quarta-feira, 17 de agosto de 2022

POEMAS CANTADOS POR RUI VELOSO

Terra de Ninguém

Rui Veloso

 

Olha o cigano

Chegou à vila

Com o chapéu preto e o mundo na mochila


Abriu o saco

Montou a banca

Subiu o pano e fez uma feira franca


Viva o cigano

Viva o cesteiro

Que vende o mundo por pouco dinheiro


Ai, venham todos a correr para vê-lo

Junto à igreja matriz

A equilibrar uma escova de cabelo

Mesmo na ponta do nariz


Olha o cigano

Entre as mulheres

A vender meias, colchas e talheres


Vende perfumes

Terços e pentes

Anéis e sedas e pasta dos dentes


Vende santinhos

Pedras de jade

E as pomadas da eterna mocidade


E sabe dançar a dança da chuva

E deitar as cartas à gente

Engolir fogo e caminhar sobre o vidro

E encantar uma serpente


No fim do dia

Quando ia embora

Eu quis saber onde é que o cigano mora


Mostrou-me um mapa

De cor sumida

Onde corriam os rios da vida


Eu moro aqui

Eu moro além

Moro no mundo na terra de ninguém


Viva o cigano dos quatro caminhos

A tocar flauta de pan

Entre tesouras, guarda-chuvas e navalhas

O seu destino Deus dará


VIVA O CIGANO, CIDADÃO DO MUNDO!


Viva o cigano

Um aldeeiro

Que vende o mundo por pouco dinheiro


Viva o fulano

No seu vaivém

Que tem vivenda na terra de ninguém


Viva o cigano

Viva o paisano

Que já é noite e vai cair o pano


E fez comigo um negócio da China

Vendeu-me a terra de ninguém

E pelo preço irrisório de um sorriso

Vendeu-me as estrelas também


Viva o cigano!

Viva o paisano!

Viva o sicrano!

Viva o fulano!

Viva o cigano!

Viva o cigano!

Viva o paisano!

Viva o sicrano!

Viva o fulano!


Todo O Tempo Do Mundo

Rui Veloso

 

Podes vir a qualquer hora

Cá estarei para te ouvir

O que tenho para fazer

Posso fazer a seguir


Podes vir quando quiseres

Já fui onde tinha de ir

Resolvi os compromissos

agora só te quero ouvir


Podes-me interromper

e contar a tua história

Do dia que aconteceu

A tua pequena glória

O teu pequeno troféu


Todo o tempo do mundo

para ti tenho todo o tempo do mundo

Todo o tempo do mundo


Houve um tempo em que julguei

Que o valor do que fazia

Era tal que se eu parasse

o mundo à volta ruía


E tu vinhas e falavas

falavas e eu não ouvia

E depois já nem falavas

E eu já mal te conhecia


Agora em tudo o que faço

O tempo é tão relativo

Podes vir por um abraço

Podes vir sem ter motivo

Tens em mim o teu espaço


Todo o tempo do mundo

para ti tenho todo o tempo do mundo

Todo o tempo do mundo


Top dos Tops

Rui Veloso

 

Eu tenho-te no meu top dos tops

No topo da minha boa vontade

Até violo vermelhos e stops

Só para te dar a prioridade


Tu ficas nas curvas a ver o que vai

A ver os caubóis passar a galope

Tu dizes hello eles dizem good bye

E eu não aguento o peso do flop


Os teus directores são esses pipis

Grandes cultores de frases de arromba

Fizeram mestrados em londres, paris

E a escola primária em santa comba


Tu tentas ser pop em cursos de verão

Alternas o fato com ganga e caqui

Depois lês o times com atenção

Só para saber o que falam de ti


Se dizem bem entras em delírio

Rebentas a escala da auto-estima

Se dizem mal é o auto-martírio

E eu é que levo com o défice em cima


Não quero perder alguém como tu

Na sétima onda da onda global

Por fazer não sejas o meu waterloo

Alcácer-quibir já me fez tão mal


Ó portugal, portugal

Sem comentários:

Enviar um comentário

Destaque

McDonald and Giles - Same

  Este álbum seria adequadamente considerado um álbum progressivo, mas é diferente. Definitivamente tem algumas das características dos álbu...