segunda-feira, 3 de março de 2025

DISCOGRAFIA - AMPS FOR CHRIST Indo-Prog/Raga Rock • United States

 

AMPS FOR CHRIST

Indo-Prog/Raga Rock • United States

Biografia de Amps For Christ
Projeto de folk rock celta, incluindo influências de raga oriental

AMPS FOR CHRIST pode ser considerado uma combinação de muitos estilos musicais, do ruído, experimental ao popular, música folk tradicional. O conceito é todo sobre propósitos anticapitalistas, na excentricidade hippie e pseudo-misticismo. Nascido no final dos anos 90 e focado principalmente em torno do guitarrista Henry Barnes (fundador da banda hardcore/noise MAN IS THE BASTARD). A natureza experimental do projeto é claramente mencionada nos usos intrincados de amplificadores, gadgets eletrônicos. Ingredientes "World" (da China à Índia), "Celtic", "blue-grass" entram na mistura para obter uma abordagem mais espiritual e suave para esta viagem um tanto "anárquica". Uma exploração musical eclética que abrange um grande grupo de estilos, mas sempre tocada com uma sensibilidade popular e folk americana. Álbuns como "The people at Large" e "The Oak in the Ashes" contêm instrumentos exóticos e efeitos folk de raga elétrica. Ele definitivamente explora o mundo místico da música meditativa oriental "sagrada".

AMPS FOR CHRIST discografia


AMPS FOR CHRIST top albums (CD, LP, )

2.87 | 4 ratings
The Plains Of Alluvial
1995
3.00 | 1 ratings
Thorny Path
1997
3.00 | 1 ratings
Amps For Christ and Two Ambiguous Figures: The Beggars Garden
1997

4.00 | 1 ratings
Electrosphere
1999
2.33 | 3 ratings
The Oak In The Ashes
2001
3.28 | 4 ratings
The People At Large
2004

3.00 | 1 ratings
Canyons Cars And Crows
2014
4.00 | 2 ratings
Circuits
1999
2.33 | 3 ratings
Every Eleven Seconds
2006
0.00 | 0 ratings
Amps For Christ, The ..., and rehgrafsivart: Season Of The Dog
2015
2.00 | 1 ratings
Evil Normal
2015

AMPS FOR CHRIST Live Albums (CD, LP, MC, SACD, DVD-A)

0.00 | 0 ratings
Songs From Mt. Ion
1998

AMPS FOR CHRIST Videos (DVD, Blu-ray, VHS )

AMPS FOR CHRIST Boxset & Compilations (CD, LP, MC, SACD, DVD-A, Digital Media )

AMPS FOR CHRIST Official Singles, EPs, Fan Club & Promo (CD, EP/LP, MC,)

3.00 | 1 ratings
The Secret Of The Almost Straight Line
1997
0.00 | 0 ratings
Amps For Christ and Jalopaz : Collaboration
1998
0.00 | 0 ratings
Amps For Christ / One Eyed Cyclops
2001

0.00 | 0 ratings
Fear Konstruktor / Amps For Christ
2012
0.00 | 0 ratings
Woods / Amps For Christ
2012
0.00 | 0 ratings
Amps For Christ, Winters In Osaka, and Eric Wood: Plurality Of Worlds / Vorkuta
2013

0.00 | 0 ratings
Amps For Christ and Witches Of Malibu: Indian Hill
2015
0.00 | 0 ratings
Amps For Christ / Bastard Noise
2003
0.00 | 0 ratings
Amps For Christ / Failings
2014
0.00 | 0 ratings
Amps for Christ and Bastard Noise: The Crossroads of Agony / Cliff Parade
2021
2.00 | 1 ratings
Eugene Chadbourne / Amps for Christ
2022




Artista: Frank Zappa; Álbum: Apostrophe (')

 


Artista: Frank Zappa
Álbum: Apostrophe (‘)
Ano: 1974
Gênero: Avant-garde; rock experimental

Após um longuíssimo hiato, aqui estamos novamente para falar de mais uma pérola da música dita "estranha e boa". E bota boa nisso.

