A parcela final de uma trilogia de álbuns que encontrou John Zorn em seu momento mais acessível por uma margem muito ampla. (Na verdade, esse cara tem cerca de 4 mil álbuns, dos quais ouvi talvez 20-25, então, pelo que sei, ele pode ter um álbum de padrões de jazz vocal cantados por Norah Jones.) Jazz fusion etéreo, mas propulsivo, alimentado por uma nuvem cintilante de vibrafone, harpa, piano, violão e muito mais. Às vezes beira a audição fácil. Se, quando você pensa em John Zorn, pensa em jazz-grind caótico ou vanguarda discordante, esse disco pode te deixar um pouco louco.
sexta-feira, 24 de janeiro de 2025
John Zorn - The Goddess: Music for the Ancient of Days (2010)
Imperial Teen - What Is Not to Love (1999)
O primeiro disco dessa banda, que está linkado acima, é muito especial para mim. Não tenho o mesmo tipo de conexão pessoal com o segundo disco, What Is Not to Love , mas eu o ouvi muito enquanto morava no meu primeiro apartamento, que também foi o cenário do que se tornou um relacionamento bem tóxico, então ele carrega uma certa quantidade de significado nostálgico. É mais focado do que Seasick , que meio que soa mais como uma coleção de singles do que um disco coeso — mas isso é um reflexo de uma banda que aprendeu a tocar com seus próprios pontos fortes: power pop desleixado, movido a guitarra, equilibrado por algumas baladas melancólicas e tensas, todas de um ponto de vista decididamente queer. Uma das baladas, "Crucible", é uma das minhas músicas favoritas já gravadas. E a única música que realmente não se encaixa em nenhum dos dois campos, "Alone in the Grass", os encontra em território hipnomotor, e é uma das melhores músicas aqui.
Jega - Spectrum (1998)
Música eletrônica expansiva e onívora do gênero do produtor britânico Jega. Breakbeat, IDM, drum n bass, hip-hop instrumental e downtempo aparecem por toda parte, mas sintetizadores quentes e cristalinos garantem um certo nível de coesão sonora em meio ao caos.
Chick Corea - "Mad Hatter" (1978)
The Chemical Brothers - "Dig Your Own Hole" (1997)
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- "Block Rockin' Beats" (Rowlands, Simons e Jesse Weaver) – 5:14
- "Dig Your Own Hole" – 5:27
- "Elektrobank" – 8:18
- "Piku" – 4:54
- "Setting Sun" (Rowlands, Simons e Noel Gallagher) – 5:29
- "It Doesn't Matter" (Rowlands, Simons, Conly, Emelin, Slye, Ford e King) – 6:14
- "Don't Stop the Rock" – 4:48
- "Get Up on It Like This" (Rowlands, Simons e Jones) – 2:48
- "Lost in the K-Hole" – 3:51
- "Where Do I Begin" – 6:51
- "The Private Psychedelic Reel" (Rowlands, Simons e Jonathan Donahue) – 9:28
Charly Garcia - “Clics Modernos” (1983)
Nova Iorque, 1983, entrada do lendário Eletric Ladyland Studio, fundado por Jimi Hendrix. Batem à porta, dois argentinos com uma maleta e acontece este diálogo descrito acima.
Enquanto isso, o homem de bigode bicolor abre a maleta e pega um dos maços de notas de 100 dólares: "Do you want it, or not?" ("Você quer, ou não quer?"). Então, a porta se abre.
Trinta anos atrás, os argentinos eram Charly García e Pedro Aznar. Os dois já eram lendas do rock de seu país. O primeiro, possuía o status de gênio musical por ser cantor, tecladista e protagonista em 3 grandes bandas do cenário portenho: o duo-folk Sui Generis, e as bandas de rock progressivo La Máquina de Hacer Pájaros e Serú Giran. O segundo, foi baixista de Charly na Serú Giran, e já era membro junto ao Pet Metheny Group. Lógico que, em Nova Iorque, ninguém sabia disso.
Começaram os preparativos para as gravações do que seria, segundo muitos, a Magnum-opus do Rock Argentino, e quiçá, do idioma espanhol. A ideia inicial era se chamar “Nuevos Trapos”, mas depois de Charly se deparar com uma pixação escrita “Modern Clix” pelas ruas de Nova Iorque, não havia como não se chamar “Clics Modernos”. Foi-lhe entregue uma lista, contendo o nome de todos os produtores que trabalhavam regularmente no estúdio, onde encontraram o nome perfeito. Constava como: "Joe Blaney – The Clash".
Joe Blaney havia acabado de trabalhar no projeto mais ambicioso e criticamente aclamado do conjunto punk londrino, o "London Calling", e buscava um novo desafio. Nas palavras dele, quando chegou ao estúdio, não possuía a dimensão de com quem estava, e aos poucos foi percebendo o talento e a estatura dos músicos que estava prestes a produzir. Charly estava tão na vanguarda, que praticamente toda a parte de percussão foi feita em uma TR808, da Roland. Criada por Ryuichi Sakamoto, García apelidou o equipamento de “La Ryuchi”.
