Rui Veloso |
Saíu Para A Rua
Rui Veloso
Saiu decidida para a rua
Com a carteira castanha
E o saia-casaco escuro
Tantos anos tantas noites
Sem sequer uma loucura
Ele saiu sem dizer nada
Talvez fosse ao teatro chino
Vai regressar de madrugada
E acordá-la cheio de vinho
Tantos anos tantas noites
Sem nunca sentir a paixão
Foram já as bodas de prata
Comemoradas em solidão
Pôs um pouco de baton
E um leve toque de pintura
Tirou do cabelo o travessão
E devolveu ao rosto a candura
Saiu para a rua insegura
Vageou sem direcção
Sorriu a um homem com tremura
E sentiu escorrer do coração
A humidade quente da loucura
Sayago Blues
Rui Veloso
Subo e desço este rio
Da miranda ao araínho
Sob a torreira e o frio
Faço a escarpa brotar vinho
Sonhei que era o mississipi
E que menphis era no pinhão
Vindimando ao som de adufe
Bandolim e acordeão
(Refrão)
Rio abaixo rio acima
A dar aos remos no rabelo
Rio abaixo rio acima
Sayago paira por cima
O sonho vira pesadelo
Vinha eu no meu caíco
A ouvir das águas do douro
Velhas lendas de fronteira
Entre o cristão e o mouro
Quando vi um pescador
A olhar o rio inconsolável
Que é da enguia e do robalo
Da tainha e do sável
(Refrão)
Sei de Uma Camponesa
Rui Veloso
Sei de uma camponesa
Sem campo sem quintal
Que canta debruçada
Ao Sol da seara
O trigo da cara
De suor tão debulhada
Sei de uma camponesa
Que dança à noite na eira
Perfumada de avenca e feno
Enfeitada de tomilho
Canta com a expressão
De quem vai ter um filho
Mesmo pelo coração
Sei de uma camponesa
Que nunca enche esta cidade
Nunca se senta à minha mesa
Nunca me leva à sua herdade
P’ra ouvir um trocadilho
P’ra tornar realidade
Um sonho que perfilho
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