Na virada da última década, o Anthrax voltou a ganhar grande exposição na mídia. Primeiramente, devido às ameaças de ataques com a doença (causada pela bactéria Bacillus anthracis) que dá nome à banda, após o 11 de setembro de 2001. Segundo, pelo excelente álbum We’ve Come For You All, o melhor em muito tempo, recolocando a turma de Scott Ian entre as grandes atrações do gênero. Sendo assim, o próximo passo foi estabelecer uma conexão da formação da época com o passado. E não tinha modo melhor do que regravando alguns clássicos, mostrando como a atualização sonora foi importante para a sequência do trabalho.
De cara, já sabemos que a grande comparação será nos vocais. Afinal de contas, John Bush conta com um estilo bem diferente de Joey Belladonna e Neil Turbin. Como um fã dessa fase, não vi problemas, embora saiba que muitos saudosistas jamais aceitaram o ex-Armored Saint na função. O fato é que, goste-se ou não, há de se reconhecer que ele faz o trabalho com total competência. Seguindo seu estilo, é claro, mas acima de tudo colocando grande potência nos registros. Quanto ao resto da banda, dispensa comentários maiores, exceto citar que Charlie Benante é um baterista acima da compreensão humana.
Inicialmente, o disco se chamaria Metallum Maximum Aeturnum. Mas como ninguém conseguia pronunciar direito, optou-se por uma simplificada, transformando o velho ditado “dos males o menor” em “dos males o maior”, no melhor estilo espirituoso que sempre esteve no DNA da banda. Poucas mudanças significativas foram feitas nos arranjos das faixas. A maior foi a citação a “Dethroned Emperor”, do Celtic Frost, em “Belly Of The Beast”. No mais, alguns tons diferentes e guitarras com sonoridade mais atual. Porém, nada de excessivamente descaracterizador.
Esse seria o último disco gravado com John Bush. Em seguida, começaria um troca-troca de vocalistas, com Joey Belladonna, Dan Nelson e até mesmo o próprio Bush assumindo o posto, até a volta definitiva de Belladonna. Com ele, o grupo lançaria o novo play, Worship Music, que foi alvo de piadas até mesmo entre os fãs antes de chegar ao mercado, tamanha a bagunça que tomou conta do cenário. Independente de qualquer coisa, The Greater Of Two Evils é digno de se arrastar a mobília da casa e sair chutando o ar sozinho, no melhor estilo Scott Ian de ser.
John Bush (vocals) Scott Ian (guitars) Rob Caggiano (guitars) Frank Bello (bass) Charlie Benante (drums)
01. Deathrider 02. Metal Thrashing Mad 03. Caught In A Mosh 04. A.I.R. 05. Among The Living 06. Keep It In The Family 07. Indians 08. Madhouse 09. Panic 10. I Am The Law 11. Belly Of The Beast 12. N.F.L. 13. Be All End All 14. Gung-Ho
Mechanichell é o segundo trabalho do Burning Black, banda italiana que faz um Power Metal caprichado, lembrando grupos como Leatherwolf e Crimson Glory, além de formações mais recentes, como Primal Fear e Brainstorm. Finalmente com um line-up estabilizado, o quinteto conseguiu oferecer um som consistente, com belas melodias e passagens trabalhadas, sem se descuidar do peso. Os músicos são ótimos, com uma citação especial ao vocalista Dan Ainlay, com seu registro à la Hansi Kursch, conseguindo superar com louvor a barreira do idioma, especialmente na pronúncia, sempre um grande obstáculo nas bandas do país da bota – quem já assistiu/escutou uma entrevista dos caras do Rhapsody sabe do que estou falando.
Depois da intro, o disco começa pra valer com os riffs pesados de “Our Sentence”, faixa com uma levada bem dinâmica e agressiva. Na seqüência vem a faixa-título, mais acelerada, com um desempenho fenomenal de todo o conjunto. “Purgatory Child” tem um refrão muito bacana, daqueles que ficam na cabeça posteriormente. Mas elas apenas prepararam terreno para a melhor de todas. “Secrets to Hide” é daquelas músicas marcantes, perfeitas para os fãs pularem e acompanhar a melodia em coro. Uma bola dentro como poucas desse ano.
