Velho (Marcelo Lobato/Falcão/Xandão/Lauro)
12 Deus Lhe Pague (Chico Buarque)
13 O Salto II (Alexandre Kazuo)



Em 2005, atendendo a convite por parte da MTV Brasil, a banda gravou o especial Acústico MTV com participação de Maria Rita em "O que sobrou do céu" e "Rodo Cotidiano", e Siba, do Mestre Ambrósio, na rabeca em algumas canções. O disco também rendeu um DVD com algumas canções além das presentes no CD.

2005 - Acústico MTV
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01 Na Frente do Reto (Marcos Lobato, Lauro Farias, Marcelo Falcão, Xadão)
02 Mar de Gente (O Rappa)
03 Brixton, Bronx ou Baixada (O Rappa, Marcelo Yuka, Nelson Meirelles)
04 Homem Amarelo - Part. Espec. Siba (O Rappa)
05 Lado B Lado A (O Rappa, Marcelo Yuka, Marcelo Falcão)
06 Reza Vela (O Rappa)
07 Se Não Avisar o Bicho Pega (Jorge Carioca, Marcinho, Marquinhos PQD)
08 Rodo Cotidiano - Part. Espec. Maria Rita (O Rappa)
09 Não Perca as Crianças de Vista (O Rappa)
10 Pescador de Ilusões (O Rappa, MarceloYuka)
11 O Salto (O Rappa)
12 Papo de Surdo e Mudo (O Rappa)
13 Eu Quero Ver Gol (Xandão, O Rappa, Falcão)


No dia 7 de julho de 2007, O Rappa realizou um concerto na etapa brasileira do festival Live Earth no Rio de Janeiro.

Em 2008 eles lançaram o álbum, 7 Vezes. A faixa escolhida para primeiro single, Monstro Invisível, chegou as rádios no dia 8 de julho e fez muito sucesso, sendo bastante executada. Destaque também para o segundo single, Meu Mundo é o Barro e Hóstia.

2008 - 7 Vezes
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01 Meu Santo Tá Cansado (O Rappa)
02 Verdade de Feirante (O Rappa)
03 Hóstia *
04 Meu Mundo é o Barro *
05 Farpa Cortante (Lauro Farias)
06 Em Busca do Porrão (Falcão, Lauro, Xandão, Lobato)
07 7 Vezes (O Rappa)
08 Monstro Invisível (O Rappa)
09 Maria *
10 Súplica Cearense (Nelinho, Gordurinha)
11 Fininho da Vida *
12 Documento *
13 Respeito pela Mais Bela (O Rappa)
14 Vários Holofotes (O Rappa)



Em 22 de agosto de 2009, O Rappa fez um show na favela da Rocinha, onde foi gravado o seu mais novo DVD ao vivo. Ele contem várias músicas do álbum 7 vezes, mas também conta com músicas antigas como "Hey Joe", "Minha Alma", "Me Deixa" entre outras. 

2010 - Ao Vivo na Rocinha
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01 Intro: DJ Negralha
02 Meu Mundo é o Barro *
03 Reza Vela (O Rappa)
04 Lado B Lado A (O Rappa, Marcelo Yuka, Marcelo Falcão)
05 Hóstia *
06 Homem Amarelo (O Rappa)
07 Mar de Gente (O Rappa)
08 Documento *
09 Minha Alma (A Paz que Eu Não Quero) (O Rappa, Marcelo Yuka)
10 Monstro Invisível (O Rappa)
11 Hei Joe (Hey Joe) (Vrs. Ivo Meirelles - M. Yuka, Bill Roberts)
12 Maneiras (Chico da Silva)
13 Tribunal de Rua (O Rappa, Marcelo Yuka)
14 Linha Vermelha (Marcelo Lobato/Falcão/Xandão/Lauro)
15 Meu Santo tá Cansado (O Rappa)
16 O Que Sobrou do Céu (O Rappa, Marcelo Yuka)
17 Rodo Cotidiano (O Rappa)
18 Todo Camburão Tem Um Pouco de Navio Negreiro (O Rappa, Marcelo Yuka)
19 7 Vezes (O Rappa)
20 O Salto (O Rappa)
21 Vapor Barato (Jards Macalé, Waly Salomão)
22 Súplica Cearense (Nelinho, Gordurinha)
23 Me Deixa (O Rappa, Marcelo Yuka)
24 Pescador de Ilusões (O Rappa, MarceloYuka)
25 Ilê Ayê (Que Bloco é Esse) (Paulinho Camafeu, Gege)



Em 2013 lançam novo álbum intitulado Nunca Tem Fim..., com músicas como "Anjos (Pra Quem Tem Fé)" e "Auto-Reverse", com o qual 3 meses após lançamento, certificado de Disco de Ouro é atribuído ao novo álbum.

