domingo, 2 de março de 2025

Há 20 anos, em 1°. de março de 2005, Jack Johnson lançava In Betweeen Dreams

Há 20 anos, em 1°. de março de 2005, Jack Johnson lançava In Betweeen Dreams, terceiro álbum de estúdio do artista americano. 🇺🇸
Gravado no estúdio The Mango Tree, no Havaí, em outubro de 2004, o álbum traz conteúdo lírico descrito como "otimista" e "animador", ainda que com faixas politizadas como "Crying Shame" e "Staple It Together", com o conteúdo majoritariamente escrito por Johnson; também apresenta bastante presença de violões. A capa do álbum, por sua vez, retrata uma mangueira, referindo-se ao estúdio Mango Tree.
Apesar da recepção mista da crítica, In Between Dreams obteve aclamação popular e tornou-se um sucesso comercial, alcançando o #2 na Billboard 200 nos Estados Unidos. O álbum foi promovido pelos singles "Better Together", "Good People", "Breakdown" e o hit "Sitting, Waiting, Wishing", indicado ao Grammy Awards na categoria Melhor Performance Vocal Pop Masculina. A exposição deu início ao período de maior sucesso da carreira de Jack Johnson.

 

David Bowie - "Aladdin Sane" (1973)


'A Lad Insane'?
'A Land Insane'?
'Love Alladin Vein'?
Não,  'Aladdin Sane' apenas.
trocadilhos posíveis
idealizados para o nome do álbum

Readquiri ontem, depois de muito tempo apenas com algumas músicas dele numa coletânea 'geralzona', o ótimo "Aladdin Sane" de David Bowie, de 1973.
Cartilha do glitter rock e um dos melhores álbuns do Camaleão, "Aladdin Sane", o sucessor do clássico "The Rise and the Fall of Ziggy Stardust...", é praticamente uma continuação daquele, sem ser uma repetição ou uma imitação. É sim uma recriação. Por mais que seja bem glam, bem carregado nas guitarras assim como o outro, "Aladdin Sane" tem toda uma personalidade enquanto álbum, uma aura própria e uma  melodiosidade toda peculiar.
"Watch the Man" que abre o disco é um exemplo perfeito do glitter característico de Bowie; "Panic in Detroit" e "Cracked Actor" carregam nas guitarras em dois rockões empolgantes; "Time" é uma provocante balada de cabaré interpretada com maestria com aquele jeito Bowie, único, de cantar; e "The Jean Genie", outra das melhores do disco, é um bluesão fantástico e matador.
A faixa que dá nome ao álbum, por sua vez, é uma requintada e ousada composição onde a base chega a estacionar e parar, repetindo-se, para dar espaço a um admirável solo de piano. Piano que também é destaque na faixa final, "Lady Grinning Soul", uma melodia flamenca na qual o som das teclas alvi-negras parece deslizar por sobre a canção, fluindo líquido como se escorresse pelo seu interior.
Bowie apresenta-nos ainda uma cover muito legal de "Let Spend the Night Together" dos Rolling Stones , inclusive com uma inusitada pausa para distorções no finalzinho, o que dá um toque todo particular à versão.
Mais um grande disco deste cara que nunca cansou de nos surpreender. Que praticamente se renova a cada 2 ou 3 discos, sempre estando na vanguarda dos acontecimentos, tendências e costumes. E com este álbum não foi diferente
Bowie sempre atemporal.

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FAIXAS:
1."Watch That Man" 4:25
2."Aladdin Sane (1913-1938-197?)" 5:06
3."Drive-In Saturday" 4:29
4."Panic in Detroit" 4:25
5."Cracked Actor" 2:56
6."Time" 5:09
7."The Prettiest Star" 3:26
8."Let's Spend the Night Together" 3:03
9."The Jean Genie" 4:02
10."Lady Grinning Soul" 3:46




Danzig - "Danzig II - Lucifuge" (1990)

 


“Vós tendes por pai o Diabo,
e quereis satisfazer os desejos de vosso pai”
citação do livro de João, da Bíblia,
no encarte da edição original do álbum



Dia desses estava eu numa loja de CD’s comprando uma camiseta do Johnny Cash, e como não raro acontece, o som que tocava na loja me chamou a atenção. Um metal semi-acústico alicerçado no blues, interpretado com ênfase, paixão e vigor. Interessantíssimo aquilo! Fui até o balconista e perguntei do que se tratava, ao que ele me respondeu que era Danzig. Ora, já havia ouvido falar da banda mas nunca efetivamente havia escutado. A surpresa foi agradabilíssima. Perguntei o nome da música. Aquela chamava-se “I’m the One”. Estusiasmante, extasiante! Ao melhor estilo dos blueseiros da antiga mas cantado com a força do metal.