Vale destacar também a totalmente Power “Hero of the Century”, a cadenciada “Dust and Rain” (minha preferida, com uma melodia e um refrão de fácil assimilação e extremamente eficiente) e a pancadaria de “Messengers of Hell”. Não é algo que vá mudar a vida de ninguém, mas garante um belo divertimento para os metalheads da área. Um disco bem feito, tocado com garra e competência, mostrando as influências sem necessariamente cair no contexto de cópia. O que já é algo a ser louvado nos dias de hoje em um estilo que está na UTI há algum tempo.
Dan Ainlay (vocals) John Morris (guitars) Eric Antonello (guitars) AJ Simons (bass, keyboards) Will Oswin (drums)
01. Reckoning Day 02. Our Sentence 03. MechanicHell 04. Purgatory Child 05. Secrets To Hide 06. Reborn From My Sins 07. Hero Of The Century 08. Dangerous Game 09. Dust And Rain 10. Messengers Of Hell 11. Victims And Torturers
Nada melhor do que introduzir Jerry Lee Lewis por aqui do que com um de seus registros mais importantes. Se é que ele precisa de introdução.
Um dos grandes mestres do rock'n'roll, o americano Jerry Lee vem da época em que, além de ele, Roy Orbison, Elvis, Carl Perkins e Johnny Cash ingressavam no mundo da música através da lendária Sun Records. E, assim como Elvis, seu primeiro contato com esse mundo foi cantando nos coros de música gospel das igrejas sulistas.
Na metade da década de 50 ele teve sua primeira gravação pela Sun, a balada Crazy Arms. A partir daí, não havia quem lhe segurasse; o sucesso era enorme, justamento pelo seu estilo frenético e especialmente particular de tocar e cantar. Reza a lenda que quando Elvis ouviu Jerry, teria dito que se conseguisse tocar piano daquela forma pararia de cantar.
O quarteto: Lewis, Perkins, Presley e Cash
Vários compactos como Whole Lotta Shakin' Goin' On, High School Confidential e Great Balls Of Fire (certamente a mais famosa de toda a sua carreira) cada vez mais lhe rendiam fama internacional. E então veio o escândalo.
Lewis tinha uma vida íntima estranhamente mantida em segredo, mas que veio à tona durante uma tour. A imprensa teria descoberto que o astro era casado com sua prima Myra Gale Brown, que tinha apenas treze anos. Por conta disso ele foi praticamente banido do cenário musical, com uma popularidade restrita ou quase nula. E é aí que entra o papel do álbum que hoje trago para vocês.
O casal
Sua popularidade ia ser reerguendo pouco a pouco na Europa, e Live At The Star Club foi seu trabalho mais vendido em muito tempo. Acompanhado do trio The Nashville Teens (que já foram banda de nomes como Carl Perkins e Chuck Berry), o Killer simplesmente destruiu com uma performance de extrema energia e entrosamento. Um verdadeiro show.
Lewis continuaria sua carreira migrando por algum tempo para a música Country, mas nunca mais com o sucesso e prestígio de antes. Comentar faixa por faixa seria desnecessário, já que em absolutamente todas elas o que temos é o rock'n'roll mais fino em seu estado mais cru e selvagem. Simplesmente obrigatório e formador de caráter.