2013 - Nunca tem Fim
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01 O Horizonte é logo Ali
02 Auto-reverse
03 Boa Noite Xango
04 Cruz de Tecido
05 Fronteira
06 Anjos
07 Doutor, Sim Senhor
08 Sequencia Terminal
09 Vida Rasteja
10 Um Dia Lindo
11 Vem pra Rua
12 Everything Changes

2016 - Acústico Oficina Francisco  Brennand
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01 Pescador de Ilusões (O Rappa, MarceloYuka)
02 Anjos
03 Vários Holofotes (O Rappa)
04 Monstro Invisível (O Rappa)
05 Cruz de Tecido
06 Vida Rasteja / Vassourinha / Voltei Recife / Asa Branca
07 Hóstia
08 Rodo Cotidiano (O Rappa) 
09 Bitterusso Champagne (Marcelo Lobato/Falcão/Xandão/Lauro)
10 Fininho da Vida
11 Sentimento
12 Não Vão me Matar
13 Intervalo entre Carros
14 7 Vezes (O Rappa)
15 Reza Vela (O Rappa) / Norte / Nordeste me Veste
16 Uma Vida Só
17 Na Horda
18 Linha Vermelha (Marcelo Lobato/Falcão/Xandão/Lauro)

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ROCK ART

 


Banda: Beat Circus; Álbum: Dreamland

 

Banda: Beat Circus
Álbum: Dreamland
Ano: 2008
Gênero: Cabaré, experimental


Em 1904, foi fundado um enorme parque de diversões na cidade de Nova York. O parque se chamava Dreamland (Terra dos Sonhos) e continha uma enorme variedade de atrações, que iam desde os tradicionais domadores de leões até uma inteira vila "lilliputiana" com nada menos que 300 anões (!!) e uma inusitada exposição de bebês em incubadoras – como os hospitais ainda não confiavam totalmente no equipamento, uma família de circenses resolveu testá-los em seus próprios filhos, trigêmeos prematuros. O parque possuía uma enorme torre, mais de um milhão de lâmpadas e muitos outros superlativos.


Apesar de toda a pompa e beleza, o Dreamland teve um destino trágico: um enorme incêndio em 1911 engoliu o parque, e a história do enorme parque terminou por aí (nota: os bebês das incubadoras foram salvos, mas, infelizmente, um dos leões não teve a mesma sorte e foi morto a tiros pela polícia novaiorquina enquanto corria solto pelas ruas).

A trágica história do parque de diversões foi absorvida pela cultura pop e inspirou diversos relatos, reportagens, romances. Inspirou, também, um compositor chamado Brian Carpenter, a mente por trás do Beat Circus e, consequentemente, por trás deste álbum. Falemos um pouco, então, deste peculiar projeto.

A história da "banda", se é que o termo se aplica, teve começo em 2001, quando Carpenter se mudou para Boston para dirigir um documentário sobre a vida de Albert Ayler, um dos saxofonistas mais extremos e peculiares do free jazz (aliás, seu disco Spiritual Unity, de 1964, é belíssimo). Ele conheceu o banjoísta Brandon Seabrook, que lhe apresentou alguns músicos, e juntos eles criaram um projeto musical que se firmava em músicas circenses e improvisação. Originalmente chamado de Beat Science, o projeto foi rebatizado de Beat Circus e lançou seu primeiro álbum, Ringleaders, em 2004, contendo o tipo de material descrito nas linhas anteriores.

Em 2005, o som do Beat Circus sofreria uma guinada radical em seu estilo. Carpenter começou a escrever um conjunto de músicas que totalizavam 150 páginas de partituras com letras, uma mudança bastante significativa. A obra era baseada na trágica história do parque Dreamland, tanto musicalmente, com sua sonoridade de cabaré e pré-jazz, quanto liricamente, com referências a fatos e personagens. Para executá-la, Carpenter incrementou a formação original do Beat Circus com novos integrantes, resultando em um grupo de nove pessoas. Além disso, como se o projeto já não fosse ambicioso o suficiente, anunciou que Dreamland era a primeira parte de uma trilogia denominada Weird American Gothic – embora não se saiba exatamente qual seja seu fio condutor, visto que não há nenhuma ligação entre Dreamland e o álbum seguinte, Boy From The Black Mountain. Mas vamos às faixas.

A abertura Gyp the Blood é instrumental e tem um ambiente misterioso e antigo, instigando o ouvinte e convidando-o a desvendar o que vem pela frente. É o grupo se apresentando: percussão, banjo, cordas e metais vão surgindo aos poucos, e antes que se perceba estão enchendo os ouvidos.

O apito do trem junta a faixa anterior a The Ghost of Emma Jean. A faixa truncada, que nunca parece chegar a um desdobramento com seu banjo insistente e suas cordas em staccato. Quando os vocais do próprio Carpenter entram, entendemos: a faixa conta a história de Emma Jean, uma garota que morreu atropelada por um trem e agora vive do sombrio ofício de assombrar sonhos. Ao final, uma gaita simula os apitos do  trem enquanto o fantasma, interpretado por Orion Rigel Dommisse, canta um sinistro la la la.

O curto e sombrio interlúdio Hypnogogia anuncia uma das melhores faixas do disco: Delirium Tremens. O título da música é uma referência ao termo usado para descrever os sintomas da abstinência de álcool em alguns dependentes: delírios, pesadelos, tremedeiras e outras tantas coisas desagradáveis. O andamento lento e sinistro, as escalas no banjo, a percussão e as cordas fantasmagóricas fazem o pano de fundo para a voz teatral de Carpenter cantar sofrida. No refrão particularmente viciante, em que o título da música é cantado por um coro, entra um acordeon e tudo ganha um tom especialmente tragicômico. Sensacional.




Lucid State é mais um interlúdio, que tem uma pegada meio nuevo tango, parecida com as músicas compostas por Glover Gill e executadas pela Tosca Tango Orchestra para a trilha sonora do ótimo filme Waking Life (se você não assistiu, assista!). Ela abre alas para a sombria Death Fugue, que tem uma pegada totalmente heavy metal apesar da falta de guitarra e distorções. Os vocais em harmonia, os violinos quase diabólicos ao fundo e o estouro no meio da música são puro rock and roll.