Frank Vincent Zappa nasceu no dia 21 de dezembro de 1940, nos Estados Unidos. Desde cedo demonstrou grande interesse por música clássica de compositores vanguardistas, como Stravinsky, além de grupos de doo-wop e jazz moderno. Durante os anos 60, montou sua primeira banda, os Mothers Of Invention. O primeiro álbum dos Mothers foi o duplo Freak Out!, de 1966, e é considerado um marco por seu experimentalismo e ousadia. Vale a pena lembrar que foi lançado um ano antes do clássico Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, e certamente trouxe mais inovações estéticas que o álbum dos Fab Four.

A genialidade de Zappa foi se manifestando com mais força a cada disco, e logo ficou óbvio que os Mothers estavam funcionando apenas como uma banda de apoio que tocava as músicas de Zappa. Os créditos dos álbuns deixavam essa relação explícita, passando a ser lançados como Frank Zappa and the Mothers of Invention ou simplesmente Zappa/Mothers. A banda passou por diversas formações.

Zappa é notório por sua imensa produtividade. Para se ter uma idéia, o álbum que será tratado aqui nesta resenha foi lançado em 1974, oito após o debut, e foi o décimo sétimo (!) a ser lançado pelo guitarrista/cantor/compositor. A discografia completa de Zappa, sem contar os discos póstumos, conta com 57 discos em menos de 30 anos de produtividade.

Voltando ao assunto, o último disco que Zappa lançou com os Mothers foi One Size Fits All, de 1975. Mas alguns discos antes deste trazem apenas seu nome na capa. É o caso de Apostrophe ('), lançado em 1974.

Explicar o estilo de Frank Zappa para alguém que nunca o tenha escutado é uma tarefa muito, muito complicada. Sua música é uma mistura de muitas coisas, passando pelo rock and roll, música clássica, humor, doo wop, blues, a famigerada world music, enfim; é um saco de gato. Suas letras são muito bem humoradas, muitas vezes tolas, ofensivas ou simplesmente sem sentido, trazendo críticas à política, religião, estereótipos e costumes, ou simplesmente contando histórias bizarras.

No caso de Apostrophe ('), as primeiras quatro músicas enganam o ouvinte, pois guiam o álbum a um caminho conceitual que acaba não se desenvolvendo além destas faixas. Em Don't Eat The Yellow Snow, a faixa de abertura, Frank conta sobre um sonho que teve no qual era um esquimó chamado Nanook. Sua mãe o alertava para que não comesse a neve amarela que ficava aonde os huskies iam (watch out where the huskies go/and don't you eat that yellow snow), ou seja, a neve onde os cães urinavam. Tudo isso em uma música esquisita, em um tempo quebrado (7/4).

Eis que em Nanook Rubs It, a segunda faixa, Nanook sai de seu iglu e encontra um comerciante de peles matando sua foca preferida com uma bota cheia de chumbo (with a lead-filled snowshoe). Raivoso, Nanook esfrega a neve amarela nos olhos do comerciante, cegando-o. Eis que o comerciante se lembra de uma lenda que dizia que, caso alguém ficasse cego em decorrência de um ataque de alguém chamado Nanook, deveria buscar auxílio na paróquia de Santo Alfonso (St. Alfonzo).

A música seguinte, que começa com um incrível solo de xilofone da percussionista Ruth Underwood, descreve a paróquia de St. Alfonzo, onde ocorre um desjejum com panquecas e um bingo, e também a presença de uma mulher masoquista.

Eis que Zappa descreve o Padre O'Blivion (que pode ser traduzido como "esquecimento"), um padre que é masturbado por um leprechaun e se torna um maníaco sexual. Eis que, no fim da música, uma tentativa intencionalmente frustrada de retomar o início da história aparece, como se o comerciante de peles fosse o próprio Padre O'Blivion (Good morning, your highness/ooo-ooo/I brought you your snowshoes/ooo-ooo...).

