sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Cleo Sol – Mother (2021)


 

Um disco soul cheio de beleza íntima e honestidade, que não pode passar despercebido.

Cleo Sol não é uma novata, mas claramente merece passar para um patamar de maior reconhecimento. Mais conhecida como uma das vozes dos britânicos Sault, o misterioso projecto que não dá a cara, entrevistas ou vídeos, estreou-se nos discos a solo em 2020, com Rose in the dark, para dar de seguida um grande passo em frente, com este Mother.

Mother é um nome que nada tem de inocente. É que este é um disco profundamente feminino, naquilo que une as mulheres. A maternidade, sim, com o filho de Cleo Sol e a mãe desta como figuras centrais do álbum, mas também os desafios que se colocam às mulheres, naquele espaço de intimidade que é a casa, o lar, que tanto pode ser um refúgio como uma prisão.

Num registo soul/jazz que consegue a proeza de ser ao mesmo tempo clássico e completamente moderno, aquilo que mais nos atrai é a elegância de todo este trabalho. Os arranjos são simples mas sempre excelentes, a voz da cantora está sempre dominadora na mistura mas sem qualquer pontinha de show-off gratuito, e as letras caminham nesse difícil equilíbrio entre a vulnerabilidade de uma total honestidade e a força que ela reclama para si, enquanto mulher.

Mother é um disco íntimo, caseiro, de sofá e calças de fato de treino, enquanto se cuida: de uma criança, de uma família, de si próprio. Um disco de cura, de muito amor, e completamente inspirador. Cleo Sol, que tem raízes jamaicanas, sérvias e espanholas, mostra aqui uma verdade e uma qualidade lírica que nos desarma, como se Carole King aparecesse na Londres de 2022.

Um piano, uma alma imensa, bom gosto e muita, muita honestidade, num magnífico disco que não pode passar despercebido.

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