sábado, 3 de setembro de 2022

Creedence Clearwater Revival – Cosmo’s Factory (1970)


 

E eis que a obra-prima surgiu à quinta tentativa! Cosmo’s Factory vendeu mais de quatro milhões de cópias e continua a fazer a sua carreira de forma imparável. É mesmo um disco de exceção!

E vão cinco, neste Especial Creedence Clearwater Revival do Altamont! A boa nova é que este quinto disco, Cosmo’s Factory, não só se apresenta como o melhor qua a banda produziu, como também constará, seguramente, da lista dos melhores discos de sempre do bluegrass-rock. É um trabalho de excelência, sem sequer ter rugas à superfície, um disco que sobreviverá (e bem) à passagem do tempo. Ou, por outras palavras, Cosmo’s Factory é um clássico!

É curioso pensar que a banda, assim corria a ideia nos anos sessenta, nem sequer era muito dotada do ponto de vista da técnica musical, o que parece que era mesmo verdade, a princípio. O seu principal trunfo, provavelmente, residiria no facto de funcionarem bem como um todo, de serem um verdadeiro grupo. Isto até Tom Fogerty sair, pois claro. A partir desse momento, tudo se complicou. No entanto, como se percebe, ótimos discos ficaram para a história, e é por isso que os comemoramos agora, hoje e sempre. O charme dos Creedence era clear as water e poucos lhes ficariam indiferentes. Tom, John, Doug e Stu eram outro quarteto fantástico da época. A sua popularidade crescia de forma desmesurada.

O disco surge no exato momento em que a banda atingia o pico da sua criatividade. Os temas do álbum são, sem qualquer exceção digna de registo, de enorme qualidade. Até a capa (e a designação do disco, por que não dizê-lo?) é icónica. Embora já todos conheçam a história, Cosmo’s Factory é um título que surge como espécie de homenagem ao local onde a banda ensaiava, um armazém em Berkeley, São Francisco, que foi alcunhado The Factory pelo baterista Doug “Cosmo” Clifford, uma vez que John Fogerty os obrigava a ensaiar lá todos os dias e durante inúmeras horas seguidas. Acrescente-se, já agora, que a fotografia da capa foi tirada nesse exato local, enquanto a banda se divertia nos curtos intervalos dos ensaios.

Mas vamos ao que mais interessa, as canções! São onze, na sua versão original, e são, como já referimos, clássicos absolutos. Nem todas, claro está, mas quase. “Ramble Tamble” abre o lado A com um rock portentoso, vai oscilando no seu decurso de pouco mais de sete minutos, mas nunca desagrada, antes pelo contrário. As suas nuances fornecem-lhe uma beleza acrescida, assim como os solos que nela se escutam. Como faixa de entrada, não se poderia desejar melhor. Cosmo’s Factory traz várias releituras de temas antigos, como “Before You Acuse Me”, de Bo Diddley. Que belíssimo blues-rock, que e maravilhosa interpretação. A poderosa voz de John Fogerty faz mesmo milagres e arrepia quando deve arrepiar. Segue-se rock à antiga (à moda dos anos cinquenta) e em pouco mais de dois minutos, qualquer pista de dança tornar-se-á um inferninho saboroso. Alguns problemas surgiram com este tema. A acusação de plágio foi um deles. Ao que parece, Fogerty queria apenas homenagear (muito de perto, é um facto) o icónico Little Richard e o seu “Good Golly Miss Molly”, que havia aparecido no anterior álbum Bayou Country, de início de 1969. Mais ou menos na mesma esteira, “Ooby Dooby”o primeiro hit de Roy Orbison, ganha em Cosmo’s Factory nova releitura, roqueira até à medula. Tudo é festa, tudo é delírio. “Lookin’ Out My Back Door” é música de cowboys prontos a disparar de forma certeira às ancas de quem a escuta. A primeira face da rodela de vinil termina com “Run Through The Jungle”, mais contida do que todas as anteriores no que ao ritmo diz respeito, mas profunda e inquietante. Em “Up Around The Bend”, o estilo de riffs inconfundível dos Creedence volta ao ponto de partida em mais uma lição categórica de como fazer bem e de forma simples. Nesse conceito, digamos assim, a banda era insuperável. Não há que complicar, antes pelo contrário. Quanto mais simples e direto, melhor. E siga. “My Baby Left Me” é outra regravação. Elvis, por exemplo, também a tornou sua. No entanto, preferimos esta. By far! E só à nona faixa surge uma balada, a primeira de duas em todo o álbum. Chama-se “Who’ll Stop The Rain” e tem contornos políticos (o Vietnam, sempre o Vietnam, essa espinha encravada no coração do povo americano). É uma bonita e delicada canção, melódica, mas cheia de sofrimento. A última versão de clássicos anteriores gravada em Cosmo’s Factory chega quase ao fim do disco, com o superlativo tema “I Heard It Through The Grapevine”. É o som da negra Motown em versão roqueira, algo distinto do que Marvin Gaye nos entregou no seu álbum In The Groove, de 1968. Bastante distinto mesmo, até na duração: são onze minutos de magia e improvisações. É preciso ter algum cuidado com ela, porque enfeitiça. E, finalmente, “Long As I Can See The Light”, uma segunda balada a concluir Cosmo’s Factory, com direito a um bonito saxofone pelo meio. Ponto final.

Tom Fogerty gravaria ainda mais um disco com a banda, o igualmente histórico Pendulum, também de 1970. Mas isso é já toda uma outra conversa, toda uma outra escrita. Para conhecer melhor o disco, é estar atento ao nosso Especial, que ele não demorará a dar um ar da sua graça.


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