Procurei saber de onde era aquela música e a mesma fazia parte do álbum chamado “Lucifuge” que, já na primeira audição, ratificando a boa impressão inicial apresentava-se como um maravilhoso exemplar de uma espécie de blues-metal bastante original na sua concepção, execução e interpretação.

Embora utilizando-se, sim, de instrumentos elétricos, de peso e vocais impetuosos, A produção caprichada do ótimo Rick Rubin (de "BloodSugarSexMagik" dos Chilli Peppers e a série "American" de Johnny Cash , por exemplo) estreita de maneira admirável as correntes do metal com as características mais primárias do bom e velho blues tradicional dos grandes mestres, isso sem falar nas temáticas, é claro, sinistras, cheias de lendas e demônios comuns a ambos os estilos.

Além da já citada “I’m the One”, minha favorita, destaque especial também para a primeira “Long Way Back from Hell” um metal galopante, potente, forte e vigoroso; para a balada “Blood and Tears”; para o ótimo blues-metal apocalíptico "777";  e para a excelente “Killer Wolf”, referência ao lendário blueseiro Howlin’ Wolf, pelo título e pela interpretação. No restante, todas são boas canções mas, se pode-se apontar um defeito é que, talvez uniformes demais, algumas acabem soando muito parecidas com as outras. Mas nada que desdoure ou invalide todos os méritos deste ótimo trabalho.

Só algum tempo depois de conhecer o Danzig foi que descobri que o líder, vocalista, idealizador, Glen Danzig era o vocalista do extinto Misfits, que para falar a verdade, nunca me agradou muito. Já o Danzig, bastou um pouquinho daquele blues diferente, envenenado, sujo, satânico pra me pegar pelos ouvidos.
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FAIXAS:
  1. "Long Way Back from Hell" - 4:27
  2. "Snakes of Christ" - 3:59
  3. "Killer Wolf" - 4:14
  4. "Tired of Being Alive" - 4:03
  5. "I'm the One" - 4:09
  6. "Her Black Wings" - 4:47
  7. "Devil's Plaything" - 3:58
  8. "777" - 5:40
  9. "Blood and Tears" - 4:20
  10. "Girl" - 4:18
  11. "Pain in the World" - 5:46




Danilo Caymmi - "Cheiro Verde" (1977)

 

“Você gravava, vendia, corria atrás, ia pra rua. Fizemos três mil cópias e conseguimos vender todas. Mas agora, nesta era digital, esse disco ficou parado. Ele foi se valorizando com o tempo, o que é muito gratificante”. 
Danilo Caymmi

Danilo é o menos badalado entre os Caymmi. No que diz respeito a seu pai, Dorival, poucos se equiparam ao gênio deste Buda Nagô, um dos maiores nomes da música brasileira de todos os tempos. Seu irmão mais velho, Dori, gabaritado maestro de reconhecimento internacional, trabalhou com alguns dos mais prestigiados músicos do seu tempo, como os conterrâneos Tom JobimJoão Gilberto e Elis Regina e os estrangeiros Dionne Warwick, Quincy Jones e Toots Thielemans. Nana, a irmã, é nome inconteste entre as maiores vozes da MPB. Até mesmo a filha Alice, cultuada pelo público mais jovem, ganha mais holofotes do que ele. A figura modesta talvez explique. A mãe Stella Maris, mineira, sentenciou certa vez que, entre os filhos, Nana cantava, Dori arranjava e Danilo tocava flauta. Porém, Danilo é, certamente, muito mais do que uma retaguarda, visto que é o mais catalisador da família em termos musicais. Caçula, talvez justamente por ter vindo por último ele consiga recolher características de cada um: de Dorival, traz nas veias a sofisticação das canções praieiras; do irmão mais velho, a versatilidade e a musicalidade profunda; de Nana, o timbre inconfundível dos Caymmi e o apuro vocal; da filha, a modernidade musical intercambiada desde que ela estava no berço.

