sábado, 15 de outubro de 2022

POEMAS CANTADOS DE SÉRGIO GODINHO


 Guerra e Paz

Sérgio Godinho


Ainda agora aqui chegado

meu cavalo já cansado

trago o peito enamorado

e a armadura em desalinho

minha espada, eu embainho

dai-me carne e dai-me vinho

sou guerreiro por quimera

era uma vez um rapaz

é vê-lo avançar

entre a guerra e a paz


Dai-me carne e dai-me vinho

dai-me uma mesa de pinho

estendei toalha de linho

onde estenderei meus dedos

lede neles os enredos

das conquistas, dos degredos

assim eu contar pudera

era uma vez um rapaz

é vê-lo avançar

entre a guerra e a paz


Guerreiros são só pontos no horizonte

a monte

a monte

anda o guerreiro sem parar

a paz foi tudo o que ele foi buscar

guerra e paz

a par e passo

irmãs são

guerra e paz

a par e passo

são


De cada vez que me conto

sei que me acrescento um ponto

um cavalo novo monto

e uma donzela arrebato

despedido do recato

vou de calma ao desacato

vou do pardal à pantera

era uma vez um rapaz

é vê-lo avançar

entre a guerra e a paz


Vou da calma ao desacato

de masmorras me resgato

colorido é o meu retrato

preto e branco meu caixinho

o que fazes tu, meu filho

outras guitarras dedilho

sou trovador por quimera

era uma vez um rapaz

é vê-lo avançar

entre a guerra e a paz


E de meandro em meandro

vou-me circunnavegando

sob as estrelas buscando

o outro lado da busca

quase sempre o amor me ofusca

de uma forma doce e brusca

assim eu amar soubera

era uma vez um rapaz

é vê-lo avançar

entre a guerra e a paz


Retomado à vida o gosto

meu cavalo recomposto

no cabelo um fogo posto

novos fogos atravesso

desta forma me despeço

do fracasso e do sucesso

ladrões de quem os venera

era uma vez um rapaz

é vê-lo avançar

entre a guerra e a paz


Desta forma me despeço

a viagem recomeço

e se a casa não regresso

é que outras casas me abrigam

outros braços lá me amigam

minhas brigas desfatigam

como a luz na Primavera

era uma vez um rapaz

é vê-lo avançar

entre a guerra e a paz


Independência

Sérgio Godinho


Quem diz que sim quem diz que não

Quem diz que sim quem diz que não

São os movimentos de libertação

São os movimentos de libertação


E ainda anda tanto português

A dizer talvez, a dizer talvez

A dizer talvez, a dizer talvez.


Independência

Independência


A África é dos africanos

Já chega quinhentos anos

Já chega quinhentos anos

A África é dos africanos


Quem diz que sim quem diz que não

Quem diz que sim quem diz que não

São os movimentos de libertação

São os movimentos de libertação


E ainda anda tanto português

A dizer talvez, a dizer talvez

A dizer talvez, a dizer talvez

E a dizer "pois sim"

E a dizer "pois é"

E a dizer "que remédio"

E a dizer "Rodésia"

E a dizer "mas sabe"

E a dizer "que pena"

E faz e acontece


Independência

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