The Good Witch é mais um filler, com uma voz feminina fazendo vocalizações com um teclado ao fundo. Em seguida, a valsa triste Dark Eyes é anunciada por uma longa introdução ao violino, e nos sentimos no casamento de Connie Corleone no primeiro filme da trilogia O Poderoso Chefão. Belíssimo tema.

A delicadeza e lirismo da valsa morre subitamente na frenética Slavochka, com seu dueto furioso entre violino e trompete. A melodia e o andamento enganam o ouvinte e fazem parecer que a canção nasceu do mesmo vilarejo romeno de onde saiu o Taraf de Haïdouks, e é muito fácil imaginar uma trupe cigana dançando fervorosamente. Nem mesmo as mudanças de andamento e compasso descaracterizam esta ótima composição, que é um dos grandes momentos do álbum.

The Gem Saloon é interessantíssima, com uma pegada meio Tom Waits. Entre a voz de Carpenter e a das garotas que cantam o refrão, ouvimos muitas camadas diferentes de instrumentos e, pela primeira vez, um solo de guitarra (slide guitar, para ser mais preciso).

Após o interlúdio El Torero, que é basicamente um solo de trompete tocado pelo próprio Carpenter, temos a valsa flamenco-circense The Rough Riders, com suas diversas mudanças rítmicas, passando do andamento quase embriagado até um empolgante flamenco. Um momento um pouco morno, mas não menos bonito.

Coney Island Creepshow é bastante teatral. Começa com o anúncio de um apresentador de circo da grande atração: o show de aberrações e é evidente que o clima circense domina a canção, que remete totalmente à música de cabaré. Além de Carpenter, DJ Hazard e M. McNiss também cantam, e os três vão se alternando verso a verso. Divertida, mas não é um destaque.

Hell Gate é bizarríssima, misturando muitos fragmentos em seus 2:37 de duração. Música circense "fora de rotação", um curto momento meio Fantômas, interrupções inesperadas, corais sinistros, música balcânica – tudo está aqui. O interlúdio – se é que podemos chamá-lo assim – mais interessante do álbum.

Meet Me Tonight In Dreamland representa o momento em que o circo pega fogo - literalmente. É um dramático solo de piano com efeitos sonoros ao fundo, que logo para e dá lugar ao som de fogo e gritos. Quando tudo parece acabar, um último solo no melhor estilo "saloon" encerra tudo.

O álbum encerra com March of the Freaks, que começa após um minuto de silêncio. Alguns suspiros meio "beat box" quebram o silêncio, e uma última melodia circense finaliza a primeira etapa da trilogia de Brian Carpenter.

Dreamland é um álbum interessantíssimo e tem alguns momentos verdadeiramente brilhantes, como Delirium Tremens e Slavochka, mas o final é um pouco anticlimático. De qualquer maneira, vale a pena conhecer a trupe de Carpenter e suas impressionantes habilidades. O melhor de tudo é que o álbum todo pode ser ouvido gratuitamente neste link, que traz também a lista de participantes em cada uma das músicas.

Tracklist:
1. Gyp The Blood
2. The Ghost of Emma Jean
3. Hypnogogia
4. Delirium Tremens
5. Lucid State
6. Death Fugue
7. The Good Witch
8. Dark Eyes
9. Slavochka
10. The Gem Saloon
11. El Torero
12. The Rough Riders
13. Coney Island Creepshow
14. Hell Gate
15. Meet Me Tonight In Dreamland
16. March Of The Freaks



Artista: Manu Galure; Álbum: Vacarme

 

Artista: Manu Galure
Álbum: Vacarme
Ano: 2010
Gênero: Chanson; jazz


Há alguns posts, falei sobre o álbum I Love You But I Must Drive Off This Cliff Now, do Got a Girl, e as circunstâncias exigiram que eu fizesse um apanhado geral sobre o que é o chanson e a música pop francesa. Como o álbum aqui resenhado é um álbum francês tanto em origem quanto em estilo, é pertinente dar um ctrl+c ctrl+v:
Um termo muito recorrente quando se fala de música francesa é chanson (canção). Embora o termo possa ser aplicado a qualquer música cantada em francês, quando se fala em chanson se está pensando num gênero musical que foi popular na França no período entre o final do século XIX até a metade da década de 60 no século XX. Talvez seus representantes mais conhecidos fora dos países francófonos sejam o belga Jacques Brel e Édith Piaf, ambos idolatrados por suas vozes e pela singularidade de suas interpretações. Talvez o equivalente brasileiro do chanson seja o samba-canção: em ambos os estilos, os intérpretes apresentam vozes potentes, que são o principal foco da canção, com o acompanhamento de uma orquestra, piano ou instrumento acústico. Porém, a partir dos anos 60, o estilo, a exemplo do que ocorreria em diversos outros países do mundo ocidental, acabou se misturando a outros de origens distintas (como o rock and roll) e gerando diversos subgêneros, como o yé-yé  e o pop.
Pois bem. A mistura de gêneros e influências citada acima resultou em um boom criativo na França, e até hoje algum artista ou grupo oriundo do país ocasionalmente faz sucesso fora do circuito francófono: Daft PunkAirJusticeManu Chao e outros tantos, às vezes inclusive cantando em francês (alguém se lembra do Tragédie e seu hit Hey Oh?). Porém, se há nas músicas destes artistas algum resquício do velho chanson, ele está tão diluído que chega a ser difícil encontrá-lo.

