quinta-feira, 15 de setembro de 2022

POEMAS CANTADOS POR SÉRGIO GODINHO

De Pequenino

Sérgio Godinho

 

De pequenino

de muito pequenino

se torce o destino

se torce o destino.


Primeiro sem saber porquê

e depois com um quê

de quem já sabe de saber mudar

de quem já sabe de saber fazer

uma outra terra no mesmo lugar

um lugar feito para a gente viver

e mesmo que seja longo

mesmo que vá demorar


De pequenino

de muito pequenino

se torce o destino

se torce o destino.


Definição do Amor

Sérgio Godinho


"Amor é fogo que arde sem se ver

é ferida que dói e não se sente

é um contentamento descontente

é dor que desatina sem doer"

(Camões)


Que o poeta de todos os poetas

me conceda boa estrela

que a estrela de todos os astros

me premeie na lapela

prémios de honor

prefiro os muitos

oferecidos pelas mãos do amor

coroando o amor e os seus heterónimos

nem vão caber nos Jerónimos


Amores anónimos não há

e assim foi pela madrugada

mesmo que seja um "assim fosse"

vou nomear-te namorada

ninguém já soube o que é o amor

se o amor é aquilo que ninguém viu

uma cor que fugiu

e pairou serena e breve

no ar

(Pousa agora, borboleta na pena deste poeta:)


É uma cor que dá na vida

o amor

é uma luz que dá cor

é uma cor que dá na vida

o amor

é uma luz que dá na cor

mas é uma batalha perdida

que se trava com ardor

é uma cor que dá na vida

o amor

dor que desatina sem doer


Se devagar se vai ao longe

devagar te quero perto

mesmo que o que arde nunca cure

vou beijar-te a sol aberto

é já dos livros que o instante

se parece tanto com a eternidade

e que o amor na verdade

só se cansa de ti

se de ti mesmo te cansas


Mordidas mansas, emoções

suspiros, densos, afagares

liberto das definições

o amor define os seus lugares

ilhas desertas até ver

ver o sol, a chuva

o arco do corpo

arco-íris, corpo a corpo

cara a cara, cor a cor

incandescendo o olhar

(Pousa agora, borboleta

na pena deste poeta:)


É uma cor que dá na vida

o amor

é uma luz que dá cor

é uma cor que dá na vida

o amor

é uma luz que dá na cor

mas é uma batalha perdida

que se trava com ardor

é uma cor que dá na vida

o amor

dor que desatina sem doer


E ao pôr o dedo nas feridas

que supúnhamos curadas

provas de fogo atravessamos

no mar alto festejadas

não se controla o inesperado

nem se diz o indizível do amor

uma cor que fugiu

de um pano leve

e pairou serena e breve

no ar

(Pousa agora, borboleta

na pena deste poeta:)


É uma cor que dá na vida

o amor

é uma luz que dá cor

é uma cor que dá na vida

o amor

é uma luz que dá na cor

mas é uma batalha perdida

que se trava com ardor

é uma cor que dá na vida

o amor

dor que desatina sem doer

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