A música seguinte é um dos pontos altos não apenas do disco, mas da carreira de Frank. Cosmik Debris é um blues zappiano que conta a história de um charlatão que tenta convencer o protagonista a comprar "sucatas cósmicas", argumentando que elas farão coisas incríveis, inclusive "curar sua asma". No fim, quem acaba sendo enganado é o charlatão. Destaque para as vozes femininas no refrão.

Excentrifugal Forz se trata de uma música pouco expressiva, com uma letra maluca e sem sentido algum. Apostrophe' é uma faixa instrumental com solos de guitarra extremamente distorcidos. Muda pouco de ritmo, mas é uma grande demonstração de habilidade dos músicos da banda.

A belíssima Uncle Remus, com a marcante introdução ao piano de George Duke, traz uma letra bem zappiana que trata, aparentemente, de racismo. "Não posso esperar até que meu black-power esteja grande/(...) irei derrubar os jóqueis de suas selas" (Can't wait till my fro is full grown/(...) I'll be knocking the jockeys off the lawn). A faixa é deslocada do resto do repertório de Zappa, mas é uma música belíssima.

A faixa de encerramento é Stink-Foot, com uma letra sobre chulé e outras coisas das quais dificilmente alguém além de Frank Zappa retrataria em uma música. A percussão aqui é de grande destaque.

Confesso ao leitor que é difícil precisar quem toca o quê em cada faixa devido à enorme quantidade de músicos envolvidos. Os créditos dos músicos são os seguintes:

Frank Zappa - voz, guitarra, baixo e bouzouki
Lynn – voz, backing vocals
Kerry McNabb – backing vocals
Ian Underwood - saxofone
Ruth Underwood - percussão
Sal Marquez – trompete
Sue Glover – backing vocals
Jim Gordon – bateria
Aynsley Dunbar – bateria
Tom Fowler – baixo
Napoleon Murphy Brock – saxofone, backing vocals
Robert “Frog” Camarena – voz, backing vocals
Ruben Ladron de Guevara – voz, backing vocals
Debbie – voz, backing vocals
Tony Duran – guitarra
Erroneous – baixo
Johnny Guerin – bateria
Ralph Humphrey – bateria
Jack Bruce – baixo em “Apostrophe”
George Duke – teclado, backing vocals
Bruce Fowler – trombone
Jean-Luc Ponty – violino

Recomendadíssimo.

Tracklist:
1. Don't Eat The Yellow Snow
2. Nanook Rubs It
3. St. Alphonzo's Pancake Breakfast
4. Father O'Blivion
5. Cosmik Debris
6. Excentrifugal Forz
7. Apostrophe
8. Uncle Remus
9. Stink-Foot

Abaixo, um vídeo de Cosmik Debris ao vivo em 1974.



Banda: Daft Punk; Álbum: Discovery

 


Banda: Daft Punk
Álbum: Discovery
Ano: 2001
Gênero: House

É engraçado como na maioria das vezes em que rompemos com algum preconceito, trazemos à tona novidades (pelo menos para nós) cativantes e enriquecedoras. É assim com tudo, e principalmente com a música.

Se eu mantivesse até hoje a minha visão e gosto sobre música que tinha aos 14 anos, este blog jamais existiria e, se eu um dia viesse a ter um blog, seria apenas sobre heavy metal e abordaria bandas como Iron Maiden e Metallica. Não que eu tenha deixado de gostar destas bandas - amo as duas - mas tenho a convicção de que conhecer o universo musical que entrei em contato nos anos pós-adolescência fez uma diferença imensa em minha vida, inclusive e principalmente na extra-musical.

Sempre torci o nariz para música eletrônica, e certamente muita gente ainda o faz. Como diz aquela música das Velhas Virgens, Geração Putz Putz, achava que o "DJ só aperta o play". Mas correr atrás de artistas de música eletrônica de diversos estilos diferentes, como Infected Mushroom, Björk, Massive Attack e Lovage, me fez ver que é um estilo que pode ser extremamente rico e bem trabalhado.