Definitivamente este não é o caso das composições de Manu Galure. O rapaz de 29 anos exala o chanson pelos poros de seu piano e de sua voz, apresentando-o com novas roupas, novo fôlego, mas mantendo-o plenamente reconhecível. Curiosamente, ao pesquisar sobre ele na internet, notei que é bastante desconhecido fora da França e, talvez, até dentro dela. Sua página na Wikipedia francesa, por exemplo, é bem modesta, e não existe sequer uma menção a ele na gigantesca versão em inglês. Ao recorrer ao seu site oficial (em francês), frustrei-me ao ler "biografia" no plural, sendo que apenas uma das seis (!) está pronta e é uma piada: um registro fictício "escrito em 2078" na "Antologia do Chanson Francês" dizendo como Galure é a "figura maior do ainda-mais-novo-chanson-francês". Mas deixemos as gracinhas de lado e vamos à música.

Vacarme é o segundo álbum de Manu Galure e foi lançado em 2010 (o debut, Le Meilleur des Vingt Ans de Manu Galure, fora lançado dois anos antes). A capa é pouco reveladora para alguém que, como eu, começa a ouvir o álbum sem ter ideia do que esperar em termos de som, mas basta Danse du Vieux (Dança do Velho, corrijam-me se eu estiver equivocado) dar as caras para identificarmos alguns dos elementos chave do estilo de Galure. O piano é o instrumento dominante, não há um comprometimento com a seriedade nas letras e a interpretação das mesmas é bastante teatral. Além disso, no caso da faixa-título, a ausência de guitarras, baixo e até mesmo bateria chama a atenção; a percussão fica por conta de um "relógio-metrônomo" e de eventuais pratos. A performance vocal é fantástica, alternando entre um vocal quase falado para um "lalala" rouco e forte, à lá scat singing (aquelas vocalizações improvisadas e sem letra, típicas do jazz).

Captain Ravage é divertida e soa mais moderna que a anterior. Embora seja guiada principalmente pela voz e pelo teclado de Galure, temos aqui baixo, bateria, uma eventual guitarra e até backing vocals femininos, num estilo mais próximo do jazz. Gostaria muito de poder entender tudo o que ele fala, mas é possível perceber que ele conta a saga de seu personagem que dá título à música. Uma divertida e bela canção.

Uma das minhas favoritas é a terceira, Berlin-Lycanthropes (Lobisomens de Berlim). Um jazz com clima noir, com direito a eventuais uivos histéricos e mais scat singing. O baixo é o grande destaque aqui, apesar de, ao vivo, ser tocado ao teclado com bastante competência por Pierre Bauzerand. Confira abaixo uma performance (em andamento bem mais lento do que no álbum).



Les Éléphants é mais lenta, vagarosa como a passada dos elefantes que lhe dão nome. Estende-se por mais de seis minutos e vai se intensificando pouco a pouco, chegando a um clímax instrumental e morrendo aos poucos com o fade out. Entretanto, musicalmente, não é uma das mais interessantes de Vacarme, e me pergunto se a letra não esconde as principais qualidades desta canção.

A morosidade da faixa anterior é destruída por Je Crache (Eu Cuspo), o momento mais rock and roll do álbum. É a primeira vez que a bateria dá as caras com mais volume, e o ritmo acelerado e as pausas remetem ao rock dos anos sessenta, com um coral de vozes femininas cantando o refrão. Em alguns momentos, os teclados tocam um riff pesado que pode até parecer emprestado do Deep Purple. Faixa muito interessante e destoante do resto do disco.

Méliès, uma homenagem ao famoso ilusionista e cineasta francês Georges Méliès, tem um ritmo quase galopante, com o teclado pulsante e o piano mais melódico dialogando o tempo todo enquanto Galure canta. Uma bela homenagem a uma figura importantíssima, que revolucionou o cinema. Veja abaixo Méliès em ação em Le Voyage Dans la Lune, de 1902 (!!):




Du Vacarme (Algazarra) começa com um clima sinistro, com acordes dissonantes no teclado e um Galure incisivo recitando a letra. Porém, aos poucos, a bateria vai se intensificando, e a canção ganha mais peso e texturas, ficando cada vez maior. Quando nos damos conta, a música está enorme e surpreendentemente barulhenta, envolvendo absolutamente o ouvinte em apenas três minutos. Uma ótima faixa.

Bijoux (Jóias) é uma pequena peça de dois minutos de duração. Composta apenas por piano e voz, é a mais melancólica de Vacarme, mas também uma das mais belas, com uma interpretação impecável de Galure tanto na voz quanto no piano.

Quelque Chose en Mi (Qualquer Coisa em Mi) tem uma pegada totalmente big band, com o baixo dominante e mais scat singing. Poderia estar em uma versão francesa do clássico O Máscara, em alguma cena dentro do Coco Bongo. O solo de piano de Galure é sensacional.

Valse-moi (Valsa-me) é, como o nome sugere, uma valsa. Entretanto, está longe de ser convencional, visto que o compasso é irregular e há diversas variações de intensidade dentro da música. Os versos são quase circenses, enquanto os refrões são minimalistas, com Galure cantando com voz suave e tocando arpejos agudos e rápidos em seu piano. Mais uma bela faixa.

O álbum termina com Le Cabaret de Galure (O Cabaré de Galure), uma faixa que lembra Les Éléphants em andamento, mas com uma percussão mais leve. É uma pena não saber o que ele está dizendo, porque sem o conteúdo da letra a faixa que fecha Vacarme soa um tanto sem graça. Mas isso está longe de tirar o brilho ou o talento deste álbum de um artista tão jovem e talentoso.