“Cheiro Verde”, seu álbum de estreia, de 1977, é um exemplo claro desta multiplicidade simbiótica de Danilo. Cantor, flautista, compositor e violonista, traz em sua música uma impressionante diversidade de estilos, que vão da bossa nova ao baião, passando pelo samba jazz e a soul. Com um time de grandes músicos, tal Cristóvão Bastos, Maurício Maestro e Fernando Laporace, o disco traz a mais alta qualidade melodia e harmonia quanto letrística e instrumental, ao nível do "alto escalão" da MPB, como Tom, Arthur VerocaiIvan Lins, Waltel Branco, Antonio Adolfo, Tânia Maria, Edu Lobo. Ao nível dos Caymmi.

Afinal, Danilo, mesmo debutando como artista solo, não era nenhum novato. Flautista profissional desde os 16, o futuro arquiteto que abandonou a faculdade para seguir a vida musical já em 1968 participava do II Festival Internacional da Canção Popular. Levou o terceiro lugar com a clássica “Andança”, parceria com Edmundo Souto e Paulinho Tapajós, defendida por Beth Carvalho. No ano seguinte, venceu o Festival de Juiz de Fora com a canção “Casaco Marrom”, parceria com Renato Corrêa e Gutemberg Guarabyra, interpretada por Evinha. Bastante próximo dos colegas mineiros, de quem tem forte influência musical, já havia integrado a banda de Tom, Joyce, Milton NascimentoSom ImaginárioMartinho da Vila, Quarteto em Cy, entre outros, além de assinar, juntamente com Beto GuedesNovelli e Toninho Horta, um dos melhores discos de toda a década de 70.

Em “Cheiro…”, portanto, Danilo chegava pronto como que perfumado para uma festa. A primeira nota do frasco, “Mineiro”, é exemplar nisso: bossa nova com dissonâncias e harmonia típicas dos autores de grande domínio composicional. A letra de Ronaldo Bastos é uma homenagem de dois cariocas aos amigos do Clube da Esquina: “Vou por aí levando um coração mineiro, pois é”. Ainda, as participações especiais de Airto Moreira na bateria, Helvius Vilela no piano e Gegê na percussão. Com Bastos, também assina “Codajás”, que Nana gravara um ano antes. De tom ao mesmo tempo blueseiro e sambístico, traz o belo canto de Danilo soltando agudos difíceis a qualquer cantor, ainda mais a alguém de uma família cujo timbre tende sempre ao barítono. Fora isso, Danilo a aperfeiçoa ainda mais com um jazzístico solo de flauta, que encerra o número.

Com a então esposa Ana Terra, excelente musicista carioca e responsável também pela produção, compõe maior parte do repertório, como o samba “Pé sem Cabeça”, típica música do período da ditadura no Brasil - gravada posteriormente, claro, pela combativa Elis. Com cara de tema romântico, na verdade, denuncia o regime e os horrores cometidos contra os opositores: “Você me fez sofrer/ Ninguém me faz sofrer assim/ O que era tanta beleza num pé sem cabeça você transformou”. É dos dois também a brejeira e lúdica “Juliana”, de acordes jobinianos, e a subsequente “Aperta Outro”, samba cheio de suingue com toque do trombone de Edson Maciel e o baixo do parceiro Novelli. 

Ainda mais gingada é “Racha Cartola”, ode à boemia mas, igualmente, à preocupação do boêmio quando volta para casa. “Como explicar?”, pergunta-se lembrando que terá de encarar a esposa esperando-o irritada. A sincopada “Botina”, dele e de outro mineiro, Nelson Ângelo, traz novamente a atmosfera de Minas (“Velha porteira, cidade interior/ Uma voz de lavanderia, um batuque e um sabor”), referenciando, mais uma vez - além do próprio coautor -, à turma liderada por Milton Nascimento. Aliás, o gênio de Três Pontas empresta sua voz inconfundível em “Lua Do Meio-Dia”, outra com Ana e das mais belas e engenhosas melodias do disco, com sua estrutura dissonante e complexas divisões.

Em época de Abertura Política, mas de manutenção da repressão, Danilo ousa e encaminha o final do álbum com mais um tema bastante provocativo: “Vivo ou Morto”. Dele e de João Carlos Pádua, não tem como não relacionar os versos deste baião tristonho às mortes de presos políticos promovidas nos Anos de Chumbo: “Debaixo das 9 pedras/ Ele vive muito bem/… Ele respira e fala pelas bocas do inferno/…Debaixo das 9 bocas/ Ele nem mesmo se cala/ Debaixo das 9 botas/ Ele dá voltas na sala”. Para encerrar mesmo, então, a sinestésica faixa-título, quinta dele com Ana entre as 10 faixas de todo o trabalho. E que bela canção! Com a atmosfera da música “ecológica” que Tom inauguraria no início dos anos 70, quando começou a se voltar às questões do Planeta, Danilo parecia antever sua entrada anos depois, em 1984, na Banda Nova, conjunto que passaria a acompanhar o Maestro Soberano até o final de sua vida.

