José Carvalhal - Recado ao Governo
Numa altura em que a intervenção de forças externas em Portugal é já uma realidade, através da denominada Troika (onde se insere o F.M.I.), são muitos aqueles que desesperam sem saber ao certo o que fazer para tentar travar uma crise que é já de dimensão europeia. Enquanto tal acontece, resta-nos o contentamento em saber que conservamos ainda a nossa independência, aparentemente garantida pela eleição de um novo Governo após o último sufrágio a que fomos submetidos. Seja qual for o destino da nossa governação, são já muitos os apelos ao sentido de responsabilidade de todos os responsáveis pela Nação em favor do bem comum, que se multiplicam de hora a hora, sejam eles efectuados de uma forma mais racional ou de uma forma mais desesperada.
Transpondo estas considerações (de índole quase utópica) para o panorama musical, aproveitamos para relembrar que os mesmos apelos que hoje são feitos através da blogosfera (ou através de manifestações espontâneas de gerações à rasca) são em tudo idênticos aos que surgiram de forma livre no imediato pós 25 de Abril, através da proliferação de dezenas de artistas provenientes de todos estilos musicais (desde os cantautores até ao próprio fado) que, de uma forma ou de outra, faziam ingerências e apelos muito directos à Governação.
Tal sucedeu, por exemplo em 1978, quando um desconhecido José Carvalhal gravou para a Editora Rapsódia (inserido numa série de EP's de cantares ao desafio e cânticos populares) o tema "Apelo ao Governo" que, bem vistas as coisas, permanece ainda bastante actual. Aliás, a importância destes discos, ao qual pouca gente atribui real valor, torna-se ainda mais evidente na época em que nos encontramos. De facto, versos expressivos como "Temos um país vencido por causa da politica / isso a mim me consome por ver tanta miséria / tendes os bolsos cheios e os pobres cheios de fome" transportam os ouvintes mais pessimistas para uma preocupante realidade que poderá estar mesmo aqui ao virar da esquina.
Pelo menos até 1984 (?) José Carvalhal, gravou mais de meia dúzia de discos, uns com uma vertente mais popular e outro com um carácter mais político, como é por exemplo o sugestivo disco gravado também em 1978 para a mesma editora com o título de capa "Com tretas não se governa". Podíamos estar enganados e pensar que José Carvalhal seria apenas um cantor de outros tempos e que estes discos de tempos idos que teimosamente continuamos a resgatar de destinos incertos, não voltavam a soar nos nossos giradiscos. No entanto, para espanto nosso, conseguimos apurar que ainda hoje José Carvalhal mantêm o estatuto de popular tocador de concertina e "cantador" ao desafio na freguesia distante da Ermida, no concelho de Ponte da Barca, aldeia quase deserta mas que teimosamente continua a sobreviver à desertificação total.
Clique no play para ouvir um excerto de Recado ao Governo
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