Vacarme é um ótimo álbum, com momentos verdadeiramente interessantes (como Danse du VieuxBerlin-Lycanthropes, Je Crache e Valse-Moi). Porém, é evidente que a obra de Manu Galure se torna muito mais interessante com a plena compreensão das letras, e o idioma se torna uma barreira importante nesse aspecto. Mas mesmo sem parler pas français, é possível aproveitar este belo disco, que pode ser ouvido na íntegra neste link do site oficial de Manu Galure.

Tracklist: 
1. Danse du Vieux
2. Captain Ravage
3. Berlin-Lycanthropes
4. Les Éléphants
5. Je Crache
6. Méliès
7. Du Vacarme
8. Bijoux
9. Quelque Chose en Mi
10. Valse-moi

Artista: Fantastic Plastic Machine; Álbum: The Fantastic Plastic Machine

 


Artista: Fantastic Plastic Machine
Álbum: The Fantastic Plastic Machine
Ano: 1997
Gênero: Música eletrônica; Shibuya-kei


Em 2003, na remota época anterior ao YouTube, os vídeos circulavam pela internet via e-mails, softwares de compartilhamento, FTPs e outros meios não tão acessíveis. Eu não me lembro exatamente por qual deles chegou um comercial da Louis Vuitton que me chamou muito a atenção. A parte visual era belíssima, mas o que realmente me prendeu foi a música: uma mistura de muitos fragmentos e instrumentos resultando em um som surpreendentemente pop e bonito. Era o Superflat Monogram, produzido pelo artista japonês Takashi Murakami e com trilha sonora de Tomoyuki Tanaka, mais conhecido por seu nome artístico Fantastic Plastic Machine.


Descobri o nome da música – Different Colors – e descobri também que o estilo do Fantastic Plastic Machine tem um nome: Shibuya-kei, ou "estilo de Shibuya". A origem deste nome é bem interessante. Shibuya é um distrito de Tokyo, famoso por suas inúmeras lojas de roupas de grifes famosas. Do seio dessa cultura de consumo, um grupo de DJs, produtores e bandas começou a produzir materiais que traziam algumas características em comum: bastante influência da bossa nova, do pop francês sessentista, do yé-yé, do lounge e de outras vertentes ocidentais, mas fragmentadas e arranjadas de uma maneira peculiar, que refletia a realidade da juventude oriental daquela região.

O primeiro álbum do FPM (abreviação que passaremos a usar para o restante deste post), o auto-intitulado The Fantastic Plastic Machine, é considerado um álbum seminal do shibuya-kei, apresentando seus principais elementos de maneira brilhante e equilibrada. Vamos às faixas!

Apesar de curtíssima, a música que abre o disco, Bon Voyage, já mostra alguns elementos descritos acima: colagens sonoras, uma voz feminina contando one, two, three, four ao fundo, um coralzinho fazendo o pano de fundo e, inesperadamente, uma voz masculina deseja ao ouvinte, em francês, um bon voyage. É o suficiente para o álbum começar de verdade com L'Aventure Fantastique. A melodia da introdução é simples, mas é como se cada nota da frase musical tivesse sido tirada de uma outra música e colada ali. Um sample de voz feminina dá as boas-vindas ao ouvinte em francês e inglês, e então começa uma batida eletrônica típica do house. Em meio aos eventuais samples de vozes, uma melodia quase infantil (e bastante fragmentada) chama a atenção, como se tivesse saído de um brinquedo muito esquisito de uma criança do futuro. O arranjo tem tantos detalhes que é preciso escutar muitas vezes para captar tudo, e ainda assim é extremamente fácil de escutar. Um belíssimo começo.

Mr. Salesman emprega em sua melodia e ritmo muitos elementos do yé-yé sessentista francês (o equivalente ao nosso iê-iê-iê brasileiro), mas com um brilho e alegria muito característicos do shibuya-kei. Desta vez, a estrutura da música é mais convencional, com versos e refrão, mas a maneira como o arranjo é construído é muito peculiar. Muitos teclados, flauta e diversos outros instrumentos, provavelmente oriundos de canções dos anos 60 e 70 e sabe-se lá de onde. Outra música muito bacana.

A faixa seguinte, Barcherlor Pad (F.P.M. edit), empresta bastante do pop francês e do drum 'n' bass, exagerando nas vocalizações femininas cantando um pa-pa-pa sobre uma base percussiva muito completa, preenchida por baixo, guitarra e muitos teclados. Em determinada parte da música, uma pausa que até lembra a pausa dos Mutantes em Rua Augusta. Interessante ver como o FPM consegue criar tantas variações de intensidade e arranjo dentro da mesma melodia.

Fantastic Plastic World (voice 'n' baroque) tem uma batida reta da bateria e um toque de trip-hop e soul. O vocal é todo falado, quase sussurrado, em francês por uma moça de voz suave sobre a base à-lá The Roots, até que eventualmente um sample de chanson (venho falando muito sobre o chanson em resenhas recentes) dá as caras e começa a competir com um ruído que fica cada vez mais agudo. Quando tudo parece caminhar para um gran finale, o volume da música vai abaixando e temos um tradicional fade-out, que neste contexto é realmente surpreendente.