Desde então, Danilo seguiria intercalando uma afirmada carreira solo com participações como instrumentista em trabalhos de outros, reuniões com a família no palco e gravações e shows na Banda Nova. Lançou 10 álbuns como front man, alcançando, em 1990, grande sucesso com “O Bem e o Mal”, tema da minissérie “Riacho Doce”, da Globo. No entanto, “Cheiro Verde” permanece um marco na sua obra não apenas por ser o primeiro ato de um músico que soube aproveitar seu gene privilegiado, mas pela qualidade indiscutível que guarda até hoje. Tanto é que, lançado independentemente em 1977, teve, em 2002, sua tiragem licenciada na Inglaterra, tornando-se cult entre os jovens na Europa. Somente no ano passado, teve relançamento no Brasil para a alegria dos fãs e apreciadores. Pelo visto, esse aroma inconfundível e encantador não se dissipou mesmo tantos anos depois.

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FAIXAS:
1. “Mineiro” (Danilo Caymmi/ Ronaldo Bastos) - 3:25
2. “Pé Sem Cabeça” (Caymmi/ Ana Terra) - 2:45
3. “Codajás” (Caymmi/ Bastos) - 3:05
4. “Juliana” (Caymmi/ Terra) - 2:44
5. “Aperta Outro” (Caymmi/ Terra) - 2:54
6. “Racha Cartola” (Caymmi/ João Carlos Pádua) - 2:55
7. “Botina” (Caymmi/ Nelson Angelo) - 2:37
8. “Lua Do Meio-Dia” (Caymmi/ Terra) - 2:16
9. “Vivo Ou Morto” (Caymmi/ Pádua) - 3:07
10. “Cheiro Verde” (Caymmi/ Terra) - 4:15




Cyndi Lauper - "She's So Unusual" (1983)



"Uma mistura de auto-confiança,
sentimentalismo descarado
e humor inteligente"
Stephen Thomas Earlewine,
da Allmusic sobre 
"She's So Unusual"