O Daft Punk é uma "faca de dois gumes" dentro do estilo, pois de vez em quando consegue algum destaque da mídia brasileira e outras vezes fica apenas no circuito do house. O maior sucesso já obtido pela banda foi justamente a faixa de abertura deste disco, a música One More Time. A faixa tocou à exaustão nas rádios e nas baladas brasileiras na época em que o disco foi lançado (2001) e seu clip conquistou as paradas da MTV Brasil.

A "banda", se é que pode ser chamada assim, teve seu embrião formado em 1992, na França, quando os dois componentes, Thomas Bangalter e Guy-Manuel de Homem-Christo, formaram com Laurent Brancowitz a banda Darlin'. Após o fim da banda, os Bangalter e Homem-Christo começaram a fazer experimentações com sintetizadores e sequencers e formaram o Daft Punk. Passaram a tocar em raves e, em 1997, lançaram seu primeiro álbum entitulado Homework. Em 16 faixas, a dupla faz um som relativamente tradicional para o estilo, muito influenciado por techno, com músicas que poderiam ser executadas em qualquer rave.

Em 2001, porém, a banda lançou o disco abordado nesta resenha, e é justamente aquele que traz One More Time como faixa de abertura: Discovery. Os motivos pelos quais incluo o disco na categoria que dá título ao blog (sim, música estranha e boa) é puramente pessoal, já que meu conhecimento a respeito de música eletrônica é muito pequeno para afirmar se o disco é pioneiro ou revolucionário: o uso inteligentíssimo de samples, as referências musicais e a visão e criatividade intermináveis destes dois amigos franceses.

Pra quem não sabe, "sample" é um pedaço de uma música que é utilizada como um instrumento em outra. É muito utilizado, principalmente na música eletrônica e no hip-hop, mas a técnica data dos anos 60. Os próprios Beatles utilizaram alguns samples em músicas como I Am The Walrus e Revolution #9.

Discovery tem um clima muito peculiar devido ao número de samples decorrentes de músicas dos anos 70 e 80, dando ao disco um tom de reciclagem inteligente, de atualização de alguns estilos já datados (lembrando que ser datado não torna algo menor).

One More Time, por exemplo, é um house marcante e muito peculiar, trazendo loops que em quase nada remetem à música da qual foi sampleada: More Spell On You, do cantor Eddie Johns. No vídeo abaixo, um DJ ensina a "criar" One More Time a partir de More Spell On You:


A genialidade da dupla em pegar esta pequena porção de uma música e transformá-la em outra foi o que mais me chamou a atenção de início. É necessário um ouvido muito bom para perceber uma música em potencial dentro de outra, e é exatamente isso que o Daft Punk fez nessa música e em alguns outros momentos do disco.

A segunda faixa, Aerodynamic, é uma referência clara ao metal, com um extenso solo de guitarra em two hands, uma técnica largamente utilizada por guitarristas do gênero. A faixa seguinte é a bela e quase inocente Digital Love, sampleada da música I Love You More, de George Duke (que, como dito no post anterior, já tocou com Frank Zappa), trazendo uma letra sobre amor platônico e um solo de guitarra destruidor, cheio de elementos eletrônicos. Um dos pontos altos do disco, sem dúvida.

A música seguinte, Harder, Better, Faster, Stronger, é famosa por seu uso do talk box, um instrumento que permite modular o som do instrumento de maneira que pareça que ele literalmente "fale", dando um tom futurista e robótico ao som. A música contem um sample de Cola Bottle Baby, de Edwin Birdsong, e também foi sampleada pelo rapper Kanye West na música Stronger, que fez um sucesso razoável aqui no Brasil. Diversos vídeos trazendo "clips" caseiros feitos por fãs circulam na internet, e muitos deles se tornam grandes hits. É o caso do Daft Hands e do Daft Bodies, cujos vídeos tiveram mais de, respectivamente, 26 e 6 milhões de acessos no YouTube.

