Amália Rodrigues
O Cochicho
(Letra)
Na noite de São João, que filão
Ninguém quer calar o bico
Com O Cochicho na mão, pois então
E um vaso de manjerico
Passa marchó filambó, tro-lo-ló
Com archotes e balões
Entre apertões, aos encontrões
A dançar o solidó batem mais os corações!
Olha O Cochicho que se farta d’apitar:
Ri pi pi pi pi pi pi!
E nunca mais desafina!
A rapaziada, quem é que quer assoprar
Ri pi pi pi pi pi pi!
NO Cochicho da menina?
Um papo-seco, leru, capiru
Por mal da dó, por capricho
Ao ver-me na rua só, o pató
Quis agarrar-me O Cochicho
Mas quando um soco lambeu o judeu
Até gritou p’la mãe
E sem parar, pôs-se a cavar
O Cochicho é muito meu!
Não o dou a mais ninguém!
(Raúl Ferrão / José Rodrigues)
Reader’s Digest
Miguel Araújo
(letra)
Quero a vida pacata que acata o destino sem desatino
Sem birra nem mossa, que só coça quando lhe dá
Comichão
À frente uma estrada, não muito encurvada atrás a
Carroça
Grande e grossa que eu possa arrastar sem fazer pó no
Chão
E já agora a gravata, com o nó que me ata bem o
Pescoço
Para que o alvoroço, o tremoço e o almoço demorem a
Entrar
Quero ter um sofá e no peito um crachá quero ser
Funcionário
Com cargo honorário e carga de horário e um ponto a
Picar
Vou dizer que sim, ser assim assim, assinar a Reader’s Digest
Haja este sonho que desde rebento acalento em mim
Ter mulher fiel, filhos, fado, anel, e lua de mel em
França
Abrandando a dança, descansado até ao fim
Quero ter um T1, ter um cão e um gato e um fato
Escuro
Barbear e rosto, pagar o imposto, disposto a tanto
Quem sabe amiúde brindar à saúde com um copo de
Vinho
Saudar o vizinho, acender uma vela ao santo
Quero vida pacata, pataca, gravata, sapato barato
Basta na boca uma sopa com pão, com cupão de desconto
Emprego, sossego, renego o chamego e faço de conta
Fato janota, quota na conta e a nota de conto
Vou dizer que sim ser assim assim assinar a Reader’s Digest
Haja este sonho que desde rebento acalento em mim
Ter mulher fiel, filhos, fado, anel, e lua de mel em
França
Abrandando a dança, descansado até ao fim
Chamar a música
Sara Tavares
(letra)
Esta noite vou ficar assim
Prisioneira desse olhar
De mel pousado em mim
Vou chamar a música
Pôr à prova a minha voz
Numa trova só pra nós
Esta noite vou beber licor
Como um filtro redentor
De amor, amor, amor
Vou chamar a música
Vou pegar na tua mão
Vou compor uma canção
Chamar a música
A música
Tê-la aqui tão perto
Como o vento no deserto
Acordado em mim
Chamar a música
A música
Musa dos meus temas
Nesta noite de açucenas
Abraçar-te apenas
É chamar a música
Esta noite não quero a TV
Nem a folha do jornal
Banal que ninguém lê
Vou chamar a música
Murmurar um madrigal
Inventar um ritual
Esta noite vou servir um chá
Feito de ervas e jasmim
E aromas que não há
Vou chamar a música
Encontrar à flor de mim
Um poema de cetim
Chamar a música
A música
Tê-la aqui tão perto
Como o vento no deserto
Acordado em mim
Chamar a música
A música
Musa dos meus temas
Nesta noite de açucenas
Abraçar-te apenas
É chamar a música
(Rosa Lobato Faria / João Oliveira)
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