Se me perguntassem, lá naquele início de anos 80, entre as cantoras pop que estavam em evidência, Madonna ou Cyndi Lauper, qual seria minha preferida, eu, não teria dúvida em escolher a segunda. Se preferia Cyndi naquele momento, mesmo sem muito discernimento naqueles meus 9 ou 10 anos de idade, hoje com critério o suficiente (eu acho...) consigo avaliar os porquês. Madonna já estourava em sucesso, é verdade, com seu primeiro álbum já prenunciando seu reinado no mundo pop, no entanto, aquilo me soava um popzinho frágil, artificial e pueril. Musiquinhas como "Everybody", "Borderline", "Burning Up", "Crazy For You" não me despertavam, e não despertam até hoje, nenhum entusiasmo, nenhum brilho nos olhos. Eram cançõezinhas bobas que qualquer outra daquelas, qualquer cantora medíocre metida a gatinha apelando pra lingeries e sensualidade gratuita podia fazer.
No mesmo ano, 1983, "rivalizava" com ela nas paradas uma outra norte-americana. Uma magricela de voz estridente e cabelo extravagante que apesar do igual sucesso comercial naquele momento, parecia ter seu lugar irremediavelmente reservado à margem da outra.
"She's So Unusual", álbum de estreia de Cyndi Lauper era muito melhor do que o debut de Madonna com o disco que levava seu nome. Mais bem trabalhado, bem acabado e coeso, o trabalho de Cyndi alcançava um resultado mais consistente, isso sem falar no talento vocal nem sempre devidamente reconhecido da cantora, muito superior ao da Material Girl.
"Money Changes Everything", cover dos The Brains, uma banda americana pouco conhecida, é um pop vigoroso que ganha uma atmosfera meio escocesa por conta de um agradável solo de melódica; "Time After Time", que possivelmente tenha inspirado a canção "Como Eu Quero" do Kid Abelha é uma balada graciosa, delicada e apaixonante; e "When You Were Mine" é uma boa versão da música do primeiro álbum de Prince. "Witness" é interessante pela pegada reggae; "She Bop", uma new wave embalada, com seu refrão malicioso e picante (sugerindo masturbação), parece reeditar as velhas chamadas rock'n roll ("Be bop--be bop--a--lu--she bop/ Oo--oo--she--do--she bop--she bop); e a encantadora "All Through The Night" tem interpretação marcante da cantora e um trabalho de estúdio impecável dos produtores lhe garantindo um status de qualidade superior.
Mas o ponto fulgurante do disco não poderia ser outro que não o megahit "Girls Just Wanna Have Fun", canção vibrante e descontraída conduzida por uma base eletrônica repetida que, se prestar-se bastante atenção, lembra a "locomotiva" de "Trans-Europe Express" do Kraftwerk. A música, aparentemente boba e juvenil, é quase um manifesto bem-humorado pela liberdade de escolha das mulheres, o que a torna extremamente relevante nos dias atuais com a presente reconscientização feminina e levante em busca de condições igualitárias. "Sim, eu sou mulher e só quero me divertir. E daí?", este era o recado.
O tempo viria a mostrar que a aparente "apelação" de Madonna era na verdade um inteligente e necessária provocação tão valorosa quanto uma "Girls Just Wanna Have Fun", e que, apesar de seu talento vocal inferior a Cyndi, é uma artista mais completa. Hoje gosto muito mais de Madonna. Da obra de Madonna, da influencia de Madonna, do comportamento de Madonna. Talvez a dimensão do que Madonna se tornou, e mais uma legião de madonnetes que vieram na cola dela exibindo seus decotes e lingeries e cantando refrões sussurrados tenha abafado as Cyndis por aí afora. Mas o fato é que Cyndi Lauper prosseguiu sua carreira com competência e qualidade, reapareceu na metade dos anos 90 com uma coletânea que trazia uma releitura de "Girls Just Wanna Have Fun", mas nunca igualou o sucesso de seu ótimo disco de estreia de 1983 quando, sim, Cyndi Lauper era melhor que Madonna.
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FAIXAS:
1. Money Changes Everything (5:02)
2. Girls Just Want To Have Fun (3:55)
3. When You Were Mine (5:07)
4. Time After Time3:59

5. She Bop (3:43)
6. All Through The Night (4:29)
7. Witness (3:38)
8. I'll Kiss You (4:05)
9. He's So Unusual (0:45)
10. Yeah Yeah (3:17)




Curtis Mayfield - "Curtis" (1970)


“Curtis escreveu um material que se tornou o exemplo clássico de como um negro inteligente, preocupado com a situação das pessoas, pode estabelecer novos objetivos e injetar orgulho na música. O talento único de Curtis combina uma melodia cativante, instrumentação interessante e comentários expressos que o levaram a um grande respeito na comunidade negra.”
Richard Robinson, para a revista Billboard

“Vidas negras importam”. 
Mensagem escrita em 
cartazes nas ruas norte-americanas 
durante as manifestações contra 
a morte de George Floyd

A história da música soul nos Estados Unidos é marcada pela revelação de talentos tão intensos que acaba sendo impossível de serem represados. O baterista contratado pela Motown estritamente para acompanhar bandas como Martha and the Vandellas e The Marvelettes no final dos anos 50 era também um cantor e compositor tão completo, que não demorou para a gravadora perceber que ele fazia jus em assinar sozinho os próprios trabalhos com o seu nome artístico: Marvin Gaye. Outro, o pianista da banda de Otis Redding nos anos 60, ganhou o protagonismo merecido antes mesmo daquela década terminar, tornando-se o genial “Black Mose” autor de “Shaft” e outras obras essenciais à música soul. Era um rapaz corpulento e de voz grave chamado Isaac Hayes.

Com Curtis Mayfield aconteceu algo semelhante. Um dos integrantes do grupo vocal de rhythm and blues de Chicago The Impressions, ele rapidamente destacou-se sobre seus companheiros, igualmente bons cantores como ele, mas não apenas pela afinadíssima voz tenor e, sim, pela incrível capacidade compositiva e de liderança que o diferia dos demais. Quem escuta os discos da banda, a qual pertenceu de 1963 a 1969, percebe que, desde a composição do primeiro sucesso, a clássica "Gypsy Woman", até o último disco como integrante, “The Young Mods' Forgotten Story”, todo escrito por ele, Curtis se tornara maior do que a Impressions. Ele não cabia mais num trio: precisava ser uno. Precisava alçar o voo solo.