Crescendolls, Nightvision, Superheroes e High Life são passagens instrumentais (exceto por poucas linhas vocais em loop) trazendo diversas influências diferentes. Crescendolls e High Life são vibrantes e repetitivas, enquanto Nightvision é um filler melancólico e a ótima Superheroes remete às músicas de videogames do fim dos anos 80 e início dos 90.

Something About Us é uma belíssima canção de amor, com uma letra simples porém sincera. Trata-se de uma declaração de amor na hora da despedida, com versos muito significativos como "It might not be the right time/I might not be the right one/But there's something about us I want to say/Cause there's something between us anyway" (tradução: Esta pode não ser a hora certa/Eu posso não ser a pessoa certa/Mas há algo sobre nós que eu quero dizer/Pois há algo entre nós, afinal"). Muito tocante, principalmente no que diz respeito à parte instrumental.

Voyager traz uma linha de baixo marcante, formando uma mistura com o funk já perceptível em algumas faixas do álbum anterior, Homework. Veridis Quo, por sua vez, é uma faixa melancólica, lenta, marcada pela linha triste do teclado.

O clima do disco fica mais alegre com Short Circuit, que tem a bateria bem forte e chama a atenção pelos teclados bem marcados, pelas notas curtas que quase não têm tempo de fluir. É interessante a mudança que ocorre no meio da música, quando ela parece "entrar debaixo d'água" e ganha um clima viajante, como se estivesse derretendo ou entrando, como diz o nome, em curto circuito.

Face To Face é uma das melhores do disco. Aqui a dupla volta completamente ao house, trazendo um ritmo totalmente dançante e um vocal arrasador de Todd Edwards, um produtor de house relativamente conhecido no meio. A música foi um sucesso nos clubes da Inglaterra e Estados Unidos, chegando a atingir o topo da lista de música eletrônica da Billboard.

A última faixa é Too Long, que tem exatos 10 minutos de duração. Começando com harmonias vocais que remetem ao ano 60 (Too long... too long...), a música vai se construindo aos poucos, e quando parece ter atingido seu ápice se inicia uma "segunda parte", e tudo se constrói de um jeito diferente.

É um ótimo álbum, mas o interessante é que o Daft Punk não se deu por satisfeito e, um ano após o lançamento de Discovery, lançou um filme chamado Interstella 5555: The 5tory of the 5ecret 5olar 5ystem. O filme se trata de uma animação produzida em uma parceria do Daft Punk com o estúdio japonês de animação Toei Animation, sob a supervisão de Leiji Matsumoto, um dos pioneiros e principais criadores de animes.

Interstella conta a história de uma banda alienígena que é abduzida de seu planeta de origem por um homem, que muda a aparência deles para que pareçam humanos e apaga suas memórias para que produzam um hit aqui na Terra. A banda é composta por Octave (voz e teclados), Arpegius (guitarra), Stella (baixista) e Baryl (bateria). Um soldado do país de origem da banda, que fica conhecida por Crescendolls na Terra, vem até nosso planeta através de um buraco negro para resgatar os quatro músicos (principalmente Stella, seu grande amor platônico). O que acontece a partir daí vou deixar em aberto para que o leitor descubra vendo o filme.

O interessante é que o filme não traz um diálogo sequer, e o único som, além de uns poucos e esparsos efeitos sonoros, é o Discovery, totalmente sincronizado com a história. É como se o filme fosse um enorme videoclip para o álbum inteiro. Digital Love, por exemplo, é "cantada" pelo soldado enquanto ele fantasia como seria se ele e Stella fossem um casal de namorados; Crescendolls serve de pano de fundo para a ascensão da banda até o estrelato no planeta Terra. E por aí vai. Tudo isso em uma animação incrível, com uma seleção de cores e estilo inteligentíssimos.

Tanto o álbum quanto o filme são recomendadíssimos.