O ouvinte brasileiro certamente se sentirá em casa ao ouvir a próxima faixa, Steppin' Out. A canção é uma belíssima bossa nova com uma roupagem diferente, contendo um discreto beatbox e um tecladinho futurista dando as caras eventualmente (lembra um pouco Caipirinhaum dueto de Mike Patton e Bebel Gilberto que aparece no álbum auto-intitulado do Peeping Tom). Cantada em inglês, é extremamente agradável e é um belíssimo complemento ao disco, conseguindo ser diferente sem destoar do estilo das demais. Quando a bateria eletrônica eletrônica entra, é surpreendente; quando ela dá lugar a uma inesperada percussão de escola de samba, vemos como a visão dos músicos de shibuya é interessante. Um dos pontos altos do álbum.




Allen Ginsberg leva o nome de um dos poetas mais importantes da geração beat, famoso pelo poema Howl (Uivo), de 1955, que abordava temas como homossexualidade, materialismo e política, que eventualmente lhe renderia um processo por "obscenidade". É uma das mais experimentais do disco, com uma melodia quase balcânica tocada por um teclado/acordeão e uma passagem tocada no saxofone. Será que a melodia instável e o ritmo frenético são um reflexo da vida do poeta que dá nome à música?

Após um começo totalmente fragmentado, First Class '77 assume um formato bem viajante, com texturas bem viajantes, uma batida espaçada e um insistente sample de voz. Apesar de ter quase sete minutos, é uma das faixas mais fracas do álbum, e funciona mais como um filler.

Philter (In Viaggio Attraverso L'Australia) tem uma melodia marcante e que parece saída dos anos 30, acompanhada por uma voz feminina fazendo vocalizações. A bateria, entretanto, apresenta diversas variações, incluindo o jungle (ou drum 'n' bass), que estava no auge da popularidade na época em que o álbum foi lançado. É um perfeito exemplo de como o shibuya-key mescla influências muito distintas e a transforma em algo novo e instantaneamente reconhecível.

A penúltima faixa, Please, Stop!, traz um coro feminino fazendo vocalizações típicas do doo wop sobre a bateria eletrônica. É interessante, mas um tanto repetitiva e não chega a ser um destaque.

O álbum termina com Pura Saudade (Nova Bossa Nova), que já deixa explícita no título sua principal influência. A exemplo de Steppin' Out, é uma bossa com um toque moderno, mas desta vez é cantada em português por uma vocalista mulher e não apresenta tantas variações e experimentações. Ainda assim, é um belo encerramento.

O debut do Fantastic Plastic Machine é um belo exemplo de como existem diversas formas de rearranjar e inovar estilos aparentemente esgotados. A música alegre e colorida deste álbum (e do shibuya-kei, em geral), seu uso inteligente dos samples e a produção impecável são dignos de serem conhecidos e apreciados.

Tracklist:
1. Bon Voyage
2. L'Aventure Fantastique
3. Dear Mr. Salesman
4. Barchelor Pad (F.P.M. Edit)

5. Fantastic Plastic World (voice 'n' baroque)
6. Steppin' Out
7. Allen Ginsberg
8. First Class '77
9. Philter (In Viaggio Attraverso L'Australia)
10. Please, Stop!
11. Pura Saudade (Nova Bossa Nova)


Artista: Charles Mingus; Álbum: Pithecanthropus Erectus

 



Artista: Charles Mingus
Álbum: Pithecanthropus Erectus
Gênero: Jazz; avant-garde
Ano: 1956

Nada como voltar a escrever neste blog com um álbum desafiador como Pithecanthropus Erectus, do baixista e bandleader norte-americano Charles Mingus.

Adianto à leitora e ao leitor que jazz não é e provavelmente nunca será o meu porto seguro, e não foi até muito recentemente que me atrevi a tomá-lo como uma praia desejável nesse enorme mar que é a música. Não sou um grande conhecedor dos estilos e subdivisões do gênero, conheço apenas alguns medalhões como Miles DavisJohn Coltrane e Duke Ellington, mas ainda assim sou profundamente afetado pelo poder peculiar do jazz de transformar qualquer ambiente. Uma sala com jazz é muito mais interessante que uma sala sem ele em diversos sentidos, e minha admiração e conhecimento pelo gênero se baseia nisso.

Dito isso, falemos um pouco de Charles Mingus. Nascido em 1922 em uma base militar no Arizona, desenvolveu seu gosto por música muito cedo, ouvindo Duke Ellington no rádio. Começou a aprender baixo com ninguém menos que H. Rheinshagen, então o principal baixista da Orquestra Filarmônica de Nova Iorque, e também desenvolveu suas habilidades no piano a tal ponto que, se desejasse, poderia ter seguido carreira também nesse instrumento. Nos anos 40, ainda muito jovem, participou da banda de Louis Armstrong.

Nos anos 50, Mingus se estabeleceu de vez em Nova Iorque e se consolidou no meio do Jazz como bandleader, algo um bocado incomum para um baixista. Sua fama, entretanto, não era injustificada: além de ser um músico excepcional, Mingus pensava fora da caixa em quase todo aspecto do processo criativo. Ao formar suas bandas, ele preferia desconhecidos a músicos consagrados (apesar de, após trabalharem com ele, os primeiros se tornavam os segundos), e avaliava não apenas as qualidades técnicas mas também o temperamento de cada um por acreditar que isso contribuía para um som único. Ele próprio era um homem feroz, conhecido como "the angry man of jazz" ou "o cara brabo do jazz", e brigas não eram raras em seus conjuntos.

Pois foi Pithecanthropus Erectus, o álbum aqui resenhado, o debut propriamente dito de Mingus como bandleader. Aqui, além do próprio Charles Mingus no baixo, temos Jackie McLean (sax alto), J. R. Monterose (sax tenor), Mal Waldron (piano) e Willie Jones (bateria).