Baldwin e Angela: referências
da luta racial nos anos 70
Vários fatores contribuíam para que a investida solitária de Curtis Mayfield fosse aguardada por público e crítica naquele início de anos 70. Aquele passo tinha tudo para representar uma guinada para alguém já experimentado como artista, pois acostumado com as paradas e com o showbizz, mas também de quem se esperava sintonia com o então efervescente momento de lutas raciais nos Estados Unidos. Fazia pouco que dr. King e Malcom X haviam sido assassinados, abrindo uma fenda emocional e de representatividade para a cultura negra. Em compensação, a ação dos Panteras Negras e o ativismo de figuras como Angela Davis e James Baldwin mantinham de pé as lutas pelos direitos civis. Mas dada a gravidade da situação, era preciso revoltar-se, e quanto mais (e qualificadas) vozes, melhor. A Sly & Family Stone já havia soltado o grito de resistência “Stand!”; Muhammed Ali defendia com punhos e verbos seu povo; James Brown versava as palavras do líder sul-africano Steve Biko: “Say it loud: I’m black and proud!” (“Diga alto: sou negro e orgulhoso!”); o movimento Black Power tomava as ruas exigindo “respect”. Porém, a comunidade negra precisava de mais, e Curtis, então com 28 anos, representava a ascensão e a afirmação de uma população segregada e violentada como cidadã. É nesse cenário que Curtis se lançava para um voo solo: carregando sobre suas asas a responsabilidade tanto artística quanto política da Black Music.

Ouvem-se, então, os primeiros acordes do disco: um som grave de baixo, que prenuncia um riff cheio de groove e inteligência musical. Talvez os “brothers and sisters” que a escutavam pela primeira vez naquele setembro de 1970 não percebessem que estavam diante de um dos mais célebres começos de disco de todos os tempos na música pop. Entram, na sequência, bongôs de matiz africano e vozes entrecruzadas levantando questões polêmicas, as quais são logo catalisadas pela do próprio Curtis, que anuncia com ecos retumbantes: “Não se preocupem: se houver um inferno abaixo de nós, para lá todos iremos!” É “(Don’t Worry”) If There's a Hell Below We're All Going to Go”, a arrebatadora faixa de abertura de um disco que não podia ter outro nome que não, simplesmente, “Curtis”. À exceção do tom pastel da capa, trata-se de um álbum negro em todas as dimensões possíveis: na sonoridade, no resgate da ancestralidade, na mensagem afirmativa e de denúncia e no comprometimento com o movimento negro.

Era a confirmação de que Curtis registrava sua emancipação como artista. A música conhecia pela primeira vez sua obra autoral, que abria com esse funk de reverências a James Brown e à africanidade. Curtis, consciente de seu papel, não fugia às discussões sérias, falando sobre preconceito, violência policial e repressão política: “Irmãs, irmãos e desfavorecidos/ negros e mulatos/ A polícia e os seus apoiadores/ Eles são todos os atores políticos”. “If There's...” antecipava outro trunfo da música soul daquele início de anos 70: a Blackexplotation. Quem escuta o primoroso arranjo de cordas, as percussões afro e o baixo marcado da faixa é impossível não associá-la às trilhas sonoras de filmes feitos com e para negros que “explodiriam” àquela época na indústria cinematográfica norte-americana – dentre as quais, a de “Superfly”, que Curtis assinaria poucos anos mais tarde.

Se o disco começa com algo que resume o estilo sofisticado de Curtis – as primorosas harmonias, os arranjos suntuosos, as cordas entusiasmadas, a levada groove da guitarra, o ritmo tão funky quanto fluido e, claro, o apurado falsete de sua voz –, agora ele, dono de seu rumo, queria mais. Queria tudo que lhe fosse de direito e de seus irmãos. “Other Side Of Town”, cuja abertura com harpas em cascata faz remeter à ideia de um sonho, é uma balada como as que se acostumara a escrever, mas com uma nova densidade tanto estilística quanto discursiva. O arranjo de metais dá-lhe um ar épico, como uma música triunfal da realeza africana, para, em contraste, fazer uma crítica ao apartheid a que os negros do gueto são submetidos socialmente. “Depressão faz parte da minha mente/ O sol nunca brilha/ Do outro lado da cidade/ A necessidade aqui é sempre de mais/ Não há nada de bom na loja/ Do outro lado da cidade/ (...) Minha irmãzinha, ela está com fome/ De um pão para comer/ O meu irmão me entrega sapatos/ Agora estão mostrando os pés”.