Tracklist:
1. One More Time
2. Aerodynamic
3. Digital Love
4. Harder, Better, Faster, Stronger
5. Crescendolls
6. Nightvision
7. Superheroes
8. High Life
9. Something About Us
10. Voyager
11. Veridis Quo
12. Short Circuit
13. Face to Face
14. Too Long

Abaixo, um vídeo de Harder, Better, Faster, Stronger tirado do filme Interstella 5555.



Artista: Arnaldo Baptista; Álbum: Lóki?

 


Artista: Arnaldo Baptista
Álbum: Lóki?
Ano: 1974
Gênero: Rock; MPB

Vou resistir à tentação pungente de usar uma frase proclamada por bocas de inúmeros roqueiros brasileiros: se você não conhece Os Mutantes você não sabe nada do rock and roll. Eu mesmo usei um eufemismo desta frase em outro lugar desse blog. Desta vez vou apenas me permitir dizer que, ao conhecê-los, você verá o rock brasileiro com outros olhos.

Ao resenhar o Jardim Elétrico, dos Mutantes, lançado em 1971, falei rapidamente sobre a trajetória da banda até o lançamento do referido disco. O que aconteceu depois, porém, é fruto de muita discussão e controvérsia. São fatos confirmados por uns, desmentidos por outros, mas o inegável é que, após o lançamento do quinto disco de estúdio em 1972 (o ótimo Mutantes e seus Cometas no País dos Baurets), Rita Lee foi chutada da banda e os irmãos Baptista, juntamente com Liminha e Dinho Leme, gravaram o disco O A e o Z. O novo material trazia uma banda quase irreconhecível, mostrando um som muito próximo do rock progressivo. Músicas longuíssimas, como a faixa título e Hey Joe (não é uma versão do clássico do Hendrix). Trocando em miúdos: era um disco com seis faixas e incríveis 48 minutos de duração. O disco anterior, com suas 10 músicas, não passava dos 45. A gravadora vetou o lançamento do disco, e os Mutantes foram parar na rua.

Paralelamente a isso, Arnaldo Baptista se mostrava cada vez mais difícil e inacessível, figurativamente falando. Todos usavam drogas, mas Arnaldo passava dos limites e constantemente apresentava mudanças súbitas de humor e comportamento imprevisível. Além disso, o final do casamento com Rita Lee, mulher por quem era perdidamente apaixonado, contribuiu imensamente para o quadro psicológico desesperador do músico. Todos esses fatores resultaram em sua saída da banda após um ensaio no qual ficou o tempo todo brincando de fazer combinações diferentes com as letras de seu nome. Depois disso, os Mutantes passariam por diversas formações diferentes e se desviariam cada vez mais de sua proposta inicial, perdendo cada vez mais fãs.

Arnaldo, por sua vez, resolveu seguir uma carreira solo e, um ano depois, lançou o disco aqui resenhado: Lóki?.

Rotular esse registro apenas como música estranha e boa é minimizar sua amplitude. Não é apenas mais um disco de rock and roll. É um grito desesperado de um jovem genial de 25 anos que, quase ao mesmo tempo, perdeu tudo o que havia sido mais importante em sua vida: sua banda e sua mulher. Além disso, o disco carece da marca registrada de 99,99% dos discos de rock: a guitarra. Não há uma nota sequer tocada por uma guitarra elétrica. O mais próximo disso é uma faixa de menos de dois minutos tocada no violão.

O disco já começou controverso. Arnaldo não gostou nem um pouco da capa, que ficou muito aquém do que ele esperava e queria. Além disso, a banda que o acompanhou no estúdio insistiu para que alguns pequenos erros fossem corrigidos. Arnaldo disse não, e olha que a banda era formada por seus ex-companheiros de Mutantes, Dinho Leme (bateria) e Liminha (baixo). O resultado foi um disco que soa cru, apesar de contar com alguns poucos arranjos de cordas e harmonias vocais.