O nome do álbum e de sua faixa-título é também uma das diversas alcunhas da espécie de hominídeo mais conhecida como Homo erectus, naturalmente um de nossos ancestrais na cadeia evolutiva. A capa traz algo semelhante a uma pintura rupestre, com um homem ereto, outro mais curvado, um quase caindo e um quarto prostrado. Isso tudo é importante porque Pithecanthropus Erectus, a música, é uma empreitada ambiciosa. Segundo o próprio Mingus, seu objetivo era representar a ascensão da raça humana a partir de nossos tataravôs primatas, seu ápice e sua inevitável destruição - daí a progressão dos homens cada vez mais abatidos na capa. Nas palavras dele mesmo, a destruição acontece devido a "seu próprio fracasso em perceber a inevitável emancipação daqueles que ele buscou escravizar, e sua ganância em tentar se sustentar em uma falsa segurança". O curioso é que, mesmo sem saber disso, é bastante palpável o tom épico da peça logo no início, com seu tema principal apocalíptico, todos os efeitos sonoros criados pelos músicos e principalmente pela dupla de saxofonistas, que ora toca harmonicamente, ora furiosamente e caoticamente. Extremamente cinematográfica e cativante.


A Foggy Day é um jazz standard muito famoso dos anos 30 e foi regravado por artistas do calibre de Frank SinatraBillie HolidaySarah Vaughan e, mais recentemente, David Bowie Michael Bublé. A versão de Mingus, porém, traz a cidade de Nova Iorque dos anos 50 direto aos nossos ouvidos (e não a Londres da versão com letra) - a começar pelos sons tão típicos da metrópole reproduzidos nos instrumentos, como buzinas, sons de metrôs e apitos logo na introdução. Quando o tema principal  começa, os sons não cessam, e ocasionalmente ouvimos as cacofonias urbanas em meio à melodia tradicional. Uma belíssima e ousada releitura.

Profile of Jackie é um tema bem mais lento e sentimental, com grande destaque para o sax de Jackie McLean, como nome sugere. De cara, parece ser mais convencional, mas o ouvinte mais atento percebe que, a partir da metade da música, os instrumentos que formam a base para o saxofone começam a ficar mais soltos e independentes, dando um clima de sonho à música. Ótima faixa.

O álbum termina com Love Chant, um ode às habilidades dos músicos. Alternando diversos momentos, os músicos da banda de Mingus improvisam livremente e sempre de maneira pertinente, mesclando perfeitamente técnica e feeling.

É interessante pensar que este álbum, que completa 59 anos no dia de hoje, deixou sua marca na história e foi gravado em apenas um dia (30 de janeiro de 1956). O que escutamos em Pithecanthropus Erectus é puro talento, e é uma alegria podermos, ainda hoje, desfrutar da obra que este quinteto criou nos estúdios da Atlantic em tempos tão diferentes.

Recomendadíssimo.

Tracklist:
1. Pithecanthropus Erectus
2. A Foggy Day
3. Profile of Jackie
4. Love Chant



Artista: Shuggie Otis; Álbum: Inspiration Information

 

Artista: Shuggie Otis
Álbum: Inspiration Information
Ano: 1974
Gênero: Soul; R&B; Funk

Os anos 70 são, muito provavelmente, a minha década favorita na história da música contemporânea. É quase impossível ser justo ao apontar os principais álbuns e protagonistas, pois são tantos e de tantos estilos e lugares do mundo que é quase certo que alguém ficaria de fora. Só aqui no blog, já resenhei pelo menos uma dezena de álbuns setentistas dos mais diversos estilos e lugares (como Brasil, Portugal, Hungria e Turquia) e, ainda assim, sempre tem algum tesouro para ser descoberto.

Dito isso, falemos sobre o talentosíssimo Shuggie Otis. Nascido no final de 1953, é filho de Johnny Otis, um músico e empreendedor bastante importante na história do R&B (ele foi, por exemplo, o descobridor de Etta James e participou de uma porção de orquestras). Seu nome artístico é um diminutivo de sugar (açúcar), escolhido carinhosamente por sua mãe ainda em sua infância. Começou a tocar guitarra aos dois anos e aos doze já tocava na orquestra do pai, usando um bigode falso e óculos escuros para tocar até altas horas da noite.

Embora tivesse sido criado na escola do R&B e do jazz - tendo, inclsive, feito importantes contatos em decorrência da participação nas bandas do pai -, Shuggie começou a se interessar pelo cenário empolgante do final dos anos 60 (com bandas como Jimi Hendrix Sly and the Family Stone) e isso influenciou muito sua carreira como guitarrista e seu relacionamento com a música.

Em 1969, com apenas 15 anos, foi convidado por Al Kooper (um dos fundadores do Blood, Sweat & Tears) para gravar um álbum colaborativo chamado Kooper Session. Ainda nessa época, participou do álbum Hot Rats, de Frank Zappa, gravando nada menos que o baixo de Peaches In Regalia, um dos trabalhos instrumentais mais famosos de Zappa.


Mas o debut de Shuggie como compositor, Here Comes Shuggie Otis, é bem diferente de seus trabalhos colaborativos. Gravado e lançado em 1970 (ele tinha, então, entre 16 e 17 anos), conta com a participação de diversos músicos convidados - entre eles, seu pai, que também foi muito ativo nos arranjos. É um belo disco que já previa o estilo de Shuggie: discreto, cuidadoso e intimista de certa maneira, destacando-se mais pelos detalhes e pela sutileza do que pela potência.