Curtis tocando ao vivo à época do disco:talento
confirmado como artista solo
"The Makings of You", novamente com o som da harpa bem presente, lembra bastante temas como “Keep On Pushing” e “For Your Precious Love” da Impressions, e comprova a incrível afinação de Curtis, que performa com sensibilidade e técnica tons agudos para cantar esta linda canção, que novamente traz as questões sociais. Porém, desta vez, relatando uma tocante cena: a de um rapaz que distribui doces para as crianças e as alegra por alguns instantes capazes de fazer com que o autor enxergue esperança “no amor da humanidade”.

A harmonia entre os homens, entretanto, está longe de se concretizar, e Curtis tinha consciência disso. Não à toa, vem, na sequência, a reflexiva “We People Who Are Darker Than Blue” (“Nós, pessoas que somos mais escuras que o azul”). Não por acaso também se trata de um lamentoso blues, o qual seu lindo canto cadencia versos como: “Nós, pessoas que somos mais escuras do que o azul/ Não há tempo para segregar/ Eu estou falando sobre marrom e amarelo também/ Garota tão amarela que você não pode contar/ Eu sou apenas a superfície do nosso poço profundo e escuro/ Se a sua mente puder realmente ver/ Você veria que sua cor é igual à minha”.

Outra preciosidade de "Curtis" é "Move on Up", grande sucesso da carreira solo do artista que prova o quanto ainda sabia escrever hits (a versão reduzida dos mais de 8 min originais passou 10 semanas no top 50 da parada de singles do Reino Unido em 1971, chegando ao 12º lugar, e se tornou um clássico da música soul ao longo dos anos). Esta empolgante soul, com exuberantes arranjos de cordas e metais, traz mais uma vez a intensa percussão afro e uma performance impecável de Curtis, responsável não apenas pela guitarra, mas por vários outros instrumentos. Aqui nota-se um músico totalmente dono de sua obra: ao mesmo tempo em que se vale de sua música para a crítica, também domina a arte de criar canções para as massas. Para os que acham que seu auge é "Superfly", "Move..." prova que este momento já estava em “Curtis”.

Curtis com a filha ainda criança,
nos anos 70
Na suingada e lúdica "Miss Black America", Curtis inicia dialogando com sua filha criança perguntando-lhe o que ela, em seus sonhos, se imagina quando crescer. A resposta induz a algo que, novamente, retraz as conquistas por direitos dos negros, uma vez que a recente vitória de uma mulher preta no concurso Miss Universo em 2019 (a sul-africana Zozibini Tunzi), ainda surpreende o mundo. "Wild and Free", com seus metais e cordas intensos, é mais um funk que reitera o discurso pelo respeito à causa racial e ao direito de ser "selvagem e livre". Agora, aliás, subindo o tom ao incrementar na letra a icônica mensagem anti-racismo "power to the people" ("Respeito por essas pessoas/ Poder para as pessoas/ Estabelecendo a velha geração/ Trazendo o novíssimo/ Selvagem e livre com a paz finalmente").

A suave "Give it Up" tem a primazia de fechar o brilhante debut de Curtis Mayfield, trabalho assustadoramente atual mesmo 50 anos após seu lançamento. A catarse mundial gerada pela revoltante morte do ex-segurança George Floyd, vitimado recentemente pela violência da polícia e da sociedade norte-americana, evidenciou o quanto as questões levantada neste disco, há cinco décadas, estão longe de serem resolvidas. Se o racismo ainda está aí, Curtis é morto desde 1999, quando, após complicações motivadas por um fatídico acidente que o deixara paraplégico, despedia-se prematuramente aos 57 anos. Só assim para frear o seu talento.

Embora não tenha feito o mesmo sucesso que seus contemporâneos de black music Marvin Gaye, Al GreenStevie Wonder e Barry White, Curtis pode tranquilamente ser considerado integrante do.panteão dos grandes criadores da soul norte-americana. Ele é daqueles autores cuja obra demarca um “antes” e um “depois”, tanto pela beleza única de suas composições quanto pelo o que representou para o movimento negro e a luta pelos Direitos Civis norte-americanos naquele inicio de década de 70. O disco “Curtis” antecipa em um ano, inclusive, uma trinca de obras que se eternizaria, entre outras qualidades, justamente pelo teor de resistência: “What’s Going On”, de Gaye, “Pieces of a Man”, de Gil Scott-Heron, e “There’s a Riot Goin’ On”, da Sly. Curtis dizia que suas músicas sempre vieram de perguntas para as quais precisava de respostas. Vendo o quadro político-social de hoje ainda tão desigual, se estivesse vivo, 50 anos depois de ter levantado e respondido várias dessas questões, provavelmente voltaria numa delas e se indagaria: “o inferno, que eu pensava estar abaixo de nós, é aqui mesmo, então?”