A faixa de abertura, Será Que Eu Vou Virar Bolor?, é praticamente uma auto análise. "Hoje eu percebi que venho me apegando às coisas materiais que me dão prazer". Uma frase pouco musical para abrir um disco, que em poucos instantes dá lugar ao desabafo de alguém que sente que as mudanças que ocorrem ao seu redor não estão lhe agradando. "Não gosto do pessoal da NASA. Cadê meu disco voador?", pergunta.

Uma Pessoa Só já havia sido gravada pelos Mutantes no A e o Z, mas como o disco só veria a luz do dia nos anos 90, ela era inédita ao público aqui. Uma letra belíssima, praticamente religiosa, com o refrão "Estamos numa boa pescando pessoas no mar, aqui, numa pessoa só". Rogério Duprat colaborou nesta com um arranjo de cordas.

Não Estou Nem Aí é uma luz otimista, onde um Arnaldo carpe diem canta sobre sua vontade de viver a vida ao máximo. "Não tô nem aí pra morte / Não tô nem aí pra sorte / Eu quero mais é decolar toda manhã". Rita Lee participa desta música fazendo backing vocal nos refrões, e mais uma vez Duprat colabora com orquestrações. É um dos pontos altos do disco, tanto em qualidade musical quanto em astral.

Vou Me Afundar Na Lingerie é uma mistura de idéias sobre um pano musical que remete às antigas músicas guiadas por piano. A letra faz diversas viagens, desde "Quem já dançou sempre tem medo dos homens" a "Hey, cuidado que cavalo não desce escada". Bem Arnaldo.

Após a intervenção instrumental de Honky Tonky, temos a genial Cê Tá Pensando Que Eu Sou Lóki?, uma bossa-rock com uma letra autobiográfica e um suingue sensacional. Cheia de referências ao passado e até à própria Rita Lee ("Cilibrina pra cá / Cilibrina pra lá"), que integrava a dupla Cilibrinas do Éden com Lúcia Turnbull na época.

Desculpe é uma canção de amor cheia de feeling, com os vocais de Arnaldo lembrando de leve a grande It's Very Nice Pra Xuxu, dos Mutantes. Claro que uma canção de amor desse cara não é como as outras, e é uma das mais emocionantes do disco, principalmente se levarmos em conta o quanto Arnaldo estava triste pelo fim do relacionamento com Rita.

Navegar De Novo é não apenas uma das mais incríveis do disco, como uma das mais tocantes músicas já gravadas por Arnaldo, contando com seu trabalho nos Mutantes. A faixa conta apenas com o próprio Arnaldo e seu piano, cantando sobre sua esperança no futuro do país de um jeito muito peculiar. A letra fala sobre como o Brasil está se tornando consumista, e que esse não é o caminho. Qual outra canção sobre o Brasil falaria "Por que não se instalam núcleos habitacionais menores para haver maior descentralização"?

Te Amo Podes Crer é uma declaração de amor incrível, e mais uma vez a letra se destaca. "É muito triste pensar em você como quem não vive depois da morte". Após aproximadamente 50 segundos, o canto melancólico dá lugar a uma passagem instrumental rock and roll, que logo é interrompida para que Arnaldo volte aos seus devaneios.

E assim segue a música até o fim do disco, a rápida É Fácil, tocada no violão, com a letra curtíssima "Eu me amo como eu amo você. É fácil." É impressionante como Arnaldo domina o instrumento, mesmo não sendo o seu principal. E assim termina Lóki?, um dos discos mais importantes do rock nacional.

Recomendadíssimo.

Tracklist:
1. Será Que Eu Vou Virar Bolor?
2. Uma Pessoa Só
3. Não Estou Nem Aí
4. Vou Me Afundar Na Lingerie
5. Honky Tonky
6. Cê Tá Pensando Que Eu Sou Lóki?
7. Desculpe
8. Navegar de Novo
9. Te Amo Podes Crer
10. É Fácil



Destaque

Acid Group ‎– Dedicato (1998, CD, Italy)

Line-up: Antonio Mandelli (vocals) Attilio Piazzi (electric guitar) Riccardo Bolis (acoustic guitar, vocals) Discography: CD - Dedicato (Gia...