domingo, 2 de outubro de 2022

NO BAIRRO DO VINIL

 Francisco Stoffel - Canto para não chorar

Apesar de o fado não ser o nosso género musical de eleição, não poderíamos ficar indiferentes ao heróico acontecimento de o mesmo ter sido considerado há poucos dias atrás como Património Imaterial da Humanidade. É sem dúvida algo que deve encher de orgulho todos os portugueses, sejam eles ou não apreciadores de fado. De facto, se para os estrangeiros o fado simboliza apenas um género musical (ou erradamente a nossa “folk music”), a verdade é que para nós simboliza muito mais do que isso; o fado é algo verdadeiramente nosso, intrínseco e confundível com a própria alma portuguesa e que tem sobrevivido ao longo de séculos às grandes mudanças sociais e políticas que ocorreram na pátria lusitana.
Também nós, que fomos criados bem perto das margens do Mondego, e que ao longo dos últimos anos nos temos dedicado à pesquisa da música popular portuguesa, fomos aprendendo a apreciar o som da outra guitarra portuguesa e a deixarmo-nos seduzir muitas vezes pelas belas vozes que do fado emanam.
Queremos também deixar de lado, enquanto apreciadores do fado de Coimbra, a polémica (para aqui não chamada) da exclusão do Fado de Coimbra da candidatura do Fado a património imaterial da Humanidade. Por isso, dedicaremos a mensagem de hoje a um jovem fadista de Lisboa que, infelizmente, nunca passou de uma mera esperança e cuja saudosa voz muito apreciamos. Para tal, deixaremos nos parágrafos seguintes um pouco do que conhecemos sobre Francisco Stoffel e das gravações das 4 canções que compõem o seu único legado.
Há cerca de 45 anos atrás, em Dezembro de 1966, num dos salões do Hotel Tivoli decorreu um beberete oferecido pela editora de discos catalã Belter. Tratava-se do arranque em Portugal de uma das duas editoras espanholas que na época apostaram na gravação de artistas portugueses (a outra, era a madrilena Marfer). O referido cocktail serviu, portanto, para apresentar os primeiros discos lançados em Portugal de artistas portugueses dessa editora, tendo reunido em tal convívio António Calvário (até então o “rei da rádio”), Luis Guilherme, Alberto Ribeiro e Shegundo Galarza, que foram, juntamente com Francisco Stoffel, os primeiros artistas a gravar para a Belter e cujos discos iriam ser colocados à venda em toda a Espanha, Argentina, Angola, Moçambique, para além de Portugal (então metrópole).
No dia da apresentação dos artistas e dos discos aos órgãos de informação, para além da habitual sessão de autógrafos, foram oferecidas pastas com os discos gravados pelos 4 cançonetistas nacionais (Luís Guilherme, Calvário, Alberto Ribeiro e Francisco Stoffel). No entanto, dos quatro cançonetistas apenas três estiveram presentes, pois Francisco Stoffel falecera dias antes vítima de uma doença que os médicos na altura não conseguiram identificar.
Francisco Stoffel, nascido no Estoril, há provavelmente 77 anos, tinha apenas 22 anos quando faleceu, dias antes da apresentação do seu disco à comunicação social.
Stoffel, era, segundo o que apuramos na imprensa da época, a grande descoberta da Belter e a maior promessa de fado castiço para os tempos futuros, tendo chegado a actuar em programas da Rádio Televisão Portuguesa, embora não tenha chegado a conhecer os grandes palcos. As causas da sua morte nunca foram confirmadas, ainda que de acordo com um comentário que encontramos "postado" na internet (sempre sujeito a confirmação) poderá ter falecido vítima de uma forte insolação e das complicações posteriores. Stoffel, com uma voz única para um jovem de 22 anos, deixou-nos apenas 4 sentidos fados, sendo um deles, um fado bem conhecido, popularizado mais tarde por Carlos do Carmo, com o título de “Por morrer uma andorinha”, com música de Francisco Viana e letra de Frederico de Brito.



Clique no Play para ouvir um excerto do disco

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