Curtis Mayfield - "Move on Up"


FAIXAS:
1. "(Don't Worry) If There's a Hell Below, We're All Going to Go" - 7:50
2. "The Other Side of Town" - 4:01
3. "The Makings of You" - 3:43
4. "We the People Who Are Darker Than Blue" - 6:05
5. "Move On Up" - 8:45
6. "Miss Black America" - 2:53
7. "Wild and Free" - 3:16
8. "Give It Up" - 3:49
Todas as composições de autoria de Curtis Mayfield




The Cure- "Pornography" (1982)

 

"As críticas foram muito divididas,
não ia muita gente aos shows,
mas eu sentia que finalmente
havíamos feito um grande disco."
Robert Smith


Durante muito tempo este foi o disco da minha vida. Hoje em dia tenho que admitir que não é mais "O" disco da minha vida, conheci muitos outros, descobri coisas interessantíssimas de alta qualidade, alto valor técnico, histórico, referencial, etc., mas posso afirmar tranquilamente que ainda é "UM DOS" grandes álbuns da minha discoteca. Naquela época, metade dos anos 80 quando descobri o The Cure, auge da minha fase darkzinha, se tinha um disco traduzia precisamente todo aquele clima e atmosfera era certamente o "Pornography" do The Cure. Um disco denso, pesado, de letras mórbidas, sofridas, sombrias e negativas, muito centralizado nos trabalhos de bateria e com arranjos de guitarra marcantes e bem desenhados.
A pessimista "One Hundred Years" ("It doesn't matter if we all die") que abre o disco exemplifica bem isso: uma programação de bateria contínua muito bem desenvolvida com uma guitarra estridente e angustiante como que solando o tempo todo e teclados preenchendo os espaços sufocantemente. "One Hundred Yeras" parece sangrar.
Com uma batida tribal lenta e cansada, a bizarra, surreal e inquietante "Siamese Twins" traz outro trabalho de guitarra notável de Robert Smith em uma interpretação dolorida e agonizante.
'The Figurehead", outra das grandes do álbum tem por sua vez destaque para o baixo de Simon Gallup, numa condução firme, com uma melodia dura, acompanhando uma batida de tons militares de Tolhurst, numa canção que aborda o tema das drogas, tão presente no grupo naquele momento, e os efeitos de estar preso a elas ("I will never be clean again").
"Strange Day", talvez a mais leve do disco também traz outra performance legal de Gallup no baixo, com uma base que lembra muito a de "Charlotte Sometimes"; "A Short Term Effect" vem com uma 'confusão' de guitarras zunindo, dando rastantes, cortando o ar, quase sufocadas pelo som da beteria que parece querer estourar; a gélida "Cold" depois de iniciar com um violoncelo aterrador, explodir numa batida alta e poderosa, se transforma numa suplicante e sombria canção de amor ("Your name like ice into my heart"); e "Hanging Garden", o single do álbum, mostra o perfeito conjunto na proposta do projeto, desde a programação de bateria em rolos contínuos de Tolhurst, ao baixo seguro e preciso de Gallup, e na guitarra aguda e perturbadora de Robert Smith, completada por sua interpretação amedrontadora.
O Cure que sempre deu bons desfechos para seus discos, neste não fez diferente e, se não trata-se de uma grande canção, esta que é o título do álbum, "Pornography", sem dúvida alguma, no mínimo faz com que fiquemos com as sensações de inquietude e angústia vivas mesmo depois que a música barulhenta e claustrofóbica, cheia de ruídos e de diálogos de filmes incompletos e indecifráveis, é interrompida quase que abrupatamente terminando a audição. De deixar sem fôlego.
Certamente até hoje, um dos grandes discos da minha vida.

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FAIXAS:
  1. One Hundred Years
  2. A Short Term Effect
  3. The Hanging Garden
  4. Siamese Twins
  5. The Figurehead
  6. A Strange Day
  7. Cold
  8. Pornography



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