Estúdio analógico? Coisa difícil de encontrar!
Nessa nova Era do Discos de Vinil muita gente vem torcendo o nariz para as matrizes digitais em mídia analógica. Com toda a razão, isso é um problema e chegou a ter manifestações de artistas americanos do norte contra isso, alegando falta de purismo e até uma certa enganação.
A questão é que todo mundo que gosta de um som analógico gostaria que todas as etapas fossem analógicas: da captação do som (no estúdio ou ao vivo) ao momento que este som é “jogado” num master para prensar os discos ou gravar as fitas cassetes.
Para quem ainda não entendeu como isso funciona, vamos lá, resumidamente, explicar.
O áudio que sai do vinil, historicamente, antes de desenvolverem o áudio digital, era elaborado em equipamentos analógicos. Usava-se gravadores de rolo de excelente qualidade e especiais para gerarem a matriz em fitas. Assim, todo o processo de tratamento do som era realizado em aparelhos analógicos. Das matrizes em fitas saiam os discos master – que são discos utilizados para, a partir deles, fazerem as cópias em vinil nas máquinas de prensagem.
Para muitos, ter 100% da qualidade analógica em discos e fitas cassete só a partir de matrizes analógicas e passarem por tratamentos de som também de fontes analógicas. Ocorre que isso não vem acontecendo em todos os discos de vinil e fitas K7 e muitos dos discos que escutamos proveem de matrizes digitais ou sofreu algum tratamento digital durante a confecção do seu master.
Mas, qual o motivo disso estar acontecendo?
O maior e principal: a falta de estúdios analógicos e quando encontrados, os preços para utilizá-los são caríssimos! Não tem artista iniciante ou, até mesmo muitos que estão na estrada há tempos, que consigam bancar altos valores para fazerem suas fitas masters. Sem contar que os insumos básicos (as fitas) são dificílimas de serem encontrados – tem pouquíssima oferta.
Para piorar, um gravador de rolo especial para criação de masters é praticamente peça de museu. Se há alguém que os fabrica ainda hoje, este alguém é um herói e deveria ser canonizado!
Mesas de som analógicas, gravadores de rolo e fitas são objetos longe de serem adquiridos facilmente. Sem contar outros aparelhos que são necessários e a mão de obra especializada é complicada de achar – tanto para operação quanto para assistência técnica.
Não estamos aqui defendendo a relação master digital > disco de vinil. Defender isso é sandice! O que estamos é relativizando um real problema que, de fato, já acontece desde os anos 80. Muitos dos LPs desta época para cá já foram realizados a partir de matrizes digitais (e muita gente nem se dá conta disso). Portanto, isso não é uma coisa nova, específica desta nova Era.
As fábricas de discos de vinil tiveram um aumento substancial nos últimos 2 anos, todavia, isso não vem acontecendo com os estúdios. Muito pelo contrário – é um movimento oposto. Enquanto se abre fábrica de discos, fecham os estúdios analógicos! Existem muitas cidades e regiões inteiras que sequer têm um estúdio analógico!
Nesse intervalo, a abertura de estúdios digitais se intensificou. Primeiro pela facilidade de encontrar produtos e aparelhos; segundo, pelo preço em queda. Hoje, qualquer um pode montar um estúdio em casa (home studio) sem precisar levantar milhares de dólares para montá-lo, sem contar que é fácil achar material para construí-lo e mantê-lo – basta dar uma olhada no Mercado Livre…
Outro problema é a regravação de discos antigos a partir de matrizes digitais. Mas, você acredita mesmo que pela cultura brasileira houve um movimento de preservar corretamente as fitas masters originais dos discos? E no resto do mundo também (com raras exceções)? Nós do UV não acreditamos. E isso não é culpa de ninguém. Nas Terras Tupiniquins, isso é culpa dessa nossa cultura que não preza a preservação da memória (seja do que for!) e, com certeza, muitos daqueles discos antigos e/ou clássicos não serão regravados de fontes originais analógicas.
Qual o resultado disso? Simples: por enquanto, vamos ter que conviver com essa realidade dúbia onde muitos discos são feitos a partir de gravações digitais! Contudo, tenham certeza, os fabricantes de softwares e plugins para áudio estão atentos ao movimento do vinil e cada vez mais apresentam produtos e modos de fazer que possam, no mínimo, chegar perto do áudio analógico que esperamos. Certamente, para os ouvidos mais apurados e que tenham sistemas de som de primeira e Hi-End, a percepção de que a matriz é digital pode vir mais facilmente, mas a maioria dos ouvintes não conseguem perceber bem essa diferença – exceto se compararem um disco muito bem gravado analógico com uma cópia feita a partir de matrizes digitais.
Outra coisa, é que é inegável que o som que sairá do vinil é analógico. Mesmo que tenha sido feito a partir de matrizes digitais, o som final jamais será digital. É analógico e ponto!
Espera-se que o sucesso que os discos de vinil vêm alcançando nos últimos anos, acabe influenciando este mercado para estúdios de som e o ampliando. Porém, ainda há muita água para rolar. Para terem uma ideia as fábricas de discos só passaram a funcionar com maquinário novo do final de 2016 para cá. Antes disso eram feitas de reaproveitamento de fábricas fechadas. Demorou-se anos para a indústria de máquinas para fábricas de vinil começarem a oferecer maquinários novos. Pode ser que este mesmo movimento ocorra com os estúdios. Pelo menos, estamos na torcida! Entretanto, por enquanto, é o que temos!
Mas… nos atentemos: nós não gostamos dos discos de vinil só pelo motivo de soarem um áudio analógico. Os discos de vinil têm muito mais para oferecer, da experiência tátil à visual. Vinil é música, entretanto, é um conjunto de situações que formam a maior obra de arte que a indústria fonográfica já nos ofereceu! No fundo, um disco de vinil vai além da música!
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