sábado, 15 de outubro de 2022

David Byrne – Feelings (1997)


 

Feelings, o quinto álbum a solo de David Byrne, faz 25 anos em 2022 e por via dessa feliz data voltámos a ele. Já nem nos lembrávamos da maravilha que é. Na música, remexer no passado é quase sempre caminho certo para um presente mais apetecível!

Já por aqui se escreveu sobre a cabeça pensante de nome David Byrne, tanto a solo como enquanto membro da banda que ajudou a fundar, nos idos anos setenta do século anterior. Até sobre uma atuação ao vivo, por sinal magnífica. Várias canções do dia, algumas notícias, enfim, provas variadas de que gostamos do homem nascido escocês, mas há muito radicado nos Estados Unidos da América. Hoje, como se percebe, decidimos voltar a ele, recuando no tempo, indo até 1997, ano em que lançou o álbum Feelings. Em nome próprio, pois claro, uma vez que dos Talking Heads já nada ouvimos desde Naked (1988), o último suspiro dado em estúdio pela saudosa banda que todos conhecemos. Coisas que nos passam da cabeça para a escrita, sobretudo quando alguma canção, alguma memória, algum sentido encontramos em discos que fazem (ou fizeram e poderão voltar a fazer) parte da nossa vida e que por isso, volta e meia batem-nos à porta. E nós, quando assim é, abrimo-la com o agrado próprio das amizades antigas. É exatamente isso que aconteceu com Feelings, uma vez que já não o ouvíamos há muito, mas que agora, por via dos seus vinte e cinco anos de existência, entrou novamente no nosso atento radar auditivo. Em boa hora, diga-se.

Feelings é o quinto disco a solo de David Byrne, isto se não contarmos com o esplêndido My Life In The Bush Of Ghosts (1981), feito em parceria com Brian Eno. Tem, entre outras, a particularidade de ter sido feito em colaboração estreita com a banda inglesa Morcheeba, embora tal coisa não se faça notar, como eventualmente se esperaria. Alguns ruídos de fundo, algumas texturas sonoras e pouco mais. Outra particularidade apelativa, esta de ordem visual, é a capa do álbum, que em vinil deveria ganhar ainda maior interesse e encanto. No entanto, que se saiba, não há qualquer versão feita nessas rodelas maiores que voltaram a estar na moda. Enfim, o trabalho de Stefan Sagmeister é magistral, seja qual for a dimensão em causa. Para além de tudo, Feelings é exatamente o que o título faz supor, um conjunto de sentimentos díspares em forma de canções, todas elas variadas, diversas em estilo e em ritmo, uma autêntica caixa de surpresas. E há muitas, sem dúvida, nos seus quase cinquenta minutos de duração.

O disco, verdade seja dita, nem começa em grande estilo. A inicial “Fuzzy Freaky” é das menos interessantes composições, embora tenha uns instantes instrumentais engraçados. Já “Miss America” é divertida como poucas, e desperta sorrisos por todo o lado em que é ouvida. Bem poppy, bem certeira, bem dançante, embora sem exageros. Classe tropical, acima de tudo, a lembrar outros tempos e outros meridianos. À terceira aposta, o grande momento do álbum! “A Soft Seduction” é puro encanto, uma deliciosa canção sobre a vida e o que ela nos traz, sendo nosso dever aceitar o que nos chega, por muito que nos possa custar esse facto. Será sobre tudo isto, a canção? Talvez, quem sabe… Mas que é perfeita, lá isso é! Em Feelings, como se afirmou, há lugar à diversidade, parece um disco disposto a abraçar o mundo inteiro por via das sonoridades tão extremas, desde o rock à pop, música com contornos cubanos, brasileiros, africanos, tudo feito com um piscar de olhos às novas tendências, que nos finais dos anos noventa eram moda crescente. E aqui, um ou outro dedo dos Morcheeba são notados. Um patchwork sonoro, este Feelings. “The Gates of Paradise” é rock bem disfarçado, espécie que também se encontra em “The Civil Wars”. “Amnesia”, por outro lado, leva-nos numa dança tranquila, mas bem sentida, devagarinho, quase parando. É tão bonita, tão lullaby! Muitas outras boas canções existem em Feelings. “You Don’t Know Me”, “Finite=Alright”, “Burnt By The Sun” e a derradeira (e estranha) “They Are In Love” são ainda exemplos possíveis.

Feelings é uma jóia que nem sempre parece brilhar. Talvez seja demasiadamente esquiva para a exuberância que transporta, pois embora não pareça, essa é a sua essencial matéria, o seu âmago. É um disco que tem muito para dizer, saibamos nós estar em sintonia com ele. Se lhe dermos tempo, ele revelar-se-á, perderá alguma da sua timidez ao ponto de nos querer seduzir. E já vai sendo tempo de o entendermos. Afinal, aos vinte e cinco anos já é suficientemente adulto para com ele termos um bom tête-à-tête, não vos parece?

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