Jerry Lee Lewis - vocais, piano
Johnny Allen - guitarra
Pete Shannon Harris - baixo
Barrie Jenkins - bateria
01. Mean Woman Blues
02. High School Confidential
03. Money (That's What I Want)
04. Matchbox
05. What'd I Say (Part 1)
06. What'd I Say (Part 2) 07. Great Balls Of Fire 08. Good Golly, Miss Molly 09. Lewi's Boogie 10. Your Cheating Heart 11. Hound Dog 12. Long Tall Sally 13. Whole Lotta Shakin' Goin' On
Uma das vantagens de quando Paul Rodgers decide excursionar como artista solo é a variedade do setlist proposto. Afinal de contas, nunca foi de seu feitio misturar os trabalhos do Bad Company, Free e o que fez sozinho quando se trata de outras empreitadas. Portanto, Live in Glasgow, gravado na Escócia, trata-se de uma verdadeira preciosidade de um dos maiores cantores da história – não apenas do Rock, mas da música como um todo. Foi seu primeiro lançamento após o início da polêmica parceria com o Queen e aqui podemos ver o quanto ele fica mais à vontade interpretando canções feitas para sua voz.
Acertadamente, Paul dá a maior parte do repertório ao Free, já que o Bad Company segue ativo (não com a freqüência que a maioria gostaria, mas enfim) e executando seus clássicos. Também há espaço para “Warboys”, que mais tarde seria gravada em estúdio para o álbum The Cosmos Rocks, com Brian May e Roger Taylor. Mesmo o The Firm é lembrado com a eficiente “Radioactive”, assim como o belo tributo a Muddy Waters em “Louisiana Blues” e a recauchutada em “I Just Want to See You Smile”. E encerrar o play com a belíssima “Seagull” prova o bom gosto e a beleza inigualável de músicas que levam nome de aves. Um fenômeno estranho, porém curioso.
Obviamente, a banda de apoio só poderia estar à altura do protagonista. Destaque para a dupla de guitarristas, que reúne o sempre eficiente e fiel escudeiro Howard Leese (Heart) ao prodígio Kurtis Dengler, à época com apenas 17 anos, mas já mostrando que tinha feeling de sobra correndo pelas veias. Como se ainda fosse necessário, o encarte traz depoimentos de Jimmy Page e Brian May literalmente rasgando seda para a estrela da companhia. Aliás, o público já faz isso com maestria durante o espetáculo, especialmente na hora de cantar junto hinos como “All Right Now” e “Can’t Get Enough”. Essencial!
Paul Rodgers (vocals, guitars, piano) Howard Leese (guitars) Kurtis Dengler (guitars) Lynn Sorensen (bass) Ryan Hoyle (Drums)
01. I'll Be Creepin 02. The Stealer 03. Ride on a Pony 04. Radioactive 05. Be My Friend 06. Warboys (A Prayer for Peace) 07. Feel Like Makin' Love 08. Bad Company 09. I Just Want to See You Smile 10. Louisiana Blues 11. Fire and Water 12. Wishing Well 13. All Right Now 14. I'm a Mover 15. The Hunter 16. Can't Get Enough 17. Seagull
Abrindo os trabalhos, a sombria faixa-título, com sua intro emblemática que possui supostas "mensagens satânicas". Apresentando logo de cara as mudanças rítmicas, Dave Lombardo (monstro da bateria) abre caminho para que a dupla Hanneman e King despeje riffs atrás de riffs. "Kill Again" é bem mais direta e conta com a já tradicional temática de que tanto Tom Araya gosta: assassinos.
"At Dawn They Sleep" tem riffs que me lembram muito Death Metal (e não é pra menos). "Praise Of Death" é insana; linhas de baixo eficientíssimas. A repugnante "Necrophiliac" é a perfeita oportunidade para um headbanging desenfreado; o mesmo para o encerramento com "Hardening Of The Arteries", a mais simples de todo o álbum.
O sucesso de Hell Awaits abriu as portas para o Slayer chocar mais uma vez o mundo todo um ano depois com o lendário Reign In Blood, que não seguiu a receita de seu antecessor (vide as influências do Hardcore), mas que é tão brutal quanto.
Discão, da minha banda Thrash favorita. Ideal para quem está em busca de um pouco de violência sonora.
Tom Araya - baixo, vocais
Jeff Hanneman - guitarra Kerry King - guitarra Dave Lombardo - bateria
1. Hell Awaits 2. Kill Again 3. At Dawn They Sleep 4. Praise Of Death 5. Necrophiliac 6. Crypts Of Eternity 7. Hardening Of The Arteries