No ano seguinte, Shuggie lançou Freedom Flight, outro disco sensacional que traz um Shuggie mais maduro, tocando diversos instrumentos e seu primeiro hit, por assim dizer, chamado Strawberry Letter 23 - o "por assim dizer" é porque a música estouraria apenas 6 anos depois e em outra versão, produzida por Quincy Jones e executada pelos The Brothers Johnson. Mas voltando a Freedom Flight, o álbum foi notmente produzido em parceria comtem seu pai e traz uma influência palpável dos discos de rock psicodélico do final dos anos 60, principalmente na produção. Além disso, traz como colaboradores músicos importantíssimos, como George Duke (então tecladista na banda de Zappa) e Aynsley Dunbar (também integrante da banda de Zappa, além de ter tocado com David BowieLou ReedWhitesnakeJourney, entre outros!).

Mas a masterpiece  de Shuggie - e, curiosamente, seu canto do cisne - estava por vir. Após três anos de gravação, finalmente Inspiration Information ficou pronto. A demora foi extremamente desgastante para a relação entre o músico e a gravadora Epic, e há quem diga que isso queimou bastante o nome do músico no mercado, mas ela teve um motivo: a produção do disco e todos os instrumentos, exceto os arranjos orquestrais, foram gravados por Shuggie Otis (não foi o primeiro nem o último álbum gravado dessa maneira - aí estão McCartney, debut do ex-Beatle Paul McCartney, e o debut auto-intitulado do Foo Fighters que não me deixam mentir). Um feito incrível para um músico de sua idade, principalmente levando em conta a qualidade demonstrada na execução e nos arranjos.

O único single do álbum foi justamente a faixa que abre e dá nome ao mesmo. Inspiration Information tem uma abertura belíssima, com a guitarra base no wah-wah servindo de cenário para as vocalizações, teclado e guitarras em dueto - tudo tocado por ele mesmo, lembre-se. Quando a voz suave de Shuggie anuncia "we had a rainy day", o groove toma conta e carrega o ouvinte. O arranjo é inteligentíssimo, com suas guitarras sobrepostas, os backing vocals e o teclado, mantendo o ritmo dançante sem se afastar da elegância da melodia. Grande abertura.

A balada Island Letter tem um clima etéreo, com o drum machine analógico dando as caras e dando um toque moderno e de bolero ao mesmo tempo. Além disso, a guitarra pulsante ao fundo, as orquestrações entrando no momento certo e as longas passagens instrumentais contribuem para o clima de sonho desta ótima faixa.

Sparkle City, por sua vez, traz uma pegada muito mais Stevie Wonder, com uma levada muito mais acentuada e marcada da guitarra. A introdução dura mais de dois minutos e só então a voz de Shuggie entra, cool e macia, para nos lembrar de sua preferência pela sutileza. O arranjo poderia ser de alguma música mais lenta do Jamiroquai, e é muito provável que os membros da banda tenham tirado bastante inspiração de Inspiration Information, se é que o leitor me permite o trocadilho.


Uma das minhas preferidas é Aht Uh Mi Hed, uma grafia alternativa para out of my head. A exemplo de Island Letter, é uma balada trazendo o drum machine analógico, mas esta tem uma melodia um pouco mais melancólica e memorável. O final da canção é belíssimo, com a intensificação do arranjo e a entrada das cordas.

Happy House é um filler de pouco mais de um minuto do qual não há muito a ser dito, mas este não é o caso de Rainy Day. Uma linda demonstração das habilidades de Shuggie como guitarrista e compositor, com um arranjo delicadíssimo e influenciado por jazz. Ideal para ser ouvida na chuva, como ele mesmo indicou no título.

Talvez a mais experimental do álbum seja XL-30, com seu compasso incomum e seus efeitos sonoros sobre o teclado que, nesta música, funciona quase como um drone. Fantasmagórica e interessante, talvez seja a faixa que dê ao ouvinte a dimensão mais apropriada da versatilidade de Shuggie Otis.

Pling! é quase um ambient, com sua levada tranquila, as improvisações no teclado e o recorrente "pling" do drum machine. Relaxante ao extremo e peculiarmente bela.

A faixa que encerra o álbum é Not Available. A exemplo das três faixas anteriores, é instrumental e focada nos criativos arranjos de Shuggie, trazendo mudanças de andamento, harmonias interessantíssimas de guitarra e fechando Inspiration Information com chave de ouro.

O álbum chegou a aparecer discretamente na lista da Billboard na época do lançamento, mas rapidamente sumiu e ficou praticamente esquecido. Depois disso, Shuggie nunca mais conseguiu lançar um álbum pela Epic ou qualquer outra gravadora. Segundo ele mesmo, "eu nunca parei de fazer música, mas pararam de me gravar". Não fosse David Byrne, frontman do Talking Heads, resgatar o vinil e providenciar o relançamento de Inspiration Information em CD em 2001, seria muito mais complicado encontrar este álbum (apesar de artistas como Prince Lenny Kravitz citarem-no como uma importante influência.

Em 2013, Otis e a Sony relançaram Inspiration Information como um álbum duplo, e Shuggie saiu em turnê para promover o lançamento. Seus shows foram um sucesso de público e crítica.

Recomendadíssimo.

Tracklist:
1.  Inspiration Information
2. Island Letter
3. Sparkle City
4. Aht Uh Mi Hed
5. Happy House
6. Rainy Day
7. XL-30
8. Pling!
9. Not Available



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