O disco abre com "Nos Siguen Pegando Abajo", já demonstrando a forte influência do new wave. Musicalmente, é uma composição fenomenal, mesclando sintetizadores, a bateria da Ryuichi, somada de uma base em 4 tempos, enquanto a guitarra, toca o riff em 7 tempos, sendo assim, 2 compassos simultâneos. Apesar de ser um tema para tocar em festas, a música cita "los hombres de gris" ("homens de cinza", como referência à polícia), e o próprio título, que pode se traduzir como “seguem nos reprimindo”, referência à ditadura ainda vivida na Argentina.
"No soy um extraño" é uma balada dançante, impulsionada por batidas e palmas digitais, e carregada pelo baixo simples e certeiro de Aznar. A música aborda a história de dois homens buscando ver um tango antigo, tipo em que a dança era realizada apenas por rapazes, não envolvendo uma mulher, como hoje é popularmente conhecido. O tom expressado, tanto pela melodia, tanto pela letra, nos transmite o medo da homossexualidade ser descoberta publicamente.
Aznar e Charly: amigos e parceiros de Buenos Aires a Nova Iorque para produzir uma obra-prima |
A letra de "Bancate ese Defecto" trata de lidar com defeitos que todos têm, erros que todos cometem e a dificuldade da autoaceitação, mas que errar faz parte da experiência de ser humano (incluindo um trecho em que chama o ouvinte de narigudo). Quando chegamos à metade da música, Charly engata uma quinta, e em ritmo alucinado, dispara mais “verdades” aos nossos ouvidos. Finaliza com os sintetizadores imprimindo um tom de mistério, ao lado da linha de baixo de Aznar, finalizando, de forma magistral, o lado A.
O lado B arranca com um sample (direto da Ryiuchi) de um grito de James Brown em “Hot Pants Pt.1”, para iniciar "No me Dejan Salir", sendo esse apenas um dos samples do cantor de soul utilizados na música (temos a adição de trechos de "Please, Please, Please" e "Super Bad" no decorrer da canção). Certamente, a música “más bailable del disco”, com pontes bem estruturadas e refrão grudento, além de ser a única música que contém uma bateria verdadeira, além do TR808. Vale a pena também conferir o icônico clipe da música, gravado um ano depois, e que conta com a participação do então tecladista, e futuro artista globalmente conhecido, Fito Paez, segurando um mocassim para a câmera.
Um acorde grave dá início ao tema mais profundo da obra. Uma acorde que arrepiou, arrepia, e arrepiará gerações de argentinos, e (por que não?) latino-americanos em geral. "Los Dinosaurios" é uma eulogia aos desaparecidos da sanguinária ditadura que matou, perseguiu e reprimiu milhões de pessoas no país vizinho, e que também é válido para o nosso caso. Charly fez questão de dizer que vizinhos, artistas, jornalistas e nem mesmo seu amor está seguro, e podem desaparecer. “Clics” foi lançado um mês antes do retorno à democracia na Argentina, e imediatamente, se tornou um hino sobre os acontecimentos dos anos anteriores, convertendo-se em uma espécie de memória viva, em forma de hit, em forma de arte. O piano é tocado com sutileza, expressando o pesar do passado, ao mesmo tempo que vislumbra um futuro esperançoso.
"Plateado Sobre Plateado (Huellas En El Mar)" continua o tom de protesto, tratando sobre o exílio, tanto autoimposto quanto compulsório, nos transportando para aquela realidade. O contrabaixo sedimenta a melodia, apenas em duas notas, enquanto o teclado coloca, em sincronia, acordes em dissonância, para explodir em um refrão harmônico repleto de riff de guitarras rompantes. Finalizando o álbum, "Ojos de Videotape" nos introduz uma novidade: um piano acústico! Sintetizadores, uma ampla capacidade vocal de Charly e uma preocupação com o vício das pessoas no escapismo digital. Em um mundo sem smartphones, tablets, internet, parece até bobo que a televisão fosse um grande problema na concentração e na própria concepção de mundo da sociedade.
García disse que: "K7´s são para as praias, CD´s para os shoppings, e os discos são discos". Esse álbum tem uma “artesania” de disco, não somente músicas gravadas e compiladas. E definitivamente, se trata de um disco, uma obra-prima, que o estúdio construído por Jimi Hendrix, teve a honra de conceber, e não o contrário.
FAIXAS:
Charles Mingus - "Mingus Ah Um" (1959)
Quatro capas de diferentes versões: a original, da Columbia, com a fantástica arte de Neil Fujita, e as posteriores pelos selos Pan Am, Green Corner e Jazz Images |
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